Amor de Carnaval não Vinga (05)

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 4128 palavras
Data: 07/06/2015 23:02:29

"Eu fico assim querendo o seu prazer, Eu não consigo um minuto sem te ver, Sua presença alegra meu coração, E é pra você que eu canto essa canção..." (Vem meu Amor, OlodPensei que não ia se lembrar de mim.

- Velho... Você tá diferente pra caramba!

Segui para lhe dar um abraço, e os tapas nas minhas costas denotavam uma intensidade física gritante desde a última vez que o tinha visto:

- Fazendo academia? – perguntei curioso.

- Que nada, mas segui seus conselhos e resolvi entrar na natação também. Pela sua cara, acho que está fazendo efeito! – ele riu.

“E como!”, pensei:

- Sei lá, acho que você tá mais... Atlético – prossegui tentando encontrar a palavra adequada – Essa barba também parece que te deixou mais adulto. Naquele natal lá na sua casa te achei bem magrinho. Tá tirando onda, hein? – brinquei.

Gustavo pareceu sem jeito, apesar do elogio não ter indícios de qualquer outra intenção.

- Eu continuo nadando, em uma escola perto de casa – descontraí - Vamos lá amanhã de noite, a gente aposta umas corridas.

- Opa, vamos sim. Não sei se trouxe roupa de banho, mas vou dar uma olhada.

- Manda seu cunhado deixar de ser pão duro e te dar uma de presente! Pode dizer que fui eu que falei.

A risada foi interrompida com a entrada de sua irmã na minha sala:

- Aleluia, estava te procurando! – alardeou ao ver o familiar – Poxa, nem me esperou pra entregar o presente! – recriminando-o em seguida.

- Não entreguei, eu juro! Deixei em cima da cadeira e saí para te procurar, mas aí percebi que ele já tinha visto – apontou para o quadro em minha mão.

- Gostou Guto? Foi ideia do Guga, ele me lembrou do seu vício.

- Nossa... Demais! Nem sei o que dizer, valeu mesmo gente! – respondi, admirando a obra outra vez.

- Ah, deixe disso! A gente sempre faz questão de te dar algo legal, você é da família – Gustavo insistiu.

Agradeci novamente e prometi colocar em um lugar de destaque no apartamento.

- Irmão querido – minha sócia mudou de assunto – Marquinhos já está lá embaixo esperando pra te levar na universidade! – alertou.

- Beleza, melhor adiantar então. Guto, a gente se vê! - ele me cumprimentou apressado, em tom de despedida.

- Claro, aparece lá hoje de noite! Sua irmã torrou a minha paciência pra eu fazer um jantar, mas não aguento mais escutar o casal vinte falando sobre ter filhos...

Juliana me deu um empurrão, arrancando risos de nós dois, enquanto observava Gustavo se afastar.

- Vou te destituir do posto de padrinho! – ela sentou-se na poltrona em frente à minha mesa – Anda logo, temos uma pilha de coisas pra repassar...

Guardei o presente e resolvi focar no trabalho, ainda surpreso com a evolução do visitante.

...

Estávamos animados colocando o papo em dia, quando escutei a campainha tocar. Não estava esperando mais ninguém e levei um grande susto ao abrir a porta:

- Primo! – Marcela gritou ainda no hall de entrada, atraindo os olhares dos meus convidados – Feliz Aniversário! – e pulou no meu ombro para me dar um abraço apertado.

- Mas que pegadinha é essa?

- Não resisti, precisava te ver pra gente comemorar!

- Porque não me avisou? Eu te buscava no aeroporto...

- Aí não seria uma surpresa, né?

Sorri contente, trazendo-a para dentro. Marcela me entregou um embrulho e uma sacola com um laço:

- Esse é meu, o melhor obviamente. E esse aqui é de sua amada tia. Meu pai assinou, admito, mas nem faz ideia do que seja o presente – gargalhou – Você sabe que ele não liga pra essas coisas.

- Que bobagem, não precisava – agradeci timidamente, comprovando que não sabia lidar com essas situações.

Marcela seguiu para a sala, cumprimentando Marcos, Juliana e Gustavo, com quem não escondeu um olhar de interesse.

- Você já conhece todo mundo. Senta aí que vou pegar uma bebida.

Com o incentivo de minha comadre, contratei um Personal Chef naquela tarde, na intenção de reunir os mais próximos para um jantar diferente. Na cozinha, avisei sobre a inclusão de mais uma pessoa, alterando rapidamente a nossa negociação. Ele se mostrou tranquilo com a mudança, avisando que já estava terminando as entradas. Poderia, então, ficar despreocupado e dar atenção a todos.

Peguei mais uma taça e servi um pouco de vinho para minha prima. Pedi licença e me retirei temporariamente para guardar os presentes no quarto. Aproveitei a caminhada de volta e me certifiquei que o escritório estava trancado, evitando alguém bisbilhotando um planejamento em andamento. Em seguida, me uni aos demais na mesa, onde a conversa fluía normalmente.

- Arquitetura é legal. Em que semestre você está? – Marcela prosseguia.

- Entrando no terceiro, ainda no começo – responde Gustavo, alvo de todas as atenções naquele momento.

- Vamos ficar vigiando agora, pra ver se ele não atrasa mais ainda o curso – Marcos se intrometeu, bem-humorado.

- Não se preocupe, antes que você perceba, eu já terei deixado os pombinhos em paz – ele devolveu a brincadeira.

- Acredite – bebi outro gole de vinho – Esses dois são se importam com a presença de ninguém. Já passei por muitos momentos constrangedores, nem queira saber.

Todos gargalhavam, enquanto o mestre-cuca começava a servir os pratos.

- Mas acho que aqui você terá mais oportunidades, Guga – completei o raciocínio – Logo, logo, já consegue um estágio, começa a atuar na área, se envolver mais. Tudo fica mais interessante.

Gustavo agradeceu com o olhar, e o cheiro da comida desviou o assunto da cobrança em cima do seu futuro. Perguntei à Marcela se ela ficaria hospedada comigo, mas ela informou que estava na casa de uma amiga, e só voltaria para Salvador no domingo:

- Achei que você pudesse estar “ocupado” – frisou as aspas com as mãos – Não queria incomodar – concluiu.

- Assim você me ofende, prima – ri.

- Esquece Marcela, esse aí é um caso perdido – Juliana entrou no clima da zombaria.

- Ainda tá solteiro, Guto? – o mais jovem do grupo pegou o embalo.

- E muito bem, obrigado – sorri entretido – E você... – apontei para a minha parente – Deixe de besteira. Chame sua amiga e peça pra trazer suas coisas. Com sorte, ela chega para a sobremesa – disse incisivo.

- Relaxa primo.

- Olha, se eu fosse você, não contrariava. Se duvidar, ele aparece lá sem hora marcada! – Marcos advertia, arrancando novas risadas.

A noite seguia descontraída. O jantar estava excepcional e não tardei em avisar ao chef que repetiria a dose em breve (sem conseguir esconder certa malícia na frase, notando outros “talentos” do profissional). Estávamos nos divertindo, contando casos antigos, ora relembrando histórias dos tempos de faculdade, ora escutando resenhas sobre as minhas investidas no carnaval. Por sorte, Marcela não alardeou sobre o incidente da última folia, entendendo se tratar de algo íntimo demais para jogar na mesa.

Na hora da sobremesa - um suculento petit gateau que parecia nos levar a outra dimensão - fui contemplado com uma pequena vela em um cupcake, mais uma surpresa pela ocasião. Encorajado pela cantoria, fiz um pedido ao assoprar, apesar de não acreditar tanto em superstições. O bate papo já estava começando a adentrar a madrugada e, por ser um dia normal no meio da semana, todos resolveram se despedir. Marcela aproveitaria a carona dos demais e prometeu estar de volta no dia seguinte.

Paguei o serviço do jantar e agradeci a disponibilidade. Já sozinho, arrumei superficialmente a sala e segui para a cama. Deitado, vislumbrei o quadro em cima de uma pequena escrivaninha, contemplando a capa mal iluminada pelo abajur, cuja luz não alcançava todo o ambiente. A arte destacava Batman ao lado de Robin, sobrevoando os prédios de Gotham. O pobre menino órfão que se torna um milionário, cujo zelo a outros inocentes o converte num justiceiro implacável. Um vigilante mascarado disposto a tudo para vencer o crime. Sorri feliz, observando a chave do escritório em cima do criado-mudo, e adormeci.

...

A manhã estava agitada e não resisti solicitar a um estagiário que comprasse algum lanche na rua, avaliando o tempo corrido. Na hora do almoço, me juntei aos funcionários na cantina, causando certa surpresa. Ainda assim, as conversas pareciam não se inibir com a minha presença.

- Lembra aquela história da gata que tava conversando há meses pelo Skype? – escutei um diálogo aleatório entre dois programadores.

- Sim, sim. E aí? Já conheceu ao vivo? – o outro retrucou, mastigando um sanduíche.

- Descobri que a cretina era uma coroa, com mais de cinquenta anos. Me chamou ontem pra contar a verdade, morrendo de vergonha.

- Caralho, que azar hein? – gargalhou – Manda esse caso pro Catfish!

- Pra onde?

- O programa... Nunca ouviu falar? – ele se mostrou surpreso.

- Não tem um filme com esse nome? – uma garota em frente aos dois se intrometeu.

- Na verdade acho que o programa se originou do filme – completou.

Sucumbi à curiosidade e entrei na roda, intrigado:

- Sim, mas que diabos é Catfish?

Os três não esconderam o espanto com o meu interesse no assunto, mas retomaram:

- É meio que um reality show, que investiga esses relacionamentos virtuais. Tipo, gente que se fala através das redes sociais durante meses, mas evita se encontrar. Aí eles comprovam que na maioria das vezes, são pessoas que se passam por outras.

- Interessante – pensei – Mas tem cara que deve ser tudo armado, não?

- O filme é bem legal. O apresentador do programa namorava uma garota há anos. Se falavam pelo telefone frequentemente, trocavam informações, mas ela sempre desviava de uma aproximação real. Com muita insistência, combinaram de se ver e ele descobriu que o endereço era falso, as fotos que ela mandava eram de outra pessoa que mantinha um perfil aberto... A mulher era uma viúva, com três filhos adultos, que se sentia muito solitária. É uma história surreal!

- Estilo documentário – a funcionária completou.

- Que bizarro... – pensei alto.

- O filme fez tanto sucesso que eles transformaram em série, e agora o cara ajuda diversas pessoas que temem que os seus correspondentes sejam fakes. Os “catfishers”, no caso.

- Eu não vou mandar minha história pra esse programa, palhaço! – o cara que começou a conversa encerrou a troça.

- Relacionamentos virtuais podem ser uma furada – o adverti já me levantando – Pense que se você está falando com uma pessoa que não pode ver ou ser vista, ela estará propensa a fantasiar a vida como quiser. Vai por mim, melhor conhecer gente de verdade.

Os dois colegas riram da vítima da armação, enquanto eu rumava de volta para a minha sala, já digitando “pesquisar catfish” no bloco de anotações do celular.

...

Escutei uma batida na porta, acompanhada de uma voz familiar:

- E aí? Tá de pé hoje?

Aquele sorriso, agora inconfundível, se aproximou me pegando de surpresa.

- Opa! Claro que sim! Achou a roupa de banho?

- Não, mas comprei uma sunga nova hoje de manhã – ele se mostrou simpático, mostrando que estava equipado – Não é sempre que posso vencer alguém experiente. Uma oportunidade dessas não cai do céu todos os dias.

- Vai achando, sabidão – ri comprando o desafio – Só preciso terminar de verificar o código de um programa e saímos, beleza?

- Tudo bem, te espero lá na sala de Ju.

- Combinado!

A tarde caía tranquilamente e após alguns testes, constatei que o meu trabalho estava concluído. Mandei um e-mail autorizando a entrega ao cliente e desliguei o meu equipamento. Verifiquei se tudo o que precisava estava na minha mochila e segui ao encontro do meu oponente.

- Pronto para chorar, perdedor? – interrompi a conversa com a sua irmã.

- Vamos nessa! - ele se levantou animado.

- Guto, deixa ele lá em casa quando terminar? – Juliana rogou – Marcos ainda tá no trabalho e mais tarde vamos deixa-lo na rodoviária.

- Sim senhora, pode deixar – bati continência em tom informal, arrancando uma careta do seu rosto.

Puxei Gustavo pelo pescoço ainda zombando-o com a ideia do desafio, e segui para o elevador, despedindo-me de todos.

...

Havia uma escola de natação próxima ao meu apartamento, onde me desligava do mundo pelo menos três vezes por semana e procurava relaxar. Já tinha participado de inúmeros campeonatos quando era adolescente, mas mantinha o apreço pelo esporte para manter a forma e a sanidade, no meio daquela selva de informações diárias. Era algo que procurava não abrir mão.

- Vai embora hoje mesmo? – indaguei, já estacionando o carro.

- Pois é... Tenho que amansar a fera e preparar o terreno.

- E resolveu toda a documentação da universidade?

- Consegui sim. Semana que vem já estou na área.

- Bacana. Tá feliz então, né?

- Demais! Não via a hora de isso acontecer.

Gustavo vivia em Jaboticabal com a mãe, mas passava diariamente pelo transtorno de se locomover até Ribeirão Preto para estudar, algo que chegava a desestimula-lo em alguns aspectos. A transferência externa parecia lhe dar um novo gás para se empenhar no curso com mais afinco. Sua empolgação com esse novo passo era aparente, ainda que fosse morar por um tempo com a irmã.

Tranquei o veículo e seguimos para o centro de treinamento. A escola possuía um imenso galpão com três piscinas (uma delas de tamanho semiolímpica) e oferecia diversas atividades, como hidrobike e hidroginástica, para todo tipo de público. Expliquei ao treinador que o meu convidado estava procurando um lugar para praticar natação e gostaria de fazer uma aula inaugural - uma desculpa inventada na hora. Alberto, o técnico, recepcionou o principiante e foi mostrar a estrutura do local, enquanto me dirigia ao vestiário para trocar de roupa.

Quando voltava, já ajeitando a touca e os óculos, percebi Gustavo amarrando a sunga e alongando os braços. Definitivamente, o irmão da minha sócia tinha crescido e amadurecido, esbanjando beleza. Precisava me concentrar, mas era impossível não avaliar o seu físico. Os ombros estavam ficando mais largos e o peito mais estufado, típico de quem nada frequentemente. Seu corpo não tinha muitos pelos, com exceção da barba, pernas e o famoso “caminho da felicidade” aparente. O tórax não exibia gomos ressaltados, mas denotava plena atividade e rigidez, destacando o seu vigor.

- É obrigatório usar prancha, essas coisas? – ele me acordou do transe - Eu não trouxe nada, será que tem algum problema?

- Acho que não – completei sem jeito – Onde você guardou sua roupa?

- Deixei ali em cima da cadeira.

- Toma... – entreguei a chave numerada do meu armário – Guarda junto com a minha lá no vestiário. É mais seguro – apontei para a entrada em uma das laterais, localizando-o.

Poucos minutos se passaram e ele retornou. Evitando mantê-lo no meu campo visual, adiantei:

- E aí, um crawl ida e volta pra aquecer?

- A aposta vai valer o que? – ele desafiou.

- Se eu fosse você não competiria comigo... – adverti.

- Uma rodada de bebida na próxima vez que a gente sair – desdenhou do aviso.

- Fechado – apertei sua mão.

Alonguei ligeiramente as pernas e subimos na plataforma de largada. Esperei ele se posicionar e me ajeitei:

- No três, certo? – anunciei - Um, dois...

E o sacana queimou o salto, pulando antes. Ri da artimanha, e mergulhei logo depois tentando alcança-lo. Gustavo poderia ser mais jovem, mas não tinha a mesma experiência, o que me fez chegar alguns segundos antes, a tempo de ficar esperando-o com uma pose triunfante. Assim que completou o percurso, ele emergiu gargalhando, ainda ofegante.

- Sua mãe não lhe ensinou que é feio trapacear? – inqueri.

- Você é muito lento para contar! – ele tentava recobrar a respiração.

- Só pela ousadia, quero o meu pagamento em uísque.

- Tenha pena de um jovem desempregado...

Seu olhar me desconcertou novamente, fazendo-me jogar água no seu rosto, repreendendo a estratégia provocativa. Resolvi encerrar a brincadeira e continuar o treino. A cada braçada tentava me concentrar, mas a sua simples presença impedia o meu foco. “Você é da família...”, tentava fixar a sua fala na minha mente. Entre um exercício e outro, observar o seu corpo debaixo d’água era uma verdadeira tentação. Tirei os óculos e passei o resto da atividade nadando de olhos fechados. Foi a única solução que encontrei.

Ao final da aula, o treinador elogiou o desempenho do novato, convidando-o a participar da turma. “Pelo amor de deus, não faça isso comigo”, supliquei a Alberto com o olhar.

- Augusto, traga o seu amigo mais vezes!

- Claro, se ele quiser... – disfarcei.

- Seria ótimo! – Gustavo completou – Assim que me mudar vou efetivar a matrícula!

Uma rápida conversa técnica se seguiu e não tardamos em nos despedir do professor, seguindo para o vestiário. Estava desnorteado com as possibilidades daquela situação e já tinha decidido não tomar banho. Destranquei o armário e entreguei a sua mochila, me apressando em vestir a calça na sequência.

- Não vai tomar banho? – ele indagou.

- Acabei de perceber que esqueci a toalha em casa – fingi, terminando de fechar o zíper.

- Ih, que merda. Vou te atrasar se eu jogar uma água no corpo rapidinho?

- Não, pode ficar sossegado. Vai lá – assegurei.

Sentei para calçar o tênis, enquanto ele separava a roupa em cima do balcão. Vesti a camisa já pensando no contratempo que seria ter o assento do carro molhado. Assim que o meu pescoço passou pela gola, vislumbrei-o de costas tirando a sunga, exibindo uma bunda lisa e firme que se movimentava de maneira fascinante em direção ao chuveiro. Não conseguia entender se era algum tipo de provocação ou um mero pensamento impróprio da minha cabeça, mas fechei a mochila e me retirei depressa:

- Te espero aqui fora – disse já me afastando.

- Beleza! – ele gritou abrindo a torneira.

Não tinha conhecimento da sua orientação sexual. Nunca conversei nada do tipo com ele ou sequer percebi algo. De toda maneira, precisava enterrar qualquer tipo de atração, já que ele era o irmão da minha sócia. Preferia imaginar que era algo momentâneo, um simples desejo de quem costuma pensar com a cabeça de baixo.

...

O tráfego até o edifício de Juliana estava tranquilo. Deixei-o dentro do prazo estipulado e me despedi, prometendo alguma saída quando ele efetivasse a mudança. Gustavo retribuiu a atenção com um rápido abraço, e desejei-lhe uma boa viagem, prosseguindo assim que ele avançou a portaria.

Quando cheguei ao apartamento, segui para um merecido banho, louco para tirar o excesso de cloro do corpo e “aliviar” os pensamentos eróticos que me ocorreram durante o treino. Já recomposto, fiz um prático lanche e me desloquei para o escritório. Meu celular apitou com uma mensagem de Marcela, avisando que estava em uma balada com a amiga, e preferia me encontrar no dia seguinte. Não escondi o alívio, já que precisava focar no andamento do meu plano. Desde que retornara, me sentia um pouco negligente com o meu compromisso. Pouca coisa tinha progredido, mas estava certo que naquela noite daria um passo além.

Respondi rapidamente à minha prima, combinando um passeio e, antes de desligar o aparelho, visualizei o bloco de notas com o lembrete do almoço. Liguei o computador e assisti um episódio online do programa discutido, no site da emissora. Era chocante o que as pessoas faziam para manter a ilusão de um relacionamento com data de validade anunciada, sem futuro algum. Muitas delas investiam tempo e energia para manter a farsa, mostrando que eram capazes de tudo para demonstrar uma verdade inexistente.

Olhei novamente para o quadro de vidro, pensativo. Eles não poderiam saber do meu envolvimento, não queria por tudo a perder pelo simples vacilo de ter a minha identidade descoberta. Voltei ao monitor, batendo o dedo na mesa. A resposta estava ali.

Abri uma página de pesquisa e comecei a procurar fotos amadoras de homens. Não poderiam ser modelos profissionais, precisava de gente comum, que transparecesse credibilidade. Sabia que não seria uma tarefa tão simples. Ainda que encontrasse alguma figura interessante, precisava de uma gama de opções que ilustrasse perfeitamente a minha falsa realidade.

No outro monitor, abri um site de redes sociais e comecei a cadastrar um novo usuário. Na terceira tela, iniciei o processo para torna-lo verossímil, com um e-mail, uma breve biografia, contas no Instagram e por aí vai. Tinha noção do risco (uma simples denúncia e eu seria excluído), mas precisava seguir em frente. Para não me preocupar com a hipótese da pessoa verdadeira ficar ciente da farsa, buscava imagens estrangeiras, dificultando uma possível descoberta.

Foram necessárias algumas horas para trilhar um caminho plausível. Encontrei um indivíduo com o porte similar ao meu, prevendo a possibilidade de um encontro, e me apropriei temporariamente da sua personalidade. O meu alter ego virtual já tinha um nome – Alessandro Silva (uma lembrança rápida da médica que me atendeu em Salvador, com um sobrenome comum) – um estilo de vida, e estava pronto para novas amizades. Para torna-lo ainda mais real, adicionei algumas peculiaridades, com bandas favoritas, programas e filmes prediletos. Além disso, procurei fazer diversas postagens, enchendo a timeline com informações avulsas e fotos que tinha coletado. Deixei a minha imaginação fluir.

Mas ainda não estava satisfeito. Queria fazer aquilo valer a pena e não poderia deixar nenhuma ponta solta. Criei mais dois perfis falsos, do sexo feminino, e comecei uma amizade com ambos. Se eles fossem enrustidos o suficiente para não morderem a isca, usaria a versão oposta para perseverar na tarefa. Passei boa parte da noite pesquisando outros usuários adeptos da filosofia “segue, sigo de volta” e enchi a minha página de novos amigos. Era, finalmente, uma pessoa palpável, que poderia existir de fato. Reservei outro espaço no quadro para anotar todos os meus novos dados, com os registros de acesso e senhas, evitando que esquecesse algo.

Anotei no meu bloco de notas um aviso para comprar outro celular e habilitar um novo número. Se a minha ideia fosse adiante, cedo ou tarde eu entraria em contato com algum deles. Terminada a primeira etapa, peguei a lista fotografada que ainda tinha em mãos e passei a digitar nome por nome. Nem sempre é fácil encontrar alguém no Facebook, sabendo que as pessoas podem se cadastrar com apelidos ou abreviando sobrenomes. Essa fase me tomou mais algumas horas, testando diversas combinações.

Minha empreitada já avançava pela madrugada e cogitava continuar a investigação no dia seguinte, quando meus olhos saltaram em alerta. “César!”. Sim, era ele, a imagem não negava, estava perceptível. Cliquei para ampliar e, em êxtase, confirmei com nitidez a sua identidade. Solicitei um pedido de amizade e fiquei encarando a tela. Era o fôlego extra que precisava.

Persisti na busca desenfreada e logo me deparei com o perfil de Cláudio, que não mantinha a as configurações de privacidade ativadas. “Bingo!”, comemorei em silêncio. Acessei a aba de seguidores e comecei a olhar um por um. Apenas vinte nomes se passaram quando alcancei o de Alexandre. Estava bom demais para ser verdade. Parei por um instante e decidi anotar o endereço do primeiro no painel e adicionar o segundo, também aguardando uma resposta à solicitação. Concluí que ficaria muito óbvio se uma mesma pessoa fosse adicionar cinco amigos em comum, achando melhor aguardar os desdobramentos daquela ideia.

Segui mais um tempo caçando as versões virtuais de Adriano e Júlio, sem sucesso. Exausto, mas feliz com o meu avanço, imprimi os retratos iniciais dos três, escrevi em cada uma deles e prendi na parede com uma fita adesiva. Deitei no futton e fiquei avaliando os seus rostos, tentando imaginar se estariam tão longe dali. A Liga do Mal estava mostrando a sua cara e não escondi um sorriso vitorioso, enquanto pegava no sonosom conhecido parecia se aproximar cada vez mais. Era algo familiar, que escutava frequentemente. Abri os olhos lentamente e percebi que o celular estava tocando. Olhei o relógio, que marcava quatro da manhã, e ainda tentando me situar, peguei o aparelho. Era uma chamada do Marcos.

- Alô? – não escondi a voz embargada, apesar da preocupação com aquela ligação.

- Augusto – seu tom era pesaroso – Desculpa te ligar agora. É a mãe da Ju, cara. Ela morreu...

(continua)

...

Oi pessoal! Peço desculpas por demorar em postar hoje, mas percebi alguns erros grosseiros e palavras repetidas em exagero no capítulo anterior (já corrigido e devidamente editado) e não queria cometer o mesmo pecado com esse aqui. Ainda assim, se alguém notar algo errado pode falar, certo? Trager, fico feliz que se envolva tanto! O que posso afirmar é que nada está sento relatado por acaso. Todos os personagens citados terão alguma participação dentro de um propósito maior (pronto, já falei demais!), rs. Ale.blm, muito obrigado pelos elogios! Drica (VCMEDS), depois que li tive a sensação de estar sendo intrometido. Desculpa, era só uma curiosidade mesmo! Plutão, Edmond Dantes reina sempre, era um crime não fazer uma referência a ele nessa história. O ruivo manda um abração também! Jeff08, o que virá a seguir pode causar algum estranhamento, por isso me sinto na obrigação de compartilhar melhor o ambiente e a personalidade de Augusto (lá na frente, você vai entender melhor)! Irish, que bom que percebeu! Não resisti em criar a história dentro de um mesmo universo, mesmo que fosse só uma citação (aliás, é algo que pretendo fazer com todas as histórias, interligando-as). Pequerrucha, que bom que esteja gostando tanto! Está sendo um grande esforço manter um planejamento coeso para que tudo se amarre direitinho, mas o incentivo, votos e comentários de vocês me empolgam cada vez mais. Valeu!


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Comentários

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Você não é intrometido não, é só curioso como eu, também fico vendo dos outros e tentando imaginar:). Se preocupe não tá? Te gosto muito e do ruivo também.

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Cara se tem erro no texto eu nem percebi, voce escreve bem demais!! Mas essa vingança promete ser profissional hein, até perfil estilo Catfish fez... kkkk tambem to no shipp pra Augustavo!!

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Simples e sedutor. Fácil de ler e encantado mais e mais. E esse circulo ainda vai apertar. Abração

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Tambem ja torço por Augusto e Gustavo, acho qur rolou um climinha entre eles. Ta otimo, menino. Coeso, interessante, um certo tipo de suspense bem construido. Muito bom!

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Sua trama está cada vez mais interessante!

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