O pai do meu paciente 9
Olá
Estou de volta com mais uma parte do relato. Obrigado por seguirem acompanhando e comentando. As coisas vão se desenrolando e a história já vai caminhando para o final... Continuem comentando porque é a partir da opinião de vocês que consigo manejar umas coisas e, mais do que isso, ganho ânimo para continuar a compartilhar uma parte importante, pesada e bonita da minha história.
Forte abraço!
Cheguei na empresa e já recebi minha identificação. Mesmo tendo ido lá na entrevista, tive contato apenas com uma gestora. Então seria definitivamente a minha primeira vez lá.
Conheci a minha sala, que dividiria com uma colega, também psicóloga. Até que fui chamado pela secretária do presidente. Era a hora de conhece-lo. Entrei na sala e me encontrei com ele. Tudo ficou estranho e nada mais fazia sentido.
- Você é o presidente dessa empresa?
- Sim. Eu sou. Surpreso?
- Lógico que estou surpreso. Como conseguiu me esconder isso?
- Calma, meu amor. Eu só quis que a gente passasse mais tempo juntos. Pensei em te oferecer esse trabalho antes, mas estava preparando um espaço real pra você aqui. Não queria te dar algo de faixada.
- Que história confusa, André.
- Não tem nada de confusa. Eu amo você. Quero ficar o máximo de tempo do seu lado. Agora tudo fica mais fácil pra nós.
Minha confusão mental durou pouco e logo entendi o sentido de “espaço real”. Havia muito trabalho a ser feito e fiquei ocupado até a hora do almoço, quando André me levou pra almoçar.
- O que achou do seu primeiro dia de trabalho?
- Ah, parece interessante. Ainda tô incomodado com umas coisas, mas acho melhor a gente conversar em casa.
- Espero que isso passe. Quero ficar bem com você.
Ele tocou na minha mãe por cima da mesa e eu já estava me acostumando com tanto carinho da parte dele. Depois de anos ignorando meus sentimentos, parecia que meu sonho havia se tornado realidade. Se não fosse o fato de que meus sonhos mudaram. O dono dos meus pensamentos estava em outro lugar e ao mesmo tempo estava em mim.
Ah, estava no meu celular também. O aparelho apitou e, em cima da mesa, seu nome apareceu na tela. Nem me lembrava de quando salvei o numero do Ricardo, mas o fato é que ele estava lá. Sem soltar a minha mão, André foi de uma culpa incrível.
- Atende amor. Não tem problema.
Peguei o telefone e atendi rápido, como se a vida dele dependesse de uma resposta minha nessa ligação.
- Oi Ricardo. Como você está?
- Vou indo. Estou ligando para avisar que não faremos velório de mãe. Apenas uma cerimônia para os íntimos.
Dito isso, me avisou do lugar da cerimônia e disse coisas que me fizeram pensar por muito tempo:
- Outra coisa que queria te dizer é que eu estou indo embora. Vou viajar com o Davi. Percebi que não tenho nada mais aqui e o que eu posso ter, eu não estou preparado para receber.
- Mas como assim, ir embora?
- Vou para a Holanda. Morar com meu irmão e caminhar com a minha vida. Ser um homem. Algo que eu nunca fui.
- Ricardo, você tá de cabeça quente.
- Estou. Mas há anos preciso tomar uma atitude. Será agora. Até mais!
E desligou. Fiquei paralisado até André retomar a palavra.
- O que aconteceu, Dani? Por que você tá chorando?
- O Ricardo me avisou do enterro da mãe. Muito triste essa história.
- Muito, muito triste! Mas não é nossa. Vamos terminar de almoçar e voltar ao trabalho?
- Vamos sim.
A tarde perdeu o sentido. Aprendi algumas coisas e fiz outras que já sabia, mas sem nenhum ânimo. O que me alegrou em alguns momentos foi conhecer mais pessoas do meu setor e começar a fazer amizades. Ninguém sabia da minha relação com André, o que de certa forma facilitava a comunicação com os novos colegas.
Na hora de ir embora, fomos juntos para o apartamento. André me deixou no mercado, com a desculpa de precisar comprar umas coisas de casa mesmo e foi para o apartamento.
Aproveitei esse tempo para processar as informações. Precisava me despedir do Ricardo ou então faze-lo desistir de ir. Mas quem eu queria enganar? Mesmo com tanto sentimento envolvido, nada sustentava a gente junto. Eu já tinha certeza de que nossos caminhos se cruzaram de forma muito equivocada e arrumar algo despedaçado era muito mais complicado do que começar algo novo.
Pensei nisso tudo e fui pro apartamento com as compras e pensando na roupa que usaria no velório. Mas já estava convicto de que iria apenas me despedir de Ricardo. Era o fim de algo que sequer havia começado. Ou que tinha começado de modo tão desastroso que não merecia continuidade.
Entrei no apartamento e senti um cheiro diferente... Gostoso. Chamei pelo André e não tive resposta. Foi seguindo até o quarto, de onde o cheiro parecia estar vindo.
- André?
Ele estava na cama, pelado. O quarto todo decorado, cheio de pétalas e velas aromatizantes.
- Fiz uma surpresa pra você. Pra gente!
- Que legal isso. Qual a ocasião?
Ele veio me abraçando e já tirando a minha roupa.
- A ocasião é a que eu quero você. Eu demorei pra perceber isso, mas não vou te perder de jeito nenhum. Eu te amo muito, cara. Se você me amar um pouco do que eu amo você, vamos ser muito felizes juntos.
- Eu amo você, André. Ainda preciso entender melhor os modos desse amor, mas você é muito especial pra mim.
- Eu sei que você ainda vai me amar muito mais. Tenho paciência. Vamos tomar um banho?
Fomos para o banho e fizemos amor por lá mesmo. André me comeu de um jeito que eu consegui ter mais certeza ainda: aquele cara me amava. E não era um amor cheio de condições ou confusões. Um amor de verdade, que Ricardo não conseguiria sequer me oferecer, talvez por nunca ter vivido. Enquanto nossos corpos estavam colados, ouvi vários “eu te amo” e em certo momento respondi o mesmo. Era o que eu sentia!
Eu amava o André, sempre amei. De um jeito diferente, menos avassalador que Ricardo, mas amava. E quem ia dizer qual dos tipos de amor é mais valioso?
Fomos para cama e lá fizemos um 69 muito gostoso. Muito carinho, mas ao mesmo tempo uma pegada gostosa, do jeito que só ele consegue fazer comigo. Gozamos juntos enquanto eu comia ele, algo raro em nossas relações, o que entendi como total entrega da parte dele.
Depois de umas três horas de que chegamos no apartamento, deitamos juntos em nossa cama e ouvi mais um “eu te amo”, em um tom que jamais esquecerei. André, com os olhos lacrimejando, disse o que qualquer cara gostaria de ouvir:
- Eu quero me casar com você.
- Como assim, André?
- É isso mesmo. Quero que você saiba mais da minha vida, conheça minha família toda, quero conhecer a sua também. Vamos casar, cara.
- Que empolgação gostosa.
- Você é o amor da minha vida. Não tenho dúvida disso. Uma pena eu ter demorado a perceber.
- Temos todo o tempo do mundo. E eu topo. Quero casar com você! Também te amo, André.
Nos beijamos e selamos o que inevitavelmente já iria acontecer. Era questão de tempo, diante do que já estava se desenhando.
Despertei daquele clima quando meu celular apitou e eu vi a mensagem de Ricardo:
“Você podia ter me feito desistir, mas não fez. Estou indo pra Europa e você vai seguir sua vida. Desculpa por todo mal que causei, mas acho que um dia ainda vamos nos encontrar e resolver o que ficou pra trás agora. Seja feliz enquanto eu pensarei no quanto perdi por não saber lidar com meus sentimentos. Boa vida para você! Ricardo.”
Naquele momento percebi com toda clareza: eu havia feito a minha escolha!
Continua...