Thithi et moi, amis à jamais! Capítulos 115 e 116
Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, meus amores! Tudo bem com vocês? Desculpem-me o sumiço, mas eu tenho dois motivos para eu ter sumido: o primeiro é que eu voltei a trabalhar e eu realmente estou com o tempo bem comprometido esse semestre, o segundo, é que eu estava dependendo de alguém para contar um pedaço da história que eu não podia contar. O Thi que escreveu, mas ele demorou uma eternidade para fazer isso. Bom, cá estou eu novamente. Não vou prometer nada a vocês, por que não sei se vou conseguir cumprir. A única coisa que eu prometo é que eu não pararei de escrever, posso estar muito atarefado, mas eu sempre virei publicar, ok? Não sei com qual frequência, mas virei.
Aqui, vocês irão ler os capítulos 115 e 116. Como eu estou há um bom tempo sem publicar, eu compactei esses dois capítulos.
Um beijo grande, espero que gostem. Temos até participação especial! Kkkk
Capítulo 115
Nós subimos as escadas, Bruno ia com a atenção redobrada. Ele estava cuidando da Sophie que ia no colo dele e ficava olhando para ver se eu não precisava de ajuda. Nós paramos na frente do quarto que seria o quarto da Sophie. Ainda bem que ele tinha lembrado do que eu tinha pedido enquanto ainda estávamos na casa da Maman. Eu queria ver o que eles tinham comprado, não queria nada feio para o quarto da minha filha.
Eu fui na frente e ele veio logo atrás de mim com a nossa menina. Eu abri a porta do quarto e quase caio ao ver. Estava tudo lindo. Do jeito que eu tinha imaginado e contado para ele.
- Amor, esse é o quarto da nossa filha – Ele disse
Eu chorei ao ver aquele quarto, ao sentir o amor que aquele homem tinha por mim e por nossa filha.
- Não é para chorar, bobo! – Ele disse me abraçando junto com a Sophie
- Eu te amo, Bruno! –
- Eu também te amo, amor! Eu não quis esperar, eu queria fazer essa surpresa pra vocês.
- Tá tudo lindo, amor. Do jeito que eu imaginei!
O quarto estava pintado em um lilás bem clarinho e tinha algumas partes com num lilás mais escuro. Na parede tinha alguns adesivos de borboletas e flores pequenas. O berço já estava montado e os móveis também. Havia um sofá, lindo, em lilás e branco próximo a janela. Tudo estava organizado e lindo. As roupinhas, as coisinhas dela, tudo estava simplesmente impecável.
- Amor, como tu fizeste tudo isso? Eu não sabia que tu tinhas competência para pintar tão bem.
- Bom, competência eu não tenho mesmo! – Ele disse secando uma lágrima minha – Teu pai e eu fomos atrás dos pintores. Eles falaram que não podiam, mas tu já viste como teu pai é, não é? Ele conseguiu fazer os caras virem pintar.
- Mas como vocês fizeram tudo isso em uma tarde.
- Bom, nós já tínhamos tudo organizado. Teu pai comprou o material todo ontem, hoje nós não fomos para o centro, nós passamos a tarde aqui fiscalizando a pintura. Nós utilizamos uma tinta que não deixa cheiro algum, por causa da Sohie. Os móveis fomos teu pai e eu que montamos e a organização foi a dona Cacilda. Gostou?
- Eu amei! Tu és lindo, amor! Obrigado! – Ele sorriu e me deu um beijo
- E tu princesa? Gostou do teu quarto? Viu o que o papai fez pra ti?
O Bruno definitivamente não existia. Eu peguei meu celular e liguei para o Papa.
- Pelo visto tu já conheceste o quarto da minha netinha... – Ele disse rindo
- Obrigado, Papa! Tá tudo lindo!
- Gostou mesmo, filhote?
- Eu amei! O Bruno fez tudo exatamente do jeito que eu tinha falado para ele.
- Esse teu marido é uma mala, viu? Como tu aguenta? Ele fiscalizou tudo o dia inteiro, não dava tempo para ninguém respirar.
- Eu sei que o senhor ama ele também!
- Amo mesmo! A gente fez tudo isso para a nossa princesa.
- Muito obrigado, Papa! Cadê a Maman?
- Tá aqui, deixa eu passar para ela.
- Tá!
- Chéri?
- Maman, não me diz que a senhora sabia de tudo também?
- Não, não sabia não! E eu estou doida para ver como está esse quarto. Eles não deixaram a gente fazer nada!
- Tá tudo lindo, Maman!
- Só eu vendo! Amanhã eu vou deixar o Gui aí e aproveito para olhar tudo.
- Obaaaaaaaaaaaaa!!! – Eu ouvi o Gui gritar
- Tá lindo! A senhora vai amar também!
- Lembra do que nós vamos fazer amanhã?
- Lembro! Mas e o Gui?
- A gente leva ele também!
- Tá! Então, nós vamos amanhã! Bisous, Maman!
- Bisous, mon p’tit!
- Para onde vocês vão, amanhã? – Bruno perguntou assim que eu encerrei a ligação.
- Bom, nós pensávamos que vocês tinham saído e aprontado todas. Ai, nós resolvemos que nós sairíamos amanhã também. Só Maman e eu. Bom, no caso o Gui vai também.
- E aí serão vocês que irão aprontar, é?
- Bom, eu não tenho culpa!
- Eu tinha pensado em passar o dia contigo amanhã. – Ele disse isso no meu ouvido, eu me arrepiei inteiro.
- Mas eu já combinei com a Maman, amor. Não posso desmarcar, desculpa!
- E tu vais me deixar o dia todo sozinho?
- Não, bobo! Nós só vamos no finalzinho da tarde, é rapidinho.
- Atah! Olha, a Sophie já até dormiu.
- Coloca ela no bercinho dela, amor. Deixa ela estrear.
Ele a colocou no bercinho, ele me abraçou por trás e nós ficamos namorando a nossa filha por um tempinho. Aquilo nem parecia realidade. A ficha ainda nem tinha caído de que nós já tínhamos uma filha. Que nós erámos pais e que nossa vida iria mudar bastante a partir daquele momento.
- Ela é linda, né? – ele disse
- Demais!
- Nós somos pais, Antoine!
- Eu sei amor! – Eu disse voltando a chorar que nem um bocó
Ele me virou de frente com muito carinho e me beijou.
- Nossa família está completa, agora.
Nós ficamos abraçados por um tempo, no meio do quarto da Sophie.
- Vamos para o nosso quarto? – Ele perguntou
- Vamos, sim!
Eu liguei a babá eletrônica e deixei bem pertinho do berço da Sophie, qualquer chorinho dela nós saberíamos.
- Vem, amor! – Eu disse já deitado na minha cama depois de ter tomado banho e feito toda a minha higiene
- Já vou, deixa só eu escovar os dentes.
Ele foi ao banheiro, escovou os dentes e veio de lá só de cueca, assim como eu fiz. Ele entrou debaixo das cobertas e deitou bem juntinho a mim colocando a cabeça sobre meu ombro e o braço passando sobre minha barriga.
- Amor, tu és como um sonho realizado, sabias? – Eu disse
- Como assim?
- Tu já acordaste de um sonho bom?
- Bom, acho que já...
- E qual é a sensação?
- Acho que é querer voltar a dormir para continuar sonhando.
- Exatamente! Contigo eu não preciso voltar a dormir, eu sinto como se eu sempre estivesse sonhando. Obrigado por estar na minha vida, por cuidar de mim. Por me amar. Eu sei que ultimamente eu tenho estado distante, pode parecer que eu tenha mudado. Mas, nada do que eu sinto mudou, viu? Eu nem tinha percebido que eu estava distante, eu acabei te sobrecarregando, deixei tudo nas tuas costas. Deixei a casa inteira nas tuas costas, deixei minha doença nas tuas costas...
- Tu não me sobrecarregaste em nada, nós já conversamos sobre isso.
- Eu só queria te agradecer por tudo o que tu fazes por mim. Te agradecer por te dedicar tanto a minha felicidade.
- A nossa felicidade, se tu estás feliz eu também estou.
Nós nos beijamos. Se eu estivesse pudendo transar, nós com certeza teríamos transado naquele momento.
- Amor, eu acho que eu tô sentindo algo aqui.
- Eu também estou sentindo algo.
- E se a gente tentasse?
- Não! Tu podes te machucar, ainda não. Vamos esperar, não há motivo algum para nós comprometermos a tua saúde.
- Mas, amor...
- Não, não! Tá bom assim!
- Mas eu queria mais!
- Antoine...
- Tá, eu já entendi! Até nisso essa doença atrapalha, merda!
- Não fica chateado! Eu não tô te cobrando nada.
- Eu sei! O problema é que EU quero.
- Mas não vamos fazer nada hoje, mocinho.
- Aaaah! – Eu disse frustrado
- Amor, tá bom assim, não está?
- Tá! Mas é complicado tu ficares só nisso com teu marido. Se fosse um namoradinho ainda vai lá, mas teu marido. Ah, não!
- Pensa que é temporário, em breve a gente vai poder compensar todo esse tempo.
- Eu espero...
Nós ouvimos a Sophie chorar.
- Esse não é o horário dela chorar! – Bruno disse
- Ela deve estar estranhando o berço, ela estava acostumada a dormir aqui conosco. Eu vou lá ve-la.
- Deixa que eu vou!
- Não, eu estou bem! Eu posso ir lá, tu vais de madrugada quando ela acordar.
- Tá bom!
Eu me levantei e fui ver a Sophie que não parava de chorar.
- Que foi, meu amor! – Eu disse a retirando do berço – Qual o motivo de tanto choro, hein? – Ela foi parando de chorar, era só dengo – É que tu não estás dormindo com os papais, né? Mas agora, tu tens que dormir aqui. – Eu sentei no sofá – É, meu amor – Ela me olhava – Agora tu tens esse quarto todinho só pra ti.
Ela foi ficando cada vez mais calminha e foi adormecendo, eu fiquei bastante tempo com ela no colo. Eu não podia pegá-la na rua, enquanto andávamos. Não podia segurá-la enquanto estava em pé. Então, quando eu estava em casa eu aproveitava. Após eu ter certeza que ela não iria mais acordar, eu a devolvi para o berço e voltei para o quarto.
Ao chegar no quarto, Bruno já estava dormindo. Eu me deitei e dei um beijinho nele de boa noite e dormi. Na manhã seguinte, eu acordei com a Sophie chorando desesperadamente. Eu ia me levantar da cama, mas o Bruno já tinha dado um pulo e saído correndo.
Eu me levantei com cuidado e fui ver o que tinha acontecido. Ao chegar no quarto, eu vi o Bruno segurando e cantando para a Sophie. Eu amava vê-los daquele jeitinho. Eu fiquei na porta observando-os de longe. Eu fiquei um bom tempo ali e ele estava tão concentrado cantando todo bobão para a Sophie que ele nem percebeu que eu estava lá. Então, eu tive uma ideia.
Eu fui até a cozinha e dona Cacilda já tinha preparado o café da manhã. Eu pedi para que ela colocasse nosso café, meu e do Bruno, em uma bandeja e me ajudasse a subir. Ela fez tudo e subiu rapidinho com a bandeja, sem que o Bruno a visse.
- Amor?
- Oi, meu bem!
-Ela já tá mais calminha?
- Já!
- Coloca ela na cadeirinha e vem aqui comigo, por favor.
- Tá!
Ele pegou a cadeirinha dela e nós fomos para o nosso quarto.
- Uau! Café na cama? – Ele disse vendo a bandeja sobre a cama
- Tu mereces! – Eu sorri
Ele deixou a Sophie na cadeirinha e veio me abraçar e me beijar.
- Já te falei que te amo?
- Hoje, ainda não. – Eu sorri mais ainda
- Então, EU TE AMO!
- Te amo também, amor! – Eu o beijei
Enquanto tomávamos nosso café, nós conversávamos sobre o futuro. O que queríamos fazer, como seria a vida da Sophie. Graças a Deus nós não tínhamos ideias diferentes de como cria-la, como aconteceu com a Maman e o Papa assim que me tiveram.
Após nosso café, eu fiquei com a Sophie enquanto ele tomava banho e depois foi minha vez de ir ao banheiro. Quando eu sai do banho, os dois já não estavam no nosso quarto. Minha intenção era descer e ir procura-los lá embaixo, mas ao passar no quarto da Sophie dou de cara com Maman a segurando no colo.
- Salut, Maman!
- Salut, mon p’tit!
- Cadê o Gui?
- Adivinha?
- Na cozinha com a Dona Cacilda comendo?
- Exato!
- Essa mulher faz bruxaria na comida...
Eu ri.
- E o Bruno?
- Foi lá embaixo com o Gui. Ficou lindo o quartinho dela!
- Não lhe disse?
- Mas que safados esses dois, hein?
- E não é? Agora, Papa e Bruno parecem mais pai e filho do que eu e Papa.
- Ciúmes?
- Não, não! Eu fico feliz por eles se entenderem tão bem assim, o Bruno precisa disso.
- Nós já o amamos como um filho mesmo. Ninguém cuidaria de ti tão bem quanto ele, nem o Thi.
- O Thi cuidava de mim!
- Cuidava tão bem que fez o que fez, não é?
Quem mandou eu tentar defender o Thi, levei na cara.
- Vamos descer?
- Vamos, sim! Deixa só eu trocar a Sophie.
- E a senhora ainda lembra?
- Tá me chamando de velha, Antoine? – Ela me olhou com a cara que ela faz quando sente vontade de jogar um troço na gente.
- Não! Só que a senhora não cuida de um bebê há bastante tempo.
- Eu não esqueceria isso! Cuidei de vocês três, não cuidei? Então, pronto! E o Gui ainda é um bebê!
Eu ri e resolvi não falar mais nada depois do olhar. Maman trocou Sophie e nós descemos.
- Manooooooooooooooo!!! – Gui vinha correndo da cozinha
- Oi, Gui! O que foi que a Dona Cacilda te deu para comer, hein?
- BOLO DE CHOCOLATE! – Ele disse todo feliz
Dona Cacilda já sabia que ele viria, então toda vez que ele vinha lá para casa, ela já deixava o bendito bolo de chocolate pronto. Ele ama bolo de chocolate!
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- Maman, eu nem sei o que fazer para o jantar! – Eu disse quando estávamos indo ao mercado comprar os ingredientes para fazer alguma coisa para o jantar.
- Chéri, tu sabes cozinhar muito bem, pensa em alguma coisa.
- Não, sei!
- Do que ele gosta?
- Mais fácil perguntar o que ele não gosta, por que se eu for listar o que ele gosta, eu não saio do mercado hoje.
- Gosta de frango?
- Gosta!
- Peixe?
- Gosta!
- Carne?
- Não muito!
- Então, corta! Frutos do mar?
- Ele ama!
- Uuum.... Então, faz alguma coisa com frutos do mar.
- Mas o quê?
- Não sei!
- Ai, Maman, a senhora não tá ajudando...
- Comment??? Qui est là avec toi?
- Ah, voltou a falar em francês?
- Que ingratidão, Antoine!
- Maman, foi só jeito de falar! Sem a senhora eu nem aqui estava!
- Hum...
- Já sei! Uma vez eu fiz um risoto de frutos do mar que ele amou, vou fazer isso!
- Risoto, Antoine?
- É, Maman, é feito com arroz negro. Fica uma delicia!
- E do que tu vais precisar?
- Espere um minutinho, eu esqueci de fazer uma coisa... – Eu disse pegando meu celular e discando o número do Dudu.
- Fala meu viado preferido!
- E o Bruno?
- Ele é meu viado preferirirido!
- Ah, é assim é?
- Claro, meu bem! O que mandas?
- Quero um favor teu, mano...
- Ai, ai, ai... quando vem assim...
- É coisa simples! Eu só queria que tu tirasses o Bruno de dentro de casa.
- E por que eu faria isso?
- Por que eu tô querendo fazer um jantar para ele, e se ele ficar em casa esse jantar não vai rolar. Faz esse favor pra mim?
- Hum... alguém tá querendo transar hoje, é isso mesmo?
- Não, sua anta! Tu não ouviste o que eu falei?
- Claro que ouvi, mas o que vem depois do jantar? Hein?
- Não vem nada! Vais poder fazer isso, Dudu?
- Claro que sim! Esqueceu com quem estás falando?
- Pense em um local tranquilo para vocês irem.
- Tranquilo? Eu estava pensando em chama-lo para beber algo.
- Mas nem pensar! Tá maluco? Ele não iria sair de casa de jeito nenhum, ele está com a Sophie.
- Vixi, tinha esquecido esse detalhe.
- E ainda quer ser o padrinho da minha filha.
- Ai, foi mal aê, eu esqueci dela. O que que tem demais nisso?
- Ah, sim, não tem nada demais em esquecer a existência da minha filha.
- Deixa eu ver... pra onde eu levo eles?
- Pensa aí, nada de lugares agitados, nem lugares inadequados para bebes senão ele não sai de casa. Deixa eu ir por que eu to no mercado com a Maman. Beijo!
- Beijo! Na bunda!
- Palhaço!
- Credo, meu filho!
- O que foi, Maman?
- O jeito como tu falas com teu amigo...
- Que jeito?
- Muito agressivo?
- Agressivo? Eu? Claro que não, Maman. Por que a senhora não ouviu o que ele falou. – Eu disse rindo da careta que ela fazia – Dudu e eu somos assim, a senhora sabe.
- Ainda bem que vocês pararam de se xingar.
- Não paramos, não.
- Eu nunca mais ouvi.
- Nós só reduzimos...
Nós compramos tudo o que eu precisava, o Gui ainda fez a Maman comprar mais umas guloseimas para ele. Ele estava gordinho, Maman não se preocupava com isso. Ela era da época que criança bonita é criança gordinha. Gui comia quase tudo o que queria. Com minha filha é totalmente diferente, ela mesma não gosta de refrigerante e carne (o que eu agraço aos céus por isso). Acredito que como ela sempre viu muitas frutas em casa, e as frutas ficavam ao alcance dela, ela nunca se deixou seduzir por refrigerantes. Não estou dizendo que ela não come guloseimas, mas as guloseimas que ela come são diferentes das que as crianças por aí comem. Nós fazemos em casa, então sempre tem menos sódio, conservantes e venenos. É tudo muito saudável e nutritivos. Nós dois temos o hábito de irmos juntos para a cozinha, ela mais suja do que ajuda a cozinhar, mas isso eu acho muito importante para a formação dela. Acredito que tudo isso faz com que ela seja diferente das outras crianças. Já não bastava ter dois pais, a menina ainda tinha que ter uma alimentação 100% diferente das outras crianças. Kkkkkk
Quando eu cheguei em casa, tudo estava quieto. Então, eu deduzi que o Dudu havia conseguido tirar o Thi de casa. Eu fui logo tirando tudo das sacolas do mercado, eu não teria muito tempo se eu conhecesse bem meu marido. Ele quando estava com a Sophie, redobrava os cuidados. Então, ele logo estaria em casa.
Eu preparei todo o jantar da forma mais rápida possível, eu ainda tive que pedir um help para o Pi. Ele acabou fazendo tudo junto comigo o que eu achei muito bom, pois nós não estávamos nos falando com tanta frequência.
Eu arrumei toda a sala de jantar com velas e deixei aquele espaço com as luzes apagadas. Coloquei incensos pela casa o que a deixou muito perfumada. Depois de estar tudo pronto, eu tomei um banho, me arrumei e desci para espera-lo na sala. Em casa há uma grande porta que separa a sala da sala de jantar, então ele não iria ver o que eu tinha arrumado.
Quando ele chegou, eu fui recebe-los na porta.
- Oi, meus amores! – Eu disse dando um beijo neles
- Oiiii!!!
- Onde vocês estavam? Eu acabei de chegar e não vi ninguém!
- O Dudu nos chamou para dar uma voltinha lá no Parque do Forte.
- Hum... E cadê esse sacana?
- Ele disse que precisava resolver uns problemas e que depois ele viria aqui contigo.
- Isso já tá aprontando...
-Vai tomar banho, amor. Eu já estou terminando o jantar.
- Hum... tu que cozinhaste hoje?
- Foi!
- E o que tu fizeste?
- Surpresa! Toma primeiro um banho de depois desce pra gente jantar.
- E a Sophie?
- Deixa ela comigo!
- Tá, mas deixa eu pegar o carrinho dela.
Ele subiu até o quarto da nossa filha e pegou o carrinho dela. Em casa, quando ela ficava comigo, ela sempre ficava no carrinho, pois era mais fácil para eu me locomover com ela. Enquanto ele foi para o banho, eu preparei a mamadeira da Sophie e dei para ela e depois eu aqueci nosso jantar.
Quando eles desceu, a Sophie já tinha comido e nós estávamos esperando por ele na sala.
- Amor, eu acho que eu engordei! – Ele disse
- Não engordou, não! – Eu quis ser gentil, mas ele estava gordinho mesmo
- Olha como essa camiseta tá apertada!
Eu olhei direitinho para ele e a camiseta estava bem atarraxada nele. Eu me controlei para não rir.
- Não ri de mim! – Ele disse
- Não to rindo! Juro! – Eu disse colocando a mão na boca
- Amor, olha minha pança! – Ele segurou a barriga
Eu não me controlei e ri demais.
- Não tem graça!
- Amor, eu te avisei que tu irias engordar comendo do jeito que tu estás comendo.
- Amanhã eu começo uma dieta!
- Unrum! Tá bom! – Eu ri mais ainda
- Tá rindo, é? – Ele disse me agarrando no sofá onde eu estava deitado
- Tira essa camiseta, por favor! – eu disse caindo na gargalhada
- Não, eu vou ficar com frio.
- FRIO? EM MACAPÁ? TÁ BRINCANDO, NÉ? – Eu já nem conseguia mais parar de rir – Tira logo, Bruno.
Ele tirou a camiseta e ai eu olhei para barriguinha dele, eu ri mais ainda. Eu já vinha percebendo que ele estava ficando um pouquinho barrigudo, já tinha até falado para ele, mas ele não me ouviu.
- Para de rir, Antoine!
- Eu não consigo, Bruno. Eu lembro dessa camiseta atarraxada em ti e eu não consigo parar de rir.
- Ah, tu queres rir, é? – Ele me olhou com cara de safado
- Nem pensar, amor! – Eu sabia o que ele iria fazer, ele adorava fazer isso comigo
- Vai rir com vontade, agora! – Ele começou a fazer cosquinha na minha barriga
- Para, Bruno! – Eu disse chorando de rir
- Não, senhor! Quem mandou rir de mim?
- Amor, para! Sério! Por favoooooooooor!
- Quem é o marido mais bonito desse mundo?
- És tu!
- Quem é o marido que tem a barriga tanquinho mais linda?
Ai que eu ri mesmo, a imagem da camiseta não saia da minha cabeça e ele não colaborava para ela sair.
- Quem é?
Eu ri e ele fazia mais cosquinha. Eu já estava com dor na barriga.
- Quem é?
- Ai, és tu! És tu!
- Muito bem ! – Ele disse parando de fazer cosquinha
- E tu também és o marido que força o outra a mentir.
- Como é que é?
- Nadinha! Nadinha!
- Hum...
- Vamos jantar? – Eu disse limpando as lágrimas dos olhos
- O que tu fizeste pra gente?
- Algo que tu gostas muito!
- Eu gosto de várias coisas!
- Mas isso tu gostas muuuuuuuuuuuuitooooo!!!
- Dá uma dica...
- Frutos do mar...
- Não....
- Sim...
- Nãooooooo!!!
- Siiiiiim!!!
- EU TE AMO! – Ele gritou e a Sophie começou a chorar, ela tinha se assustado
- Olha só, maluco! Assustaste a Sophie.
- Sério, amor? Tu fizeste aquele risoto?
- Fiz! – Eu disse feliz ao ver a felicidade dele
- Eu te amo! Te amo! Te amo! Te amo! – Ele dizia me beijando
- Vamos jantar, vem!
- Vamos!
Ele saiu de cima de mim e foi andando de pressa para a sala de jantar. Eu não podia deixar ele entrar lá assim de supetão, ia estragar a surpresa.
- Ei! – Ele olhou para trás
- Ops, desculpa! – Ele veio até mim e me ajudou a levantar
Eu podia muito bem levantar sozinho, mas fiz isso só para ele poder me esperar e ir no meu ritmo. Ele pegou o carrinho da Sophie e nós fomos para a sala de jantar. Eu abri a porta, que era de correr, e então ele viu o que eu tinha preparado.
- A noite é só nossa! – Eu disse
- Tu preparaste isso tudo sozinho pra mim?
- Sim! – Eu sorri e dei um beijo nele
- Não precisava ter todo esse trabalho, meu amor. – Ele me abraçou
- Claro que precisava! Fazia tempo que eu não preparava nada para deixar o melhor marido do mundo feliz.
- Tu já me fazes feliz só ao estar ao meu lado.
- Tu também me fazes, mas eu gosto de fazer essas coisas. Eu sei que tu gostas.
- Amor... Eu te amo demais!
Eu apertei o abraço e nós ficamos agarradinhos por um tempo.
- Isso foi a tua barriga? – Eu perguntei quando sentir a barriga dele vibrar e fazer um barulho bem alto
- Acho que foi! – ele sorriu
- Meu Deus, vamos jantar logo, então! Vocês não comeram nada no passeio?
- Comemos! Nós paramos para lanchar.
- E tu estás nesse estado? Caramba, Bruno!
- Amor, eu imaginei aquele risoto e me deu fome. O que eu posso fazer?
- Deixa eu esquentar de novo o jantar. Já volto. – Eu disse me soltando dele
- Não, deixa que eu esquento!
- Não, senhor! Pode sentar ali com nossa filha e esperar. Eu já volto.
Eu fui até a cozinha e esquentei mais uma vez todos os pratos que eu havia feito. Com o tempo que passamos em Paris, Bruno se acostumou a fazer todas as refeições. E elas eram sempre organizadas no primeiro prato, no principal e na sobremesa, o que eu não achei nada ruim, já que em casa sempre foi assim. Então, nas refeições de casa sempre vinha primeiro uma salada ou uma sopa, após vinha o prato principal e logo em seguida uma sobremesa. Quando o jantar era em família, antes do prato principal ainda vinha uns petiscos. Ai, muita gente se pergunta: como que vocês não engordam com tudo isso? Como que os franceses não engordam com tanto pão e queijo? Simples, queridos: é só não passar dos limites, comer a quantidade certinha na hora certinha. Simples.
Após ter esquentado tudo rapidinho, eu voltei para a sala de jantar e nos servi.
- Eu amo quando tu cozinhas, sabias? – Ele disse enquanto comíamos – Isso tá muito gostoso!
- Obrigado! Vou cozinhar mais vezes pra gente.
Após o prato principal, eu servi risoto.
- Olha o cheiro disso, meu Deus, como fazer dieta com isso aqui?
Eu lembrei da camiseta e comecei a rir de novo. Ele me olhou sério.
- Desculpa! Vou parar! Só não coloca mais aquela camiseta. – Eu cai na gargalhada
- Engraçadinho!
- Não mandei tu lembrares da dieta.
- Amor, eu to muito barrigudo?
- Não, tu estás um pouquinho, não posso mentir, mas não é o fim do mundo né, amor?
- Sério?
- Unrum.
- Não tô feio não, né?
- Não, bobo! Ainda continuas lindo! Maaaaaaaaaaaaas, trata logo de perder esses pneuzinhos aí.
- Amanhã começo a dieta!
- Quero só ver...
- Sério, Dona Cacilda estará proibida de fazer coisas gostosas. A culpa é dela!
- Sim, é ela que come, né?
- Ai, para, Antoine! – Ele disse fazendo carinha de bravo
- Não fica bravo! – Eu fiz carinho na perna dele
- Tu ficas rindo por que eu to gordo.
- Eu to rindo, mas é da camiseta, não é pelo fato de estares com uns pneuzinhos aí. Por mim, tanto faz.
- De verdade?
- Claro que sim!
- Que ótimo, por que eu vou comer muito esse risoto!
Eu não podia com ele. Definitivamente não podia! Ele fez o que falou, comeu bastante. Após comermos o risoto, eu fui buscar a sobremesa.
- Ai, eu não acredito que tu fizeste isso também!
- Eu fiz o que tu gostas, hoje.
Eu tinha feito um mousse de manga meio maluco, pois eu não tinha tanto tempo para preparar.
- Eu amo demais mousse de manga!
Eu o servi e ele comeu que nem uma criança, no final ele estava todo lambuzado. Eu achava lindo esse espirito de criança que ele tinha.
- Tá sujo bem aqui, amor! – Eu apontei para o lado direito da minha boca
- Aqui? – Ele passou a mão no lado esquerdo do rosto
- Ai, eu esqueço que tu nunca acertas! – Eu levantei e fui até ele e sentei na perna dele – Aqui! – Eu disse passando o dedo na boca dele
- Obrigado por esse jantar! – Ele me beijou
Naquele dia nós fizemos a Sophie dormir e depois ficamos conversando até tarde. Ele estava preocupado com a cirurgia, ele tinha medo de ter metástase. Eu também estava com medo, não podia negar. Eu só queria me livrar de uma vez por todas daquela doença. Não aguentava mais se espetado mil vezes, receber altíssimas doses de drogas, sentir meu corpo enfraquecer a cada dia, ficar careca, sentir dores, não poder andar normalmente e principalmente não poder cuidar do meu marido e da minha filha.
Sophie foi um sopro de felicidade para nós naquele momento. Ela trouxe muita luz com ela. Em uma das minhas idas ao Centro Espirita, eu recebi a informação que ela havia sido nossa filha em uma outra vida, mas ela não pode nascer. A missão dela havia sido muito curtinha, ela só tinha vindo para nos unir. Nessa vida, ela havia vindo para nos manter unidos. Eu nunca nem tinha me tocado, mas a Dona Cacilda tem o mesmo sobrenome que o Bruno, ou seja, eles possuem o mesmo tronco familiar. O que explicava o motivo da Sophie ter chegado até nós.
Eu soube também que ela seria uma criança muito iluminada, por isso ela era tão calminha. Era iria ser uma criança que espalharia amor por onde passasse. Eu fiquei bem emocionado quando eu soube disso. Desde bebê ela já fazia isso, minha família e meus amigos a adoravam. Ela tinha o poder de encantar as pessoas com simples gestos, assim como o Bruno fazia também.
Capítulo 116
O tempo havia passado rápido, graças a Deus. Eu não aguentava mais esperar aquela bendita cirurgia. No dia seguinte eu faria a cirurgia. Eu já estava internado no hospital, só estava esperando. Sophie tinha ficado com Maman, Bruno não saia do meu lado no hospital. Eu ligava de meia em meia hora para saber como minha filha estava. Ela não era acostumada a dormir fora de casa, então eu estava com medo dela estranhar.
Eu estava morrendo de medo daquela cirurgia, seria uma cirurgia demorada e muito delicada. Eles iriam ressecar o tumor e verificar se havia metástase. Eu tinha medo de acontecer alguma complicação e eu não voltar mais. Eu tinha medo deles terem que amputar minha perna. Tinha medo de não ver mais minha família e o amor da minha vida.
- Vai dar tudo certo! – Ele estava deitado junto comigo
- Vai!
Eu adormeci nos braços do Bruno naquele dia. Quando eu acordei no dia seguinte, já estava na hora de me preparar para a cirurgia, então havia três enfermeiros no meu quarto. Bruno me ajudou a tomar banho e depois os enfermeiros puderam me preparar. Após todo aquele ritual de cirurgia, eu enfim fui levado para a sala onde eu seria operado. Bruno e eu nos despedimos no quarto, ele não poderia acompanhar a cirurgia, teria que me esperar na sala de espera junto com meus amigos.
- Tá preparado, Antoine? – O médico me perguntou
- Nem um pouco!
- Ótimo! Vamos começar, ok? – Ele sorriu e apertou minha mão – Força, garoto!
O anestesista aplicou a anestesia e eu fui apagando aos poucos. A partir desse momento, eu pedi para o Thi escrever, já que eu estava apagado e sendo aberto em uma mesa de cirurgia. Ele escreveu e eu revi o texto fazendo algumas adequações ao meu estilo de escrever, é claro.
***
O Antoine já estava há três horas na sala de cirurgia. Estávamos Bruno, Jujuba, Loh, Igor, Dudu e eu na sala de espera. Estava um clima bem sinistro. Dudu que era o mais engraçado de todos estava chorando e rezando, o que eu nunca havia visto ele fazer. Ele com certeza amava o Antoine tanto quanto eu.
Eu sentia meu estomago virar e revirar, eu tentei comer alguma coisa, mas na primeira oportunidade eu vomitei tudo. Aquela sensação de impotência que eu havia sentido outrora, havia retornado. Eu tinha medo do que poderia acontecer com o Antoine. Eu só pensava em como seria a minha vida sem ele.
Bruno estava quieto num canto, não falava com ninguém. Eu via ele chorar. Às vezes ele levantava e ficava andando pra lá e pra cá atrás de alguma informação, mas até aquele momento, nenhuma informação havia sido liberada. Ele estava angustiado e sofrendo, todos podiam ver o quanto aquele cara amava o Antoine. Por mais difícil que fosse eu falar isso, eu tinha que confessar, ele o amava mesmo. De meia em meia hora meus tios ligavam para saber notícias, eles não puderam vir até o hospital, pois eles tinham ficado com as crianças. Eu podia imaginar a angustia que tia Ange estava sentindo. Todos eram loucos pelo Antoine. Eu tinha minhas duvidas se as pessoas ficariam assim caso acontecesse algo comigo.
Antoine tinha algo que fazia com que todos amassem ele. Ele tinha algo muito puro dentro dele. Só quem o conhece pode sentir isso. Eu sentia o medo tomar conta de mim e uma vontade enorme de usar alguma coisa para melhorar aquela situação tomava conta de mim, mas eu não poderia estragar tudo mais uma vez. Eu não podia perder o Antoine mais uma vez. Eu não deixaria aquele vicio imbecil tomar conta de mim mais uma vez. Eu seria forte e digno como o Bruno era.
Um dia eu já senti ódio do Bruno, mas naquele momento eu o admirava e me espelhava nele. Eu poderia ter sido tão bom quanto ele para o Antoine. Se eu tivesse sido como ele, nós estaríamos juntos. Mas, infelizmente, eu não tinha sido forte e quem estava agora ao lado do meu amor era ele. Ele merecia minha admiração!
Após tantas horas de espera o médico veio falar com o Bruno. Pela reação dele não era coisa boa.
- O que foi, Bruno? – Jujuba o abraçou, ele chorava copiosamente
- Jujuba...
- Bruno, o que foi cara? – Dudu perguntou já chorando também
- Ele... ele... ele tá com metástase, Dudu!
- E o que isso significa?
- Que o câncer tá se espalhando pelo corpo dele.
- Não! Isso não quer dizer que...
- Eles chamaram um ortopedista para auxiliar a cirurgia. – Bruno foi caindo, eu corri e o segurei
- Calma, Bruno! Ele vai ficar bem!
- Thiago, o câncer tá se espalhando... – Ele chorava – Como eu vou falar isso para a Ange?
- Calma, cara! Vai dar tudo certo! O que mais que o médico falou?
- Que o ortopedista vai avaliar a perna dele, se... se... – ele chorou ainda mais
- Se o que, Bruno?
- Se... – ele soluçava – se não tiver jeito, eles vão amputar.
Aquilo foi uma como receber uma punhalada no peito. Eu senti minhas lagrimas descerem silenciosamente. Dudu chorava tanto ou até mais que o Bruno. Jujuba o confortava, mas ela também chorava bastante.
- Vai dar tudo certo, Bruno. Ele vai sair dessa! Tu vais ver!
- Se... se... será?
- Nós estamos falando do Antoine! Ele já sobreviveu a isso uma vez, vai sobreviver novamente.
Bruno sentou em uma poltrona e ficou imóvel. Só Deus sabe o que estava passando pela cabeça dele. Meus amigos estavam devastados com aquela notícia. Eu não podia perder as esperanças, eu sabia que o Antoine iria superar tudo isso.
Após mais uma hora de espera, nós percebemos uma movimentação estranha na sala de cirurgia. Bruno não tinha forças para se levantar e tentar saber o que estava acontecendo. Então, eu fui até lá e perguntei para uma das enfermeiras, o que foi inútil visto que ela não me falou nada.
Eu fiquei lá na porta esperando alguma notícia, tentando ouvir alguma coisa. Qualquer coisa que fosse já ajudaria, era o que eu pensava... Um médico passou rapidamente por mim e foi entrando no corredor da sala. Ele perguntou a uma enfermeira que ia saindo da sala qual era a situação. A enfermeira passou um rápido relatório sobre o caso do Antoine, mas foi o que ela disse por último o que me fez paralisar.
- Quadro de parada cardíaca, o doutor Antonio está tentando reanima-lo.
Eu senti minhas pernas perderem a força, eu senti meu corpo ir caindo aos poucos, como se não existisse chão sob meus pés. Ele estava morrendo, foi isso que eu tinha escutado? Aquela doença maldita estava matando ele. Não, o Antoine não podia nos deixar, não podia ME deixar. Eu senti alguém me puxando. Eu olhei para cima e vi a Jujuba.
- O que foi, Thi?
- Jujuba, ele tá morrendo Jujuba. – Eu disse chorando
- Ooooo... que??? Não, Thi! Não, não! – Ela chorava bastante
- Eu ouvi, Jujuba. Eu ouvi a enfermeira falar que ele estava morrendo. – Eu estava largado no chão, Jujuba não tinha mais forças para me levantar.
Foi preciso um enfermeiro vir até nós e me ajudar. Meu coração estava estilhaçado dentro do meu peito, eu sentia uma dor tão forte. Era uma dor que eu jamais havia sentido em toda a minha vida. Eu sentia meu peito rasgar, sentia falta de ar. Minhas mãos tremiam, minhas pernas não tinham forças para me sustentar.
- O que aconteceu? – Dudu veio até mim
- O Antoine, Dudu.... – Eu não conseguia repetir aquilo mais uma vez
Se eu não falasse não seria verdade, se eu guardasse só para mim aquilo não iria acontecer. Mas, já estava acontecendo.
- O que que tem ele, Thi? O que aconteceu? – Ele sentou ao meu lado
- O que foi, Thiago? – Bruno perguntou após perceber meu estado
- A enfermeira, Bruno. A enfermeira falou...
- O que ela falou?
- Ela falou...
O médico veio falar mais uma vez com o Bruno. Ele se levantou e me deixou lá. Eu não iria conseguir falar aquilo mais uma vez. Eu fiquei olhando o Bruno ir até o médico, era agora que ele falaria o que tinha acontecido com o Antoine. Eu vi o Brno colocar a mão na boca e se segurar na parede. Não era coisa boa, eu sabia o que era...
A dor no peito foi intensificada. Eu sentia como se alguém estivesse metendo a mão dentro de mim e estivesse tentando arrancar meu coração. Ao ver a reação do Bruno eu já não tinha mais esperanças...
Com muita dificuldade, eu vi o Bruno vir até nós.
- O que foi que aconteceu, Bruno? – Dudu perguntou
- O Antoine teve uma parada cardíaca. – Ele disse chorando
- Isso que dizer que ele está...
- Não, os médicos conseguiram reanima-lo. – Eu senti um alivio tão grande ao ouvir isso.
Eu nunca vi alguém ficar no estado do Bruno, ele estava perturbado, dava para sentir a dor dele de longe. Talvez o que eu sentia não chegava nem perto da dor daquele cara. Eu via ele perder as esperanças a cada segundo. Eu via ele morrer junto com o Antoine a cada instante.
- Graças a Deus! – Dudu disse
- Mas a situação dele é muito delicada – Ele chorava - Dudu, eu não sei...
- Não fala isso, Bruno! Ele vai voltar pra gente.
O celular do Bruno tocou e ele se afastou para poder atender. Eu o via de longe contando para os meus tios toda a situação, eu o via chorar sem parar.
- Mas ela não para de chorar, Ange? Ela já tomou a mamadeira? Como assim ela não quer comer? Ela deve estar sentindo tudo o que está acontecendo. Ele vai sair dessa, Ange.
Ele tentava confortar minha tia, mas eu podia ver nos olhos dele que ele já não acreditava tanto assim nisso. O medo estava vencendo. Ele estava vencendo todos nós. Eu senti alguém sentando ao meu lado. Eu olhei para o lado e vi minha mãe.
- O que está acontecendo, Thi?
- O Antoine, mamãe! – Eu a abracei e chorei
- O que foi, meu filho? O que aconteceu com ele?
- Ele teve uma parada cardíaca.
- Meu Deus! Mas ele....
- Não, mas a situação dele é muito delicada.
- Ele vai sair dessa, meu filho! Vamos ter fé em Deus.
Eu olhava o Bruno de longe, alguém precisava conforta-lo, eu estava vendo ele enlouquecer com toda aquela espera. Eu me levantei e fui até ele. Ele ficou me olhando nos olhos e eu o abracei, nós dois amávamos o Antoine como ninguém amava ou amaria. Nós nos abraçamos e choramos juntos. Não falamos nada, nós só choramos e esperamos juntos por mais notícias.
- Como tá a Sophie?
- Ela não come e não para de chorar. Eu acho que ela tá sentindo tudo o que tá acontecendo com o pai dela.
- Com certeza ela tá sentindo.
Após mais quatro horas de espera, o médico veio até nós. Essas foram as piores horas da nossa vida. Bruno se levantou e esperou o médico falar.
- Terminamos a cirurgia. O ortopedista teve que fazer uma delicada cirurgia na perna dele, o que felizmente nos permitiu salvar a perna.
- E a metástase, Antonio?
- Não era tão grande quanto pensávamos. A área comprometida foi ressacada.
- E o tumor no joelho?
- Ele foi o primeiro a ser ressecado. A cirurgia foi um sucesso!
- Graças a Deus!
- Quais serão os passos a serem tomados agora, doutor? – Eu perguntei aliviado
- Bom, vamos primeiro esperar ele acordar para ver se não teve nenhuma sequela da cirurgia. Após, nós vamos iniciar mais algumas sessões de quimioterapia. Mas antes, ele precisa se recuperar da cirurgia.
Eu senti algo tão bom ao ouvir o médico falar aquilo. Bruno sentou na poltrona novamente e chorou ainda mais.
- Ele vai ficar bem, Bruno! – Dudu abraçou o amigo
- Ele vai ficar bem, Dudu! Eu senti tanto medo, eu pensei que eu iria perde-lo. Ele é a minha família, Dudu. É a minha vida! Se eu perdesse o amor da minha vida o que eu faria? – Ele falava e chorava ao mesmo tempo
Dudu e ele ficaram conversando e eu fui até minha mãe. Ela me abraçou e eu senti todo aquele medo e angustia me abandonarem. O Antoine estava vivo! A cirurgia havia sido um sucesso!
***
Quando eu acordei, eu já estava no quarto onde eu havia ficado internado. Bruno estava sentando na poltrona ao lado da cama.
- Oi, amor!
- Oi, meu bem! – Ele me olhou com os olhinhos marejados
- Como foi tudo?
- Foi um sucesso!
- Eu ainda tô com a minha perna! Mas, por que ela tá toda enfaixada?
- Tiveram que fazer uma cirurgia nela, amor.
- Por que?
- Tinha metástase.
Eu senti um puxão no meu estomago.
- Tinha?
- Tinha, mas foi tudo ressecado. Não tem mais. Deixa eu chamar o Antonio para te avaliar, espera aí.
Bruno saiu do quarto muito rápido, o que eu achei bem estranho. Quando ele voltou ele já veio trazendo os médicos e os enfermeiros. Eles fizeram alguns exames bobos, pediram para eu movimentar meus dedos do pé, olharam meus olhos e mais algumas coisinhas bobas. No final, eles falaram que estava tudo certo.
Quando os médicos saíram, Bruno sentou na poltrona novamente, segurou minha mão e começou a chorar.
- Eu fiquei com tanto medo de te perder, amor. – Ele colocou a cabeça na minha perna, a que não tinha sido operada.
- Ei, mas eu estou aqui. Não chora, não. – Eu disse fazendo carinho nos cabelos dele – E nossa filha, como ela está?
- Ela tá bem! Tua mãe tá cuidando dela.
- Tu já comeste alguma coisa?
- Eu tentei, mas não consegui.
- Tem que comer, am... – Eu fui sentindo meus olhos pesarem e eu fui apagando de novo.