Ele segurou minha mão.
_Dorme comigo... Escondido?_ Sussurrou.
_Tenho que ir._ E fui. Sem beijo, sem olhar, sem nada.
Uma explosão de pensamentos era o que eu tinha antes. Agora era um tsunami. Passei pelo motorista, ele entendeu que iríamos embora. Entretanto não pude deixar de perceber a sua cara de “eu sei o que você fez no verão passado!”. Meu Deus! Que vergonha, pensei.
Eu era o ser humano mais burro do universo.
Capítulo 6
Nunca quis trabalhar com política, nem nunca precisei. Tinha consciência que um dia iria, mas não havia chego o momento.
Meu escritório de gestão de imagem era super bem reconhecido, e os profissionais que formavam minha equipe – entre eles relações públicas, psicólogos, advogados e outros – todos eram gabaritados e já conhecidos pelo mercado. Estávamos no auge, éramos o auge.
O reconhecimento pelo meu trabalho eu recebia quando meus clientes solicitavam meus serviços em sigilo, afinal se vazasse que minha equipe estava trabalhando para eles, era sinal que as coisas não iam nada bem.
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Há algum tempo atrás...
No período eleitoral, em meu escritório, as coisas eram tranquilas. Odiava política, porém nem por isso deixava de acompanhar os acontecimentos. No dia da eleição, um calor infernal – claro, era outubro! Parecia que o clima não se decidia entre calor ou frio. Todo e qualquer meio de comunicação tinha somente uma pauta: política. Dentre dezenas de reportagens, sobre a luta dos candidatos até a vitória ou a derrota, uma delas não deixava de gerar curiosidade.
“A vitória do prefeito galã.” Dizia.
Galã. Imaginei que deveria ser um cinquentão no auge de seu charme, e também falcatruas. Cliquei na notícia. Ledo engano. Ele era um galã ou a foto estava muito bem trabalhada. Para quem admirava belos homens era impossível trocar a foto pela matéria que vinha a seguir. Mas eu sou mais forte. A matéria destacava a história do galã que havia crescido no município, virado aquele belo espécime de homem e que, principalmente, tinha conquistado os eleitores pelo seu inegável carisma.
_Eleição vencida por um rostinho bonito, que agora chamam de carisma._ Comentei com Vic, já no outro dia após a eleição.
O assunto na mídia ainda eram as eleições, e o prefeito gato, claro. Um jornaleco barato destacava em toda sua capa, um anagrama mais barato que o próprio: “O prefeito perfeito!”.
_Aham, senta lá Claudia! Você bem que queria esse rostinho bonito na sua cama._ Disse ela com seu sorriso sacana.
_Na cama não. Preferiria no gabinete, em cima da mesa._ Devolvi o sorriso sacana.
_Quanto romantismo!_
_Você sabe Vic. Minha visão de romance é um pouco excêntrica. Mas não há como negar que aquela cidade está bem servida de prefeito._ Falei.
_Achei que odiasse política._ Ela lembrou.
_Não é política, é sexo!_ Ressaltei.
_Não é sexo, é trabalho!_ Ela me apontou o telefone. _O empresário daquela apresentadora de programas populares..._ Ela fez careta nesse momento._... que disse odiar “pobrinhos”. Eles querem nosso trabalho.
Ah Vic, sempre tão estraga prazeres. E nosso diálogos tão intensos e importantes, quanto breves e fáceis de esquecer.
_Não gosto quando fala trabalho._ Corrigi. _Prefiro serviços._
Ela nem se deu trabalho de responder.
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Alguns meses depois lembrei que o galã existia. Era o dia da posse dos candidatos que haviam ganhado as eleições. E novamente a mídia massacrava o prefeito gato, que agora eu já nem sabia mais o nome. Nem me interessava. Como já disse, era um admirador de belos homens. Me interessavam as fotos que surgiam dele a todo o momento, para deleite das meninas que posavam risonhas ao seu lado, e para o meu.
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E, mais de um ano depois, o prefeito perfeito voltou mais uma vez, agora como meu cliente.
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Passei a noite remoendo estes pensamentos. Sono e descanso não eram pra mim nesta noite. Eu não misturava negócios com prazer – apesar de já ter recebido belas ofertas.
Como na oportunidade de consolidar meu trabalho eu estraguei tudo? Dormir com meu cliente? Nem pra ser só um sexo casual, agora eu já tinha me envolvido.
Agora, eu era o menino gay assustado, encurralado.
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Gente, muito obrigado mesmo pelos elogios! Espero que continuem gostando.
Até semana que vem.
Próximo capítulo: