Eu entrei na sala errada. IV

MATHEUS

- Matheus Rodrigues Guimarães? Você não é dessa sala. É a do lado. - MAS O QUE? Não posso acreditar. Não pode ser possível. Todos riem de mim. Pego minhas coisas rapidamente, que nãos estão espalhas. Ora, não deu tempo de mal abrir minha mochila, além para pegar minha caneta. Saio da sala e bato na porta ao lado. Um professor baixinho gordo de cabelo longo mas calvo em cima abre. Ele parecia o mestre dos magos. Era aula de espanhol lá. O mesmo era nativo da Espanha, por isso falava enrolado.

- Queres dizer que tu errou la classe? Muy bien. Creo que tu possas te assentar. - Ele diz com um sorriso. Mas não um sorriso de alegria ou, sei lá, de tudo bem. Foi um sorriso de deboche.

Esse dia foi uma merda. Eu tinha a meta de, pelo menos arrumar um novo amigo. Agora sou conhecido como o garoto da sala errada. Concordo que não é o melhor dos apelidos, mas foi o que me chamaram.

Ei, você é o garoto da sala errada? Farto estou.

No recreio eu estava comendo Doritos de baixo da escada do colégio quando vejo uma garota. Ela estava sozinha. Digamos que não tinha jeito de ser popular. Ela estava usando o uniforme do colégio, que é estranho, pois havia uma tolerância de vinte dias para adquirir o mesmo; calsa jeans clara e um All Star branco desamarrado com os cadarços soltos. Seus cabelos eram curtos e ondulados cabelo tingido de rosa já desbotado, quase que branco. Ela usava um óculos redondo.

- Oi. - Me aproximo dela.

- O que vai me zombar também? - Estanho...

- Te zombar?

- Sim. Pelo meu cabelo.

- Mas o que que tem seu cabelo?

- Pelo amor de Deus, né? ELE É ROSA!

- Foi você quem quis pintar ele assim? - Pergunto sentando no chão ao lado dela.

- Foi sim. Mas sei lá.

- Você está linda. Kkk. - Ela olha para mim, sorri e tira o cabelo do rosto. - Meu ex namorado tinha o cabelo azul... - Nunca namorei.

- Você é gay? - Ela arregala os olhos.

- Acho que sim.

- Que legal! Sempre quis ter um gay como amigo. - Me senti um pouco ofendido mas ok.

- Mas, somos amigos? - Ela fecha a cara.

- Ah, me desculpa. - Sorrio.

- Tudo bem, kkk, somos amigos sim. - Nós trocamos nossos números. Infelizmente ela é do segundo ano.

O resto do dia na escola até que foi bom. Conversei com um povinho lá. Esses já parecem ser os mais populares do ensino médio. Umas meninas bundudas, com peitos grandes. Algumas nem tanto mas mesmo assim muito bonitas. E os caras, grandes, nem todos fortes, mas muito bonitos. E uns bundões que esses meninos têm. Redondinhos.

Quando toca o sinal de ir embora, vou correndo para o banheiro. Morrendo de vontade de mijar. Coloco meu pau pra fora que puxo a pele. Porra, que mijada gostosa. Quando termino dou uma balançada e guardo.

- Felipe. Você é muito legal. O máximo. Acho que a gente podia, sei lá, brincar aqui... - Pasmo estou. A voz é grossa. Não a reconheço. Certifico que está trancada minha cabine. Ouço respiração ofegante e um tapa.

- PARA JONATHAN!.... PARA! - Parece som de briga.

- O QUE FOI? - Aquele menino de voz grossa. - NÃO É ISSO QUE VOCÊ GOSTA? - Não consigo me mexer.

- JONTATHAN PARA, POR FAVOR. - O garoto está chorando. Tenho que fazer alguma coisa. Ao lado da minha cabine já é a porta. Certamente fechada. Atrás do vaso tem aquelas vassourinhas de lavar o vaso. Pego-a e a jogo na porta, fazendo um baita barulho. Eles param. E um dos dois sai correndo.

FELIPE

Saio correndo de lá. Meu Deus. Não sabia o que fazer. Mesmo estando com voz de choro, não estou. Mas estou assustado. Me senti vulnerável. Desprotegido. Sem abrigo. Lembro de Alex.

Música: / (Kodaline - All I Want (Lyrics))

- Não vou deixar você ir longe. Você é meu e eu te amo. - Ele olha para trás.

Vem por cima de mim como se engatinhando. E nossos lábios se encontram.

- Se precisar, ponho um rastreador em você. - Passa o polegar em meus lábios.

Alex... meu amor. Minha vida. Cadê você? Começo a chorar.

- Tudo bem? - Sinto uma mão no meu ombro. Assusto. - Me desculpe, mas você está chorando? - Limpo meus olhos.

- Eu, eu estou bem.

- Não, você não está. - Um garoto branco de cabelo preto. Muito preto. - Eu vi o que aconteceu com você. - Não pode ser. - Tudo bem. Não vou espalhar. Se quiser conversar.

- Eu nem te conheço.

- Meu nome é Gustavo. Sou monitor dos terceiros anos. - Legal, fera.

-Hm... - Novamente: ironia é lindo. - Mas você não é da minha sala é?

- Acho que não. Você é do B? - Ele diz.

- Não, não. Sou do terceiro A. - Ficamos um tempo em silêncio.

- Acho que é meu dever fazer os calouros se interagirem. kk. Bem, sexta vai ter uma festinha, para os mais íntimos, lá em casa. Você topa? Eu e minha namorada estamos organizando... - Você que está lendo isso, se ele não tivesse dito agora que namorava uma menina, eu estranharia o fato de dizer que é para os íntimos e me convidar. Garoto estranho.

- Claro. - Sorrio. - Mas, você vem e me convida para ir na sua casa e nem sabe meu nome...

- Ah, sim. Me desculpa. Sou um idiota. Como se chama? - Ele ficou envergonhado...

- Felipe.

- Só Felipe? - Ele ri.

- É... acho que sim. kkk. - Ele recebe uma mensagem.

- Então prazer, 'Só Felipe'. - Ele se levanta e estende a mão.

- Prazer. Kkk. - E se vai.

Devo admitir. Nessa escola tem, como já disse, garotos muito bonitos. Mas preciso tomar cuidado mesmo assim. Gustavo parece ser seguro. Mas Jonathan também parecia...

MATHEUS

Música: / (Shawn Mendes - In My Blood)

Eu não acredito ainda. Vou caminhando para casa pensando no que aconteceu. Se não foce por mim, o menino seria estuprado por esse outro garoto. Eu tenho que contar para alguém... não. Melhor não. Esse ano quero me dar bem com as coisas. Se bem que... nada demais aconteceu. Graças a mim. Levanto o rosto e sorrio.

FELIPE

- Filho? Já chegou! Como foi seu primeiro dia? - Minha mãe parece animada. Eu estava com medo pelo que aconteceu. Mas ela está tão feliz nessa cidade... mesmo antes de vir. Sorrio.

- Foi ótimo, mãe. Já arrumei amizade...

- Sério?? - Ela fica muito feliz. - Qual o nome?

- Ahh... ã... Gustavo! Ele é super de boa... até já me chamou para uma festinha de boas-vindas.

- E você vai, né?

- Acho que sim...

- Ah, filho que bom! Se quiser, pode ir no shopping comprar umas roupas. - Recebo uma mensagem. Pode ser Alex.

- Mãe, vou para meu quarto, ok? - Subo correndo as escadas.

Abro e vejo uma mensagem da mãe de Alex. Ela diz que ele, tinha vindo no dia anterior para cá. Me fazer uma visita. Mas sofreu um acidente.