Felipe - Parte VI – O dueto das flores

Um conto erótico de YL Maestro
Categoria: Homossexual
Contém 1181 palavras
Data: 21/08/2019 20:54:59

Aquela apresentação havia sido algo fora desse mundo. O teatro se encontrava em polvorosa. Eu não sabia o que pensar. Não conseguia raciocinar. Cinco minutos de aplausos incessantes era o que acontecia nesse momento.

Felipe saiu do palco e seguiu em direção à coxia para trocar-se no camarim e depois sairíamos do teatro para jantar. Meus sogros me encontravam no caminho do palco e me seguiram para o camarim para encontrar Felipe.

Também estavam absolutamente atarantados por aquela apresentação. Chegando na porta do camarim, dois nomes importantes queriam entrar para falar com Felipe. A pianista Valentina Lisitsa, uma das maiores pianistas da atualidade e o próprio Maestro Isaac Karabtchevsky vieram parabeniza-lo pela apresentação primorosa que havia feito.

Felipe havia mudado seu cenho. Diferente de quando estava no palco, ele agora parecia o Felipe calmo e contido.

Saímos do municipal e para celebrar, eu, meus sogros e ele fomos para a churrascaria Palace, situada na Rua Rodolfo Dantas, ao lado do Copacabana Palace.

A noite seguiu maravilhosa. Eu havia recebido dele um presente lindo, que foi aquela apresentação, estava num jantar bastante agradável e alegre com a pessoa que eu amava e meu aniversário não poderia ter sido melhor.

Aquela noite seria nossa última noite no Rio, voltaríamos para São Paulo no outro dia de manhã.

Não havíamos conseguido um voo para o sábado no período matutino, então seguiríamos de ônibus para São Paulo, numa viagem de aproximadamente 6 horas e meia.

Na terra da garoa, quando chegamos, estava garoando. Chegamos no período da tarde e iríamos direto para o Teatro com o intuito de ver quais os próximos procedimentos.

Antes de entrarmos, Felipe vira-se para mim e diz que aquela apresentação no Rio, seria sua última apresentação. Algo dentro de mim não se surpreendia com aquele fato. Também disse que não queria mais se apresentar. Estava cansado e queria apenas gastar seu tempo comigo.

O beijei e disse para não se preocupar, conversaria com Genelle para que encontrasse um substituto. Felipe ficou feliz, talvez ele achasse que eu fosse repreendê-lo. Mas não, dentro de mim eu sabia que ele nunca quis ser pianista.

Na conversa com Genelle, eu disse que Felipe não queria mais fazer parte do corpo musical, ele explicou para o gerente e apesar de inconformado, Genelle disse que se ele não quisesse, não seria ele que o impediria.

Continuaríamos juntos, trabalhando juntos, ele como sempre cuidando de mim com muito zelo e carinho e eu cuidando daquele pequeno que eu tanto amava.

No natal daquele ano, recebi o convite para me apresentar com Annanda Samarine, uma soprano da nova geração assim como eu, muitíssimo talentosa.

Já havia escutado ela cantar Sempre Libera e havia achado incrível. Felipe também pareceu gostar da ideia.

Aquela seria minha última apresentação também. Eu já não estava com o mesmo pique, a paixão não era a mesma. Tudo o que eu queria, era Felipe ao um lado.

Pensava em seguir com aulas de canto, já havia, por mais que muito jovem, recebido a proposta para ensinar canto no Conservatório de Uberlândia, uma cidade no interior de Minas Gerais, que eu já havia me apresentado.

Gostava muito de Uberlândia, cidade grande, boa estrutura, um conservatório muito bom e apesar de ser uma cidade de interior.

Felipe pareceu gostar da ideia, disse que se eu me mudasse de São Paulo para lá, iria comigo. E seus pais gostavam da ideia.

Tudo que eu tinha na vida era a música. E dela eu ia continuar vivendo. Não havia escola, poderia arrumar, assim como em São Paulo, professores particulares para mim e para Felipe estudarmos.

Ele daria aulas de piano e eu de canto. Ele trabalharia com aulas particulares e eu no conservatório.

Então dois dias antes do natal de 2010, começaram a chegar os músicos convidados para as apresentações de natal da companhia. Eram apenas solos de orquestras e voz.

Muitos convidados para essa celebração da noite de Natal. Meus pais iriam assistir a essa apresentação, e na véspera, no dia 24, chegaram meus sogros.

A noite estava ótima. Fomos todos ao Municipal de São Paulo, local que sediaria o Concerto de Natal do ano de 2010.

Eu já havia entregado meu posto para uma cantora argentina que assumiria meu lugar. Gabriela Maldonado seria quem me substituiria. E tinha certeza que me substituiria a altura. No primeiro dia de 2011, o lugar era dela.

As apresentações de natal começavam no Teatro Municipal. Eu estava muito emocionado, pois aquela seria minha despedida dos palcos e eu não pensava estar nem um pouco arrependido.

Meus sogros e meus pais nos seguiriam de mudança para Uberlândia, queriam tranquilidade também. Melhor assim, ficaríamos todos juntos. E eu estava imensamente feliz com isso.

Eu e Samarine fecharíamos a noite com O Dueto das flores de Lakmé, ópera de Leon Delibes. Aquela música era apaixonante. Nos ensaios a minha voz e de Samarine haviam se casado perfeitamente. Estava tudo no prumo para acontecer.

Eu sabia que havia muitas pessoas importantes assistindo àquela apresentação. Mas qual não foi a minha surpresa que quando eu me posicionei para começar a cantar, logo na primeira fila estava ela, Elina Garanca.

Meu coração deu saltos de alegria. Por dentro eu estava em êxtase. Eu amava a voz de Elina, era uma grandessíssima referência para mim.

Aquela música foi cantada com muita suavidade, como deve ser cantada. Era com muito amor que eu finalizava aquela música que sempre me encantou em cantar.

Foi um momento único. Samarinne tinha os olhos vertidos em lágrimas. Eu olhava para o camarim e via Felipe, absorto na minha apresentação.

Tudo se acabou ali. Havia encerrado minhas apresentações depois daquelas últimas notas que foram tocadas.

Mas eu estava feliz. Muito feliz. Havia recebido no camarim as felicitações de Elina, dizendo que era um desperdício que eu parasse de cantar. Mas que mesmo assim, ela entendia que se o meu amor pela música no palco não estava como era antes, outras áreas me fariam mais feliz. E nesse ponto ela tinha completa razão.

No dia primeiro de janeiro, embarcamos de mala e cuia para Uberlândia. Queríamos ir mais cedo possível para que pudéssemos nos habituar à calma e a leveza daquela cidade que eu achava tão bonita.

No começo de fevereiro, eu começava as aulas no conservatório. Felipe, que havia levado seu piano de parede na mudança, no caminhão que veio do Paraná com as coisas de seus pais, colocou-o em nosso apartamento, que nós alugamos entre os apartamentos dos nossos pais e logo já teve duas meninas de 8 e 10 anos para ensinar piano.

Tudo estava indo às mil maravilhas. Estávamos felizes, eu havia guardado algum dinheiro dos 4 anos e meio que trabalhei na companhia de teatro. Felipe também tinha algumas reservas e assim vivíamos muito bem.

Estávamos em clima de casamento. Éramos um casal feliz e quem quer que visse isso, via o amor que tínhamos um pelo outro.

Mal sabíamos nós que em pouco tempo o destino iria mudar tanto.

Mal sabia eu que minha vida nunca mais seria a mesma em tão pouco tempo.

Tudo mudaria ali.


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