Coração de Gelo | 7 |

Acordei por volta de 05h:30min da manhã, tomei um banho e desci para a cozinha ainda com a tolha enrolada na cintura, ao chegar lá tomei um susto ao ver Erik de costas ainda de pijama preparando o café.

- O que você está fazendo?!

- Eu... É... Bom dia Senhor, eu... - ele pulou de susto ao me ouvir, se virou para mim e baixou a cabeça.

Me aproximei ficando de frente a ele que ainda estava com o rosto baixo, estiquei meu braço por cima do ombro dele sentido sua respiração quente e descontrolada tocando meu abdome desnudo, peguei uma caneca no armário atrás dele e coloquei um pouco de café.

- Seu café é bom! - disse me encostando na pia ao lado dele.

- Obrigado senhor. - ele disse constrangido e me fitando pela segunda vez desviando o rosto mais uma vez e voltando seus olhos pro chão.

- Está preocupado com seu irmão?

- Não é bem isso, é só que... nós nunca ficamos distante um do outro. - falou com a voz embargada.

- Entendo, você parece amar muito seu irmão.

- Ele é tudo que tenho senhor, eu faria tudo pelo Miguel, daria minha vida por ele! - ele me encarou e pude ver verdade em seus olhos marejados.

Acenei para ele e coloquei a caneca na mesa e sai da cozinha porque de algum forma aquela conversa estava me afetando e me fazendo ter recordações que há muito eu fiz questão de enterrar.

Vesti meu terno escuro e desci ajustando o relógio no meu pulso, Erik já me aguardava com seu tablet na mão.

- Senhor, agora pela manhã você tem uma visita no hospital e a tarde tem uma reunião com os diretores do shopping que está sendo construído em Dubai.

- Ok. - disse pegando as chaves do meu Audi.- Passo aqui antes do almoço pra irmos almoçar!

Ele abriu a boca para falar algo, eu parei para o observar e ele acabou desistindo do que ia falar e apenas acenou concordando com o que eu havia falado. Sai em direção ao hospital, ao chegar lá fiquei mal pela cena que vi, Emi sempre uma mulher muito forte e a ver tão fragilizada me deu um aperto no peito e um nó na garganta.

- Allen... - ela disse com a voz fraca e me dando aquele sorriso que ela sempre me dava após um bom dia na mesa ao tomar.

Me aproximei da cama e segurei em suas mãos enrugadas pelo tempo e pelas batalhas da vida, ela apertou e uma lágrima escorreu em seus olhos.

- Me promete que você vai se cuidar meu menino!

- Vai ficar tudo bem Emi, você vai ficar bem e eu vou te levar comigo pro Brazil.

- Allen, eles voltaram... Você sabe que eles não vão ficar só nisso.

Eu cerrei os punhos, pois sabia que ela estava certa, mas se eles pensavam que eu iria retroceder com as investidas deles, eles estão muito enganados, se eles aparecerem eu vou revidar.

- Calma, vai ficar tudo bem, prometo!

Me virei quando alguém entrou no quarto, era uma enfermeira que veio dar alguns comprimidos para Emi não demorou muito e a moça saiu.

- Como você está Allen? - disse após tossir e fazer uma cara de dor.

- Estou como sempre Emi, trabalhando muito!

- Tem algo de diferente em você! - ela disse com um sorriso de canto e balançando a cabeça de forma negativa.

- Nada de diferente Emi.

Perguntei se ela queria alguma coisa da cantina e ela recusou e eu sai em direção a loja no hospital para comprar um café e também para acabar com aquele assunto que eu já sabia onde iria se findar como das outras vezes ela iria me pedir para abrir meu coração, encontrar alguém que me fizesse feliz e eu terminaria chateando ela pela décima vez ao enfatizar que não acredito em amor e que isso não é pra mim.

- Voltei - disse batendo na porta e entrando segurando o copo com café.

- Você fugiu de mim Allen, como um garotinho... Eu já estou muito velha e não vou demorar por aqui, não me sinto em paz em saber que você ficará sozinho.

- Eu estou bem assim Emi, você me conhece e eu tenho Chloe.

- E quando Chloe casar e tiver filhos? Você precisa de alguém que...

- Alguém que me faça feliz! - disse interrompendo ela

Ela suspirou e balançou a cabeça negativamente mais uma vez, passei o resto da manhã com ela e fiz planos de levá-la comigo quando retornasse para o Brazil.

Sai de lá e fui direto para casa, assim que entrei dei uma olhada pela sala e não vi ninguém, fui até a cozinha e estava tudo limpo, mas nenhum sinal de meu assistente, subi as escadas e fui até o quarto de hospedes, ele estava de costas com seu notebook ligado e alguns papeis ao seu redor, ele estava tão concentrado que não percebeu minha chegada.

- Não está com fome?

- Senhor, estava revisando algumas coisas e preparando sua agenda. disse ele quando se virou rapidamente e me encarou.

- Muito bem, vamos?

- Claro, eu vou só trocar de roupas.

Eu não me movi e fiquei encarando ele que ficou vermelho e abaixou a cabeça, puxei a maçaneta e tranquei a porta me dirigindo ao meu quarto, tomei um banho rápido e vesti uma roupa mais leve. passei pelo quarto de Erik, mas ele não estava mais lá, desci as escadas e avistei ele sentado no sofá me aguardando.

Passei por ele que me seguiu, entramos no audi e fomos em direção ao Bluestem um dos meus restaurantes favoritos em Kansas, ao chegar a recepcionista nos levou à mesa que sempre almoçava, o garçom veio nos atender, peguei meu celular e comecei a ver algumas planilhas online, fui surpreendido com uma voz familiar e indesejada naquele momento.

- É você mesmo que está de volta?

- Franklin?!

- Oi Allen, quanto tempo!

Ele disse estendendo a mão para um aperto que foi ignorado, ele olhou para a minha frente e notou a presença de Erik que nos observava.

- Esse é o da vez? - ele apontou em desdem para Erik.

- Isso não é da sua conta Franklin!

- Bonito o rapaz Allen, você tem bom gosto.

- Cuidado garotinho, assim que ele cansar você será descartado.

- CHEGA FRANKLI! - disse aumentando a voz e batendo forte na mesa, fazendo as pessoas ao nosso redor olharem para nós.

Olhei para Erik que tinha um olhar confuso e assustado, respirei fundo ainda com os olhos fixos nos dele tentando o acalmar, me virei para Frank que ainda tinha um sorriso de deboche na cara.

- Vai embora daqui Franklin!

- Foi bom te rever Scotty, quando cansar do seu brinquedinho ruivo me liga. - disse piscando o olho na minha direção e saindo ao ver os seguranças se aproximarem.