O caminho das borboletas. 52
Gente, sei que essa é uma parte mais chata da história, mas não posso pular porque teve muitos fatos relevantes nesse período.
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Os dias seguiam com muita dificuldade. Mas o tempo não pára, já dizia Cazuza. Passava lentinho, mas passava. Todo dia eu riscava um número no calendário, e dava um sorriso de canto de rosto. A melhor hora do dia, era a noite, pois sabia que iria dormir e no outro dia já seria outro número pra riscar. Chegamos no primeiro feriado, e com ele a primeira ausência. 15 de novembro de 2014 foi numa sexta. Eu passei a odiar todos os feriados e fins de semana. Era os dias que os paulistas desciam pro litoral, ou seja, ela trabalhava dobrado. O horário normal dela era das 12h às 21h. Mas em dias de feriado ela entrava às 9h e largava 00h. Eu odiava feriados. Já não saia, não tinha vontade de ir pra lugar algum. Eu passei a viver para esperar ela chegar. E como ouvi alguém dizer num filme que vi esses dias: Pra quem espera, a vida passa devagar. Era exatamente isso. Ela chegava em casa super cansada, e eu não tinha mais um pedaço de unha. Nada era capaz de conter minha ansiedade. Isso tudo dava um desgaste intenso pra gente. Involuntariamente eu a culpava. Quando ela chegava, eu estava cansada de esperar, com muita saudade, e ela estava morrendo de cansaço e sono. As vezes brigavamos por essas coisas, e ela sempre pedia para que eu tivesse paciência. Eu chorava, pedia desculpas, mas tudo voltava a se repetir no fim de semana seguinte. Fomos tocando a vida entre saudades, brigas e esperança de dias melhores. Lembrei que ainda tinha uma vida e uma família. Voltei a fazer visitas freqüentes à minha vó. Continuava a acompanhá-la nas consultas. Uma sexta a noite cheguei lá. Já eraEntrei e a encontrei sentada na poltrona.
Eu: Bênção vó.
Ela: Jesus te abençoe, filha.
Eu: Como a senhora está se sentindo?
Ela: Estou melhorando, filha (Nunca ouvia minha vó sendo pessimista. Sempre uma pessoa positiva e de bem com a vida, apesar de tudo). As vezes tenho dores, como hoje. Mas é assim mesmo. Ando meio sem fome.
Eu fazia carinho no cabelo dela e dizia: Mas tem que comer, vó.
Ela: Não sinto muita fome, filha. Por sinal, queria lhe pedir até que comprasse umas vitaminas no seu cartão e alguns Sustagens. Quando a conta chegar, lhe pago.
Eu: Tudo bem, vó. Eu vou comprar sim. Assim que der eu venho trazer.
Ela agradeceu e ficamos ali um pouco mais. Me despedi, e ela foi me acompanhando até a porta. Chegando na frente de casa, encostou a porta e começou a falar.
Vó: Filha, estou tão angustiada.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Eu: O que houve, vó?
Ela: Suas tias brigando. Cada uma acha que pode cuidar melhor de mim. Não gosto disso. Você sabe como sou. Odeio brigas.
Eu a abracei forte e disse: Vó, isso acontece porque a senhora é muito amada. Não fique assim.
Ela: Mas são tantas brigas filha. E por nada. Estou numa angústia só.
Eu a abracei forte outra vez.
Eu: Vó, vai ficar tudo bem. Eu te amo. Amooo muito.
A enchi de beijos e dei a bênção outra vez. Ela me abençoou e fui embora.
Estava indo pra casa quando passei em frente à farmácia e lembrei das vitaminas e Sustagens. Disse que iria levar depois, mas ela não estava comendo direito. Então comprei logo e voltei lá.
Vó: Minha filha, voltou? Esqueceu as chaves?
Eu: Rs... Não vó. Vim trazer suas vitaminas logo.
Ela: Ô filha, não tinha pressa. Quanto deu?
Eu: Nada.
Ela: Como assim nada?
Eu: Nada, Vó.
Ela: E vc vai pagar isso como?
Eu dei risada, rs...
Eu: Vó, eu sou bolsista agora. Não é muito, mas tenho me virado.
Ela: Mas não é justo filha. Eu irei pagar sim.
Eu: De jeito nenhum, vó. E fim de papo.
Ela começou a chorar e me abraçou forte.
Ela: Minha filha, que Deus lhe abençoe.
Ajoelhou-se no chão.
Eu: Vó, levante daí, rs...
Ela: Você merece tudo de bom, meu amor. Isso é só o começo. Deus vai lhe abençoar muito ainda.
Eu: Rs... Tá, Vó. Agora levanta desse chão logo, pelo amor de Deus, rs...
Ela me abraçou forte e eu a enchi de beijos outra vez. Me despedi e dessa vez fui embora de verdade.
Mais tarde Ci ligou. Contei o que havia acontecido e ela deu risada, rs...
Ci: Sua vó tem muita sorte de ter você.
Eu: Que nada, bê. Eu que tenho sorte se tê-la como vó. Você sabe o quanto a amo e faria o impossível pra vê-la bem.
Conversamos bastante aquela noite.
No dia seguinte, eu estava dormindo. Era por volta das 12h já. Ouvi minha mãe no telefone.
Mãe: Tudo bem, eu irei sim. Quais são os remédios?Humrum
Mas não se preocupe, ela vai ficar bem.
Levantei às pressas.
Eu: Mãe? O que houve?
Ela: Sua vó passou mal. Foi para o hospital hoje de manhã, mas já está em casa.
Eu: Mas o que aconteceu?
Ela: Não entendi bem. Sua tia disse que ela estava com um mal estar, algo como prisão de ventre.
Eu: Mas ela já está em casa?
Ela: Sim. Está sim.
Almocei, tomei um banho e fui lá. Assim que entrei, a vi sentada no sofá da sala. Estava pálida, e falava baixinho.
Eu: Vó? O que houve?
Ela: Ai filha, não sei. Senti dores a noite inteira.
Eu: Mas vó, por que a senhora não chamou tia?
Ela: Não gosto de incomodar.
Eu: Mas não é incômodo, vó. Agora fica aqui quietinha, tá? Não fala nada.
Fui falar com minha tia e ela explicou tudo. A vó estava com dores intestinais, como prisão de ventre. Não aguentava ficar deitada, nem em pé. Então o sofá foi onde ela se sentiu melhor. Voltei lá.
Eu: Vó, vamos comer?
Ela: Não tenho fome.
Eu: Mas deve comer, vó.
Ela: Faça um mingau então.
Fui lá e fiz. Dei colher a colher na boca dela. Ela comeu. Era uma cena triste. Sempre vi vó independente. E vê-la debilitada era muito dolorido pra mim. Levei o prato e fiquei com ela outra vez. Passamos a tarde assim. Fiz carinho nela a tarde toda. Ela cochilava e acordava. Mais tarde, meu pai passou lá.
Ele: Mãe, tá tudo bem?
Ela respondeu com dificuldade, mas tentou explicar. Meus outros tios chegaram, eles conversaram um pouco. Vó já tava com uma carinha melhor. Voltei de lá era umas 20h. Meu pai chegou já era quase 23h. Minha mãe tinha ido para a casa da mãe dela, em outra cidade.
Ele: Mãe voltou a passar mal, depois que você saiu.
Eu: Como assim? O que houve?
Ele: Não sei direito. Ela ficou tonta e quase desmaiou. A levamos para o hospital e agora ela já está em casa.
Liguei para minha tia e ela disse que agora ela estava descansando.
Eu: Tia, independente da hora, me ligue. Entendeu? Me ligue. Se vó passar mal, eu quero ir ao hospital ficar com ela.
Ela: Tá bom.
Ci ligou e conversamos. Contei a ela tudo que havia acontecido.
Ela: A vó vai ficar bem, amor. Não se preocupa.
Eu: Espero que sim, bê.
Estava cansada e meio preocupada. Nos despedimos e fomos dormir. Acordei com o telefone tocando. Olhei para o relógio e era 8h da manhã. Quando peguei o telefone, era minha tia.
Eu: Oi tia.
Ela estava chorando.
Eu: Tia, o que houve?
Meu corpo tremia. Meu coração acelerava.
Ela: Vem pra cá, filha. Sua vó está morrendo.
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Gente, conto com a compreensão de vocês. Essa é uma das partes mais difíceis de contar da nossa história. Terminei esse conto aos prantos.
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Beijos