Baba de caracol

Um conto erótico de APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Categoria: Heterossexual
Contém 1537 palavras
Data: 23/03/2015 22:23:01
Última revisão: 03/02/2016 19:38:54

Baba de caracol

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Especialmente para a Casa dos Contos"

ANTES MESMO DE JUNTAR AS CUECAS COM AS CALCINHAS, Janjão vivia pedindo a namorada para fazer sexo anal com ele. Dorotéia, entretanto, não admitia esse tipo de comportamento do futuro esposo. Sempre que o rapaz tocava no assunto, saia elegantemente pela tangente fingindo uma ignorância dos tempos medievais.

- Sou moça de respeito, venho de um clã sistematicamente familiar. Você namora comigo ha mais de dois anos e ainda não se deu conta disso? Sexo anal é para essas vagabundas de rua. Tranzo com você e faço tudo o que quiser, numa boa, sem problemas, mas anal, jamais.

Dorotéia parecia uma fada encantada. Dona de lindos cabelos loiros que lhe caiam em cascata até um pouco abaixo dos ombros, era uma jovem doce e ao mesmo tempo severa. De falar cetinoso e elegante, sem mencionar a hora em que iam para a cama. Entre quatro paredes a musa deixava Janjão quase às raias da alucinação. Quanto a isso, o rapaz não tinha o que reclamar, exceto na hora em que tentava usufruir as vias proibidas usando a parte dos fundos. De certa feita, numa dessas investidas, chegaram a sair nos tapas – ela com o rosto vermelho – ele arranhado nas costas e braços.

CASARAM.

Com a troca de alianças, Janjão se sentiu mais dono de si e também da situação. Daria um tempo sem tocar em tão delicado tema. Deixaria passar a lua de mel, e, então, devagar, voltaria à carga. Dorotéia possuía um traseiro de dar inveja. Não que o resto fosse desconexo – ao contrário, a moça se assemelhava a Alessandra Negrini. Aliás, parecia ter sido esculpida com pedacinhos de estrelas, salpicada ao gosto de um criador bastante entendido no belo oposto. Havia, nela, um rostinho meigo de Patrícia Werneck, metido num corpo escultural de Renata Ricci com as pernas de Claudia Raia. Quando saia para compromissos sociais, a galera babava ao olhar para a jovem. Todos os chegados de Janjão o achavam um cara de sorte, de muita sorte.

Janjão lado outro, possuía um leque bastante significativo de amizades. Porém, apenas uns dois ou três desse imenso rol se destacavam dos demais. O Vespúcio, certamente, um deles. Freqüentava a casa de Janjão desde os tempos em que ele namorava a Valeska, uma colega de escola que a turma, em peso, alimentava uma gana feroz de cair em cima, como um bando de chacais sobre despojos em decomposição. Janjão, sortudo, como sempre, restou escolhido entre demais, apesar dos estultos adversários que lhe vigiavam com os olhos cheios de inveja. A raffinée só perdeu espaço no exato instante em que a Dorotéia pintou na fita. A partir dessa aparição, o romance esfriou completamente, até que caiu definitivamente no esquecimento. Cada um seguiu seu destino por estradas opostas.

UM MES DEPOIS.

Janjão resolveu celebrar essa passagem com um jantar a dois. Pediu ao chefe para sair mais cedo, um pouco antes da meia noite, seu horário normal. Queria fazer surpresa à esposa. Conseguiu. Chegou faceiro (nem bem havia começado a novela das nove), com um presente embrulhado nas mãos. Deixou o carro estacionado fora da garagem para dar mais ênfase a comemoração. Ao abrir a porta da sala, se deparou com a residência às escuras. Caminhou devagar. Do corredor que levava aos demais aposentos, percebeu que, da porta entreaberta, escapava uma luz que vinha do abajur sobre a mesa de cabeceira. Esse pequeno foco emprestava, não só ao quarto, mas ao resto dos ambientes, um toque inebriante, quase mágico. Janjão imaginou Dorotéia deitada, sonhando faceira, com a sua volta. Quem sabe, essa noite, depois do restaurante (havia reservado uma mesa num lugarzinho bastante aconchegante e romântico), ela abrisse a guarda e liberasse o que ele tanto almejava, desde os tempos dos amassos nos bancos do carro, no escurinho da garagem da casa de seus pais. Ao chegar ao umbral da porta, entretanto, a cena que viu o deixou perplexo. Embasbacado. De queixo caído.

Dorotéia, a sua Dorotéia fazia sexo, pior, sexo anal com ele... Logo com ele, o Vespúcio, seu melhor e único amigo. Veio, a cabeça, de chofre, a vontade de pegar o revólver dentro do porta-luvas do carro e despachar os amantes traidores para os quintos do inferno. Não! Não se sujaria, nem mancharia seu nome. Aquela vaca despudorada não merecia. Após esse vendaval desencadeado pela traição da esposa, literalmente mordido pelo ódio que ensandecia e alucinava, resolveu assumir os chifres. Optou por dar meia volta e ir embora para algum lugar bem longe. Saiu como entrou. Devagar, sem ser notado. Na cabeça, agora, além dos cornos, levava a imagem de Dorotéia rebolando freneticamente o rabo – e Vespúcio cravando em sua bunda (a que ele tanto queria), um roliço enorme - fazendo com que a desqualificada e falsa moralista, ao sabor do sopapo da rola, emitisse pequenos gemidos de dor e prazer, levada, evidentemente pelo frenesi incontrolável do solavanco da trolha que lhe arregaçava os baixos fudetórios.

- Maldita!

No primeiro boteco que encontrou pela frente, parou o carro e entrou. Sentou num canto do estabelecimento e encheu a cara. Sofria o látego da amargura, em forma de frustração impiedosa. Afinal de contas, amava aquela mulher com o ardor de adolescente, amava-a até a própria consumação de seus dias. Naquele bar, sozinho e sem forças para decidir o que fazer da vida, fugia à sua realidade interior. Tentava com forças superlativas, preencher o íntimo vazio, com o supérfluo de fora. Na verdade, queria justificar, de alguma forma, suas emergências infelizes. Altas horas, um solitário igual a ele pediu licença e se acomodou ao seu lado. Passaram a beber juntos, cada um tentando enterrar, a sua maneira, o fracasso e o derrotismo que lhes combaliam a alma. A certa altura, Janjão se abriu com o estranho. Contou toda a sua história. O novo amigo escutou em silêncio, pacientemente, sem interromper. Por fim, ao ver que Janjão se debulhava profusamente em lágrimas, respondeu:

- É companheiro... A vida é assim! Vou expor, se me permite a saga que aconteceu comigo. Procurarei ser breve.

- À vontade...

- Dias atrás precisei me deslocar até Belo Horizonte. Com essa história dos atrasos nos aeroportos, apagões aéreos, etc, etc, decidi encarar a estrada, de ônibus. De repente, me deu uma vontade de... Como direi?... De cagar! Desculpe o termo, mas não sei me expressar de outro modo. Sentada ao meu lado, uma linda mulher de parar o comércio. Meu Deus! Com muito jeitinho, pedi licença e corri ao banheiro. Fiz uma força dos diabos, e nada. No lugar da bosta, só peidos... Fiquei irritado, chateado. Alguém bateu na porta e eu tive que ceder a vez. Voltei para minha poltrona. Acomodado, tentei conciliar o sono. Dormir um pouco. Olhei para a moça, de soslaio. Parecia a suavité personifiqué de um anjo caído do céu. Suspeitei, comigo mais meus botões: ela está me vigiando. Tinha quase certeza disso. Não me enganava, aquele rosto redondinho, os cabelos louros, à altura dos ombros, a blusa e a calça jeans apuradas, os sapatos impecáveis. Sabe, meu amigo, ela possuía os olhos garços, de rara tonalidade, como duas transparências de infinito. Por isso percebi que me vigiava.

- Vigiava? E para quê?

- Sei lá. Talvez soubesse do meu problema com a barriga desandada e quisesse se deleitar vendo meu sofrimento, para me livrar do incômodo. Meia hora depois, me veio uma vontade louca de peidar, uma vontade dos diabos. (Risos). Arrisquei uma nova espiadela para a guria. Ela havia virado o rosto para o lado do corredor. Menos mal. Tudo indicava que dormia profundamente. Ledo engano. Sem saída, sem saber o que fazer, envergonhado, não queria, sobretudo, não era intenção perturbar o sono da coitadinha. Então tomei a decisão. Fechei os olhos e fiz força para efetivamente peidar. Imagine cara! Nessa hora, aconteceu o pior, o que eu mais temiaA dondoquinha acordou?

- Não. No lugar de peidar, eu caguei. Me borrei todo de bosta...

Janjão se irritou num quase arremedo de fúria. Bateu na mesa, enraivecido. Meia dúzia de garrafas foi ao chão e se espatifou:

- Prezado, que falta de consideração. Bebia aqui no meu canto, em paz, curtindo as mágoas, o amigo chegou, perguntou se podia sentar, eu permiti. Depois contei o meu drama, expus o meu sofrimento... Esperava um conselho, uma palavra amiga... Um ombro onde me apoiar e você... Você me vem com esse papo furado de peidar e cagar?

O desconhecido se levantou com muita dificuldade. Para não emborcar de vez, susteve o peso do próprio corpo se apoiando a uma parede com uma das mãos.

- Só queria lhe mostrar, meu amigo, como é a vida, descrevendo uma experiência vivida, sentida na própria carne. Afinal, aconteceu comigo. Pode ocorrer com você ou qualquer outro cidadão...

- E o que esse seu lero-lero idiota tem a ver comigo? Com a minha história e com os fatos que trouxe à baila?

- Hoje em dia, não podemos confiar nem no nosso cu, meu brother. Ouviu o que eu disse? Nem no nosso cu. Imagine, pois, dar uma nesga de credibilidade, que seja para o fiofó dos outros. Nunca se esqueça meu amado: “Le vrai peut quelquefois n’ être pás vraisemblable”.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 62 anos é jornalista.


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Comentários

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Agradeço penhoradamente ao zero e ao zero e meio que ganhei dos escritores Treinadorsex e Morena_Plus Site. Acreditem meus caros, fazia tempo que não recebia uma nota. Em face disso, estou me sentindo realizado. C'est la vie. Só fiquei triste porque o amigo Treinador sex mandou 'eu me catar'. Não consegui me achar, em lugar nenhum; dai não ter conseguido 'me catar', digo, me calar.

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Cara, esta piadinha de boteco é mais velha que a posição de cagar. ora vai te catar meu.ZERO

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