Evan, O Escravo do Rei 4 parte 2
Além da Neblina - Parte 2
“Não.”
“Mas Max, já faz duas semanas, eu preciso falar com meu irmão...”
Era a primeira vez que eu tinha tido coragem de tocar nesse assunto com Max desde que visualizara a imagem na cabeça dele, a de que ele ia me manter dentro do castelo para sempre. Mas evitei a conversa, não por medo, mas sim por não querer quebrar o clima que se instaurava, Max estava muito próximo de admitir que me amava, de me beijar novamente sem estar com o pau enterrado em mim mas sim por querer me beijar movido por aquela força inexplicável. Mas dentro de mim a inquietação crescia, eu queria ver minhas coisas novamente, seguir minha vida, só precisava fazer Max entender que isso não significava abandoná-lo.
Nesse momento ele estava nervoso, andando de um lado para outro no quarto de punhos fechados.
“Você já falou com seu irmão.” Sem parar de andar ele me deu um sorriso de triunfo.
“E meu trabalho Max?”
“Eu já cuidei disso. Daqui a pouco teremos uma visita que vai te surpreender.”
Ele falava como se não fosse nada importante, só um detalhe a mais, então sua expressão virou um tipo de suplica, ou o mais próximo a isso que Max desceria. “Você me prometeu um tempo Evan, você prometeu que ficaria ao meu lado até o elo estabilizar, me embrulha o estomago pensar em você longe de mim.”
“Eu prometi Max, mas você não vai me deixar ir.”
Max olhou para mim surpreso. “Bobagem.”
“É verdade, não tente me enganar Max, eu vi claro como a luz do dia! Na sua cabeça você tem certeza de que não vai me deixar ir embora nunca!”
Ele estava estupefato. “Você conseguiu ler meus pensamentos?”
“Por um momento sim, eu não serei seu escravo Max, eu não serei seu prisioneiro, seu objeto!”
Ele se encolheu como se tivesse levado um tapa, mas logo reagiu. “Eu sou a alpha!” soou como um rugido dentro do quarto.
Eu não recuei, a voz dentro de mim falou ‘você é o ômega, onde ele começa você termina, onde ele perde o controle você retoma, não existe um sem o outro. ’
Eu saltei da cama na sua frente e usei um tom de voz quase tão alto quanto o dele. “E eu sou a porra do ômega! Você vai me perder para sempre se me prender aqui Max.”
Ele foi pego de surpresa e foi como se sua defesa caísse por um segundo, o suficiente para eu captar uma imagem em sua cabeça. Uma mulher, pálida, loira com cabelos lisos, agarrada a uma criança de cabelos marrons, a criança, por volta de oito anos, chorava, a mulher estava acorrentada a cama e eu reconheci a corrente, era a mesma que havia me prendido semanas antes. A mulher parecia tão infeliz, doente.
Ele recobrou a postura, ficamos nos encarando por mais alguns instantes, então ele se virou e saiu em direção à porta. “Você não vai me abandonar, você não vai sair daqui.” Seu voz tinha o tom de finalidade absoluta, mas antes que ele alcançasse a porta me joguei m suas costas, abraçando o pelo estomago.
“Eu não vou te abandonar, eu prometo, eu preciso de você para viver.”
Suas mãos acariciaram as minhas e então ele me desenlaçou e sem dizer mais nada saiu, fechando a porta atrás de si.
Eu fiquei no quarto, sentado, imaginando como eu poderia fugir, e depois de fugir eu poderia receber Max em minha casa, começar algo com ele dando continuidade a minha vida, eu sabia que seria capaz disso. Quase uma hora depois Max veio me chamar.
“Dior nos trouxe uma visita, você vai gostar de ver quem é.”
Apesar de suas palavras sua voz carregava um peso sinistro. Eu o segui até o escritório/sala do trono, mantendo minha distancia dele.
“E onde está Dior?” perguntei olhando para Max.
Sem olhar para mim ele me disse que estava esperando lá fora, respirei aliviado, eu não queria confrontar ele agora.
Quando entrei na sala um homem estava de costas, olhando para o mosaico de vidro na janela, Max passou por ele e se sentou na enorme cadeira perto do mosaico.
Quando o homem se virou para olhar para mim senti meu sangue congelar nas veias. Senhor Cobak, meu chefe estava parado ali na minha frente.
“Evan, esse é meu tio, Robinson Cobak, ele cuida das empresas da matilha.”
Enquanto Max falava minha cabeça trabalhava a mil por hora. Aquela noite no encontro da empresa Cobak havia mandado eu e King para a fazenda dizendo que tinha uma encomenda de seu irmão, mas seu irmão estava morto, a não ser que ele tivesse outro irmão, o qual eu não havia ouvido falar até então.
Mas porque Cobak nos mandaria para a fazenda em noite de lua cheia se ele sabia que iriamos ser tratados como inimigos?
“Entao Evan, como seu chefe, eu lhe concedo férias remuneradas de um ano.”
“Max...” tinha que avisar Max, algo estava errado ali, ele tinha mandado a matilha toda para um lugar na cidade por que temia um traidor, e se o traidor fosse Cobak, eu me lembrava a maneira estranha com a qual ele encarava King, como se o reconhecesse.
“Evan, não discuta, ou eu vou acabar com isso de uma vez e te demitir.” Max estava impaciente, achava que eu iria enfrenta-lo novamente.
Max não entendia o ocorrido ali, o quebra cabeça encaixava na minha cabeça.
“Não, Max...”
Dessa vez Max me interrompeu alterado.
“Evan! Você é tão infantil que não entende o que está em jogo aqui?”
Eu olhava de Max para Cobak, que ficava mais pálido a cada minuto que passava.
Max não viu quando ele se virou de frente para mim e retirou uma arma prateada de dentro do casaco marrom claro que usava, eu nauseei, tive a certeza de que iria morrer, mas ao invés de atirar em mim Cobak virou a aproveitou o elemento surpresa, atirando em Max.
Eu senti um choque, como se eu mesmo tivesse tomado o tiro. E dor foi tamanha que cai de joelhos. Max fez o mesmo ao tentar se levantar da poltrona.
“Balas de prata, Maximilliam.” Agora Cobak estava confiante e seguro. “Pelo visto vocês dois andaram fornicando com fervor, mas isso é bom, eu mato os dois com um só tiro.” Ele me olhou com desgosto enquanto se aproximava de Max.
“Você acha que foi fácil conseguir que aquela puta da floresta colocasse a maldição em você? Tudo que você tinha que fazer era sumir, e morrer como um vira latas, sem você ou seu irmão tudo seria meu! Mas imagina minha surpresa quando me deparei novamente com você, e o pior, você estava retornando a sua forma original.”
Me lembrei de Ileana comentando que King havia ficado maior.
“Eu sabia que sem um alpha os lobos daqui matariam qualquer um que invadisse o território, e eu achei que eles tivessem dado conta de você. Que matilha de imprestáveis, mas eu vou fazer todos sumirem Maximilliam, um por um. Eu sei que você não nutre muito amor por eles também, isso que fez de você e seu pai péssimos alfas.”
Cobak se aproximou de Max, que estava inerte, cabeça baixa e ajoelhado, eu sentia a centelha de vida que emanava dele minguar e apagar. Cobak apontou a arma para a cabeça de Max.
“E o pior, você achou o ômega da matilha, e surpresa! É um macho! Eu poderia deixar vocês vivos mais um pouco, só para me divertir com essa situação ridícula, mas quanto mais cedo eu expurgar essas terras mais rápido eu vendo elas.”
Eu fechei os olhos e enquanto sentia minha própria centelha de vida minguar eu desejei com todas as forças poder proteger meu matêe, salvar sua vida, trocar de lugar com ele ou algo do tipo.
Então sento meu corpo leve, como se flutuasse, abri meus olhos e vi que o corpo de Max vinha em minha direção, como se puxado por um ganho em seu peito, na confusão perguntei se Max se aproximava de mim ou era o contrario, pois eu sentia sendo puxado em sua direção.
Eram ambas as coisas, acabamos nos chocando no meio do caminho, mas não ouve dor, muito pelo contrario.
Eu me sentia completo, meu ângulo de visão mudou, eu via Cobak de cima, ele olhava para o lugar onde Max havia estado a um segundo atrás, confuso.
“Onde?”
Então rosnei para chamar sua atenção. Espera ae, rosnei?
Sim, eu estava sobre quatro patas, estava consciente do meu corpo, era enorme e peludo, eu não podia ver a cor porque estava encarando Borak que se virava lentamente em minha direção, seus olhos cresceram de medo e eu senti o fedor do medo que ele exalava, meus sentidos estavam aguçados. Eu ouvia o bater do coração de Cobak, que se acelerava cada vez mais. Escutei Dior correndo acelerado pelo jardim para averiguar o que ocorria na casa.
Enquanto Cobak falava algo sem sentido eu percebi, ele não estava lento, eu estava acelerado. Eu olhei ao redor, onde estava Max? Então o senti, dentro do lobo que era eu, mas também era Max. Ele estava ali, ao meu redor, dentro de mim, ele era eu e eu era ele, éramos um só, sentia sua centelha de vida crescer aos poucos.
“Mate ele Evan!” a voz de Max ecoou pelo meu ser. Automaticamente o lobo avançou, arrancando um braço de Cobak, enquanto eu prosseguia na tarefa de desmembrar o traidor percebia que Max ia ficando mais forte e a medida que ele ficava mais forte seus pensamentos tomavam formas, substancia. Descobri que eu podia organizar essas formas e transforma-las em presenças, algo compreensível. Então eu estava dentro de uma sala escura, havia moveis ali, mas todos eles estavam cobertos por uma camada negra. As janelas também estavam cobertas por um pano negro.
Eu estava naquela sala, mas também tinha noção de que estava lá fora, como um lobo gigante, matando um homem. Essa sala era apenas uma representação de nossos pensamentos, meu e de Max.
Dentro da sala percebi alguém sentado sobre uma poltrona negra, muito similar a que havia na sala onde o lobo eliminava a ameaça, em um canto ainda mais escuro.
“Max.”
“Evan sai daqui.” Sua voz ecoava amedrontadora. Seus olhos brilhavam vermelhos na escuridão.
“Então é assim que você se sente?” olhei ao meu redor, tudo estava tão parado, não havia movimento nesse local.
“É tudo tão escuro, isolado, frigido.”
“Ninguém nunca tentou me alcançar aqui Evan, esse é o lugar que eu herdei de meu pai, aqui está tudo que ele me deixou. Eu nasci para comandar e para ficar sempre acima deles, isolado nesse local.”
“Seu pai era um imbecil, Max. Para comandar é preciso estar mergulhado nos comandados, saber sua necessidade, atender seus desejos, ficando aqui você se isola deles, você não ganha nada além de ódio e rancor, essa manta negra que cobre tudo é isso.”
Ele olhou ao redor, parecendo ver o local pela primeira vez. Então seus olhos voltaram a se fixar em mim.
“O que eu ganho me abrindo para eles? Eu me abri para você Evan, e você vai me abandonar, você acha que eu não via seus pensamentos toda vez que você planejou fugir? Na primeira chance você vai me deixar.”
“Olha no meu coração Max, eu não vou te abandonar. Nós somos um só agora, não existe como fugir disso.”
Assim que terminei de falar isso senti o lugar todo se encher de luz, quando consegui abrir os olhos novamente estávamos ambos nús, de frente um para o outro.
Os pedaços de Cobak estavam espalhados por todos os lados. Max me olhou pro um instante e então caiu apagado, eu me ajoelhei ao seu lado e constatei que ele estava somente dormindo, aparentemente precisava de tempo para se recuperar.
No mesmo instante Dior entrou no salão, olhou ao redor e viu todo o sangue espalhado pelas paredes, chão, até o teto.
Então ele me viu ajoelhado ao lado de Max, sua fúria explodiu e se movendo como um vulto ele me agarrou pelo pescoço.
“Seu demônio pervertido! O que você fez com eles?” eu estava erguido pelo pescoço acima da cabeça de Dior, com a mão livre ele esmurrou violentamente minha cabeça, me deixando zonzo, senti algo quente escorrer pelo meu nariz.
“Eu vou matar você seu desgraçado!” a pressão que ele exercia no meu pescoço denunciava a verdade em suas palavras, o ar começava a acabar, meu corpo debatia desesperado a sua procura.
“Eu deveria ter te matado há muito tempo atrás!” atrás de Dior Max se contorceu, mas não acordou.
Eu senti o surto de adrenalina que senti da primeira vez que Dior me atacou, a fumaça negra começou a se juntar ao meu lado e o buraco negro apareceu, eu pensei que Salvador sairia dali.
Mas nada me preparou para o que aconteceu a seguir.
O buraco vomitou Ric.