O namorado de minha amiga (parte 09)
Como sou uma pessoa boa, eu aumentei esse conto para vocês aproveitarem mais! Boa leitura e beijos *-*
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Acordei ontem meio quebrado depois daquela noite de insônia braba de quarta pra quinta. Depois do café fui para o ponto como de hábito. Tomei meu ônibus e estava distraído com o fone no ouvido quando percebi o carro de Marcelo ao lado do ônibus. Ele olhou pra mim, sorriu, acenou e com o indicador fez sinal para eu descer do ônibus na próxima parada. Bom, nem precisa dizer que dei o sinal e desci na parada seguinte. A galera do ônibus ficou olhando e não entendeu nada. “Ainda bem que você entendeu, Coelhinho”. Disse Marcelo abrindo a porta pra mim. Subi e ele me fez um carinho na cabeça. “Quase eu não te pego, não é?” Ele falou. “Se eu não olho pra fora nem ia vê-lo. Como a gente nem combinou nada eu fiquei surpreso” respondi. “Eu quis fazer uma surpresa”. Ele disse sorrindo e perguntou: “Em que você estava pensando? Você parecia tão distraído!”. “Não lembro!” Respondi, na verdade nem sei no que pensava mesmo.
Conversamos mais um pouco até o meu trabalho e quando lá chegamos, ele perguntou se eu poderia almoçar com ele e respondi que sim, mas que me pegasse na garagem e que me desse um toque no celular quando houvesse chegado. Assim ficou combinado, ele me deu um beijo no pescoço e desci. Antes disso ele lambeu o polegar da mão direita, segurou minha cabeça com a mão esquerda e limpou do meu queixo um pinguinho de dentifrício que eu deixei na hora que escovei os dentes e deu um sorriso.
O dia foi tranqüilo até a hora do almoço e quando deu 12h15 ele me ligou dizendo que ia se atrasar um pouco porque tinha que trocar um pneu. Perguntei se ele precisava de ajuda ao que ele respondeu que não e que não demorava; chegaria nos próximos 20min e se despediu no final dizendo “beijo”. Esse beijo deve ter saído como o primeiro, de forma quase que involuntária. Aproveitei o tempo para verificar meu e-mail, não estou tendo mais livre acesso à Internet na empresa, um cara da xerox foi pego colecionando fotos de mulheres nuas no HD do computador e enviava para a galera de vez em quando.
Na primeira vez que ele me enviou eu bloqueei seus e-mails dele não recebi nada mais, mas a galera continuou recebendo. Ele foi mandado embora por justa causa, e o pior é que o coitado tem um filhinho recém nascido, que droga não é? A gente fez aqui uma vaquinha e arrumamos umas pilas pra ele e esse dinheiro deve dar pra ele pagar o próximo aluguel. Acho esse lance de mandar embora muito forte, deveriam ter repreendido, sei lá, mas demitir, poxa vida. Bem, mas em razão desse episódio não podemos ter acesso livre mais, só na hora do almoço e tudo que acessamos parece controlado “pelos homenzinhos verdes” hihihihi.
Estou feliz porque entre os e-mails que recebi há um da Lu, (Claudinho, tudo bom? Desculpa nem tem te ligado mais, mas minha avó está reagindo muito lentamente à quimioterapia, embora pareça melhor. Eu devo ficar mais uns quinze dias e só volto lá pelo dia cinco de maio, mas se ela melhorar eu volto antes. Manda um beijo pra todo mundo da turma e feliz aniversário, desculpe, mas sei que você vai entender eu não estar aí no dia. Beijo. A avó da Lú foi quem a criou, eu a conheci, Dona Norma, muito legal ela e fico feliz ela estar melhorando. Gosto da Lú apesar do mau humor dela, às vezes. Fico feliz porque ela, quando recebeu a notícia, parecia muito mal mesmo.
Bem, Marcelo não demorou e saímos para almoçar, durante o almoço tive vontade de contar a ele que a Lú me havia enviado notícias, mas ponderei talvez não ser oportuno porque dela ele quase nunca fala e ainda deve estar magoado com ela. Sim eu acho que ele está magoado pela ausência prolongada e a falta de notícia, ao menos é o que imagino, mas não devo perder tempo pensando nisso, é um assunto deles com o qual nada tenho que ver. Marcelo parecia tranqüilo e até mais solto comigo, brincamos um pouco conversamos sobre o que eu queria fazer na sexta. Eu disse que na verdade só desejava um dia tranqüilo e nada mais.
“Você sempre está satisfeito coelhinho? Não quer ganhar nada de presente?” Perguntou-me ele. “Eu dou valor a tudo que me dão, pode até ser uma meia o importante é que seja de coração” respondi. “Isso é legal! Você não existe, Coelhinho” ele disse sorrindo. Na verdade faz muitos anos que desisti de pedir o que quer que fosse por vários motivos, primeiro porque a gente pode escolher uma coisa que seja cara pra quem quer dar, segundo porque não é legal criar expectativas, elas podem não ser correspondida e terceiro porque eu adoro surpresa. Por isso aprendi a gostar do que ganho e nada pedir. Acho melhor assim. Precisar? Claro que eu preciso, e como preciso, (estou precisando de um par de tênis novos, de uma mochila nova, o mp3 foi pro pau e está na hora de comprar outra jaqueta hahahahah).
Preciso de muita coisa, mas ia ser chato pedir algo, esperar e não receber. Depois do almoço demos um passeio no shopping e encontramos com uma amiga da Lu, “A Luiza vai ficar mais tempo lá em BH né?” Ela disse a Marcelo que não pareceu à vontade com a pergunta e respondeu um simples “To sabendo”. Então ele já sabia, devo entender que ele não está tão sem notícias assim. Porque não me conta nada? Pensei que como a Cris é meio chata ele, na verdade nada sabia, e disse que já sabia só pra cortar o papo. Não sei o que pensar, mas percebi que ele não alterou o comportamento com essa informação e não sei o que pensar disso.
Depois desse passeio ele me deixou no estágio e nos despedimos. Ele disse para eu o esperar depois da facul. “Não inventar de tomar carona com nenhum Rubinho da vida por aí não, senão...” Disse ele. Completando com um rosnado de cachorro e soltando um sorriso lindo pra mim. Sorri em resposta e dessa vez fui eu quem tomou a iniciativa de beijá-lo no pescoço dele. (Adoro o cheirinho de sabonete que ele tem de manhã cedo) Notei pela sua expressão que ele gostou porque ele conteve um sorriso como que querendo esconder que havia curtido, mas eu vi que ele gostou. Será que estou ficando “oferecido???.
O resto da tarde foi meio estressante, mas tudo bem. Fiquei chateado com a notícia de que alguns estagiários não teriam o contrato renovado na semana que vem e fiquei receoso, preciso desse dinheiro pra pagar a facul; seria um espeto ficar sem ele, isso ficou martelando na minha cabeça, mas procurei não grilar demais, do contrário eu piro. Fui pra facul e a aula foi tranqüila; quando saí, Marcelo lá já estava esperando, no lugar de sempre. Ele acenou para mim e eu devolvi.
A alguns passos antes de chegar perto dele ele começou fazer umas gracinhas do tipo, apontava pro Rubinho que estava de costas para ele e fazia sinal que ia dar porrada nele hehehe, imitava uma arma com a mão fingindo que ia atirar na cabeça dele, fazia a mímica de tirar o pino de uma granada com a boca, jogar nele, fechar os olhos e tapar os ouvidos, coisas que adolescente faz; eu devo confessar que eu acho isso muito fofo, eu adoro as bobeiras que ele faz, vocês precisam ver ele imitando aquele leão da Metro Goldem Meyer (acho que se escreve assim) que aparece nos filmes, vocês iam morrer de rir.
Ele é realmente muito bobo e descobri que eu amo isso e quanto mais eu acho graça mais ele faz bobagens. Quando já estava perto dele e me preparava para dar lhe dar um abraço, duas colegas que estavam atrás de mim, apressaram o passo e perguntaram se podiam pegar carona comigo, eu respondi que tinha quer perguntar para o meu amigo. Que situação chata, não curto isso, fiquei imaginando que Marcelo não gostaria como de fato não gostou. E me senti responsável, mas não sabia como agir. “Você dá uma carona pra gente também” Lucélia perguntou. Marcelo olhou surpreso para ela e para mim e disse um sim que veio acompanhado com uma cara de quem não curtiu muito. A amiga da Lucélia (não sei o nome dela) se adiantou, abriu a porta da frente e sentou-se ao lado do carona que vai junto ao motorista, no banco da frente.
A mim restou sentar atrás com Lucélia. Mulher sempre acha que o banco da frente é delas, já notaram isso? Marcelo olhou pra ela e perguntou pra mim porque eu sentei atrás, eu disse que estava bem e saímos. (Oras, eu sentei atrás porque a garota, praticamente, passou por cima de mim para sentar ao lado de Marcelo), mas fiquei calado. No trajeto essa garota puxou conversa o tempo todo com Marcelo que se limitou a responder pelos monossílabos sim não. Ele me olhava pelo retrovisor às vezes e eu dava meus sorrisinhos sem graça para ver se a cara dele melhorava, ele me piscava o olho, mas era fato que ele estava desconfortável com aquela garota chata que ficava perguntando, onde ele morava, se ele era primo de fulana, se conhecia beltrana e que achava que o conhecia de algum lugar.
Deixamos Lucélia em sua casa e processeguimos. Quando chegamos Perto da minha rua ela ainda não havia descido só daí perguntei onde ela morava e ela respondeu que no mesmo bairro que Marcelo; não fiquei feliz com isso, ela ia acompanhá-lo até sua casa praticamente. Bom, quando chegamos à minha rua pedi para Marcelo parar e desci. Marcelo permaneceu mudo. Era visível a satisfação na cara da garota.
Despedi-me de Marcelo com um aceno e atravessei a rua, quando já estava em frente ao meu prédio ouço Marcelo me chamar, voltei ao carro e perguntei o que foi: “Claudinho, vamos comigo deixá-la em casa e aí eu volto aqui para te trazer” ele disse, Meu coração esquentou naquela hora. “Tudo bem, respondi e abri a porta de trás para subir”, “Claudinho” chamou novamente Marcelo e emendou, “aqui na frente comigo” disse ele. A garota ficou sem entender e sua cara mostrava que ela não estava acreditando no que ouvia. “Você se importa em ir lá atrás?” Perguntou Marcelo a ela que respondeu com cara incrédula e visivelmente contrafeita “Não, tudo bem!” Desculpem-me a maldade, mas eu me senti vingado.
Ela sentou-se lá atrás e ficou muda e perplexa. Sentei ao lado de Marcelo que mudou o comportamento na hora; me perguntou sobre meu dia, o estágio, como tinha sido na facul... olhando para aquele cara solto, sorrindo pra mim e brincando eu tive vontade de gritar bem alto: EU TE AMO!!!. Sei que não sou a namorada dele, eu sei não sou a Lu, sei que culturalmente temos que dar a vez às mulheres, mas ser preferido daquela forma, ver aquela folgada indo calada para o banco de trás, me fez uma massagem poderosa no meu ego (Desculpem-me a franqueza). A menina foi assustadíssima olhando para nós dois. O que será que passou pela cabeça dela hein???
Pouco à frente ela disse que ia dormir na casa de uma “tia”, no mesmo bairro onde moro, menos que meio quilômetro à frente, desconfiei que dessa história, aliás, desconfiei de tudo em relação a ela. Bom, a deixamos na casa da “tia” dela e ela ao descer, bateu com força a porta, não olhou pra gente tampouco agradeceu, Marcelo tentava esconder um sorriso no canto da boca. Ele olho para mim e disse: “GELADEIRA PARA TODOS” e riu. Retornamos para minha rua e Marcelo deixou o carro no lugar de sempre, do outro lado, em frente ou meu prédio. Conversamos mais um pouco, ele me contou como havia sido o dia dele e eu falei mais sobre o meu, Olhei para relógio e já era hora de entrar, Nos despedimos com um abraço e subi. Da varanda acenei para ele que foi embora. Esperei Marcelo me ligar, mas assim não aconteceu. Pensei que pudesse ter ocorrido algo e , depois de duas horas, telefonei, nunca se sabe ainda mais à noite. Ele não atendeu. Não quis ligar no fixo para não acordar seus pais. O que terá ocorrido? Durante a noite acordei muitas vezes assustado e tentei telefonar, mas não consegui falar com ele.
Hoje, sexta, tomei a condução até aqui e vim no caminho procurando o carro dele no trânsito sem sucesso; Minha chefe me deu um esporro, sem motivos, assim que cheguei. O celular dele não atende e ele não foi trabalhar hoje, deixei recado com a empregada da casa dele que disse que ele havia saído, Meus pais saíram cedo antes de mim e deixaram uma lista enorme de coisas para eu providenciar. Esse aniversário está sendo um inferno. Será que fiz algo errado? Onde ele estará? Poxa vida.
A sexta foi de um amargor incomum. Não conseguir falar com Marcelo todo o dia e ele comigo também não. Deixei recado no seu trabalho, mas de lá soube que ele não havia ido trabalhar. Em sua casa também não estava, segundo a empregada ele saiu cedo.
Pensei em Marcelo a cada minuto da manhã, mas às vezes entendia que ele não tinha obrigação alguma em lembrar do meu aniversário. Mas porque isso me doía? Porque esperar por algo que nem mais esperava que ninguém lembrasse, desde cedo percebi que não deveria aguardar que no meu aniversário haveria presentes ou mesmo festa de aniversário.
Durante certo tempo a inveja me acompanhou quando eu via a forma como meus pais tratavam minha irmã e a diferença que existia em relação a mim, mas isso não é uma queixa, a eles devo tanto que nem imagino como retribuir. Bem, para além do fato de não conseguir falar com Marcelo ainda por cima levei um “esporro” imenso da minha supervisora, injustamente, e por uma coisa que não era responsabilidade minha, mas como preciso desse estágio, procurei ignorar o quanto estava me sentindo mal e me dediquei ao trabalho, embora estivesse aborrecido. Por volta do horário do almoço tentei falar novamente com Marcelo, mas pelo celular e pelos telefones do trabalho e da casa dele não consegui. Fui almoçar triste e mais triste voltei, parecia que estava faltando algo dentro de mim.
A tarde foi mais triste que a manhã, não pelo fato dos problemas com minha supervisora que, indiretamente, me ameaçou não indicar minha recontratação nesta semana, tampouco pelos desaforos que ouvi das pessoas que atendi, e muito menos pelo fato de ninguém lembrar do meu aniversário, mas por Marcelo não haver falado comigo, meu Deus, quando foi que comecei a me importar novamente com isso? Pensei no que esse moço estava fazendo comigo, como era doce estar perto dele e como gostava de sua atenção tão próxima e como doía quando estava longe dele e com ele querer falar e dele a voz quere ouvir e não conseguir.
Saí do estágio e pensei que ele pudesse querer me fazem uma surpresa, nessa expectativa desci até a garagem e lá esperei por uns 20min, talvez mais, mas tive que ir embora porque do contrário iría entrar muito tarde na aula. Fui pra facul e mergulhei numa aula chata, aborrecida, monótona ao ponto que se me perguntarem o assunto não sei explicar direito, Marcelo ocupou meus pensamentos o tempo inteiro. Não vi aula terminar e quando saí o pensamento que ele poderia estar me esperando no estacionamento me aqueceu o coração, acho que sorri nesta hora, não sei ao certo.
Quando lá cheguei esperei por meia sem nada acontecer; meu telefone não tocou, o dele parece que não funcionava. O sentimento de haver sido esquecido causa um travo de amargor na boca que não é fácil suportar. Quando vi que o estacionamento já estava ficando muito vazio pensei que melhor seria voltar logo para casa. No ônibus de volta vim buscado Marcelo pelas ruas, estava distraído com o pensamento preso a ele em nada mais pensava, tanto que errei a parada e desci dois pontos depois do meu.
Quando cheguei à casa. Fui à cozinha comer alguma coisa, havia um bilhete na porta da geladeira “Feliz aniversário, Cláudio meu filho, há comida no forno. Porque você demorou? Amanhã conversamos, beijo, sua mãe”, Meus pais devem ter me esperado e concluído que da facul eu sairia com meus colegas para algum lugar e então resolveram dormir. Não fui até o quarto deles porque temos um proceder faz muitos anos. Quando meus pais vão para o quarto eu não devo ir até lá e assim permanece desce que eu era criança. Engraçado eles terem pensado nisso, se é que assim imaginaram.
Nunca tive muitos amigos, sempre fui meio tímido e retraído, sempre tive certa vergonha e isso me atrapalhou por toda adolescência; fui muito sozinho e a meus poucos amigos nada de muito íntimo jamais contei, talvez por vergonha, talvez por saber que não teria mais a amizade deles se soubessem algo mais revelador sobre mim, talvez as duas coisas, mas com certeza tinha muito medo de que alguém contasse aos meus pais que nasci assim, diferente. Guardava até pouco tempo, com certo ressentimento, uma cena em que meu pai conversava com um colega de trabalho, faz alguns anos, que havia descoberto que seu sobrinho era gay. “Prefiro ter um filho morto que um filho viado!” Isso me dói até hoje porque. Ele me preferiria morto mesmo se soubesse algo de mim, vocês têm idéia do que é ouvir isso aos sete anos de idade?
De qualquer forma sempre senti meus pais mais próximos de minha irmã e só os percebi mais atenciosos comigo quando ela se casou e foi embora, faz certo tempo. Minha mãe até parece estar mais próxima de mim, mas nem de longe de como foi com minha irmã. Não estarem acordados para me receberem me pareceu perfeitamente comum. Bom, resolvi tomar banho e me deitar, a fome havia passado, me faltava sono também, pensei em tentar falar com Marcelo, mas desisti, já era quase meia noite. Durante o banho comecei a chorar pensando em Marcelo, e imaginando o que teria ocorrido e o porque daquele silêncio.
Pensei em ter dito algo que o magoou ou mesmo ter deixado de ser alguém interessante. Imaginei ser menos do que o pouco que me considero ser e isso me fez muito mal, chorei muito. Sai do banho e fui para meu quarto, fiz minha oração, como de costume e agradeci a Deus por poder estar na facul, poder pagála e por ter completado mais um ano de vida. Pensei nos percalços da minha vida e vi que não podia reclamar porque contrariando todas as previsões eu tinha conseguido muitas coisas.
Deitei e fiquei “fritando” na cama um pouco pensando em Marcelo e no quanto gostava dele, havia decidido nada dizer sobre o fato dele não lembrar do meu aniversário, Havia tempo não mais me importava com fato das pessoas não lembrarem porque me importaria com isso? “Porque esse moço é especial para você com ninguém jamais foi” ouvi meu coração dizer. Lembrei dos momentos bons que passei ao lado dele e de como eu havia melhorado como ser humano nesse contato que tenho tido com Marcelo. Ver a forma como ele ama aos mais e amigos me fez amar mais os meus e a ser mais grato por tudo que fizeram por mim.
Acho que era meia noite quando ouvi da sala os acordes de Creep do radiohead, uma das minhas canções favoritas. Não acreditei. Eu comecei a chorar convulsivamente e pulei da cama. Amigos, quando eu cheguei à sala meus pais, o Marcelo, a Lucélia, o Pedro, alguns dos meus poucos amigos, o Gutão, o André lá estavam e quando apareci gritaram: “Surpresaaaa, Feliz Aniversário!!!” Eu não consegui parar de chorar, a emoção foi muito forte, eu abracei meus pais como nunca havia feito antes. O Gutão me deu um abraço e eu nunca gostei dele tanto quanto naquele momento, abracei a todos um por um, com vergonha por estar chorando, rindo ao mesmo e sento zoado por todos.
“Pensou que a gente ia esquecer não é?” Disse o Gutão enquanto ajudava a trazer um bolo com aquelas velinhas engraçadas que parecem fogos de artifício e são difíceis de apagar. Nunca na minha vida havia tido uma festa de aniversário, quanto mais uma surpresa daquelas (no máximo um passeio no parque quando era criança e um presente ou outro, mas nada tão caloroso quanto aquele momento) Vocês sabem o que isso significa? Havia umas trinta pessoas na minha casa que foram me ver, e eu nem pensava ter essa importância, vocês imaginam o que isso foi pra mim? Eu me permiti a vaidade de me sentir popular hehehe.
A última pessoa que abracei foi Marcelo que estava lá atrás me olhando e sorrindo enquanto eu passava por todos abraçando. “Achei que você ia esquecer de mim” disse ele. “Como é que eu posso te esquecer” eu devolvi. Dele recebi um abraço forte e naquele momento eu acho que poderia morrer ali, naquela situação, nos braços dele, sentindo o perfume dele que tanto me entorpece. “Vamos cortar o bolo” disse minha mãe que parecia outra pessoa, meu pai também estava muito à vontade com aquela festa depois do horário como ele diria. “Eu não sabia que você preferia uma festa.
Foi idéia do seu amigo Marcelo fazermos uma festa surpresa. Se eu soubesse que você gostava tanto teria feito outras” minha mãe me disse num sorriso, mas quando ela disse “eu te amo meu filho” eu não consegui segurar e novamente chorei; meu Deus eu devo tanto a esse mulher que nem deveria reparar no seu jeito rígido. “Nós marcamos um futebol pro próximo final de semana no clube,” ouvi do meu pai. Marcelo Guto e meu pai estavam marcando de irem jogar juntos. Para onde isso vai? Os três são corintianos demais da conta. O que está acontecendo? Minha mãe me contou que Marcelo e meus amigos estavam preparando essa festa faz uma semana e que ele era um bom menino e coisa e tal.
Senti duas coisas, felicidade e receio por aquela proximidade. Na hora do famoso primeiro pedaço Guto fez graça dizendo sorrindo que dessa vez não queria e que deixava eu dar para outra pessoa, ele é uma gracinha, engraçado o tempo todo e ninguém nunca fica triste ao lado dele. Eu olhei para Marcelo e acho até que dei uma bandeira imensa, não sabia como me livrar até que, providencialmente, meu pai disse “Vamos dar para o seu amigo Marcelo que organizou a festa” eu mais que depressa concordei, e dei um abraço longo dizendo baixinho, “obrigado”. Como já era tarde da noite, embora sexta-feira. Guto disse que era melhor a gente ir andando para meus pais dormirem; eles dormem cedo mesmo e isso desde sempre.
Fiquei admirado os vendo de pé até àquela hora. Todos já saíam quando Marcelo chamou meus pais e disse “eu vou seqüestrar seu filho pra dar uma volta com a gente, tudo bem?” Meu pai respondeu sorrindo: “Pode levá-lo, ele adora a “balada”, não é assim que chamam agora? Esse rapazinho esta festeiro demais, você credita que ele tem chegado tarde todos os dias, mas hoje eu deixo, amanhã é sábado”. E emendou: “Claudinho, meu filho, olhá lá, você sabe, cuidado” ouvi dele e completei dizendo junto com ele: “Usa camisinha!”, sorrimos juntos, isso não era muito comum.
Aquele sexagenário me surpreende às vezes; ele é tão rígido comigo, mas capaz de demonstrar um carinho imenso, mesmo que raramente. Troquei o pijama por uma camisa, jeans e tênis, boné e abrigo de frio e saímos Guto, Marcelo e eu. Guto queria que fossemos a uma festinha de um amigo dele, aceitamos e de lá escalamos em outro lugar. Sempre que encontrava alguém conhecido o Gutinho dizia: “hoje é aniversário dele” e eu era cumprimentado e abraçado, isso é bem próprio do Guto, ele é realmente um cara que eu adoro. Marcelo me pareceu um pouco mais calado e como se tivesse algo para me contar, mas nem pensei em perguntar, isso é com ele e não devo ser indiscreto, não o quero invadir, o máximo que fiz foi lhe perguntar o que havia ocorrido ao que ele respondeu que nada.
Foi uma noite muito legal, como sempre, mas apesar das piadas, das brincadeiras e dele estar, como sempre, atencioso e hoje até mais, senti que havia algo que ele queria dizer, mas respeitei. Estava tocando um trance irado, como diz o Guto e eu estava curtindo muito. A certa altura eu estava dançando com uma colega de faculdade que lá encontrei e percebi que Marcelo e Guto olhavam para mim. Guto disse alguma coisa no ouvido de Marcelo que concordou.
Dessa vez eu perguntei o que era e ele me respondeu “Estávamos comentando de você” “A sim? E o que era” eu quis saber. “ Que você parece um coelhinho mesmo, continua dançando que eu gosto de olhar” e sorriu, não quis me alongar no assunto mas senti carinho na voz dele. Mais tarde deixamos Guto em casa que já estava de pilequinho que nos disse: “Cuida um do outro” Diante disso nos entreolhamos e sorrimos. “Você já quer ir para casa?” Marcelo me perguntou, ao que respondi que à noite esta ótima e que queria ficar mais um pouco com ele. Ele sorriu e fomos para o Lago, para onde sempre vamos.
Lá chegamos e como estava muito frio permanecemos dentro do carro. “Obrigado, Marcelo” agradeci. “Você merece coelhinho, só foi duro não te ligar o dia todo, mas achei que se te ligasse ia acabar contando” Marcelo repondeu. “Cheguei a pensar que você havia esquecido” eu disse a ele que me perguntou:”Você ficou triste mesmo?” e completou é bom saber que você se importa”. Eu sorri e ele me mostrou uma embrulho de presente dizendo: “acho que você vai curtir” e sorriu. Fiquei sem graça e ao mesmo tempo surpreso. “Marcelo não precisava” eu falei e acho que estava visivelmente satisfeito e surpreso.
Galera eu ganhei um tocador de mp4. Marcelo gravou algumas das músicas que eu mais curto. “Você está com uma carinha tão feliz, Gostou mesmo!” observou Marcelo. Eu na realidade acho é que eu estava com cara de bobo, ele descobriu exatamente o que eu queria ganhar se tivesse escolhido. “Sabia que você ia gostar, mas eu não vou ganhar nem um abraço coelhinho” ele perguntou. “Claro que vai.” Respondi dando um abraço e, sem querer um beijo no pescoço dele. Dessa vez eu senti que ele se arrepiou e me olhou de uma forma nova, meio sem jeito, meio envergonhado, mas sorrindo e parece que gostou muito. Na verdade eu queria era beijá-lo na boca, mas eu segurei não sei porque.
Ficamos ali conversando. Por volta das 5h ele me disse que ia me deixar em casa, mas dessa vez ele me disse no caminho que ia voltar novamente com seu pai à casa de sua tia no interior para ver como ela passava e talvez trazê-la para fazer uns exames médicos. “Bom então é melhor você ir para casa dormir” eu disse, ele quis ficar, mas achei mais prudente ele dormir melhor, a estrada é perigosa, sem acostamento e temi por ele guiando, cansado. Ele me deixou na porta do meu prédio e me deu um beijo na cabeça eu devolvi comum abraço e desci.
Subi para a varanda para me despedir dele como gosto de fazer e já se tornou habito entre nós. Assim fizemos, ele piscou os faróis e se foi. Vinte minutos depois nos falamos por telefone e mais uma vez agradeci a ele por haver me feito tão feliz como ninguém mais, ele ficou calado com isso, e ouvi o ar que sai pelo nariz quando um sorriso é contido. Depois de certa pausa disse “E te adoro, coelhinho, e acho que quem ficou mais feliz fui eu”. “Você não quer ir com a gente não?” Ele perguntou. Como era um assunto de família, e eu não sabia como a tia dele estava achei mais prudente não ir, ele insistiu um pouco e expliquei a ele que de início não aceitou, mas depois concordou comigo.
“Amanhã por volta das 9h eu passo por aí para me despedir” Nos despedimos e mais uma vez agradeci a Deus por haver me feito encontrar Marcelo. Dormi ouvindo as músicas que ele gravou para mim e no outro dia, como havia dito, ele e o pai aqui passaram para se despedir. “Tem café nesta casa?” O pai dele perguntou daquele jeito bonachão e se convidou para entrar, ele definitivamente não parece com um delegado! Conheceu minha mãe e meu pai, conversaram animadamente, acho que por serem da mesma idade têm muito em comum. “Quando ia embora o pai de Marcelo me abraçou e me deu um beijo a cabeça. “Eu a minha mulher gostamos desse menino aqui como um filho” disse ele.
Meus pais sorriram e não o sei o que pensaram, mas não acho que tenha sido nada de ruim. Me despedi de Marcelo com um abraço e como notei algo de diferente nele, ele embora de forma sutil, parecia preocupado com algo Será que já o conheço assim. “Tudo bem?” perguntei “Tudo, Claudinho” ele respondeu. Vai com Deus eu disse e recebi de volta uma piscadinha.
Eles partiram e passei o resto dia no quarto ouvindo as músicas que Marcelo gravou para mim, Quis escrever a vocês, meus confidentes, mas meu computador queimou a fonte, (a moça que trabalha aqui em casa, desconectou todas as tomadas para limpar e quanto voltou a ligá-lo o fez conectando o gabinete da CPU direto na tomada), quando liguei a fonte queimou, mas sexta, Gutão ficou de me trazer uma outra, usada, que um amigo dele pôde me emprestar até eu comprara outra. A noite Guto, telefonou a noite dizendo que Marcelo pediu para me avisar que só voltaria na terça.
E aproveitou para perguntar se eu não queria sair, agradeci e disse que ia ficar em casa. O domingo foi tranqüilo, tirando a saudade de Marcelo, mas tudo bem. Devo dizer que desde a festa meus pais estão mais atenciosos, meu pai conversa mais comigo e minha mãe me perguntou mais sobre meus amigos, coisas pouco comuns. Guto ligou no domingo a noite me chamou para sair novamente, mas novamente disse não e agradeci. “Eita coelhinho, só sai quando o Marcelo está aqui. Quer almoçar comigo amanhã?” Guto perguntou e aceitei, almoçamos daqui a pouco.
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Obrigado por tudo pessoal, fico feliz em saber que eu posso contar com vocês! E quem quiser me mandar email: