O arrebol pintava a bruma espessa e crepusculária das ruelas até onde os olhos alcançassem. Nesta noite, ouviam-se os gritos guturais de Ragda numa sala de parto dando a luz ao primeiro filho. Liev, olhava nos olhos da esposa enquanto segurava suas mãos inchadas com um silêncio semelhante àquele que nos zela embaixo da cama ou no final de um corredor escuro. Liev Vorontsov era um ser lacônico, criado nos campos gélidos da grande Mãe-Rússia, onde aprendeu serviços braçais aos quais lhe garantiram seu ofício em uma pequena quitanda a qual prosperou logo após sua vinda a São Paulo. A cidade de semblante valetudinário e frio, de início, não apeteceu o sujeito eslavo, no entanto, quando foi confirmada a vinda de seu primeiro rebento, Liev se fez sonhador e com sua espera por um homem, construiu ali mesmo seu alicerce para que o mesmo pudesse crescer. Sua espera e frustração à cada vez que sua masculinidade era ferida pelo enigmático sexo do bebê, ao qual nunca era descoberto pela ausência de clareza de sua genitália, se tornou tão maçante e enfadonha para a mãe que a mesma, resignada com a vinda do bebê, meramente esperou o dia chegar. E foi num poente de sábado que Ragda sentiu sua bolsa com dor causticante romper, e assim, foi levada ao hospital. A ânsia de saber o que era o bebê afinal só chegou ao fim quando Liev engrolou um português mal-compreendido ordenando-a num tom esbravejante para que traga o bebê, e a enfermeira levava em suas mãos um bebezinho franzino de cenho delicado envolto num tecido róseo ao qual o pai logo desembrulhou e mirou um bilauzinho junto de um saquinho pequeno, esse bebê logo recebeu pela mãe, o nome de Yaroslav, carinhosamente apelidado de Yasha. O significado? Vá! Este era a glória das primaveras, de fato, com o passar dos meses se mostrava cada vez de uma beleza femininamente delicada como a mais perene flor camomila dada nas primaveras brandas. À medida que o tempo foi passando, os cabelos loiros de Yasha cresciam e harmonizavam-se com seus traços finos e sua pele macia, seus olhos calmos, de cor azulada, de aspecto antiteticamente álgido e eudaimônico, sua boquinha rosada, assim como suas bochechas coradas as quais contrastavam com o alvor de sua pele.
Com seus onze anos e meio, Yasha já fazia questão de demonstrar-se curioso de plantão e xeretar nas coisas de sua avó, com uma atenção especial aos poemas de Akhmátova os quais se encontravam num livreto empoeirado que cabia em um bolso de tamanho médio. Com um tempo, essas visitas se tornaram furtos, os quais guardava carinhosamente numa gaveta. No ensino fundamental, Yasha se fizera cada vez mais entusiasmado com a nova escola que o recebera com certa dúvida sobre seu sexo. Logo logo, foram atribuídos pelos meninos ofensas características pela sua aparência e seu gesticular feminino. Ora! Esses foram um basta para que Yasha entrasse em uma caixinha que como areia movediça, a cada movimento, mais se afundava, no entanto, não tinha planos de sair.
Em sua adolescência, poderia arbitrariamente ser chamado de Yaroslav Lievich Vorontsov, o mesmo já era alfabetizado em 4 idiomas, todavia, não se podia ainda vê-lo como os outros meninos crescidos. Seu corpo era liso como de uma menina, tal como suas ancas polpudas e sua voz suave e prazenteira de ser ouvida. Durante o tempo que os garotos jogavam futebol, olhavam as meninas, Yasha se isolava, talvez por preferir os tais livros às pessoas de sua idade, as quais o mesmo achava um paradoxo tão patético e mundano.
O dia seguinte amanheceu nublado naquele quartinho de ar soturno, a vida do garoto que por si já era de caráter ininteligível, tornou-se mais inexata quando passou a notar Gabriel, um garoto de seus dezesseis anos cuja parvidade máscula e corpo esguio e definido lhe acarretavam em mil transas com as garotas da escola as quais comia sem dó. Yasha sentia seu corpo embrasar-se e seus peitinhos enrijecerem-se a cada vez que o dito Gabriel por seu lado passava, no entanto, já era de tamanho regozijo sentar-se próximo ao homem de seus sonhos. Nada obstante, o troglodita, passou a perceber Yasha por motivo de chacota na escola, o que logo passou a ser uma cisma pelo garoto de corpo meigo e português singular. Certo dia, Yasha se encontrava em sua nova obsessão, o que antes eram livros os quais poderia ficar lendo por 1 ano e 10 contos de réis, se transformou em um nome: Gabriel. O peitoral suado que junto com seus músculos invocavam aqueles fervores no meio de suas coxas os quais emanavam em seus desejos mais profundos que o revelavam impuro e enchiam-o de tesão.Gabriel por si só, também notara o russinho de beleza frágil e de traços finos e esquálidos, algo naquele corpinho com odor doce deixava seu pauzão duro como pedra, por cúmulo, os flertes entre ambos ficaram mais intensos e Gabriel sempre dava um jeito de provocar o coitadinho que se encolhia todo de vergonha, esses flertes resultaram em conversas sobre o sorriso da Monalisa às piadas mais esdrúxulas no intervalo, isto é, não demorou para que o primeiro beijo de Yasha acontecesse uma semana depois.
Em meio à uma aula enfadonha de biologia, num tempo de chuvas torrenciais, o russo dos lábios rosados solicitou ao professor para que fosse ao banheiro, Yasha ouviu os passos que não poderiam ser de ninguém menos que de Gabriel, seu coração batia descompassadamente, até o momento em que sentiu uma mão forte em seu ombro:
- Oh, Gabriel! O que faz aqui? Por um acaso você estava acordado na aula? - Yasha sorriu
- Poxa, Yasha, acordado eu estava, mas não quis te deixar sozinho - Gabriel abriu aquele sorriso másculo ao qual Yasha se derretia
- É muita gentileza de sua parte, mas não quero que desperdice seu tempo comigo - Disse Yasha torcendo para o mesmo não ir embora
- Quando fico assim com você apenas ganho tempo, eu adoro ficar ao seu lado, devo confessar - Disse Gabriel com sua experiência com as ninfetas da escola
- Também gosto de ficar com você - Disse Yasha baixinho, quase sussurrando
Até o momento, ele não havia notado que a mala de Gabriel estava com um volume imenso ao qual Gabriel não parava de pegar e ajeitar. Yasha chegava a sentir suas mãozinhas gélidas suar ao olhar para aquele caralho junto com aquele tufo de pelos castanhos que convidavam as mesmas para adentrarem a bermuda de Gabriel rumo ao desconhecido. Gabriel então percebeu a tremedeira de Yasha e pegou com sua mão enorme a pequena e delicada mão de Yasha e sussurrou:
- Eu sempre imaginei como seria beijar essa sua boquinha
- Para de me zoar, Gabriel, não estou achando graça - disse Yasha em quase um gemido
- Não, é sério! É inviável ficar inerte diante esses seus lábios rosados - disse Gabriel, ainda segurando com carinho as mãos de Yasha
- Você é um tarado mesmo! - A frase saiu do fundo do inconsciente de Yasha, pois o mesmo estava com os pensamentos no pauzão de Gabriel
- Sim, sou um tarado, um tarado bobo por você, me dá uma chance! - A isca final foi lançada
- Tudo bem, quem sabe - Yasha perdeu o controle sobre seus atos
Gabriel puxou o corpinho de Yasha contra seu peito, e abrigou sua cabeça no mesmo, ficou um tempo fazendo carinho em seus cabelos loiros quanto começou a roçar de leve seus lábios nos de Yasha, até que o beijou com paixão e luxúria. Gabriel provava o sabor de Yasha, desfrutaram-se por um bom tempo, afogavam-se em carícias. Quando o último sinal bateu, Yasha voltou a si e percebeu o que fazia, logo desvencilhou-se de Gabriel e correu para casa esquecendo suas coisas na sala.
Continua