Corpo e Alma V

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Data: 31/01/2015 18:03:20
Nota 10.00

De roupa social, camisa azul-clara apertada no peitoral largo, gravata grenà, calça preta e sem terno, Oliver desceu para o cafe-da-manha. Madrugara treinando na academia que o Quin havia montado para ele ali na mansao assim que o trouxe de San Francisco; uma clara rejeiçao de meu amigo à possibilidade do seu bofe dar o ar da graça nas modernissimas academias espalhadas pela cidade.

- Hoje o marido caiu da cama _ disse Quin beijando-o de leve sobre os labios; tomou assento à mesa jà posta _ Dormiu mal, coraçao?

- Um pouquinho de... de... heartburn...

- Azia. Repita comigo: AZIA.

- Azia _ disse Oliver, atento _ Azia.

- Isso! Olha, bastava uma colher de leite de magnesia, seu bobo.

Estela tinha feito o tradicional cafe da manha de Oliver, que era constituido por bacon e ovos mexidos, um habito que Quin nao conseguira mudar nele. Porem, como acordou indisposto, quis apenas o cereal com leite. Começou a comer devagar, lendo o The Washington Post que vinha da alfandega para ele, junto das revistas gays OUT e The Advocate. Apesar de Quin sempre repetir que se casara com uma especie de modelo de revista pornografica com cerebro de criança, eu nao achava o Oliver assim tao estupido. Os livros que ele trouxera dos Estados Unidos iam de Kafka a Tolstoi, passando por Nietzsche, Kant e Rimbaud, muitos com trechos sublinhados. Tambem lia revistas brasileiras sobre Ecologia, Politica e Saude. Nao, ele estava longe de ser tolo ou vulgar, mesmo gostando de se divertir cortando bonequinhos e estrelinhas em cascas de melancia, dando sustos no Quin pelos corredores, e fazendo chapeuzinhos com jornal velho, que vez ou outra decoravam mesas, televisores e encostos de poltrona. Ele vive numa eterna festa, numa eterna infancia, sem amanha, costumava dizer meu amigo.

- Marquei seu check-up para Sexta-feira _ disse ele a Oliver, mexendo a colherinha na xicara de chà _ Voce se interna na Quinta, e na tarde de Sexta esta tudo feito, ok?

- Detesto fazer isso! _ Oliver fechou a cara, dobrando o jornal com irritaçao _ Uma grande perda de tempo, nunca encontram nada mesmo...

- E que continue assim! Saude perfeita, meu querido. Nao custa nada averiguar, lembre-se que jà fiz meus exames no começo do ano.

- Meninos, eu jà vou _ anunciei, me levantando e olhando o tempo chuvoso pela janela da cozinha _ O transito deve estar medonho agora.

Mesmo com chuva fina me molhei um bocado, pilotando a Honda vermelha, protegido apenas por uma jaqueta estilo aviador, em couro sintetico. Na Avenida Paulista, onde funcionava o escritorio de contabilidade onde eu trabalhava, o engarrafamento diminuia apesar da chuva. Fazia muito frio, uma aura cinzenta como que despejada do ceu sobre os predios, as ruas e as pessoas.

Meu trabalho como contador da firma estendia-se monotamente durante a semana, sentado à mesa em frente ao computador com vista para a Avenida atraves da ampla janela de vidro; ao menos aquela paisagem intensa e pesada me distraia, o sol, a chuva, o entardecer, todas as quatro estaçoes tentando se fazer presentes de alguma forma em minha rotina anual. O predio tinha doze andares, e eu trabalhava no decimo primeiro, dividindo-o com cerca de dez colaboradores.

A semana passou, lenta e fria, com vento todos os dias. Todas as tardes, antes de ir para a mansao, eu passava em meu apartamento para acompanhar a reforma e saber dos encarregados do que precisavam para dar prosseguimento à obra. Com grande parte da (pequena) herança que minha tia havia deixado, eu pretendia melhorar minha moradia, trocar a pintura, pisos e portas. Era, na verdade, tudo a cara dela ali dentro, sua marca que veio tambem com a herança; seria bom deixar o passado para tras, começar com casa reformadinha, solteiro, e quem sabe ate mais feliz?

Mandei trocar o aparador fixo de madeira e cimento, já que ele me lembrava muito Mauricio. Muitas vezes transamos apoiados naquela bancada, sujando a superficie de madeira de esporro. Pedi que quebrassem e providenciassem outro, com tampo de granito e corpo de concreto com gesso trabalhado.

Encontrei na mansao o Quin bravo com Oliver: o check-up do rapaz acusou uma saude quase perfeita, excetuando um principio de gastrite que descobriram a tempo, resultado da pessima alimentaçao e excesso de suco de laranja. Era incrivel que ele conseguisse beber sozinho uma jarra de dois litros de suco puro de laranja antes do meio-dia, todos os dias. Quin queria cortar com aquilo, mas Oliver resistia.

- E o que eu vou beber toda manha? _ protestava, irritado.

- Outros sucos. Graviola, manga, maça, tudo o que nao for àcido. Estela _ disse Quin se dirigindo à empregada que os ouvia com um sorriso contido _ Nao compre mais laranjas, certo? Deixe-o beber dez litros de suco se ele quiser, desde que nao sejam àcidos.

- Eu bebo na rua! Na lanchonete! _ disse Oliver, desafiando-o.

- Meu caro marido _ Quin falou pausadamente, mas vermelho de ira _ Se seu estomago ficar mais esfolado do que a cara de um lutador de boxe, eu nao vou mandar consertar! Chega! Vai fazer dieta sim, e tenho dito!

Deixei-os discutindo e subi para o quarto, cansado daquela semana arrastada. Lembrei que no dia seguinte, à tarde, me encontraria com Fabinho para um cinema. O garoto me convidara para esse passeio na Quarta-feira, por telefone, e como eu ainda sentia culpa por ter frustrado suas expectativas nao vi como negar, mesmo um pouco contrafeito.

Uma tarde fria, de tempo aberto e vento. Apanhei Fabinho em frente ao predio onde ele morava, um edificio de alto padrao no Itaim Bibi. Notei que o garoto estava gripado, e quando o abracei senti o calor excessivo de seu corpo.

- Doente? _ indaguei _ Se quiser, podemos deixar o passeio para outro dia.

- Que nada! _ falou, pegando o capacete excedente _ Tomei um remedinho agora mesmo. Logo faz efeito.

Ele gostava de andar de moto, e ainda mais comigo, pois me agarrava com vontande, rindo todo entusiasmado quando eu aumentava a velocidade. Às vezes dava gritos agudos, em meio a adrenalina da corrida.

- Corre, Nathan! Corre! Seu tesudo, gostoso, delicia!

Eu ria comigo, sentindo o cortante vento gelado na cara. Afinal chegamos no shopping onde iriamos passear e assistir ao filme. Fabinho estava sem apetite por conta da gripe, quis apenas um pedaço pequeno de brownie. Olhava muito as vitrines, interessado na caprichada e colorida moda para garotos da idade dele. Entramos numa loja de roupa social, vimos alguns ternos e camisas repletos de cores sobrias, saimos, entramos numa otica onde brincamos de provar muitos oculos de sol, depois chegamos numa lojinha de artesanato do Vale do Paraiba, a qual encantou o garoto; mais a frente, paramos numa livraria pequena. Nesse estabelecimento levei um choque assim que entrei, vendo Mauricio sozinho, examinando os livros com um ar concentrado. Sem pensar muito, fui ate ele.

*

*

*

*

Obrigada a quem acompanha!

Abraços em todos! Adoro voces :)


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Comentários

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14/04/2015 00:40:49
Ai ai kkkk amando minha linda.. o que Nathan vai fazer hein? Kkk
02/02/2015 13:19:08
Será que o Nathan vai ter uma recaida daqui pro final com o Mauricio?! '-' #MeuFeeling
01/02/2015 13:14:45
FDP!
01/02/2015 00:58:27
Sim Irish PARABÉNS! Vc sempre pesquisa e assim como o C.T. Akino eu respeito isso. Amo brigar com meu marido por bobagens rsrsrs ele eh meio crianção e ao mesmo tempo culto, além de tudo é super gostoso e estrangeiro - amo o meu marido ficticio. Tu para logo na melhor parte aaaaaiiiiiiinnnnnn. Eu entendo o Nathan, aliás já meio que me senti como ele se sente. Ei ontem eu fui a um lugar bem underground aqui em Fortaleza rsrs a Toca do Javali. Ateh q foi bom... Eu conversei com um rapaz, mas eu não quis ficar com ele... Ele era bem gostisinho e bonito de rosto, mas eu o achei muito menina e ele era forrozeiro (eca). Sei lah... acho q to acostumado soh com pegaçao rsrs ele parecia querer algo serio. Pelo menos ele disse q eu era lindo ^.^ foi bom pro ego.
31/01/2015 19:28:38
Fico feliz por te deixar feliz. O que mais gosto das tuas séries é a atmosfera autêntica que tu consegue criar: O "cenário", a personalidade dos personagens, a "trilha sonora", o "figurino", tudo de acordo com o espaço cronológico e as mazelas politicas e sociais inerentes á época. Porque imagino que deve te dar trabalho de pesquisa para um resultado tão bom. Respeito isso. Enfim, obrigado pela dedicação.
31/01/2015 18:57:38
A fala serio como assim ele não deveria nem querer respirar o mesmo ar q esse idiota
31/01/2015 18:23:01
Boa noite, gente! M/A, Ru /Ruanito, Geomateus, thanks meninos! , -Docinho 21, acho que o Fabinho nao desistiu, rs. • C.T. Akino, sao coments como o seu que me fazem ter gosto em continuar! Sao muitas vezes que penso :esse sera o ultimo, mas entao tenho um retorno tao gentil que nao resisto,rs. Obrigada! , • Quin, vou ver se da pra inserir o disco no conto. Ele foi lançado em outubro, e eles ainda estao entre julho e agosto. Pesquisei, viu,? Ei, porque vc acha o Nathan recalcado? rs Ele levou um mega chifre, coitado, rsrs. Abraçasso, mino!
M/A
31/01/2015 18:10:39
Não acredito que você foi se humilhar. Da uma chance para o garoto e ver no que da.


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