EU ANTES DE VOÇÊ #4

Um conto erótico de Jonas
Categoria: Homossexual
Contém 1754 palavras
Data: 05/05/2014 18:50:20

Quarta Parte.

— Numa entrevista de trabalho, você precisa ir de Terno — insistira mamãe. — Hoje, as pessoas são informais demais.

— Não posso comprar um terno. E se eu não conseguir o emprego?

— Pode usar um do se pai, eu passo a ferro uma linda blusa e apenas tente parecer uma pessoa normal.

Era melhor não discutir com mamãe. E eu tinha certeza de que papai recebera a recomendação de não comentar meus trajes quando saí de casa, nem meu andar esquisito naquela calça justa demais.

Estava com medo pois aquele terno era do meu pai quando eles se casaram, imagina o quão velho ele era.

— Tchau, filho — disse ele, com os cantos da boca se repuxando. — Boa sorte.

Você está muito… profissional.

O constrangedor não era eu usar um terno do meu pai, ou que aquele fosse um modelo que esteve na moda no final dos anos oitenta, mas sim que a roupa estava um pouquinho pequeno para mim. Eu podia sentir o cós cortando minha barriga e o paletó com duas fileiras de botões repuxando para um lado.

A Granta House, o endereço do emprego, ficava do outro lado do castelo Stortfold, perto das muralhas medievais, numa comprida trilha sem pavimentação que continha apenas quatro casas e a loja do National Trust, bem no meio da região turística. Passei por aquela casa milhares de vezes na vida sem jamais ter prestado atenção nela.

Percorri a longa entrada para carros tentando não pensar que alguém me olhava da janela. Cruzar uma longa entrada para carros deixa você em desvantagem; isso a faz se sentir automaticamente inferior.

Uma mulher de aparência 30 anos saiu para o vestíbulo. Ela usava calça branca, uma túnica que parecia ser de médico e carregava um casaco e uma pasta embaixo do braço. Ao passar por mim, deu um sorriso educado.

— E muito obrigada por ter vindo — disse uma voz lá de dentro. — A gente se fala. Ah. — Um rosto surgiu, de uma linda mulher de meia-idade, com cabelos num corte que parecia caro. Usava um terninho que, suponho, custava mais do que meu pai ganhava por mês.

— Você deve ser Sr. Clark.

— Jonas. — Estendi a mão.

— Certo, pois não. Entre, por favor.

Ela retirou a mão da minha tão rápido quanto era humanamente possível, mas senti seus olhos sobre mim, como se ela já estivesse me avaliando.

— Vamos entrar? Conversaremos na sala. Meu nome é Camilla Traynor. — Ela parecia exausta, como se já tivesse dito as mesmas palavras várias vezes naquele dia.

Segui-a até uma sala enorme.

— Então você veio porque viu o anúncio do Centro de Trabalho, certo? Sente-se, por favor.

Sentei-me e olhei as fotos nas paredes e na mesa.

E foi então que ouvi aquilo — o som inconfundível de pano se rasgando. Olhei para baixo e vi as duas partes de tecido que se juntavam na lateral da minha perna direita separadas violentamente, lançando para o alto fiapos de linha de seda que formavam uma franja deselegante. Senti meu rosto se inundar de cor.

— Então… Sr. Clark… tem alguma experiência no cuidado de pessoas tetraplégicas?

Virei-me para olhar a Sra. Traynor e me retorci de modo que o paletó cobrisse o máximo possível da calça.

— Não.

— Trabalha há muito tempo como cuidador?

— Hum… na verdade, nunca trabalhei — disse eu, acrescentando, como se ouvisse a voz de Syed no meu ouvido: — Mas tenho certeza de que posso aprender.

— Sabe em que consiste a tetraplegia?

Vacilei.

— É quando… a pessoa fica presa a uma cadeira de rodas?

— Acredito que essa é uma forma de descrever. Há diversos graus, mas neste caso estamos falando da perda completa do uso das pernas e uso bastante limitado das mãos e dos braços. Isso incomoda a você?

— Bom, não tanto quanto incomoda a ele, é claro. — Esbocei um sorriso, mas o rosto da Sra. Traynor estava inexpressivo. — Desculpe… não quis…

— Sabe dirigir, Sr. Clark?

— Sim.

— Tem carteira de motorista sem infrações?

Anuí.

Camilla Traynor ticou algo em sua lista.

O rasgo estava aumentando. Eu podia vê-lo subir lenta e inexoravelmente pela minha coxa.

— Você está se sentindo bem? — A Sra. Traynor olhava para mim.

— Só estou com um pouco de calor. Posso tirar o paletó? — Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, arranquei o paletó num movimento gracioso e amarrei-o na cintura, tapando o rasgo na calça. — Bem quente — disse eu, sorrindo para ela. — O calor vindo lá de fora. A senhora sabe, não é?

Houve uma breve pausa e então a Sra. Traynor olhou de novo em sua pasta.

— Qual a sua idade?

— Vinte e seis.

— E ficou seis anos no emprego anterior.

— Sim. A senhora deve ter uma cópia da minha carta de recomendação.

— Hum… — A Sra. Traynor segurou a carta e deu uma olhadela. — Seu ex empregador diz que você “é uma pessoa caloroso, falante e cheio de vida.”

— É, eu paguei para ele escrever isso.

De novo, aquela cara de paisagem.

Ai, droga, pensei.

— Então, por que está saindo desse emprego onde é, claramente, tão valorizado?

— Frank, o proprietário, vendeu o café. É aquele que fica no final do castelo. The

Buttered Bun. Ficava — corrigi. — Eu ficaria feliz em continuar lá.

A Sra. Traynor fez que sim com a cabeça, tanto porque achou desnecessário dizer mais alguma coisa quanto porque ela também adoraria que eu tivesse continuado por lá.

— O que exatamente pretende fazer da sua vida?

— Desculpe?

— Pretende ter uma carreira? Isso é um primeiro passo para algo mais? Tem algum sonho profissional que deseja realizar?

Olhei para ela, confuso.

Seria essa uma pergunta do tipo armadilha?

— Eu… realmente ainda não pensei muito sobre isso. Desde que perdi o emprego, eu apenas… — engoli em seco — Eu só quero voltar a trabalhar.

Pareceu uma resposta fraca. Que tipo de pessoa vai para uma entrevista de emprego sem sequer saber o que quer fazer? A expressão da Sra. Traynor sugeria que ela também pensava assim.

Ela pousou a caneta.

— Então, Sr. Clark, por que acha que devo selecioná-lo em vez de, por exemplo, o candidato anterior, que tem vários anos de experiência com pacientes tetraplégicos?

Olhei para ela.

— Hum… honestamente? Não sei. — Tal comentário encontrou o silêncio, então acrescentei: — Acho que isso compete à senhora.

— Você não pode me dar uma única razão para contratá-lo?

De repente, o rosto da minha mãe surgiu à minha frente. A ideia de voltar para casa com um terno destruído e outra entrevista fracassada era demais para mim. E aquele emprego pagava mais de nove libras a hora.

Sentei-me ereto por um instante.

— Bom… aprendo rápido, nunca fico doente, moro logo do outro lado do castelo e sou mais forte do que pareço… provavelmente forte o bastante para ajudar seu marido a se locomover…

— Meu marido? Não é com o meu marido que você trabalharia. É com meu filho.

— Seu filho? — Pisquei. — Hum… não tenho medo de trabalho duro. Tenho facilidade para lidar com todo tipo de gente e… faço um ótimo chá. — Comecei a tagarelar para preencher o silêncio. A ideia de que o tetraplégico era filho dela me derrubou. — Quer dizer, meu pai não acharia que essa é a melhor das referências. Mas minha experiência diz que não existe nada que não possa ser resolvido com uma boa xícara de chá…

Tinha algo um pouco estranho no jeito como a Sra. Traynor me olhava.

— Desculpe-me — gaguejei, ao perceber o que tinha dito. — Não estou querendo dizer que a coisa… a paraplegia… tetraplegia… do seu filho… possa ser resolvida com uma xícara de chá.

— Devo dizer, Sr. Clark, que o contrato é provisório. Deve durar, no máximo, seis meses. Por isso o salário é… proporcional. Queríamos atrair a pessoa certa.

— Acredite em mim, quando você trabalhou em turnos numa processadora de frangos, trabalhar na baía de Guantánamo fica interessante. — Ah, cale a boca, Jonas.

Mordi o lábio.

Mas a Sra. Traynor pareceu não se alterar. Fechou a agenda.

— Meu Filho, Will, sofreu um acidente de trânsito há quase dois anos. Ele precisa de cuidados intensivos, que são, em grande parte, realizados por um enfermeiro treinado. Há pouco tempo voltei a trabalhar e o cuidador precisaria estar aqui durante o dia para fazer companhia a ele, ajudá-lo a comer e beber, e geralmente é sensato ter um par extra de mãos, para garantir que ele não vá se machucar. — Camilla Traynor olhou para o colo. — É de extrema importância que Will tenha alguém aqui que compreenda essa responsabilidade.

Tudo o que ela disse, inclusive a maneira como destacou as palavras, parecia sugerir algum nível de idiotice da minha parte.

— Sei. — Fui pegando meu paleto.

— Então, você gostaria do emprego?

Foi tão inesperado que pensei ter ouvido errado.

— O que a senhora disse?

— Precisamos que comece o mais rápido possível. O pagamento será semanal.

Fiquei um instante sem saber o que dizer.

— Prefere ficar comigo em vez… — comecei.

— O horário é puxado, das oito da manhã às cinco da tarde, às vezes mais. Não há exatamente um horário de almoço, mas quando Nathan, o enfermeiro do turno do dia, vier ajudá-lo com a refeição, você deverá ter meia hora livre.

— A senhora não precisaria de alguém… da área médica?

— Will recebe todo o cuidado médico que podemos oferecer. Queremos uma pessoa forte… e animada. Ele tem uma vida… complicada, e é importante que seja incentivado a… — Ela se interrompeu, de olhos fixos em alguma coisa do outro lado das janelas francesas. Por fim, voltou-se novamente para mim. — Bom, digamos que o bem-estar físico dele é tão importante quanto o mental. Entende?

— Acho que sim. Vou precisar… usar uniforme?

— Não. Definitivamente nada de uniforme. — Ela olhou minhas pernas. — Embora seja bom que use algo… menos revelador.

Olhei para onde meu paletó tinha escorregado, revelando uma generosa extensão de perna nua.

— Isso… desculpe. Rasgou. Na verdade, a calça não é minha.

Mas a Sra. Traynor parecia não estar mais ouvindo.

— Quando você começar, explico o que precisa fazer. No momento, Will não é a pessoa mais fácil de se lidar no mundo, Sr. Clark. O trabalho vai exigir tanto de sua atitude mental quanto das… habilidades profissionais que possa ter. Então, nós nos vemos amanhã?

— Amanhã? Você não quer… não quer que eu o conheça?

— Will não está num bom dia. Acho melhor fazermos isso depois.

Levantei-me, percebendo que a Sra. Traynor já esperava que eu saísse.

— Sim — concordei, puxando o paletó por cima de mim. — Hum.

Obrigado. Chego às oito amanhã.

PESSOAL, EU SEI QUE ESTA MUITO DETALHADO, MAS SE NÃO ESXPLICAR ALGUMAS COISAS, A HISTROIA VAI FICAR UM POUCO VAGA. SEM SENTIDO.

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