Um belo homem de terno preto relaxava no seu camarim depois de mais um dia de gravações.
Nunca tive certeza se era real. Já trabalhava naquele talk show havia mais de cinco anos, mas sempre ficava de queixo caído diante desses quase 1,90m de escocês num visual sexy de happy hour, gravata jogada sobre os ombros, paletó ainda vestido e os dois primeiros botões da camisa abertos. O sobressalto me veio logo nos primeiros meses ali, quando me peguei admirando seus cabelos grisalhos; mesmo preferindo homens na faixa dos trinta, achava que lhe caíam bem, assim como as linhas tênues que seu sorriso fazia brincarem nos cantos dos olhos ainda brilhantes e cheios de vida. Pouco a pouco, ele foi se revelando exceção a algumas outras regras. Mesmo avessa a marcadores de tempo, gostava do design do relógio prateado no seu pulso esquerdo; mesmo atraída por sinais de submissão, perdia o rumo cada vez que ele bancava o dominador ou qualquer outro papel sexual pras câmeras; mesmo não muito interessada em ficção científica, pensava em dar uma olhada no Doctor Who, seu seriado preferido. O que dizer? Você sabe que arranjou um problema quando começa a fazer concessões.
O relógio foi a primeira coisa que notei ao entrar no camarim naquela noite. No outro pulso, a ponta da tatuagem de serpente convidava a segui-la, como se seu dono já não fosse a tentação personificada. Descobrindo meu reflexo no grande espelho retangular emoldurado por uma dúzia de lâmpadas, se virou devagar na cadeira giratória pra me fitar em cheio com aqueles olhos azuis que ganhavam ou perdiam três tons conforme a iluminação, e na do camarim pareciam claros como nunca. Fechei a porta quase sem perceber.
— Que tal o kilt do Nathan? — perguntei sobre seu segundo "entrevistado" do dia.
— Não tão fabuloso quanto o meu. — Riu.
— Então você tem um? — A imagem mental dele num kilt me fez sorrir junto, como se eu ou qualquer mulher em sã consciência precisasse de ajuda pra retribuir aquele sorriso de amolecer as pernas e o coração. — E é escocês de verdade? — Em outras palavras: “Segue a tradição de usar o kilt sem nada por baixo?”
— Não mais. Estou velho. Algo assustador pode aparecer.
— Você não está velho.
— Também não estou jovem — baixou a voz e o rosto, desabotoando os punhos da camisa e escondendo as linhas da idade, sem saber que elas pra mim tinham num par de meses passado de senão a atrativo e por fim fetiche. Devia ser o Efeito Ferguson.
— As leitoras daquela revista feminina não estão nem aí pra isso. Ganhou disparado de homens mais jovens naquela enquete.
— Como eu disse, a culpa é das pessoas sem TV de alta definição. — Risos. — Que diabos estavam pensando? Quer dizer, olha pra mim. Já estou com quarenta e nove. Bom, um pouco menos, na época. — Seus olhos se voltaram pra mim e tive medo de me afogar naquele mar azul capaz de tragar como um maremoto mesmo na mais absoluta calmaria.
— Estou olhando. Estou olhando pessoalmente e dormiria com você do mesmo jeito — mergulhei de cabeça, num impulso. Era a deixa de expressar o que estava cansada não só de pensar como ouvir da boca de várias mulheres e alguns homens; coisas como "Pularia nele e devassaria seu corpo escocês sexy" ou "Ele é tão deliciosamente vagabundo", não nessas palavras e sem outros defeitos muitas vezes atribuídos com o mesmo peso. Naqueles cinco anos, Craig conseguira a façanha de colecionar os rótulos mais extremos e disparatados: um intelectual, um idiota, um poeta, um boca-suja, um cavalheiro, um puto, um bully, um masoquista. Paradoxo ambulante. Nunca cheguei a uma conclusão sobre o que era na verdade, mas sabia bem como fazia as pessoas se sentirem. E agora ele me olhava como se o enigma fosse eu. Mordi os lábios e dei um passo atrás. Se havia um fato concreto sobre Craig, era que ele flertava descaradamente com a maioria das pessoas, mas corria pra defensiva no segundo em que a situação ficava séria; e dessa vez eu me esquecera de sorrir. — Tenho que ir. — Virei as costas e pus a mão na maçaneta.
— Sem se despedir? — perguntou na sua mansidão cotidiana, tão comum quando as câmeras paravam de rodar e ele deixava de ser o Craig Ferguson da TV.
Me voltei a tempo de flagrar seus olhos se desviando da minha bunda pela gazilionésima vez. Como de hábito, se levantou com calma, pôs as mãos nos meus ombros e me deu dois beijinhos no rosto. O terceiro foi na boca. Sua língua procurou a minha, suas mãos correram pelas minhas costas num abraço apertado e seu corpo se colou em mim, tão quente e rijo que fez o meu instantaneamente se aquecer e retesar em resposta. Era repentino e intenso, e achei que também já estivesse querendo aquele beijo havia algum tempo. Quando nos descolamos, meu olhar caiu sobre a gravata jogada nos ombros. Isso me lembrou uma "entrevista" particularmente sexy com uma atriz francesa.
— Gostei de ver Berenice te puxando pela sua gravata vermelha. Era uma vontade minha fazer isso... Craig, vou ser sincera. Já tive algumas fantasias com você, e todas tinham a ver com aquela mesa de trás da qual você "entrevista" seus convidados, todo alinhado, esbanjando elegância, charme, inteligência, vigor, carisma...
"E bom humor", eu teria acrescentado se ele não parecesse tão estranhamente sério agora. Aliás, como nos últimos dias.
— Me conta uma. — Pareceu curioso.
— Melhor não.
— Por quê?
— Você sabe — eu disse procurando seu anelar esquerdo, que pra minha surpresa encontrei sem a broxante aliança. Isso explicava seu humor.
— Dormi num hotel essa noite. — Desviou um olhar cansado pra sua esquerda. — Pela terceira vez na semana.
— Sinto muito. Quer conversar?
Ele considerou a proposta por um segundo, mas depois um sorriso se insinuou no canto daqueles lábios largos e cheios que havia meses não saíam da minha cabeça. Eu sabia o que estava por vir.
— Quero conversar sobre suas fantasias. Quando começaram? — inquiriu no seu falso sotaque austríaco, retomando a cadeira e simulando morder a ponta do seu "cachimbo de psicanalista". Bingo.
— Na época em que você terminava o programa tirando o paletó e afrouxando a gravata com aquele olhar provocante direto pra câmera 2.
— E o que acontecia nessas fantasias?
— Imaginei um show erótico de verdade no dia da enquete, quando você deitou na mesa.
— Como?
— Você enfiando mesmo a mão dentro da calça. Abrindo a calça...
— Assim? — Lentamente abriu o cinto e as calças e afastou as fraldas da camisa, revelando uma boxer preta e o motivo da piada sobre ele "saber como é andar feito um cavalo", duro e de fato maior que a média. Sustentava um olhar quase sério, como de algum jeito conseguia até pouco mais da metade dos seus quadros cômico-sensuais, ou no dia em que teve a pachorra de dizer pra que lado deveria olhar quem quisesse dar uma conferida na sua mala. Me lembrei dos momentos fatídicos em que inevitavelmente caía na gargalhada e quem quase riu fui eu.
— Sim. Passando a mão como você insinuou naquele dia. Apertando... Devagar... Mergulhando a mão e puxando pra fora.
Tudo como eu ia dizendo e lá se erguia ele, túrgido e molhado, como eu sabia que também estava sem precisar me tocar. Dei um passo adiante e estendi a mão praquele monumento aprumado pela base entre as pontas dos seus dedos.
— Não. — Espalmou a outra mão no ar. — Fica só assistindo. Vou fazer o show que você queria.
"Isso, toca pra mim", pensei.
O que tocou antes foi seu celular. Ele desligou no primeiro toque, mas não demorou um minuto pra uma estagiária bater na porta do camarim. Esperei que fechasse as calças e jogasse o paletó no colo antes de abrir a porta. Conversaram por alguns segundos e ela saiu apressada.
— Se puder ficar até as dez, não vai se arrepender. — Craig me deu um beijo de língua, breve mas ávido o suficiente pra me tirar o fôlego, e sussurrou no meu ouvido carregando no sotaque escocês parcialmente perdido pros americanos: — Hoje vou realizar todas as suas fantasias.
Saiu com a mesma pressa, me deixando com minha agenda também atribulada e um compromisso a ser desmarcado.
Duas horas depois, não tinha ninguém além dele no último estúdio do andar vazio. Sentado na mesa, pernas pendendo pra fora com as estilosas meias coloridas que quebravam a sisudez do terno sem comprometer a elegância, aquele sorriso jocosamente insinuante nos lábios, alisava a gravata larga e comprida em mais uma das suas típicas associações freudianas. Essa era lisa, de um vermelho ígneo, diferente da listrada de azul e branco que estava usando no camarim.
— E se aparecer alguém? — perguntei em voz baixa, a três passos da porta.
— Isso não deixa tudo ainda mais excitante? — Sinalizou que eu me sentasse numa das cadeiras centrais da primeira fila da plateia.
O show continuou quase de onde tínhamos parado: enganchou o polegar no cinto com os dedos esticados pro volume entre as pernas e mordeu o lábio inferior daquele jeito meio palhaço, meio sexy que me deixava dividida entre rir e fantasiar. Devagar e mais sério, desceu um pouco a mão, forçando o cinto pra baixo; apertou, afagou e enfim soltou o bicho pela abertura das calças. Nossa, o que era aquele homem só com o pau duro pra fora do terno? Quando abriu o cinto e o botão, se deitou na mesa e começou a punheta, não havia mais nenhum resquício de piada; ele agora parecia tão excitado com seu exercício exibicionista quanto eu, que já lutava pra manter o ar impassível apesar da preocupante porta sem tranca. Se tocava com a mão direita, a outra passeando pelo corpo, enquanto eu tentava calcular as chances e proporções de um possível escândalo. Tudo isso perdeu a importância quando ele, com o duplo sentido que era sua marca registrada, traçou languidamente o contorno dos lábios e murmurou um "come here" que podia querer dizer tanto "vem pra mesa" como "goza na minha boca". Craig sabe atiçar uma mulher.
— Senta aqui de frente pra mim — pediu descendo pra cadeira atrás.
Mal me sentei na mesa, suas mãos grandes e quentes pousaram nos meus joelhos por baixo da saia longa pra abrir minhas pernas com uma firmeza que me fez ansiar pelo seu toque ali no meio. Enrolei os dedos na gravata como tantas vezes tive vontade de fazer e ele pressionou minha nuca até nossas testas se tocarem, nossos lábios mal se roçando. Sua língua separou os meus e deslizou pra dentro, devagar mas firme. Apoiei as mãos na beira atrás de mim e os saltos das botas pretas de cano médio nos braços da cadeira pra ele puxar minha calcinha. Enquanto o beijo se aprofundava, lento e molhado, suas mãos voltaram pras minhas pernas, uma no meio da coxa e a outra seguindo caminho pra brincar nos pentelhos, provocando.
— Não quer? — reclamou do meu silêncio, como se esperasse que eu continuasse a apressar cada passo.
— Todo esse show foi pra me deixar louca a ponto de implorar?
— Também — disse se levantando pra me olhar de cima. Mais alguns segundos e o dedo traçou a linha da divisão dos lábios quase sem encostar, resvalando no ponto mais sensível.
— Craig, por favor — sussurrei-lhe ao pé do ouvido.
Isso provocou um sorriso que julguei um misto de orgulho e excitação. Com lentidão torturante, esticou o indicador e fez a ponta deslizar na lubrificação espalhada por toda a região em volta do grelo, me tirando um longo suspiro.
— Gosta disso, né? — disse rouco, naquele seu tom lascivo que nunca falhava em fazer meu pulso acelerar. Se todos os escoceses fossem assim, Edimburgo tinha mais um motivo pra ser a capital mundial do enfarte.
O único gemido que consegui como resposta pareceu satisfazê-lo; começou a me masturbar suavemente e gemi mais alto. Me vi a ponto de derreter naquela mesa quando ele foi me penetrando ao mesmo tempo na boca com a língua e na buceta com um dedo. E mais outro, mexendo lá dentro. Caralho. Meus pés estavam curvados ao máximo e faltava pouco pras minhas pernas tremerem do esforço muscular.
— Vai gozar nos meus dedos? — Começou a enfiar e tirar os dois bem devagar.
— Por favor, Craig. Por favor, agora — pedi de novo, prestes a rebolar na sua mão, ansiosa, entregue, mas ele se limitava a sorrir do efeito que tinha sobre mim, sem dar sinais de acabar com aquele suspense, tão deliciado em ouvir seu nome na minha boca quanto eu em dizer. — E você, gosta de excitar, né? Dá uma sensação de poder — inverti o jogo, não aguentando mais tanta provocação.
— Sim. Mas isso também dá. — Mais uma vez encarnando o dominador, entrelaçou os dedos da outra mão nos meus cabelos e puxou de leve, só o suficiente pra fazer meu queixo se erguer pro seu beijo. Sua língua me penetrou a boca com voracidade. — Posso fazer isso com "minha fã"?
— Você pode, Craig. Você pode.
A soma dos fatores resultou na maior loucura que qualquer funcionário ou convidado já fizera naquele estúdio: esqueceu de vez o risco de alguém aparecer e em meio segundo me prensou contra o tampo da mesa com todo o seu peso, derrubando a TARDIS em miniatura e o telefone da década de 1920. Enquanto nossas línguas duelavam e nossas virilhas se pressionavam com força total, pele contra pele, desci uma mão no vão estreito entre os corpos pra agarrar o pau. Comecei a punhetar no ritmo lento do seu show e ele gemeu baixinho. Tomou-o da minha mão, apontou e entrou de uma vez, tão duro e grande que chegava a causar leve desconforto.
— Está sentindo isso? — Era o sorriso exato do monólogo pós-enquete. Todas as falas que tinham provocado gritinhos histéricos no estúdio. Eu já podia desmaiar agora?
— Assim você me mata. Mas vai devagar, que esse tamanho não é pra qualquer um.
Começou assim, mas mesmo (ou principalmente) com esse ritmo, sua mão na minha coxa e seus beijos no meu pescoço, eu não ia durar cinco minutos. Enlacei-o com as pernas e deixei vir de mansinho, com a certeza de que ele sabia.
— Chama meu nome. Diz quem você quer que te coma, diz — pediu com timing preciso, a segundos do clímax. Agarrei-o pelo paletó e seu ouvido chegou à minha boca.
— Craig... Craig... Craig... Ah, Craig — sussurrei no ritmo, pontuando cada investida até as palavras virarem suspiros e eu não conseguir fazer nada além de senti-lo preencher cada milímetro dentro de mim naquele vaivém deliciosamente lânguido e cadenciado. Por menos que eu pudesse gemer ali, ele levantou o rosto no momento certo, e os próximos dez segundos eu passei de olhos fechados.
— Você fica ainda mais gata quando goza — disse parado, me esperando recuperar o fôlego.
— Craig...
— Hum?
— Naquele dia da enquete você sugeriu que gostou da ideia de ser objeto sexual. Foi só piada?
Ele sorriu e perguntou pausadamente em tom especulativo, fingindo colar do gabarito antes de marcar a resposta: — Você quer que não tenha sido só piada?
— Quero.
— Mas é claro que não foi só piada! — forçou voz grave, pra efeito cômico.
— Craig?
— Não foi só piada. É uma vontade antiga minha, ser amarrado e usado.
— Então agora vou realizar — entrei na brincadeira.
Ele tirou o paletó preto, a camisa branca e a gravata vermelha, que me estendeu com um sorriso antes de se deitar com as mãos acima da cabeça, expondo um torso em forma excepcional e a tatuagem de serpente com a inscrição Join or Die no antebraço. Melhor impossível. E, apesar de toda a vontade, ainda titubeei na hora de amarrá-lo.
— Relaxa. Juro que ninguém vai aparecer — falou com convicção.
Me postei sobre ele sem tirar as botas (de dominatrix?) que sabia também serem seu fetiche e apertei o nó, enterrando de vez a chance de disfarçarmos qualquer coisa caso flagrados naquela situação. Enquanto simulava o vaivém da foda, pincelando o grelo com a glande, passeava as mãos pelo seu peito e beliscava de leve os mamilos, até parar com o pau em riste apontado na entrada. Ele já bufava, mas agora eu estava no comando e ia devolver a espera.
— Desce... Desce... — pediu ofegante. No meu pensamento, pedia também que eu puxasse seu cabelo, como brincou em tantas “entrevistas”. Parecia uma fixação dele, uma fixação que me excitava na mesma medida.
Desci só na cabeça e ele ergueu os quadris, olhar suplicante, boca entreaberta à distância de um beijo. Quando tentou, fugi alguns centímetros e com seu queixo entre meu indicador e polegar deitei-lhe a cabeça pra trás e pro lado. Meus dedos pararam ao alcance da sua boca, que os caçou e chupou sensualmente. Desci até o talo e ele gemeu.
— Pode me bater se quiser — falou. Dei um tapa que mesmo leve reacendeu meu tesão e a cavalgada teve início. — Mais forte.
O tapa mais forte fez seus olhos faiscarem e seu pau pulsar dentro de mim. Nossa. Aquilo ia me levar a jato pro segundo "fergasm". Outro tapa, imediatamente seguido do beijo negado, ainda mais profundo. Enfiou a língua inteira na minha boca e senti minha musculatura interna se contrair por vontade própria, sugando-o pra dentro. Gemeu gostoso e repeti só pra ouvir de novo. Meus quadris já estavam no piloto automático, imprimindo um ritmo urgente e cada vez mais errático, até que a visão daquela imensidão azul agora turva e revolta me fez de novo mergulhar de cabeça. Com as contrações finais do meu gozo e meus dedos finalmente enterrados nos seus cabelos, seu corpo inteiro se contraiu junto; forçou a parte de trás da cabeça contra o tampo da mesa, grunhiu entredentes e fechou os olhos com força por alguns segundos antes de me voltar aquele olhar intenso. Ainda ofegava em golfadas fundas e ruidosas quando o soltei da gravata e deslizei pra cadeira. Como se tivéssemos tempo, nos demos um minuto pra nos recuperar, e no meu caso registrar o que me passava pelas mãos: além de todas as qualidades descritas sem exagero, incluindo o dote que a bem da verdade era a cereja do bolo, o homem dançava como poucos, era autor de dois livros aclamados, discutia os existencialistas com a propriedade de um mestre em filosofia e tinha brevê. Surreal.
Seus olhos agora me sorriam docemente. Sem plateia, ele conseguia ser ainda mais adorável. Era um pouco menos zombeteiro que nas "entrevistas", o que fazia parte do seu show, mas sempre flertava, e sempre dentro dos limites.
— Por que nunca fez nada, Craig?
— O que eu podia fazer? Você poderia me processar por assédio sexual, com razão. Além disso, você sabe... — Esfregou a marca de sol no anelar esquerdo. — Espero que tenha sido tudo que imaginou.
— Foi incrível. Aliás, é bom saber que a violência não é a preliminar escocesa.
— Eu disse pro Robin não contar aquela piada! — Apontou o dedo, tão enfático quanto naquela vez.
— Te amo — respondi com um beijo estalado no rosto, em agradecimento pela intervenção. Era a mais sincera declaração, mas passou por brincadeira entre amigos e senti um peso sair dos meus ombros. — E você não falou nenhum palavrão.
— Ah, merda! — Risos. — Vai colar uma bandeirinha nesse?
— Não fode. — Risos. — Nesse não. Só das cinco às oito.
— Você manda.
Beijei-o e comecei a me recompor antes que alguém aparecesse. Minha calcinha fora parar na almofada da poltrona de convidado mais próxima, na reta da sua preciosa caneca em forma de serpente, que só agora eu descobria descansar em segurança na mesinha retangular entre as duas poltronas. Craig me deu um sorriso significativo, ocupado com suas próprias roupas. Depois que me vesti e nos despedimos com um selinho, peguei minha bolsa na cadeira da plateia e saí pro corredor, onde um dos seguranças da equipe do saguão me sorriu; acenou com a cabeça e deixou seu posto freela antes que eu tivesse tempo de contabilizá-lo no plano de Craig, com a gravata vermelha e a caneca de estimação estrategicamente deslocada.
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