Um Everest que passou na minha vida - X (PARTE 1)
Boa noite queridos, tudo bem com vocês?
Estou muito animado, obrigado pelos comentários de todos.
Eu ainda volto hoje mais tarde para publicar o resto, obrigado pela paciência!!
BOA LEITURA A TODOS!
*************
Eu acabei tomando banho no mesmo Box onde Victor se exibira para mim da primeira vez. E apesar de estar com meu corpo pedindo por uma boa e longa noite de sono, não ia achar nada ruim se ele ainda estivesse ali. Apesar de não poder beija-lo... Idiota! Ainda poderia fazer coisas tão saborosas quanto... Controlo meu ímpeto de deixar que meus pensamentos me levem a ter uma ereção, enxáguo o meu corpo e giro o registro. Ouço o barulho de pesadas passadas escada abaixo ou acima?, e sorrio ao pensamento de que o Montanha poderia estar logo ali me espiando. Loucura da minha cabeça com certeza.
Uso pelo menos três das toalhas de rosto limpas para me secar. Por falta da minha de banho, tranquila pendurada em casa. Visto um dos shorts limpo de Gustavo, e uma camisa também limpa perdida pelo vestiário. Desço para a recepção, arrastando meus pés dentro dos sapatos, fecho e abro meus olhos com certa dificuldade, por causa do sono assaltando meu corpo.
Não encontro Gustavo em parte nenhuma, e fico perambulando pela academia atrás dele. Desisto de procura-lo, e estico meu corpo no sofá mesmo, só para descansar um pouquinho, penso comigo mesmo. Para quem já é acostumado a passar noites em claro, o cansaço do dia não destrói. No meu caso, ele vence qualquer barreira imposta por minha vontade, e deixo-me dominar pelo gostoso anestésico liberado por meu cérebro para o meu corpo.
A claridade da lâmpada reflete em meus olhos, sem necessariamente incomodar. Entreabro meus olhos com dificuldade, sem entender ao certo o quê ou quem se interpôs entre minhas vistas e a lâmpada.
- Ei cara você tá cansado mesmo hein – reconheço a voz de Montanha, e faço um esforço para soerguer meu corpo. – Comprei dois dogões pra gente, mas você tá aí dormindo...
Eu aspiro o cheiro de cachorro quente, e meu estomago reage imediatamente, consigo então abrir os olhos de vez, e me sento no sofá. Abrindo a boca com gosto de bílis na língua.
- Alguém sequestrou o antigo Montanha – eu abro bem a boca, ressonando, descrente dos feitos dele em tão pouco tempo – obrigado pelo dog, eu estou mesmo morto de fome. Ainda tenho que chamar um UBER...
Mordi o meu cachorro quente, sentindo meu estomago salivar dentro de mim, tanta a forme. Montanha, em contrapartida com duas mordidas já tinha devorado o seu e sentado no chão com os braços em asas apoiados no sofá, se espreguiçou ali mesmo deixando a cabeça pender mais para o sofá. Ele fechou os olhos por alguns segundos, pude notar de perto marcas no rosto dele. Feridas há muito cicatrizadas e escondidas pela barba cerrada dele. Eu ainda estava terminando meu dog, quando a buzina de um carro começou a soar na porta da academia. No mesmo instante meu celular também ascendeu.
- O que foi? – Montanha estava dormindo e nem eu nem ele tínhamos percebido isso – peguei no sono. Que carro é esse ai na porta?
- Acho que eu chamei o UBER antes de dormir, - olho a tela do meu celular a placa do carro – deixa eu ver...
Levanto do sofá, e confiro que a placa do carro é a mesma no aplicativo, o motorista abaixa o vidro e acena para mim. Montanha permanece exatamente no lugar onde eu o havia deixado estirado no chão. Não percebo nenhuma contrição no seu rosto, nem consigo de verdade me lembrar o momento em que pedi o UBER, noites de sono são importantes, concluo comigo mesmo.
- Eu estou mais cansado do que achei que estaria – ele sorri para mim e eu lhe ofereço minha mão – sem querer ser provocativo, mas tenho a pequena impressão que você não vai conseguir me levantar daqui, nem com as duas mãos.
- É acho que não, - sorrio para ele de volta, enquanto pego minhas coisas por ali – isso é o que dá nos dois ficarmos conversando a madrugada inteira pelo celular, estou tão zonzo que... Ah deixa pra lá, obrigado por tudo Montanha... De coração cara, você tá sendo muito, muito, muito bacana comigo.
- Vai logo antes que seu motorista quebre a buzina de tanto usar – ele me diz isso e estende sua mão, eu a pego e aperto com força – já está criando calos hein? Se liga, não deixa o desespero tomar conta, qualquer coisa que precisar...
Gustavo diz isso e me dá um puxão brusco fico a alguns metros de distancia do rosto dele, e oquei, isso é muito estranho, penso comigo mesmo. A buzina ensurdecedora continua lá do lado de fora. Eu respiro fundo, e Montanha, relaxa o braço e o pescoço voltando a inclinar a cabeça. Não digo mais nada, saio da academia com a alma limpa e o coração leve, mas não vazio. É só no caminho para casa dentro do UBER com os pensamentos em um transito mais sereno que a figura antiga do Montanha se desmanchou.
Everest sim, para sempre, porque uma pessoa fria não quer dizer necessariamente má, amarga, perversa, Montanha sim, porque pelo tamanho dele, deus não tem como não ser. Mas de um coração tão grande quanto o segundo apelido, e bem menos frio do que sugere o primeiro. Sorrio recostando minha cabeça no banco, o motorista apenas pergunta mais ou menos os melhores caminhos de chegar a minha casa e eu vou guiando.
~*~
Uma noite de sono bem dormida é sempre uma noite de sono bem dormida. Saio de casa com a certeza de que serei demitido. Não é uma coisa de pressentimento de funcionário novo e inseguro, não. Qual empresa vai aceitar um funcionário com a petulância de enfrentar seus “superiores”? Mesmo assim com essa certeza pesando na consciência, outra surge, e por isso fico sereno e tranquilo quanto a minha demissão. Reafirmo a mim mesmo as palavras de Gustavo, “Não há porque desesperar”, ou coisa parecida. Eu sei como agir, sei mesmo como agir, penso comigo tentando evitar deixar escapar para mim mesmo que nem tudo está bem.
As primeiras horas do dia no trabalho transcorrem mornamente, alguns clientes forasteiros, só de passagem. Alguns que resolvem comprar e se demoram em escolher, e alguns hiatos sem nada para fazer a não ser olhar para frente da loja a espera dos clientes.
Para minha sorte, um rapaz, dezenove anos talvez, moreno jambo usando óculos de armação simples, e com dois braços muito bem definidos e a mostra entra na loja. Ele vem na minha direção e pede ajuda para escolher a calça ideal para uma festa que vai a noite. Fico com as bochechas do rosto vermelhas ao entrever pela cortina do provador o volume na cueca dele.
- Fábio, quando terminar de atender o cliente, pode subir aqui na minha sala por favor? – Jamile mal me olha, apenas passa por mim com alguns malotes de dinheiro e documentos.
Meu coração acelera no mesmo instante. Atendo ao cliente com o máximo de atenção, sem nenhuma. Calculo comigo mesmo quais serão as palavras, digo de mim para comigo, “Se eu for demitido agora, sairei daqui direto para a delegacia”, é isso. Respiro fundo e desejo sucesso ao rapaz. Ando até a escada seguro o corrimão e repasso tudo a dizer. Bato na porta dela, e giro a maçaneta, para a minha surpresa Clarisse está sentada em uma das duas cadeiras a frente de Jamile. Engulo em seco, e puxo a segunda cadeira me sentando ao lado da entojada, e de frente para a metida.
Clarisse vira-se para mim forçando uma face de santa abnegada. Olhos meio para baixo, feição realmente de pessoa sofredora.
- Se eu pareci, rude, ou ignorante com você peço sinceras desculpas – ela sorri para mim e estende a mão.
- Não vou apertar sua mão, - digo logo, e não volto a olhar para ela – pedido de desculpas só não basta né Clarisse, tem que dizer onde está o relógio...
Ela solta um suspiro forte, e Jamile faz um gesto com a cabeça para que ela nos deixe a sós. Fico esperando Clarisse sair da sala, para voltar a pensar nas palavras, respiro fundo pronto para dizer tudo antes de Jamile.
- Fábio, conversei ontem com os donos da loja. Também com nosso setor jurídico e de recursos humanos. Nos entendemos que no momento o seu desligamento da empresa é a primeira melhor opção, iremos lhe pagar o solário do mês trabalhado, - eu deixo de ouvir o que ela fala daí em diante e só penso na minha vergonha. No desprezo destilado por meu pai quando eu saí de casa e afirmei “Vou vencer!”, meus olhos enchem de lagrimas e meu peito cresce de angustia, só não irrompo em choro para não dá o gostinho a Jamile.
Abro a porta da sala com o papel da rescisão, me escoro a ela por alguns minutos com os olhos desaguando lagrimas já. Eu limpo minhas lagrimas, pensando que elas devem ser guardadas para coisas mais valiosas, respiro fundo e ergo minha cabeça. Não sou o culpado, e não tenho porque chorar como se fosse.
- Tu vai me dever pro resto da vida – Cristina aparece do nada de entre um cabideiro de camisas – me ajuda a sair daqui anda antes que a peste me veja...
Eu seguro o braço dela e um pouco abaixado nos guio para a minha seção apesar de não ver ninguém pelo menos perto de nós. Cristina, tira do celular de dentro da calça, e antes de avisar qualquer coisa dá play na dela. O vídeo desfocado não deixa ver com exatidão quem são as pessoas, não até focar bem o rosto da lacraia da seção de camisas, e da outra víbora Clarisse. O áudio em claro e bom som, a voz dos dois um dizendo “Eu só vou usar ele hoje na festa e pronto... Para de neura” enquanto Clarisse responde “Você é um jumento, burro, e se alguém daqui vê?” ele vai ao ouvido dela e diz alguma coisa inaudível.
Um olha para o outro com a intimidade de homem e mulher íntimos. Não como eu olho para Cristina, minha amiga, amiga de verdade. Mas como um homem que já teve aquela mulher. Engulo em seco algumas vezes antes de querer ir até Jamile com o celular e esfregar na cara dela.
- Isso ainda não prova nada, - eu suspiro – mas você me mostrou isso porque também acha que eles pegaram o relógio certo?
- Eu estou tentando te dizer isso tem dias, os dois estão de romancezinho e faz tempo, eu sei onde vai rolar a festa hoje, mas precisamos de um carro... Ah, você tá disposto a fazer uma loucura?
Eu abraço os ombros dela, e afirmo, com a cabeça. Não me contenho e roo todas as unhas da mão esquerda e depois da direita. Sou incapaz de olhar para a lacraia, tento ao máximo esforçar para deixar a seção organizada e atender alguns gatos pingados. O céu escurece lá fora, e eu tomo a liberdade de ir até o ponto eletrônico, antes do horário uns quinze minutos antes, e sair da loja. Não já estou de aviso prévio?, penso comigo mesmo, nada mais relacionado ao emprego pode piorar.
Entro direto na academia, com as ideias fervilhando na cabeça, Mixa apenas acena para mim, enquanto conversa com duas outras garotas e o namorado. E passo direto para o salão do tatame, e sorrio a figura de Gustavo. Pinto no lixo, eu penso, vestido com um quimono de jiu-jitsu, todo vermelho e suado ensinando a alguns garotos. Enquanto é auxiliado por outro.
- Você, - eu olho para a pessoa de Victor e ergo um lado do meu lábio estranhando a intimidade dele diante de tanta gente – veio atrás de mim foi? Confessa, se arrependeu da besteira e veio correndo...
- Cala a boca – eu digo seco, e volto a olhar para o tatame, Gustavo parecendo ler meus pensamentos já está erguendo uma das cordas para passar por baixo – eu vim atrás dele... – eu digo.
Na verdade do carro dele, penso comigo mesmo, mas se o dono vir junto... Não é nenhum sacrifício.
~*~