Fogo Cruzado - Capítulo 2
Capítulo 2 - Na cela...
-Fala isso pra delegada. -Disse sem se importar com o que eu dizia e por fim completou: -Agora cala a boca.
Eu acabei me cansando de falar e apenas chorava em silêncio, pois sabia que essa injustiça se resolveria. O caminho parecia longo de mais e as algemas limitavam meus movimentos.
-Vamos. Desça. -Mandaram assim que chegamos na delegacia.
-A doutora vai ficar muito feliz com a operação! -Falou contente o policial tagarela. O outro se mantinha calado.
Nós adentramos a delegacia e uma policial na recepção informou que a delegada não voltaria hoje.
-Vamos levá-la pra cela então. -O mais calado dos policiais, se pronunciou.
-Cela? Eu vou ser presa? Mas vocês estão prendendo a pessoa errada! -Falei desesperada -Olha, na minha bolsa, aquela que vocês pegaram, estão todos os meus documentos. O hospital em que trabalho pode confirmar quem eu sou. -Contestei já dentro da cela.
-Olha, se for verdade o que está dizendo, nós iremos investigar, descobrir e então você será solta e a verdadeira culpada será presa. Mas por enquanto, você deverá ficar aqui por uns dias. -Falou o policial mais silencioso. Em seus olhos pude perceber que ele acreditava em mim. Talvez soubesse que haviam pegado a mulher errada.
-Vamos Rodrigo. -O outro o chamou de fora da cela e ele foi se retirando.
-Eu virei aqui depois.
A cela foi chaveada e eu fiquei sozinha, soluçando.
Olhei em volta e percebi que estava realmente trancada. Aquela cela era feita de tijolos a vista, com grades grossas.
O único móvel que havia no lugar era uma espécie de banco longo, não muito estreito e estofado, que devia ser usado como cama. Me deitei no banco/cama, tirei o óculos e, depois do choro, acabei adormecendo.
Me lembro de ter tido o mesmo sonho que vinha tendo a algumas noites seguidas. Um par de olhos claros que me olhavam enquanto seu corpo quente movia-se sobre o meu. Recordo que assim que alcancei o orgasmo no meu sonho, eu acordei em um suspiro e me deparei com a realidade.
Ao lado de fora da cela, ouvi as vozes dos policiais e fingi que ainda dormia para escutá-los sem que percebessem.
-...Mas eu tenho quase certeza de que é ela. -Falou Nelson, o policial mais tagarela.
-Não sei não, Nelson. Ela me parece ser inocente. -Respondeu Rodrigo.
-Bem, investigaremos. Até amanhã Rodrigo. -Falou Nelson e em seguida ele saiu.
Ouvi o barulho de chaves e depois de passos se aproximando e me mantive em silêncio até que fui sacudida e chamada por Rodrigo.
-Moça... -Chamou suavemente.
Eu fingi que despertava e me sentei no banco, ao lado dele.
-Eu trouxe comida pra você, moça...
-Isabella... Me chamo Isabella. -Falei baixinho enquanto tomava a bandeija de suas mãos. -Obrigada. -Falei encarando seus olhos e sua expressão de surpresa.
-Bem, Isabella, eu já vi seus documentos. Você terá de ficar por uns dias aqui, até terminarmos a investigação.
-Mas... Eu não sou culpada... -Falei depois de comer uma garfada de comida.
-Eu entendo, mas teremos que mantê-la aqui...
-Minha mãe! -Falei alto, me lembrando de como minha mãe reagiria ao saber que eu estava presa.
-Acalme-se... Sua mãe se chama Tereza? -Perguntou me analisando.
-Sim... Como você sabe? -Indaguei curiosa.
-Ela esteve aqui a pouco, prestando queixa pelo seu desaparecimento.
-E... Ela sabe? -Questionei me referindo sobre eu estar presa.
-Sim. O hospital também. Porém você não pode receber visitas.
Eu comecei a chorar novamente.
-E como ela reagiu? -Perguntei depois de um tenpo, secando as lágrimas.
-Ela está preocupada com vc. -Ele me encarava com curiosidade, mas só eu fazia perguntas.
-Por quanto tempo... Eu tenho que ficar? -Tentava a todo custo manter os olhos secos.
-Por uma ou duas semanas. -Falou me olhando intensamente. Desviei o olhar, antes de lhe falar.
-Eu serei interrogada?
-Sim. -Respondeu suspirando. Parecia cansado.
-Por você? -Indaguei na esperança de que ele me libertasse.
-Sinto muito, mas não. A delegada quer fazer isso pessoalmente.
Me mantive em silêncio, pensando em como poderia ter ido parar ali. Depois de um tempo, entreguei a bandeija a Rodrigo.
-Farei o possível possível para vê-la bem.
-Obrigada. -Tentei sorrir e recebi uma pequena carícia nas mãos. Ele era bonito, muito bonito. Mas não tinha os olhos de meu sonho.
-Disponha. -Sua expressão cansada forjava um sorriso. A farda lhe caía bem. Seu tom de pele bronzeada e os cabelos louros escuros também. Não tinha mais de vinte e sete anos.
Olhei em seu corpo e vi músculos e por um instante, me permiti apreciá-lo.
-Ei, você está bem? -Perguntou me olhando preocupado.
-Ah... É... Sim... -Respondi saindo de meus devaneios.
Que vergonha. Talvez ele seja casado., pensei virando o rosto que formigava.
-São nove horas agora. Vou deixá-la dormir e amanhã cedo trarei o seu café. -Falou se levantando e saindo. Eu assenti com a cabeça e me deitei.
Eu já quase caía no sono, quando vi a figura de Rodrigo novamente adentrando a cela.
-Vim te entregar esse cobertor. Faz frio agora. -Falou me entregando o objeto felpudo.
-Obrigada, mas... Você não devia estar em casa? -Perguntei e logo corei. Ele me olhou e sorriu tristemente.
-Eu não renho hora pra chegar.
Eu fiquei em silêncio, agora enrolada no cobertor. Ele se levantou e ía saindo quando falei:
-Obrigada... Por tudo... -Respondi sonolenta. Ele assentiu e completou:
-Até amanhã. -Eu assenei e tentei dormir, desta vez com pouco sucesso.
Mas, o mais estranho é que não era o policial Rodrigo que não me saía da cabeça e sim, o par de olhos claros com o qual eu vinha sonhando...
Continua...
E aí galera, o que estão achando? Comentem!