Renato & Renato: Apaixonamo-nos pelos nossos Irmãos [Capítulo Dois]

Categoria: Homossexual
Data: 24/11/2013 17:42:07

Capítulo 2. Renato Dois (Renatinho Brigadeiro)

“Renatinho você é ridículo. Você é desprezível. Você é ínfimo. Você é digno de pena, só que não.” Obrigado. A propósito, senhoras e senhores esta é a Consciência. A minha consciência.

Tudo começou muito cedo. Eu sempre fui o saco de pancadas na escola. Aquele que todos apontavam e davam risadas. Hoje existe até uma palavrinha bonita para descrever isso, mas naquela época... Ah, esquece. Vamos assistir a um pequeno filme, um retrocesso, por conta da minha Consciência, ela quer mostrar para você o quanto eu sou ridículo, desprezível, ínfimo e digno de pena (ou não).

- Oi eu sou Fábio. Como você se chama? – O garotinho me perguntou. Não tinha mais que dez anos.

- Renato. – Eu respondi. Eu também era apenas um garotinho de dez anos de idade. – Você mora aqui?

- Moro. – Ele respondeu. – Vamos ver quem balança mais alto na gangorra? – Ele perguntou animadamente.

Tão empolgado quanto Fábio, assenti:

- Vamos!

E eu ganhei. Balancei muito mais alto na gangorra do que Fábio. Alguns minutos depois a mãe dele apareceu e o chamou. Ele foi em direção da mãe e quando ela o abraçou ele perguntou inocentemente:

- Mãe, eu vou ficar preto?

A mãe arregalou os olhos e então respondeu:

- Vamos Fábio. Esqueça isso. – E foram embora.

Fábio era branquelo. Loiro. Olhos claros. Eu? Bem, eu sou negro, e acho que ele ficou com medo de se tornar negro por brincar comigo. Eu chorei litros de lágrimas naquele dia. E sabe quem me consolou? O homem negro mais lindo deste universo: Enzo, o meu irmão mais velho. Naquela época, Enzo tinha 15 anos e já fazia uma série de ensaios fotográficos para revistas.

Meu irmão sempre chamou a atenção por sua beleza, por seus traços afrodescendentes charmosos e tão envolventes. Quando Enzo completou 18 anos, começou a cuidar de sua carreira sozinho (até então nossa mãe Beatriz era sua “empresária”, assim podemos dizer) e passou a fazer ensaios mais sensuais, seminu (nunca completamente nu). Enzo sempre disse que o sensual não precisava ser vulgar.

“Por que você não conta o quão ridícula é a sua situação, seu perdedor?” Ok, Consciência. Obrigado por tocar neste assunto, eu já ia chegar lá de qualquer forma. O que a minha nada nobre Consciência quer que eu conte é como me apaixonei por Enzo. “Você é medonho. Vê o quanto isso soa nauseante?” Cale-se Consciência e deixe-me contar!

Quando completei 14 anos (Enzo tinha 19 anos) nossos pais me deram – segundo eles – o “melhor, o mais incrível e espetacular presente de aniversário da história de todos os 14º Aniversários”. Obviamente eu não achei isso no momento.

Beatriz e Carlos – nossos pais – compraram cotas no clube “Granada Iate” e supostamente isso era o melhor presente que um adolescente podia ganhar. Para não decepcioná-los, comemorei como se meu time tivesse sido campeão do Mundo e não ganhasse um título há pelo menos cinquenta anos. Fomos todos comemorar meu aniversário “estreando” as cotas no clube.

Quando chegamos lá, Enzo e eu fomos ao banheiro juntos para trocarmos nossas roupas. Em casa eu já havia colocado o calção de banho, então eu apenas tirei a bermuda que estava por cima, a camisa, os tênis e calcei os chinelos. Mas Enzo... Enzo... Cara, meu irmão não havia colocado o calção e quando tirou – na minha frente obviamente – a cueca, eu quase enfartei ao ver seu membro (e que membro) avantajado! “Patético. Você se apaixonou por seu irmão ao ver a pica dele”. Consciência maldita, eu ainda não terminei! Posso? “Claro, continue com seu relato comovente”. Obrigado.

Então continuando... Enzo trocou-se naturalmente na minha frente. Apesar de normalmente não termos esse tipo de intimidade, ele não se acanhou, era uma coisa normal, certo? Somos irmãos e homens. Isso é coisa de homem, né? Só que não conseguia parar de pensar na pica (ok, na super-pica) de Enzo. Eu já tinha visto – no Xvideos – atores dotados, mas nunca pessoalmente. E foi no meu aniversário de 14 anos a primeira vez que “homenageei” meu irmão Enzo. Nove vezes. No mesmo dia. Na última “homenagem” não tinha mais o que sair se é que você me entende. “É claro que eles te entendem, Renatinho. Eles já constaram o pateta ignóbil que você é.” Ok.

A minha Consciência tem toda razão. Eu sou um perdedor. Sempre fui. Nunca tive muitos amigos (ou seja, nenhum). Não sou bonito e nem mesmo atraente. Na infância as crianças tinham medo de pegarem a minha cor – como se isso fosse possível – e na minha adolescência descobri que além de ser antissocial e pouco popular, eu não gostava de meninas e ainda comecei a sentir atração por meu irmão mais velho.

Com o passar do tempo, Enzo tornou-se minha “inspiração”. Todos os dias desde os quatorze anos eu “homenageio” Enzo.

Vejo suas fotos de modelo, agora, com seus 24 anos, Enzo está malhado, com o peitoral musculoso, definido e com os mamilos duros e salientes. Um deus do ébano, o Google diria, se eu pesquisasse o nome dele lá. Além de belo, meu irmão é gentil e cuidadoso. Sempre ajudou em casa financeiramente falando. E mesmo agora, que ele não vive mais aqui em casa conosco, ele continua ajudando.

Sei que nossos pais tem muito orgulho de Enzo e eu também tenho. Mas... E eu? “Você é a vergonha da sociedade. É gay, está apaixonado pelo irmão desde os 14 por que viu a pica dele, nunca beijou na boca e embora já tenha 19 anos, é mais virgem e imaculado que os santinhos das novelas mexicanas da Thalia e ainda por cima nunca acrescentou em nada na vida de seus familiares”. Certo Consciência, eu também te amo.

Eu quero ter uma vida. Quero trabalhar. Quero estar mais perto de Enzo. Sim, eu sou apaixonado secretamente por meu irmão. E daí? É algum crime isso? Onde está escrito que não pode haver amor entre dois homens que nasceram na mesma família? “Oi? Você está se escutando Renatinho?” Está bem Consciência, por que você não me deixa em paz por alguns minutos? “Por que eu sou você. Não posso ir embora.” Ok, isso é verdade. Mas isso não muda meu amor por Enzo. Então eu tive coragem e liguei para Enzo, duas semanas atrás:

- Oi. Sou eu. – Falei.

- Grande Renatinho. Tudo bem Brow? – Enzo perguntou.

- Mais ou menos. – Disse apaticamente.

- O que aconteceu? Papai e mamãe estão bem?

- Sim, não se preocupe, com eles está tudo bem. O problema é comigo Enzo.

- Me diga, o que você tem? – Enzo podia estar numa reunião com o Presidente dos EUA que ele pararia e me atenderia e me ouviria. Ele sempre foi um irmão protetor, atencioso e cuidadoso.

- Eu preciso de um emprego. Eu quero morar sozinho também. Talvez quem sabe prestar finalmente um vestibular também. Sei que você conseguiu bons trabalhos ai onde você mora. Será que não há nada para mim? Pode ser até de faxineiro. – Implorei.

Enzo riu.

- Brow, você quer vir pra cá? Venha passar um tempo aqui comigo. Conhecer a cidade onde moro. Talvez a gente consiga alguma coisa para você fazer e aos poucos você começa a se ajeitar sozinho. Pode ser? – Ele perguntou. Claro que pode ser Enzo! Morar com você é o meu sonho, é tudo o que mais quero nesta vida!

- Sim. Eu não vou te incomodar? – Perguntei receoso.

- Claro que não. – Enzo riu novamente. – Você é meu irmãozinho menor e é meu dever te proteger. Você conta pro papai e a mamãe, ou quer que eu conte?

- Se você puder contar. Eles vão preferir ouvir de você. – Admiti. E é verdade. Enzo é o orgulho de nossos pais. Eu sou apenas um perdedor imbecil apaixonado pelo irmão mais velho e provavelmente vou-me foder no final desta história toda. “Nisto eu concordo” Obrigado Consciência, por seu apoio moral.

E eis que aqui estou no avião que está me levando à cidade onde Enzo vive há alguns anos. Sei que ele teve algumas namoradas, mas nunca houve nenhuma séria até onde sei. Como será a vida dele? Nunca conheci sua casa, nunca estive nesta cidade. E agora vou morar lá. E o mais importante, com Enzo. “Tenho certeza que você está louco pra ver o pau dele de novo.” Shhhhh Consciência!

- Deseja mais alguma coisa senhor? – A aeromoça sorridente pergunta-me alegremente.

- Não. Não obrigado. – Retribuo o sorriso e ela confirma com um aceno de cabeça, retirando-se.

Eu me perco em meus próprios pensamentos quando ouço...

- Renatinho vai adorar conhece-la. – Um homem que está sentado a minha frente fala. Ele está acompanhado de uma bela moça de cabelos loiros cacheados. “Por que você não pode ser como ele? Gostar de uma mulher, e principalmente uma mulher que não seja da sua família?” Não sei Consciência, não sei por que sou assim.

- Estou tão nervosa. Será que sua família vai gostar de mim? – A mulher de cabelos loiros cacheados pergunta ao homem. O homem é bonito, aparenta ter mais ou menos a idade de Enzo, e pelo visto tem algum parente chamado Renatinho, como eu.

- Claro que vão. Você é espetacular. – O homem responde, sorri e beija a mulher na boca. Neste momento eu então pergunto a minha Consciência: porque eu não posso ser normal, como esse cara? E ela me responde então “Eu não sei Renatinho, não sei por que você é assim”.

Minutos depois o avião finalmente pousou. Cheguei ao meu destino final. Larguei a Capital para trás e agora eu vou vier nesta cidade ao lado de Enzo, meu irmão. Eu não imagino como será a minha vida com ele, mas eu quero muito que as coisas mudem para mim, quero ao menos ser um orgulho para meus pais e para Enzo. Ter uma profissão e ser independente.

Na esteira de bagagens vejo novamente aquela mulher de cabelos loiros cacheados. Ela é uma mulher muito alta. Eu não gosto de mulheres, mas admito que ela é muito bonita. Não atoa aquele homem se apaixonou por ela. Ela pegou duas malas e teve muita dificuldade para mantê-las nas mãos. Como eu estava próximo, tentei ajuda-la, impedindo que uma de suas malas caísse no chão.

- Obrigada. – Ela disse.

- De nada. – Eu respondi.

Então eu consegui pegar minha mala. Não estou trazendo muitas coisas. Papai e Enzo contrataram uma transportadora para trazer minhas coisas mais pesadas em breve. Caminhei pelo saguão do aeroporto e comecei a procurar visualmente por Enzo. Apesar de ser um dia de semana, há muitas pessoas no aeroporto.

Onde está você Enzo? Eu não consigo encontra-lo. “Na certa ele desistiu de vir buscar você. E faz ele muito bem, não sabe o problema que está arrumando em levar você, justo você, para a casa dele”, pelo amor de Deus, cale-se Consciência.

E continuo buscando por ele, mas nada de Enzo. Nada de Enzo. Será que ele se esqueceu? Será que ele desistiu? Não, não é do feitio de Enzo. Alguma coisa deve ter acontecido. Caminho pelo saguão do aeroporto por um bom tempo, talvez uns quinze ou vinte minutos. Ligo para o celular de Enzo. Chama duas vezes e cai na caixa postal. Ligo então para a sua casa. Ninguém atende. Mando um SMS então e fico na espera por uma resposta.

Decido então ir até o banheiro. Dois reais para usar, um absurdo. Mas estou tão para mijar já que eu não usei o banheiro do avião, então acabo cedendo e pagando.

Abro a cabine do banheiro e urino enquanto verifico meu celular. Nada. Nenhuma resposta. Tento novamente ligar, quando percebo que no banheiro não há sinal. Saio da cabine e vou lavar as mãos. Esbarro num garoto. Ele... Ele está chorando? “Você e sua boca grande. Não vá falar com ele. Deixe o garoto em paz Renato!” Eu não vou te ouvir agora Consciência.

- Oi? Está tudo bem? – Pergunto.

O garoto me encarou assustado. Parecia que eu nem estava ali. O banheiro estava vazio – também com um preço destes – e o garoto então responde:

- Sim. Não é nada. É que entrou uma coisa no meu olho. – Percebi que ele estava mentindo.

- Então entrou nos dois, né? Os dois estão muito vermelhos. – Respondi. Realmente minha boca era muito grande, minha Consciência tinha razão.

O garoto riu. “Que estranho. Ele não está te ignorando como o pessoal da Capital. Acho que nesta cidade as pessoas devem ser anormais como você!”, bem observado Consciência. O garoto não está me ignorando e isso é estranho pra cacete.

- Você tem razão. Eu estava chorando. – Ele assume enfim. – Estou tendo um dia difícil.

- Sinto muito. Eu... Eu também não estou começando bem. Você chegou à cidade hoje? – Pergunto curioso.

- Não, eu já moro aqui. Vim buscar meu irmão. – Ele diz. É, o sotaque dele é diferente do nosso da Capital. E então de supetão, do nada, me pergunta: - Você tem um cigarro ai?

- Não, eu não fumo. – Respondo. – E acho que você também não deveria fumar. Faz mal, não faz? Eu acho. Foi o que li. Sei lá. Você que sabe, mas não devia fumar. – “Que bonito Renatinho, nem conhece o garoto e já está dando palpite sobre a vida dele”. É Consciência, você tem razão, eu sou mesmo um ignóbil. “Aleluia, finalmente se deu conta!”. Ok Consciência, ok.

Mas estranhamente o garoto continuou sorrindo e esticou a mão para mim. Caralho! Ele é de outro planeta?

- Sou Renato. – Ele disse.

O que?

“O que?” Consciência.

- Prazer. – Então respondo. – Eu também sou o Renato.

(Fim do Capítulo Dois).


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Comentários

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29/11/2013 11:50:45
mtu bom
25/11/2013 01:44:23
Continua logo!
24/11/2013 22:36:15
Muito bom, me apaixonei pelo conto, vou esperar ansioso a continuação.
24/11/2013 21:42:36
Muito bom.
24/11/2013 19:23:26
Ta ótimo o conto !! Adorei o encontro dos dois Renatos !! :)))
24/11/2013 18:30:11
Muito bom.
24/11/2013 18:26:37
Cara bom demais o conto de vocês. Renato e Renato se conhecendo num banheiro, acho que foi o destino que fez isso. Ansioso pelo próximo capítulo.
24/11/2013 18:00:20
Cara eu adorei o humor ácido da sua consciência. Vou continuar acompanhando seu conto. Bom demais, bem escrito e divertidíssimo


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