UM BRUTAMONTES E SEUS GAROTOS, cap. 02
Capítulo 02
Não seja idiota, Igor. Óbvio que aqui é o 405. Ignoro o nervosismo e tento sorrir, mostrar simpatia. Mas o garoto que abriu a porta ainda não disse nada. E só agora paro pra notar o que ele veste: só um camisetão surrado, com o logo de alguma banda que eu não conheço. Identifico a barra de uma cueca branca no fim do comprimento da camiseta, mas isso é só. Ele tem as pernas mais magrinhas que já vi na vida. E uns olhos bem grandes, que me encaram arregalados.
Ele parece sair do transe, porque de repente sorri e me cumprimenta.
— Oie! Você deve ser o Igor. Foi mal a demora, a gente não tá acostumado a acordar muito cedo — ele força uma risada.
Mas já passam das 10h, penso.
— Sem problemas, cara. Que bom que cheguei, finalmente. Você que é o Heitor? — pergunto, porque sua foto no Whatsapp era de um personagem de desenho animado.
Apesar de estar extremamente nervoso (conhecer gente nova não é o meu forte).
— Não sou o Heitor haha. Meu nome é Lorenzo, prazer — ele me estende sua mão minúscula.
Lorenzo parece ser do tipo falador. E é mesmo. Ele logo informa sobre a dinâmica do apê. Confirma o valor do aluguel, comenta sobre as tarefas da casa e me mostra o lugar do armário da cozinha onde guardarei minhas comidas. Fico feliz por ele falar tanto, assim não tenho que me esforçar tanto para manter o assunto. Logo descubro que ele é um menino gay, fã incondicional de Britney Spears e estudante de Jornalismo. Tem 20 anos (parece ter menos) e sonha em trabalhar com jornalismo de fofocas.
Acho legal ele admitir que trabalharia com isso. Muita gente recusaria por achar fútil.
Durante sua fala, seu cabelo loiro insiste em cair sempre sobre os olhos.
— E aqui é seu quarto, Igor — ele fala, apontando para uma porta no final do corredor.
O quarto é até grande e arejado, tem um armário embutido e uma cama de casal, dessas de madeira antiga. Já risco a cama nova da minha lista mental de compras, é um gasto a menos.
— A cama já veio com o apê e você pode usar — ele me explica — Agora vou te deixar a vontade e acordar a puta do Heitor.
Dou risada e aviso que vou lá embaixo pegar minhas malas.
Quando volto ao apê, com uma mala de rodinha em cada mão, encontro um rosto novo me esperando na cozinha. Heitor é mais alto que Lorenzo e também tem mais carne no corpo. O cabelo cheio de cachos está bagunçado e seus olhos também me encaram arregalados.
— Poxa, Igor. Me desculpe te fazer esperar — de cara percebo que ele não é tão extrovertido quanto o seu amigo, mas ele me recebe bem. Logo me entrega um chaveiro com as duas chaves que precisarei para entrar no apê.
— Sem problemas, cara. O síndico me atendeu.
Ele faz uma cara feia quando me refiro a seu Natalino.
— Você achou fácil o prédio? — ele pergunta, cuidadoso.
— Até que sim, viu. Vindo pra cá passei em frente á faculdade, é realmente bem pertinho.
— É sim. E tem mercado e farmácia aqui por perto, a gente te mostra onde é.
Agradeço. Lorenzo entra na cozinha, ainda usando sua roupa de dormir.
— Heitorzinho, querido. Você fala tanto que é o responsável da casa, como é que deixa o nosso convidado esperando na porta de casa hein?
— Cuida da sua vida, viado — Heitor rebate, em tom de brincadeira.
Eu rio junto, mais por educação do que qualquer outra coisa.
— E ele não é convidado —Heitor completa, sério dessa vez — Ele mora aqui agora.
— Verdade — Lorenzo responde, me encarando de olho meio arregalado de novo.
O cozinha entra num silêncio e eu penso numa saída rápida dessa situação. Não tenho muita facilidade eu conhecer gente nova, como vocês devem ter percebido.
— Olha, se vocês quiserem voltar a dormir… eu tô tranquilo, só preciso me instalar e toma uma ducha pra descansar da viagem.
Digo isso porque eles parecem sonolentos, apesar de terem me recebido bem. Eles concordam e me mostram onde é o banheiro. Desejo boa noite pra eles mesmo que já seja 11h da manhã. A real é que não sei bem o que falar haha.
Eles se viram e vão para os seus quartos e nisso não consigo deixar de reparar na bunda dos dois. Lorenzo é magrinho e sua bunda sob o camisetão é pequena e redonda, perfeitinha. Já Heitor, que está usando um pijama azul marinho com estampa de âncoras, tem um bundão grande e redondo, bastante avantajado.
Finjo que não vi nada e imediatamente entro no banheiro. Não é o banheiro mais limpo do mundo, mas não é tão mal para um apê universitário haha.
Já nu e com a água caindo sobre o corpo, fico pensando nesse contato inicial com os meninos. Sou meio calado desde criança (acho que por influência do meu pai, outro homem de poucas palavras), mas senti que eles me receberam super bem e os momentos de silêncio mortal foram poucos. Sendo tímido, um dos medos que sinto com essa mudança radical de vida é realmente a questão de socializar.
Saio do box e me olho no espelho do banheiro. Não posso negar que sou um cara boa pinta. Tenho cultivado meu corpo desde os 16 anos, e hoje em dia já me sinto super bem com a minha aparência. Malhar se tornou uma paixão e faço uma anotação mental de perguntar aos meninos se eles sabem de uma academia aqui pela região.
É quando percebo que não trouxe nem toalha nem roupa limpa para o banheiro. Procuro por uma toalha de rosto para me cobrir até chegar ao quarto, mas nada. Resolvo então sair pelado mesmo, já que os meninos voltaram a dormir e o território tá limpo.
Mas é óbvio que as coisas não iam ser fáceis assim. Abro a porta do banheiro e saio para o corredor andando na pontas do pés, tentando não escorregar no piso liso do apartamento. Mas é exatamente isso que acontece. Meu pé direito desliza no chão e eu caio de costas no piso. O barulho deve ter sido alto, já que não sou pequeno, e os meninos saem dos quartos para ver o que houve.
Vejo seus olhares de surpresa para a cena, mas não por muito tempo. Levanto antes que eles possam me ajudar, ignorando as dores na base da cabeça e na bunda, e corro para o quarto e fecho a porta. Péssimo começo, Igor.
Então é isso, galera. Quis que esse segundo capítulo fosse mais pra conhecermos o personagens e vermos a química entre os meninos e Igor crescendo. Me digam o que acham, estou super disposto a críticas (e elogios também haha).