Amar ou Te Matar... Eis a Questão! (2) - 6
Uma chuva caía... Forte, tórrida, e gelada com o céu em um tom profundo de cinza escuro. Minha poltrona estava virada de frente para a janela, onde observava a água escorrer através do vidro... Em minhas mãos estava a camisa de baixo de Louis, com os meus dedos fluindo entre o tecido perfumado. A única coisa que cortava o meu silêncio era os trovões, e o meu soluço baixo. Eu deveria estar satisfeito. Realizado. Pleno.
Mas não era assim que me sentia... Era uma sensação pesada, quase esmagadora, como estar carregando uma pedra sobre os ombros subindo uma montanha... Ou tentar respirar enquanto os pulmões lutam para conseguir ar, enquanto se afoga. Para ser menos dramático, era arrependimento. Para ser sincero, nunca senti um arrependimento como esse. Era por quê fiz aquilo que nunca se deveria fazer: Destruir a quem eu amo.
Sim... Eu consegui.
Consegui.
Mas e seCom o empréstimo feito e o documento assinado, era questão de tempo até a casa cair. Vittorio correu de volta para a taverna e começou a jogar... A cada rodada, mais e mais florins se perdiam, e ele começava a chorar como uma criança. Bebia o vinho saboreando devagar o gosto, mas na verdade era a satisfação de estar vendo os meus planos se concretizarem aos meus olhos... E depois que perdeu todo o dinheiro, pedi que levassem ele até a casa.
Voltei para o meu casarão ciente de meu progresso. Entrei na sala de estar tirando a minha capa, e me esparramando no sofá... Enquanto apoiava as minhas mãos no meu rosto, pensava no fedelho. Certo, eu não podia negar que eu me sentia balançado pelo o nosso, reencontro, por assim dizer. Como era possível que mesmo após tanto tempo, ainda querê-lo? Deveria sentir repulsa, nojo, e qualquer outro sentimento da mais pura aversão. Mas era uma atracão tão grande, aliada com outra coisa.
O que me deixava furioso, era que ele sempre repetia essa palavra: covarde. Para Louis, eu era covarde. Ele achava que eu tinha medo de o amá-lo, o que era um grande engano. Por ele eu seria capaz sim de enfrentar qualquer coisa... Eu ofereci a ele naquele dia mas ele que negou... Me escorraçou para ser mais exato. Mas se eu sentia ainda, quem sabe amor por ele, tudo isso era reprimido, sufocado e reduzido por causa do ódio que corria nas minhas veias como o sangue.
-- Onde estavas? - disse Oliver com um sorriso, se sentando na poltrona ao lado.
Suspirei.
-- Com Louis. - falei fechando os olhos de novo.
-- Não me diga que se acertaram!!! Amigão, eu fico feliz por saber que...
-- Não, não... Não nos acertamos... Lógico que não. - falei. - Só tivemos um... Reencontro...
Ele parou um pouco pensativo e depois prosseguiu.
-- Então quer dizer que vai mesmo cometer essa tolice de vingança? - Oliver falou.
-- Sim. É claro que sim... - disse.
Oliver balançou a cabeça negativamente.
-- Tu não me entende. - disse passando os dedos nos meus cabelos.
-- O que não entendo é esse rancor... Certo, ele não quis mais nada contigo, mas era para tu deixar isso de lado... Tocar a vida para frente! - ele murmurou.
-- Eu estou tocando sim a minha vida para frente! - irritei-me.
-- Não! Está somente jogando todo o seu rancor em cima daquele garoto. E o interessante nessa história é que ainda ama ele.
-- EU NÃO AMO ELE! - gritei.
-- Pode até dizer isso em voz alta... Mas eu vejo em seus olhos que sim, amigão. Está escrito na sua testa. - ele disse com a voz calma. - Até o modo como olha para ele.
Abaixei os olhos.
-- E o que acontecerá depois que se vingar? - Oliver cruzou os braços.
-- Isso não é de sua conta!!!
-- Eu só não posso deixar tu fazer isso... - continuou.
-- Chega! CHEGA DISSO! Se eu não o conhecesse pensaria que estava defendendo aquele fedelho...
Ele ficou parado fitando o vazio por uns segundos.
-- Eu só estou defendendo tu de si mesmo. - ele disse condescende estreitando os olhos castanhos mel.
Sai de lá quase o chutando de raiva. Subi as escadas, indo para o meu quarto. Tirei a minha roupa por que ela estava impregnada com o cheiro de Louis... Acalme-se... Precisas somente esperar. Tudo dará certo pensei comigo. Peguei a escritura do casarão dele, e o documento que o palerma do Vittorio assinou e tranquei no cofre. Eu pouco me importava com o dinheiro, claro. O resto que se dane.
Três dias depois, Signore Rafael me convidou para um grande almoço que ocorreria em sua casa, onde todos os nobres estariam lá, junto com o fedelho claro. Fui lá com um excelente bom humor, com um estranho pressentimento... Alice por sua vez abriu um sorriso tímido, e recolhido ao me ver. Alice era sim uma moça muito bonita. Era o tipo que era muito recatada, quieta, e muito gentil.
-- Si-Signore Lorenzo! Co-como vai? - ela sorriu corada.
Peguei a mão dela e a beijei.
-- Muito bem, grazzie. Não me chame de signore, por favor... Se me permite, continua ainda mais linda, se é que é possível... - sorri. Ela corou ainda mais. - Olá Rafael!
-- Bom dia Lorenzo!!! Seja bem vindo a minha propriedade... - ele apertou a minha mão. - Sinta-se a vontade.
Sorri e entrei no casarão. Era bem maior que o meu, claro... Era o tipo de lugar em que se sente oprimido por causa do luxo. Enquanto fui conversar com outros comerciantes, notei que Louis estava sentado com a filha em um sofá, ambos sozinho. O olhar dele era melancólico, e vago. Estava vestido de azul escuro com dourado. Sai de lá de onde estava, e fui cumprimenta-lo.
-- Bom dia. Como vai? - disse. Ele ergueu o rosto e suspirou.
-- Estou bem, obrigado. - murmurou em uma voz indiferente.
-- Acho que depois de nosso último encontro... Devo desculpa. - falei dom falsa cordialidade.
-- Sim, senhor Montefiore. Eu já devia estar acostumado com o seu gênio... Por isso não precisa se desculpar. - ele disse beijando a bochecha da menina.
Ri um pouco.
-- Como vai Vittorio? - perguntei.
Ele arregalou os olhos verdes me fitando.
-- Ele vai bem sim... Conheceram-se? - Louis perguntou desconfiado.
-- Sim. Tive a oportunidade de sermos apresentados. - sorri cínico.
-- Hummm... Lorenzo, só me responda uma coisa... Ainda me ama? - ele perguntou.
-- Sim...
Louis abaixou a cabeça.
-- Pois saiba... Que eu também o amo. O amo muito. - ele sussurrou.
-- Sinto-me feliz por isso. Eu vou ter que sair... Mais tarde conversamos - disse sorrindo, saindo de perto dele.
Sentei-me perto de Alice, que mais escutava do que falava, sempre respondendo com gentileza e medo de me contrariar em opiniões. Foi quando ela começou a falar.
-- Lorenzo... E-eu... Eu não sei se é c-certo uma dama fa-falar assim com um cavalheiro, m-mas... Tenho que lhe confessar.
-- O quê foi Alice? - disse sorrindo.
-- Eu... Estou en-encantada por ti. Mesmo nos tendo falado po-pouco e só uma vez... - ela falou vermelha. - Eu não de-deixei de pensar em tu... E no seu sorriso.
-- Alice... Não sabe do que está falando. - disse.
-- É verdade. Mas meu coração... Diz que és para mim, o ideal... - ela disse acanhada. - Oh me perdoe... Me perdoe... Eu não deveria falar isso! O que deves está pensando de mim? Com licença.
Ela saiu sem jeito. Aquilo me surpreendeu... De verdade. Louis nos observava de longe, curioso com uma expressão desafiadora. Ele detestava Alice, tendo uma vez se referido a ele de mosca morta, o que era meio incompreensível por que ela era uma das poucas que sempre quis ter uma amizade com ele. Foi ai que uma luz clareou minhas ideias: Alice se apaixonou a primeira vista por mim, e se...
Caminhei até o Signore Rafael, e contei a ele. Surpreso e admirado, ele aceitou de praxe com uma felicidade calorosa nos olhos. Depois de um tempo a longa mesa ao ar livre, enquanto todos comiam alegremente, Louis mantinha um sorriso deliciado no rosto. Foi quando o anfitrião se levantou e eu também.
-- Caros amigos e amigas... Tenho uma grata notícia para lhes dizer... A palavra é toda sua Lorenzo.
-- Bom dia a todos. Hoje é um dia perfeito para a novidade que gostaria de compartilhar entre vós... E é ainda mais perfeito para mim. - vi todos os rostos curiosos, e principalmente o do fedelho. - Alice, quero que saiba que nada me deixaria mais contente... Mais realizado e plenamente satisfeito... Caso aceitasse o meu pedido. Queres se casar comigo?
O choque e admiração varreu a mesa entre “Ahhh’s” e Ohhh’s”. Ela estremeceu o rosto de alegria, com os olhos lacrimejando.
-- Sim!!! É claro que sim!!! – ela disse sorrindo.
Ela não se aguentando de felicidade, me deu um abraço. Por cima do ombro dela, vi Louis com uma mão na boca em um choro silencioso me fitando em desespero... Ele saiu da mesa, deixando a menina aos cuidados da criada. Ninguém reparou na saída dele. Depois dos devidos parabéns e do acerto de certos assuntos a respeito do casamento, fui para dentro do casarão.
Enquanto eu andava para o corredor, uma mão me puxa com força pela gola da camisa e me joga numa poltrona. Era Louis. Ele trancou a porta da biblioteca com os olhos vermelhos e as bochechas rosadas...
-- Como se atreve a fazer isso comigo?! – ele disse em uma voz rouca pelo choro.
-- Fazer o que? – perguntei.
-- Me afrontar dessa maneira... Como pode pedir em casamento aquela imbecil? – murmurou.
-- Eu gosto dela... E ela de mim. – falei. – E não fale assim de Alice.
-- MENTIRA!!! – ele gritou. – E QUEM PENSA QUE ÉS PARA ME PROIBIR? EU ABRO A MINHA BOCA PARA FALAR O QUE EU QUIZER!
-- Abaixe o seu tom de voz comigo fedelho. – disse rancoroso.
Ele se virou de costas mordendo o punho controlando o ódio...
-- Está cometendo um grande erro Enzo... Não pode se casar com ela!!! Tu és meu!!! – ele virou se de frente levantando a sobrancelha.
-- Eu sou seu? Por favor, conte outra. – ri.
-- Não ria de mim! – ele falou furioso.
Encarei o rosto dele.
-- Vai ser mesmo feliz com aquela parva? Duvido que goste dela... – ele disse sorrindo. – É só uma pequena idiota que fica pelos cantos, sem nenhum traço de opinião própria que só diz “Sim senhor”, “Não senhor”, e tem medo dos outros.
-- Eu vou sair daqui. – disse me levantando.
-- VAI FICAR AQUI E ME ESCUTAR! – ele me deu um leve empurrão com a perna. Ele colocou o pé justamente no meu pau fazendo uma leve pressão, e levantou o saiote mostrando o laço de cetim azul dos meiões que marcavam as cochas. Aquele lugar e aquela situação me excitaram bastante... Ele deu um sorriso tão malicioso... – Com eu suspeitava. – ele tirou o pé de lá.
-- O que?!
-- Não dou nem um mês e vai correndo atrás de mim! – ele riu orgulhoso.
Levantei e agarrei os ombros dele com força.
-- Agora é a minha vez de falar. Se pensa que sou o mesmo homem que ficava correndo atrás de tu que nem há três anos atrás está muito enganado!!! Aliás, é muito melhor eu casar com Alice. Tu és um desvio de caminho Louis... Uma praga, uma doença que infecta os outros... Não passa de uma aberração em minha vida, e uma mancha na minha história!!! – disse entredentes. – Não passa de um erro em forma de carne e osso que por uma infelicidade da natureza ainda insiste em viver.
Ele com os olhos vermelhos de raiva me deu um tapão tão potente que me fez virar o rosto.
-- Posso até ser... Mas tu és um erro tão grande quanto eu! E é desse erro que estamos unidos – ele deu uma cuspida na minha cara, deixando a biblioteca em lágrimas de ira.
Limpei o meu rosto, sentindo raiva na mais absoluta potência. Agora sim eu queria acabar com a raça dele... Voltei para festa e percebi que ele tinha ido embora. Fiquei lá por um tempinho, entre conversas com o Rafael, e cortejando Alice que parecia em um estado máximo de alegria. Depois disso, fui para minha casa.
17 dias se passaram... Nada de relevante aconteceu. A não ser mais e mais detalhes de casamento que deixei tudo a encargo de Alice. Estava na hora do último cheque mate. Fui primeiro ao tribunal de Florença, pedindo uma autorização para o meu ato. Tudo precisava ser calculado. Com o petição pronta, fui a cavalo no casarão dele.
Era por volta das 10h da manhã provavelmente. Bati na porta, com suavidade e sorriso no rosto. Lorena, a criada, abriu a porta.
-- O que o Signor deseja? – ela perguntou.
-- O Monsieur Saint-Clair está aí?
-- Sim... Desejas falar com ele?
-- É... Um assunto do interesse dele. – falei.
-- Acompanhe-me! – ela me guiou até a sala de visitas. Momentos depois chega Louis.
Ele me encarou incrédulo.
-- O que estás fazendo aqui! – ele disse irritado.
-- Negócios. Nada mais além disso. – falei sentando-me na cadeira.
-- Negócios? Não tenho negócios para resolver contigo! – ele disse arrogante.
-- Há tem sim... E tem uma dívida a me pagar.- falei.
-- Dívida? Que dívida? – ele disse agressivo.
-- A dívida que seu cunhado tem comigo... – falei apresentando o documento assinado por Vittorio. Ele pegou arrogante e começou a ler... A cada linha o rosto dele empalidecia, e os olhos ficando de um verde opaco.
-- Isso não é possível! É IMPOSSÍVEL! – ele me olhou firme.
-- Sim... Dei o empréstimo de 5 mil florins de ouro para ele... E quero o meu dinheiro. Sabe o que acontece com quem não paga, certo? – sorri.
-- Arma-te isso não foi? SE APROVEITOU DA SITUAÇÃO DELE SÓ PARA ME DESTRUIR!!! – ele gritou.
-- Por que eu faria isso? – disse dando os ombros.
-- Não vai cansar até me destruir... O que você quer? – ele falou.
-- O meu pagamento... Detalhe... Vão ter que sair de minha casa. – disse sorrindo.
-- Que casa? – ele perguntou.
-- Esta, onde tu dormes. – sorria.
-- Não... NÃO! Essa casa é minha! – ele bateu com a mão no peito.
-- Não é não... – Peguei a escritura. – Paguei a sua dívida e como consequência adquiri a escritura... No total são 15 mil florins de ouro que me deve... – falei.
Ele ficou de boca aberta por uns 3 minutos.
-- Não pode ser possível... Isso não está acontecendo. – ele falou passando os dedos nos cabelos.
-- Está sim... Pode apostar. – falei.- Tu tens até o por do sol para sair desta casa... Se não chamarei a guarda e atirarei suas tralhas para fora.
-- Para onde eu e minha filha iremos? – ele perguntou chorando de ódio.
-- O problema é seu... Não é meu.
-- É um monstro Enzo!!! UM MONSTRO!!! VAI SE ARREPENDER POR ISSO!!! – ele gritou.
-- Até o por do sol Louis... E irei lhe dar o prazo de três meses para pagar a divida... Se não vai ver o seu cunhado dançar com as pernas no ar. – disse saindo de lá com o gosto da vitória reverberando de dentro para fora, atingindo o seu ápice.
Fui para casa e ordenei a cozinheira que preparasse o banquete para todos os criados, por que era um dia de celebração... Depois de muita comilança e bebedeira, fui para a cama, satisfeito, e plenamente realizado. Eu conseguira... SIM!!! Eu conseguira!
Três dias depois, toda a sociedade de Florença soube da derrocata de Louis, a notícia tinha se espalhado tão rápido como fogo em palha seca. Soube que ele estava em uma pequena casinha que era da criada e que vendera todas as joias que tinha, ficando sem nenhum tostão no bolso. Era um final de tarde, onde o céu apresentava tons de lilás, laranja amarelo e nuvens cinzas anunciando uma chuva forte... Estava cavalgando, quando parei para ver uma cena.
Louis estava andando devagar, em passos lentos, com a roupa rasgada e suja... O rosto com aspecto cansado e com olheiras, com as mãos tremendo. Ele se agachou no chão, arrancando uma cenoura no chão, e limpando-a com as mãos tirando a terra e devorando... Estava com fome... Muita fome.
Ele simplesmente desabou na terra, completamente humilhado... Sem nada... Aquilo me chocou de uma forma violenta. Com os braços e pernas fracas ele começou a levantar do chão, com um punhado de terra na mão erguendo para o céu e depois batendo no peito.
--POR DEUS EU FAÇO ESSA PROMESSA...POR DEUS EU JURO!!! ELE NÃO VAI ACABAR COMIGO!!! PASSAREI POR CIMA DELE E QUANDO TERMINAR, NUNCA MAIS IREI SENTIR FOME!!! NEM EU NEM MINHA FILHA! MESMO TENDO QUE MATAR, MENTIR, ROUBAR E ENGANAR... – ele gritou sozinho, com o choro limpando o rosto sujo - NÃO ME IMPORTA O QUE ACONTEÇA, POR DEUS EU PROMETO, ELE NÃO VAI ME DESTRUIR!
CONTINUA.
Rsrsrs e ae galera? Mt foda né? Essa ultima cena ae, tive uma inspiração clássica kkkkkkkkk os cult’s do cinema me compreendem. Enzo cumpriu a vingança dele... Louis está sem nada... Agora o bicho vai pegar tchê! Um abraço a o Taz e ao Edu... Vcs são demais tchê!