Pau doce, cana?

Um conto erótico de Danilo
Categoria: Homossexual
Data: 19/06/2016 16:00:31

Não é apenas de casas suntuosas que vive o bairro Marajá, e destas “outras coisas” inclusas, as escondidas são as melhores... Ao breu. À luz fica uma pintura, onde se vê uma xícara de café com leite; três pães e um cesto com maçãs e bananas. Como também fica [à luz] o casamento de fachada de uma lésbica com um otário, transfigurado pela luz, para a forma ridícula dos desenhos dos panfletos que nos são entregues por testemunhas de Jeová. À luz fica apenas a fantasia, com sua função de proteger.

Os homens daqui são sábios, e as mulheres, cínicas. Com efeito! São paródias de um clichê. Uma novela transposta à realidade, ou já não se distingue quem imita quem? Representam a água parada = foco de desejo; o que contribui ao que o velho ditado diz: “moralistas são os mais imorais”. Por falar em moral, tenho o emprego extra de fiscal de cu alheio, e o exerço bem – pesando ao “labor” o mérito pelo grande empenho.

Como MANDA o figurino, sou casado, médico, e possuo dois meninos = {pedro,lucas}. Minhas pedras preciosas, que lapido com valores de alto nível, estes estão invertidos atualmente! Que audácia um homem beijar outro em público! Que audácia um... esquece!

“Nem um extremo nem outro”, diz-me a ponderação. Altruísta, envio imaginariamente os invertidos que vejo a psicólogos imaginários. Acalma-te o cu! Não lhes mando em proviso que virem macho, mas que “não fodam com tudo” arrastando consigo as cortinas do nosso teatro. Em suma, que aprendam a hora e o lugar propícios à imoralidade. Assim como se aprende a hora e o lugar pra comer, tomar banho, dormir, ir ao banheiro [“Tia, eu tô me mijando, posso ir no banheiro?”] – assim como se aprende a viver O viver.

Dedico esses preciosos ensinamentos a meu pederasta, “aquele velho safado!”, que hoje sou grato na medida exata em que odiei aqueles toques, as suas mãos, e a face doentia que lhe dava total poder sobre mim, eu estava muito assustado, com medo “da cara”, seu rosto perturbador. Eu ainda quase não tinha os pelos.

O velho, epíteto dado a Manuel por já ter barba grossa na cara, não passava dos trinta. Ele tem uma panificadora aqui no Marajá, ele tem uma filha, é viúvo; a sua guria tem a mesma idade que eu tinha na época em que me aproximei de seu pai, dez anos. Sua esposa era tão gostosa que quando a via, pensava que felicidade começava com B e terminava com A: bunda e bUceta. Nesses instantes, eu pintava um quadro, díspar dos panfletos, e não obstante, fantasístico.

Quando infante, comprava pães em seu comércio; o valor dos pães algumas vezes oscilou, quando era a falecida que me atendia, o troco ficava de gorjeta ao strip tease de seus decotes. Quando ele, Manuel, era quem me atendia, o troco era dado em balas de café. Eu agradecia automaticamente e não me demorava ali; corria para a praça ao lado, e brincava na gangorra enquanto as balas durassem no meu bolso. As balas de café eram lúdicas, acho que tudo lúdico era.

Uma tarde, só tinha chicletes de hortelã à disposição (eles se desmanchavam e grudavam no dente). Pedi o troco em dinheiro, ele quase me chutou para a calçada, “Falarei com seus pais; quem já se viu!”. Mas como num desenho muito da hora, ele se amansou como um cordeirinho, e num tom amistoso e inofensivo, ofereceu um presente ao invés do troco. De pronto, aceitei; qual seria o brinquedo?

No apartamento não tinha brinquedo, tinha porém, um videogame igual ao meu, só que com CDs que eu ainda não tinha – uns lançamentos. Tão gentil e civilizado, o homem de bem me convidou a uma partida no “play”. E enquanto eu colocava o CD, ele pegava um lanche na cozinha; fez um milkshake de morango e trouxe o carro-chefe – em se tratando de sobremesas – de sua Padaria Marajá: o brigadeiro vegan. Ele sabiamente, perdeu todas as partidas pra mim; fez-se de surpreso por não ter vencido, e arrematou com elogios de um perdedor resignado, a nossa conversa no pós-jogo.

E me propôs: “Qual a sensação gostosa que você sente na língua quando coloca o brigadeiro no final delas? Depois lambe ele com a ponta da língua. Aí me diz... faz e sente!”. O gosto era diferente em áreas de uma mesma boca, numa mesma língua, “Como pode?” – admirado pela descoberta, perguntei. Sereno, ele me explicou: “Temos áreas onde sentimos o doce, o amargo, o salgado... coloca a língua pra fora e fala A sem parar, que te amostro as áreas; agora fala A.”

Quando mostrei a língua, vi suas pupilas dilatando como... dois baiacus – ? Foi como quando me assustei com o peixe quando vi igual mudança repentina. Ele pediu que eu fechasse os olhos para eu “sentir a localização exata dos sabores na língua”, fechado!, fiquei esperando com a boca aberta o ensinamento. Mas o que senti foi uma boca quase que me engolindo, cujo bafo chato, era igual ou pior que as grandes lambidas caninas (juntas da imensidão de ataques de beijo) que ele me dava.

“Você sabe de um prazer maior que o prazer de um milkshake?” – ele me perguntou. Respondi: “Pistache.” Imaginando durante a resposta, um quarto com sofás feitos de jujuba e uma jacuzzi de chantilly; as paredes de neve sabor picolé de laranja, pediam uma língua que lhes lambesse o doce gelado. Era necessário sair da jaula, de alguma forma.

Manuel me levou até o quarto, a seu modo, levando-me nas costas. E me despiu, mexeu no meu pênis para endurecê-lo, tirou fotografias minhas em “estranhas posições”, e com um sorriso filha da puta, ficou a me bolinar... avançou e tocou minha rola com a boca. Chupou, chupou, como se quisesse tirar algo (sêmen, hoje sei), e como eu sentia uma boa sensação, perdi o medo.

Ele dizia que a minha rola tinha um gosto doce, a qual imaculada o cobria de fascínio, por minhas lembranças, suas palavras: “Que gostoso esse pau virgem! Ele é doce. Lindo!” Gozei um líquido transparente, “ainda é mel, não é leite, que delícia!” – o até então, monstro, falou.

A hora estava ficando tarde, anoitecendo; voltei pra casa, após selar um pacto de silêncio com Manuel. Chorei a noite inteira, sem saber ao certo o que havia acontecido, pois como eu não podia contar a ninguém, pensei que não era coisa boa. Mas como a todo pederasta, é inerente a pedagogia, o monstro virou professor, e me tranquilizou ensinando-me a ser um homem. Ensinou-me o que dizer (e como dizer), fazer, e o que deve ser mostrado ou escondido: indo além: o que se deve gostar e odiar sob regras inflexíveis de uma moral teatral (que sob a égide da tradição se alastra em bairros como o Marajá – ou na mente de qualquer “cidadão de bem”).

Manuel é o puto mais santificado do bairro, seu comércio prospera. SUA vida oculta não importa não é?;decerto, ele não incomoda ninguém. As minorias que se extinguam! Que virem purpurina, para os enfeites coloridos da festa de minha afilhada, filha de Manuel, que completará onze anos dia“Os bons se entendem.”


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