UM BRUTAMONTES E SEUS GAROTOS, cap. 03
Capítulo 03
Depois de passar cerca 40min sentado no chão do quarto pensando no vexame que acabei de passar, resolvo me vestir logo. A minha vontade é de deitar e dormir por algumas horas, mas a minha cama não tem colchão e ainda tem bastante coisa que preciso resolver. Colo o ouvido na porta e não ouço nada do outro lado. Pego minhas chaves e saio pra rua.
O prédio não fica exatamente na região central na cidade, mas não levo muito tempo para chegar ao centro de comércio. Faço tudo o que tenho que fazer: vou a uma loja de móveis e parcelo uma escrivaninha e um colchão em quantas vezes puder, passo em um supermercado para abastecer meu armário na cozinha, corro atrás de roupa de cama e outras coisas úteis e, quando finalmente paro em um restaurante para almoçar, já estou bem cansado.
Enquanto espero meu prato, desbloqueio meu celular e faço algo que ainda não havia feito na cidade: abro o Grindr. Pra quem não sabe, esse é um aplicativo gay em que basicamente se procura por sexo. Mas essas normalmente não eram as minhas intenções ao mexer no app. Quer dizer, mais ou menos.
Ainda que eu seja muito tímido, nunca tive problema de manter uma foto de rosto no meu perfil. Mas a exposição dificilmente passa disso, pois eu não costumo responder às mensagens ou chamar alguém pra sair. Não sei por quê faço isso, se é por esporte ou algo assim, só sei que me divirto rolando o feed de homens que se oferecem para encontros de sexo casual.
Foram poucas as vezes em que eu respondi mensagens. E apenas uma dessas conversas resultou em um encontro propriamente dito. Foi no ano passado, eu tinha acabado de me entender como gay (já suspeitava e me torturava por isso, mas acabei me aceitando). Um cara bonitão, mais velho (uns 45 anos) me chamou no app, e me chamou a atenção sua ortografia perfeita e seu sorriso simpático na foto de perfil (normalmente essas fotos só mostram o tronco das pessoas).
Conversamos por um ou dois dias. Ele era um empresário que estava á trabalho na cidade, hospedado em um hotel. Me pareceu ser gente boa, era engraçado e maduro. Acabei aceitando seu convite para ir até o hotel. Chegando lá, teve pouca conversa. Eu tinha alguns assuntos anotados na cabeça caso ficássemos sem assunto, mas logo de cara percebi que ele não tava afim de conversa.
Assim que nos cumprimentamos ele fechou a porta do quarto e me jogou contra a parede, num beijo cheio de dentes, super desconfortável. O beijo não durou muito tempo, já que ele logo se colocou de joelho, abriu minha braguilha e começou a chupar meu pau, que nem duro estava ainda, devido ao nervosismo.
O boquete dele era cheio de dentes também, mas depois de alguns minutos ele conseguiu que eu ficasse duro. Ver meus 19cm ereto foi sinal suficiente pra ele me puxar para a cama e se colocar de quatro sobre o colchão, empinando sua bunda na minha cara.
— Pega a camisinha ali — ele falou, apontando para o criado mudo ao lado da cama. Era uma daquelas camisinhas de posto de saúde — e vê se dá uma cuspida antes de meter.
Minha primeira vez com um homem pareceu durar uma eternidade. Esperei ele gozar, fingi que tinha gozado também, dando um nó na camisinha e jogando no cesto de lixo do banheiro. Voltei para o quarto e deitei na cama, ainda na esperança de batermos um papo tão legal quando o que tivemos no aplicativo. Mas ele se manteve em pé, ao lado da cama, com uma expressão impaciente no rosto. Entendi o recado.
Depois de me vestir, estendi minha mão para me despedir do cara e percebi que ele tinha uma aliança no dedo. Merda. Mais essa para a minha consciência. Voltei pra casa me sentindo um lixo e pensando que a vida era mais fácil quando eu namorava meninas. Homem não presta, pô!
Desde então, nunca tive interesse em mais nenhum cara. A minha sorte é que não tenho um apetite sexual tão voraz quanto a da maioria dos caras da minha idade (ou pelo menos eu achava isso rsrsrs).
Volto do meu devaneio quando o garçom chega com a minha comida e caio de boca no prato, estou faminto. Depois, com a barriga estufada, abro de novo o celular para dar um tempo antes de voltar pra casa. Tenho uma nova mensagem no Grindr.
É o de sempre. Um cara sem rosto, chamado COROATV55, que me cumprimenta com um ‘oi’ e uma foto de sua bunda. Ignoro, como sempre. Se ele insistir, bloqueio. É o que sempre faço.
Me levanto e aceito a ideia de que terei de voltar para o apartamento. Apesar de os meninos terem me recebido bem, a minha cena no corredor ainda martela na minha cabeça. Me lembro da cara de susto deles, mas ignoro a sensação de vergonha. Vou só fingir que nada aconteceu e vai ficar tudo certo.
**
Entro no apê por volta das 17h, com as compras do mercado, e logo ouço o barulho da TV da sala. Me concentro na tarefa de fingir que nada aconteceu hoje de manhã e, felizmente, Heitor, sentado no sofá, parece estar empenhado na mesma tarefa.
— Foi conhecer a cidade? — ele pergunta, com sua voz baixa calma.
— Fui sim. Corri atrás de umas coisas que precisava.
— Mudança é um negócio estressante, né?
—Olha, vou te dizer que tô mais animado do que estressado — digo, me sentando no sofá ao lado dele. Ele está assistindo a uma comédia romântica bem velha, e rimos juntos em alguns momentos.
— Curtindo o fim das férias? — pergunto, para quebrar o silêncio repentino.
— Tô muito haha entrei numa maratona pesada dos filmes que foram indicado ao Oscar esse ano, só dei uma pausa agora de tarde.
— Você curte cinema? — pergunto.
— Demais. Resolvi estudar jornalismo pra poder escrever sobre cinema para as pessoas, curto muito.
— Que legal! E você tá ansioso pro ano letivo começar?
— Mais ou menos haha. Mas não vou falar nada pra não te desencorajar, o seu primeiro dia de aula é na segunda e tenho certeza que vai ser bem legal.
— Você e Lorenzo estudam na mesma sala?
— Sim sim. Nos conhecemos nas calouradas e ficamos amigos rapidinho. Ele é meio doido mas a gente acaba se completando.
— Haha como assim? — pergunto, interessado e feliz por estar conseguindo manter uma conversa com alguém que acabei de conhecer.
— Ele é aquela bixa lokona e faladora e eu sou uma bixa mais na minha — rimos — Eu cuido dele e sou responsável. E o Lorenzo traz alegria pro apê.
Acho legal a forma como Heitor descreve sua relação com o amigo. Penso em comentar algo, mas a porta de entrada se abre novamente e Lorenzo já chega chegando.
— OPA, QUE EU OUVI MEU NOME HEIN. Espero que estejam falando sobre como a minha bunda é linda, não aceito nada pra baixo disso.
— Ihh, chegou a egocêntrica — Heitor fala, rindo e olhando pra mim.
— Egocêntrico não, querido. Eu tenho auto estima. Falando nisso, tava na academia tentando malhar esse corpo lindo que deus me deu, mas não tava conseguindo me concentrar com tanto homem bom lá. Vou ter que fazer hidroginástica com os velhinhos pra conseguir focar.
— Como se você recusasse um coroa — Heitor diz.
— Não recuso mesmo haha. E nem você, meu filho. — Lorenzo olha pra mim — Igor, você vai entender que nessa casa não tem uma pessoa que presta. Heitor se faz se bom moço fã de cinema e blablabla, mas vive aprontando por aí. Não acredite nesse rosto inocente, não haha.
Me divirto com os meninos juntos e conversamos mais. Eles me perguntam se pretendo ir nas festas de recepção de colouros do meu curso. Digo que não sou muito de festa, mas eles insistem que eu vá.
Tomo coragem e pergunto se eles podem ir comigo então. Vai ter uma dessas festas amanhã (domingo) e não sei se é o tipo de processo pelo qual eu conseguiria passar sozinho. Lorenzo logo se anima com a ideia de uma festa, mas Heitor leva mais tempo para ser convencido. Ficamos combinados então.
— Que fome da porra — eu comento, num dos poucos momentos em que tomo a iniciativa do assunto.
— Ai, eu também. Acho que ocasião pede uma pizza, né? — Lorenzo sugere.
— Deus me livre. A gente come essas besteiras dia sim dia não. Prefiro ficar no miojo mesmo, pelo menos economizo — Heitor fala.
— Vocês não cozinham muito por aqui? Além de miojo?
— Ixe, quase nunca. Tava até pensando em usar o forno pra guardar uns livros haha — Heitor responde.
— Nenhum de nós sabia cozinhar quando nos mudamos e vivemos de besteira desde então — o amigo completa.
— Se vocês quiserem eu posso fazer algo pra gente. Não sou muito de comer besteira e vocês realmente tão magrinhos, precisam de um pouco de sustância.
Eles riem. Lorenzo realmente precisa, porque é todo magrinho (exceto por sua bundinha redonda), mas Heitor tem umas curvas bem legais no corpo. Olho nas compras que fiz e decido fazer algo bem simples, macarrão com carne moída. Corro pra cozinha enquanto os meninos ficam conversando na sala.
Modéstia parte, sou muito bom na cozinha. Meu pai nunca foi um cozinheiro de mão cheia e, já que éramos só eu e ele em casa, eu tive que me virar pra não passar fome naquela casa haha. Enfim, cozinhar se tornou algo que curto muito fazer e me sinto bem das pessoas comerem a minha comida.
O macarrão fica pronto, comemos e continuamos a bater papo na sala. Eles falam mais do que eu mas, mesmo quando não participo diretamente da conversa, me sinto incluído no diálogo. A noite vai passando e, quando percebemos, já passa da meia-noite.
Estou exausto, mas logo sinto o balde de água fria ao lembrar que o meu colchão só será entregue na segunda-feira. Vou ter que dormir no sofá minúsculo, de dois lugares, que nem de longe comporta meu 1,90. Pego uma dos lençóis que comprei hoje e começo a estender sobre o sofá.
— Cara, você tá sem cama? — Lorenzo pergunta.
— Sem colchão, chega só segunda. Mas eu me viro aqui.
Lorenzo chama Heitor, que está bebendo água na cozinha. Da sala consigo ouvir eles cochichando algo e Heitor parece meio com vergonha quando fala:
— Se quiser pode dormir no quarto. Quer dizer, na minha cama. — ele fala mais baixo do que o normal — É de casal, então cabe a gente de boas, eu acho.
— Que isso, cara. Tá tranquilo, eu fico bem aqui na sala mesmo...
— Imagina, o Heitor não liga de você ficar no quarto dele — Lorenzo interrompe.
Olha para Heitor para saber se ele está realmente ok com isso. Ele não parece a pessoa mais confortável do mundo, mas diz que está tudo bem e eu acabo aceitando a oferta. Digo que só preciso tomar um banho antes, pois o dia foi muito quente.
— Cuidado pra não escorregar na saída, hein — Lorenzo provoca.
Se minha pele fosse branca, tenho certeza que eu estaria totalmente vermelho na hora. Heitor solta uma risada ao mesmo tempo que belisca o amigo. Acabo rindo também, morrendo de vergonha.
Tomo uma ducha, visto um short de futebol azul e uma camiseta regata branca. Ainda no banheiro, dou uma última checada no celular. Dou boa noite ao meu pai via Whatsapp e, só por força do hábito, dou uma olhada no Grindr. O cara que me mandou mensagem de tarde havia me respondido e eu não vi.
COROATV55 às 15h32: “eu to te vendo porra, não me ignora”
Me assusto com a agressividade. O app funciona com tecnologia localização e o cara que me mandou mensagem provavelmente estava no restaurante hoje de tarde. Ignoro a mensagem e saio do banheiro, indo em direção ao quarto de Heitor.
Ao chegar lá, Heitor já está deitado na cama, olhando para o teto. Para a minha surpresa, Lorenzo pegou seu colchão e o encaixou no chão do quarto.
— Você acha que eu ia ficar de fora da festa do pijama? Nunca! — ele diz.
Apago e luz e deito na cama, ao lado de Heitor. Ainda que a distância entre nós seja segura, parece estranho dormir na mesma cama que alguém que acabei de conhecer. Dá pra sentir o desconforto no ar, mas Lorenzo quebra o silêncio.
— Igor menino, te vi no Grindr. Você não imagina o alívio que foi saber que você é gay também — damos risadas e dou uma respirada.
O clima vai ficando cada vez mais leve e acabamos conversando noite adentro, sobre os mais diversos assuntos. Faço uma nota mental falar mais nas conversas, mas os meninos parecem gostar de mim mesmo que eu seja mais quieto.
É, acho que as coisas vão se ajeitar.
**
Fala, galera. Espero que tenham gostado do capítulo 03. Me digam o que acham da timidez do Igor e da relação dele com os meninos. Essa festa de domingo promete, então fiquem ligados no próximo capítulo. Abração :D