Suicídio aos Quinze Anos (parte três)

Um conto erótico de Taciturno
Categoria: Homossexual
Data: 25/09/2016 19:11:28
Última revisão: 26/09/2016 09:14:23

“Na madrugada obscena não há sinal de sono no meu quarto, os medos na forma de sombras solidas pesão meus olhos, saltitantes sobre meu leito, grande funesto contraste com a palidez da minha pele seca... maldita falta de sono” – havia escrito algumas frases no diário, não conseguia pegar no sono, me incomodava... como o Wellison me encararia daquele jeito quando eu estava sendo sincero? Seus olhos eram frios e distantes e quando Tamires adentrou o quarto e ficou sozinho com ele as coisas só pioraram para mim.

Naquela noite, quando saí da sala, esperei meu irmão na recepção do hospital. A televisão suspensa em um suporte na parede permitia uma melhor ângulo para a sala inteira, mas a droga do volume estava baixo e somado com as vozes da sala, e minha distância era inaudível. As coisas aconteciam vagarosamente como se o tempo passasse mais lento, quase congelando. Eu estava em uma cadeira próxima à recepção aguardando notícias do Wellison. O motorista tinha me deixado ali e depois sumiu. Havia do meu lado duas mulheres vestidas de enfermeira, monitoravam um velho moribundo sobre uma cadeira-de-rodas, seus olhos derribados e sua expressão amarga -- tomava soro na arteira do braço direito -- era desalentador. “Mas que merda, porque essas mulheres não conversam com esse pobre homem ou não levam-no para um quarto? Pensei.

Nas cadeiras da sala de visita, sentadas uma atrás da outra, uma pletora de doentes insatisfeitos, a maioria estavam com doenças pulmonares; cuspiam e jogavam o catarro escorregadio em seus lenços imundos, o que me levava frequentemente a levar a mão ao nariz, contudo a lembrança de cartões do colégio sobre doenças infectuosas me faziam hesitar a mão... desci diversas vezes o meu braço. Por algum motivo essas descidas sempre me deixavam constrangido. Uma criança chorava alto e adultos brigavam com os médicos, era tudo chato e maçante; desejava não está ali, eu queria está em casa.

A enfermeira mudava de canal, de repente, sintonizando, parou sobre o canal local bem no momento que acabava de mostrar o bendito hospital. Uma repórter de vermelho noticiava sobre o motivo por eu estar ali, e todos em sinal fizeram silêncio. Pela primeira vez consegui escutar o que a tevê dizia:

“Supostamente os suspeitos correram em direção à avenida José de Alencar, onde deixaram os carros e levaram todo dinheiro da vã, testemunhas disseram que um homem alto e magro atirou em um dos seguranças da vã no momento do assalto. ”

Uma imagem desbotada de um senhor apareceu na tela

-- “Senhor, poderia nos dizer o que viu hoje mais cedo? ”

Uma voz distorcida agudíssima respondeu:

-- “ Perfeitamente. Eu estava colocando as crianças pra dentro né, quando escutei papoco de bala, aí eu disse para minha mulher: ‘correr, é bala! ’ “

-- “ E o que mais o senhor viu? “

-- “ Pois bem, eu estava preocupado com os meninos na rua, então escutei outro papoco, à frente da vã bateu no poste de

luz né, e depois dois carros chegaram correndo, atirando, e colocando o pessoal da vã na parede, foi aí que eu abaixei a

cabeça e escutei quando executaram o motorista, eu acho... “

Terminou a reportagem e a câmara mostrava a vã

“Moradores disseram que as ações dos bandidos não duraram dez minutos, tudo foi rápido, a vã ainda está sendo averiguada pela polícia local, Fernanda é com você. ”

A televisão voltou a ficar muda com o crescente ‘borbulhinho’ na sala. Voltei-me para a atendente.

-- Moça, por favor; você poderia me dizer se meu amigo está bem?

-- Seu amigo? – Disse ela sem entender à guisa de desentendida – quem é seu amigo docinho?

-- Acho que ele não consta, mas é um garoto de cabelos prestos assim – mostrei a ela as franjas do Wellison – que... que levou um tiro mais cedo...

-- Ei amorzinho, venha aqui – me aproximei – seu amigo está na sala de cirurgia, pelo caso...

Um enfermeiro interrompeu a dita cuja o que me deixou apreensivo por um pequeno estante.

-- Só um estante docinho... pronto, chequei. Isso, está certo... – olhou para mim --- continuando meu querido – esses adjetivos já estavam me irritando – seu amigo está na sala de cirurgia, não sei qual é o caso dele, mas quando tudo terminar o médico vem te avisar, você é irmão dele, é isso?

-- Não... eu meio que menti, ora; mas isso não importa!

O tempo passava outra vez lentamente. Meu irmão chegou em algum momento me acordando de um cochilo, “Matheus você está bem? ” Consenti com a cabeça que sim. Ele havia trago os tios do Wellison, isso me deixou mais seguro, conversamos um pouco com os tios, estavam assustados eu não sabia o que dizer; acho que falei alguma coisa sobre não ter medo... e o tempo passava lentamente...

O médico chegou às 11:30 da noite, estavam todos preocupados e apreensivos, à medida que o tempo passava pessoas eram consultadas e voltavam para suas casas enquanto mais pessoas apareciam do nada e ocupavam o lugar daquelas pessoas que eram atendidas, me lembrou um quadro do inferno que vi em um livro dia desses: pessoas caindo no abismo escuro, aquilo era um tipo de abismo e se você tivesse sorte talvez conseguiria sair dali antes da volta de Jesus... O médico nos disse que a situação do Wellison poderia ter sido mais complicada se os estilhaços da bala tivesse acertado um pouco mais acima da artéria pulmonar, ele havia perdido sangue e o perigo era o coração; todos ficamos com medo, mas o médico logo nos acalmou sobre a situação do garoto. “Ele vai ficar bem, não foi profundo o corte, parece que podemos chamar isso de milagre. ”

Eram quase uma da manhã quando eu finalmente pude entrar no quarto do Wellison, os seus tios haviam entrando e estavam fazendo ligações na sala ao lado, puta merda, eu queria ver meu amigo. Depois de insisti e contrariar os enfermeiros me deixaram espiar só um pouquinho.

Entrei no quarto e fiquei ao lado dele, apertei suas mãos contra as minhas, estavam quentes, e, e como se viessem do mais recôndito das minhas emoções, as lagrimas, caiam copiosas, eu não entendia o porquê; talvez eu estivesse escondendo meus sentimentos e agora naquela sala sozinha com ele nada me empataria de transmutar o que eu estava segurando em lágrimas salgadas, eu não sabia dar nome aquilo, e mesmo agora ainda acho tudo estranho, apenas deixei que as lágrimas caíssem...

Segurando suas mãos eu disse:

“Meu pequeno, você quase me deixou maluco hoje. Não faça assim comigo, eu quero dizer isso a você, e mesmo agora, não podendo me ouvir acho que posso dizer sem nenhum problema ” Olhei para a porta, não havia ninguém. Continuei “ Eu te amo, e quero que você saiba disso, eu verdadeiramente te amo e... ” O amor é uma ilusão voluptuosa que nos faz crer que podemos encontrar felicidade nos braços das pessoas que desejamos, mas ele se torna um maldito flagelo quando não encontramos reciprocidade... Ao dizer que amava-o ele, fingindo está em sono, desvencilhou-se das minhas mãos e ficou me encarando por alguns segundos como se eu tivesse dito algo impróprio. Talvez fosse, mas eu não me contive... e o que era aquele olhar, o que significava?

Mas nada ficaria pior? Você que pensa, quando passou meu tempo de visita, alguns minutos depois intempestivamente chegou os pais da Tamires trazendo-a consigo, tão rápida adentrou o quarto de repouso do Wellison após conseguir permissão do médico cirurgião, a namorada ficou tempo que eu não podia e quando meu irmão insistiu para voltarmos amanhã eu consenti com uma dor amarga no meu peito, não era uma competição, mas aquela vagabunda...

E, domingo, estou escrevendo aqui no meu diário sem conseguir dormir nenhum pouco, talvez eu beba algo... quem sabe Whisky... são quatro da madrugada e ainda estou sem meus livros e espremendo despeito para todo lado... a música ajuda... talvez...

Espero que estejam gostando desse conto \o/ escreverei mais em breve.

Música que o Matheus escutou no domingo de madrugada:

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Comentários

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02/10/2019 02:46:33
.
25/09/2016 22:36:09
Cara, eu tô adorando essa história.
25/09/2016 19:56:50
Muito legal, eu sou o autor do contos Amor? Vc. Espero que continue acompanhando bjs.


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