HECTOR [LIVRO 1: GABRIEL] III
Capitulo 3 = Exorcismo
“Admite que você também está afim da Morgana.”
Eu fiquei paralisado, olhando para ele de boca aberta. “Eu sabia!”
Ele se levantou e saiu fumegando pela quadra, eu levei um tempo para me recuperar e ir atrás dele. “Presuntinho, perae!”
Quando o alcancei e o virei de frente para mim me surpreendi, ele estava chorando. “Olha, vamos fazer um acordo, você confia na minha amizade?”
Ele levou um tempo mas acenou com a cabeça.
“Não, diz a verdade, olha para mim e diz que confia na minha amizade.”
Ele acenou vigorosamente.
“Esse é o acordo, eu vou abrir mão dela por você, pela sua amizade.”
Ele me olhou meio incrédulo. “Você não precisa fazer isso.”
Eu dei com os ombros. “Não vai ser um sacrifício tão grande, era só uma paixonite. Eu já acho que estou gostando de outra pessoa.”
Seus olhos se arregalaram. “Sério, quem?”
“Eu não posso te dizer agora, mas um dia eu te digo.”
E assim a conversa continuou, eu me sentia mal em estar escondendo meus sentimentos de Presuntinho, ainda mais por saber que ele não me reprimiria. Mas eu ainda tinha assuntos pendentes, Julius ainda não havia saído da minha cabeça.
Quando os dois finalmente saíram da casa Morgana não se preocupou em esconder o que havia acontecido, mesmo Gabriel se fingindo de joao-sem-braço.
Eu tive certeza que Morgana sabia dos sentimentos de Presuntinho, ela era esse tipo de mulher que gostava de ver os homens aos seus pés.
O resto da tarde passamos jogando ou apenas sentados nos bancos da praça conversando. Certo momento Morgana se levantou e anunciou que iria embora, ela morava na quadra ao lado, Gabriel se desculpou por não poder leva-la e Presuntinho logo tomou seu posto de guardião, Morgana se enlaçou em seu braço e os dois saíram, tudo foi muito rápido (eu acho que Presuntinho não queria que eu fosse com eles), quando eu vi estava a sós com Gabriel sentado em frente a sua casa, olhei ao redor desesperado e vi que a rua e a quadra estavam desertas, acho que comecei a suar frio, ao meu lado senti que Gabriel não se moveu, mas ao se sentar no meio fio seu joelho encostou no meu. Pareceu uma eternidade que estávamos os dois sentados ali, o mundo estava deserto, por incrível que pareça não havia ninguém na rua, nem nas quadras, uma televisão fazia barulho distante, denunciando que a raça humana ainda existia além de nós dois, a tarde ia se entregando a noite, o céu alaranjado sucumbia à noite e o vento levantava poeira e folhas no chão enquanto sacudia as árvores ao nosso redor, criando uma sinfonia linda enquanto eu sentia o calor que emanava do corpo de Gabriel sendo transmitido ao meu, eu estava em conflito, uma parte ínfima de mim queria levantar e sair dali, era sacrilégio dividir esse tipo de intimidade com mais alguém além de Julius. Outra grande parte minha queria quebrar o bloqueio e olhar para o lado, onde eu tinha certeza que encontraria Gabriel me olhando. Então criei coragem para me levantar, era ridículo eu estar ali desejando o namorado de uma amiga.
“E-eu tenho que ir.” Antes que eu me levantasse ele segurou meu braço. Eu congelei, olhando para sua mão grande ao redor do meu antebraço, ele olhou para sua mão e retirou ela, embaraçado.
“Não vai agora não. Eu tenho treino daqui a pouco e preciso aquecer, se importa de ficar mais um pouco enquanto me aqueço?” eu não tinha como negar aquela cara de cachorrinho abandonado.
Dentro da casa havia uma área entre a casa principal e a casa dos fundos, haviam diversos aparelhos para treino, um deles era um saco de areia vermelho e preto pendurado no teto, eu me sentei no chão com as pernas cruzadas enquanto ele removia a camisa, revelando um torso massivo, bem definido, totalmente sem pelos, ele era muito branco, quase albino e mesmo assim os músculos estavam visíveis. Percebi então que Gabriel estava deixando os cabelos crescerem, e eles estavam ficando cacheados, seu cabelo era castanho claro.
Gabriel colocou as levas de treino e procedeu a chutar e esmurrar o saco, cada golpe vigoroso fazia o saco voar pelo ar, seus músculos explodiam com o esforço e logo sua pele reluzia com o suor. É claro que eu já havia visto isso antes, por algum tempo treinei taekwondo então tive plenas oportunidades de ver corpos suados e másculos expostos, mas confesso que nenhum me atraiu como Gabriel me atraia.
Não conversamos muito, mas Gabriel me ofereceu para aquecer com ele e eu aceitei, dei alguns chutes no saco e Gabriel corrigiu minha postura, tive que me focar no golpe para não me focar em sua mãos grande e forte posicionava minha cintura e angulava minha perna.
Quando eu apliquei o golpe eu parei e nos demos conta da posição.
“Eu tenho que ir para o treino agora.” Era impressão minha ou eu senti um tom de tristeza em sua voz? E porque ele ainda não havia se afastado? Sua mão continuava pousada suavemente em minha cintura. Eu me movi para longe e recoloquei minha camisa.
“Eu tenho que ir também.”
“Você já treinou também?”
“Sim, quando eu era pequeno.”
“Eu me lembro...”
Olhei para ele assustado e ele me olhava com admiração.
“Como assim...”
“Você tem vontade de voltar a treinar?” eu até tinha, o motivo de ter interrompido meus treinos era porque eu tinha tido problemas com meu pulmão.
E realmente, ficar perto do Gabriel não era a escolha mais inteligente.
“Eu tenho, mas hoje não posso...”
O desapontamento de Gabriel era evidente. “Oh... bom, tudo bem, mas é o seguinte, mês que vem, depois da viagem da turma um novo grupo vai iniciar treinamento, eu queria que você participasse. Não, nem adianta recusar!”
Então ele pegou seu kimono e o jogou nas costas, Gabriel me levou até a entrada da minha casa com a desculpa de que era o caminho para o dojo.
“ Anda Hector, entra, eu não vou sair daqui enquanto você não entrar dentro de casa, já é noite fechada já.” Eu me assustei, Gabriel mal tinha falado comigo esses dias e agora vem com essa preocupação toda.
“Eu ainda vou sair, eu tenho que falar com o Presuntinho ainda hoje. Vou só dar um tempo para ver se ele chegou em casa.”
Gabriel perdeu todo o humor. “E essa conversa não pode ser por telefone?”
Eu pensei um pouco. “É, pode sim.”
“Melhor então, não acha?”
Decidi não contrariar, estava cansado e tinha trabalhos escolares para adiantar. “Bom, vejo você então amanha Gabriel.”
Ele acenou e enquanto eu fechava o portão da minha casa observei ele sair.
No dia seguinte Gabriel estava claramente mais aberto comigo durante o intervalo, deixando espaço aberto para Presuntinho aproveitar Morgana. Eu vi sua cara de felicidade e acabei puxando conversa com Gabriel, ele tinha um pensamento filosófico muito interessante e era fácil ver porque todos em absoluto gostavam do cara, ele era como um monge, ou um ideal humano, um super homem ou algo assim tudo junto em um só. Eu estava tão apaixonado por ele quanto qualquer um na escola. A diferença era que eu estava sentado no gramado ao seu lado, durante o intervalo, com ele se inclinando sobre mim para conversarmos com os ombros se encostando, eu quase viajei, minha ancora para a realidade foi Morgana se jogando no colo de Gabriel, eu pulei um pouco mais para o lado enquanto os dois se beijavam fervorosamente, enfim envergonhado sai dali.
Voltei para a sala de aula sozinho, Presuntinho não estava a vista e eu estava envergonhado demais para querer companhia. Como eu pude ser fraco ao ponto de criar algum tipo de expectativa em relação a um cara compromissado.
Dentro da sala de aula Julius me esperava, durante os últimos dias eu havia me afastado dele um pouco, a obsessão recuou, mas ao vê-lo me lembrei do nosso encontro na sala debaixo naquele sábado em que o fiz ficar de joelhos, meu pau respondeu endurecendo e o olhar de Julius fixou em minha virilha.
“S-se afasta de mim!”
Eu fechei a porta da sala atrás de mim, mas quando olhei para Julius ele estava suando frio, havia algo em seu olhar, ele meio que brilhava diferente. Ele veio andando em minha direção e me surpreendi considerando sair correndo daquela sala.
Julius parou na minha frente, sua mão procurou meu membro sobre a calça e ele apertou-o forte. Eu me segurei para não gemer, mas um sinal de perigo soava na minha cabeça, algo ali estava terrivelmente errado.
‘”Aquela abominação que fizemos antes não pode se repetir.”
Ele não estava olhando para mim, olhava para baixo onde seus dedos ainda traçavam o contorno do meu pau sob as calças jeans.
“Eu vou me casar, assim o demônio não pode mais me tentar.”
Eu dei um passo para trás, para me afastar dele e raciocinar melhor, como assim casar? Eu conhecia a namorada dele, a guria tinha por volta de treze anos, era um compromisso quase arranjado pela família, por mais ridículo que isso parecesse.
“A gente pode arranjar uma boa moça para você também irmão. Vem comigo, vamos abdicar desse demônio!”
Eu olhei para ele estupefato. Aquela cena ridícula estaria realmente acontecendo? Ele realmente tinha fé no que dizia, como se o fato de ele gostar de outro homem pudesse ser sufocado daquela maneira. Ele queria me fazer seu segredo, pois duvido que seus atos pecaminosos acabassem ali.
Eu coloquei a mão na testa e comecei a rir, eu não podia fazer mais nada, era ridículo demais.
“O diabo vai vir atrás de você Hector, se salve antes que seja tarde!”
Eu escutei a porta da sala se abrindo e depois batendo, eu ainda gargalhava quando Presuntinho e o resto da turma retornou.