O condomínio do prazer

Neste condomínio residem pessoas extremamente interessadas em sexo. Sexo pleno e em sua forma literária. Porém, alguns problemas surgiram quando a qualidade das publicações começou a cair e brigas surgiram entre os moradores. Então, foi formada uma reunião de emergência entre os condôminos para que pudessem lavar a roupa suja, colocar o preto no branco, botar os problemas e as soluções no cara-a-cara. Os principais inquilinos compareceram com suas reivindicações e reclamações.

No apto. 101 mora a sra. Branca; no 102, o sr. Maduro; no 103, o sra. Pitanga; no 104, fabio; no 201, Matuto; no 202, SU; no 203, Topa Tudo; 204, tchellobs; 301 Eros Original, 302, rvarodrigo; 303 Leno; 304 negro tipo a; 401 MALDOSO; 402, Ana Danadinha; 403, casalvontade; 404 Flavinho Santana; 501, astronomo2006; 502 El Lobo; 503, Dödói; 504 Príapo; 601, Edu e Milene; 602 Flaviamel; 603 Tinhoso e no 604 o síndico, Eduardo Veríssimo.

O sr. Negro tipo a logo pediu a palavra:

- Olha, sr. síndico, o nível dos contos está caindo e o sr., como comandante deste barco, precisa fazer algo urgente.

- Como assim caindo?

- O morador do 502, por exemplo, o sr. El Lobo. Ele só publica contos horríveis, escatológicos, violentos, onde as pessoas aparecem comendo merda e dando porrada umas nas outras.

- Hummm... o sr. Negro tipo a acabou de nos dar uma grande idéia – disse os moradores do 601, o casal Edu e Milene. – Devíamos então fazê-lo comer seus próprios escritos e por fim montar um corredor polonês, por onde ele deverá passar, até o olho da rua, que é pra onde ele deve ir!

- São medidas extremas, sr. Edu e sra. Milene. Temos que colocar esse assunto em votação.

- Eu até saio, mas vou ter que procurar um lugar antes pra ficar – disse o autor dos contos “Estuprando a escoteira” e “A vingança do aidético”.

- Sr. El Lobo, parece-me que o sr. Sergio-DF, ex-morador deste condomínio subloca quartos em sua residência lá na Ceilândia, em Brasília. Um bom lugar pro sr., já que vai estar morando com um dos maiores comentaristas literários do Brasil. Normalmente aos sábados ele está com uma puta dor de barriga, e aí, meu amigo, você aproveita e escreve seus contos já com conhecimento de causa. Se não der certo, a porrada come e ainda assim fica bom, pois essa também é a sua área, até onde eu sei.

- Eu queria protocolar uma reclamação contra o sr. Maldoso, que só dá zero para os contos alheios e em contrapartida escreve uns contos fracos pra cacete – levantou a voz o sr. Matuto.

- Verdade, sr. Caipir... ops, digo, sr. Matuto. Inclusive o sr. Maldoso está com vários aluguéis atrasados aqui no condomínio. O que o sr. diz em sua defesa, sr. Maldoso?

- Eu me cago pra você e pro Capiau... digo, pro Matuto! Eu tenho minhas dificuldades financeiras sim, mas estou correndo atrás. Estou até pensando em publicar um livro de contos eróticos. Quero que se danem vocês todos! Terrível! Zero pros dois, palhaços!

- Bom, podemos avaliar que como escritor o sr. Maldoso é um péssimo comentarista.

- Oi – apareceu no tumulto uma sensual voz feminina – eu posso dar...

- Silêncio, deixem a sra. ali do canto se expressar.

- ...dar minha opinião? [ahhhhhh...]

- A sra. é?...

- Flaviamel.

- Não, não pode.

- Por que não?!

- Porque a sra. apaga sempre todos os comentários que deixam nos contos da sra.

- Isso mesmo, um absurdo! – disse Branca, uma outra moradora.

- Dona Branca, a sra. por favor contenha-se.

- E a sra. que nunca escreveu nada e só mete o pau no conto dos outros? – disse Flaviamel já levantando, ameaçando partir pra cima da vizinha.

- Acalmem-se! Isso aqui não é uma zona apesar de parecer!

- Eu gostaria só de deixar uma opinião – disse o sr. Maduro.

- Sim.

- Quero dizer que vejo muitos contos ruins, outros péssimos, alguns outros tenebrosos e diversos totalmente mal escritos. Porém, vejo também alguns muito bons, como é o caso dos contos do Eros Original (“Uma mulher com fogo nos olhos”), do Tinhoso (“Vulnerabilidade”), do Vertigo (“Verdade ou Conseqüência”), do Dödói (“Cedi, experimentei e gostei”) e do Príapo (“Amizade antiga”). Esses inquilinos deveriam ter redução em seus aluguéis para não saírem desse pulgueiro para um Alpha Ville, por exemplo.

- Realmente o sr. Maduro levantou uma boa questão. Redução de taxas para aqueles que trazem bons contos. Alguém discorda?

- Eu! – falou o moleque do 503, o Ale. Era um guri dos seus 16 anos que ficava batendo punheta o dia todo lendo os contos (e dando zero pra quase todos também). Era filho do casalvontade.

- Cadê seus pais, guri? Eles é quem têm que estar aqui.

- Devem estar no motel. Eles imprimiram uma porrada de contos daqui e saíram.

- Bom, tudo bem. Você discorda do Maduro? Em que você discorda?

- O Maduro, com esse nick, se acha um cara muito experiente, mas eu já peguei ele espionando pelo buraco da fechadura a Branca trocando de roupa no banheiro ali da portaria. Mas vamos ver o que ele disse: Eros Original. Um sujeito que não diz a que veio; tenta parecer “o autor”, mas seus contos dão tédio, são fracos. Tinhoso. Enganador que sempre traz contos de cornos resignados. No último, o marido ficou tirando fotos da mulher enquanto ela era enrabada. Ah, faça-me o favor! Ele é um corno que quer ser uma espécie terceira opção dos cornos intolerantes ao chifre. Vertigo. Um cara que se acha o tal. Ele engana bem com seus textos quilométricos cheios de pérolas reflexivas. Deveria escrever aqueles livros de banca de jornal tipo “Sabrina”, “Juliana”. Dodói. Êta cara chato esse aqui. Já fez até referência a escritores europeus como Gothe e Fausto em seus contos. Acho que ele pensa que é um imortal da ABL. É tão nariz empinado que nem me cumprimenta quando passa por mim na portaria.

- Certo, Ale. Agora diga um conto que você gostou muito de algum dos moradores.

- “Estuprando minha ex-namorada”, do El Lobo.

- Então, tá. Agora toma aqui um trocado e vai lá na banca comprar o gibi do Cascão e deixa o titio terminar a reuniãozinha, tudo bem? – impressionante como o síndico Eduardo tinha paciência com esse menino.

O morador Flavinho Santana já estava ficando com o braço cansado de ficar com ele tanto tempo levantado.

- Pode falar sr. Flavinho.

- Eu quero deixar claro que meus contos são 100% verídicos. Inclusive eu e a Gordinha_SP estamos produzindo um a quatro mãos. O título provisório é “Aventuras no SPA”.

- Isso é bom. Normalmente leio os do Topa Tudo que são quase sempre escritos a duas mãos e quatro patas. Esse negócio de muitos membros nos contos dá graça à coisa. Só não pode deixar que os gritos e latidos acordem os demais moradores.

- Sr. síndico.

- Pode falar sra. Ana Danadinha.

- Eu quero fazer uma queixa contra o Astronomo2006 que despeja diariamente quilos de contos de qualidade duvidosa e ninguém faz nada. Chega a ser uma falta de pudores!

- O que o sr. tem a dizer, sr. Astronomo2006?

- O Astrônomo2006 é surdo, sr. síndico! O sr. tem que esperar a tradutora dele repassar a pergunta.

- Ah, certo, havia me esquecido desse detalhe...

- Bom, sr. síndico, o Astronomo2006 disse que falta de pudores é o que a sra. Ana Danadinha faz, ao passar a noite aos gemidos e gritos com o Eros Original no apto. 301, incomodando os vizinhos com os barulhos.

- Mas se ele é surdo como ele ouve os barulhos?

- Ele é surdo mas não é cego. Ele vê ela entrando com trajes mínimos todas as noites no apto. do sr. Eros e por aí ele já pressupõe que ambos estão treinando para escrever um conto, também a quatro mãos.

- Perfeito. Então, sra. Ana Dadinha... ops, digo Ana Danadinha, a sra. mantenha sua dignidade quando for encontrar o sr. Eros. Sem barulhos, gemidos, sussurros, vidros quebrados, ranger de cama, costas arranhadas, cabelos puxados, tapas na bunda, chupadas, mordidas, etc., por favor.

- Tchellobs e fabio, algum comentário?

- Que horas acaba essa reunião? É que nossos pais falaram pra gente não subir tarde porque ficamos de recuperação no colégio e amanhã já tem aula.

- Ai, ai. Esses meninos... Tchellobs, por sinal sua mãe veio falar comigo que se eu visse você de novo com binóculo no playground tentando ver a sra. SU só de calcinha novamente era pra te dar um cascudo. E fabio, o mesmo pra você em relação à sra. Pitanga. Portanto, molecada, nada de punheta no playground, ouviram??

- Sr. síndico, eu queria saber por que o morador rvarodrigo nunca comenta nada, mas sempre dá notas.

- Sr. Leno, o sr. é novo por aqui, por isso ainda não sabe. O sr. rvarodrigo sofre de síndrome do pânico, por isso ele evita comentar, falar com os demais vizinhos. Mas não é por isso que ele não vai exercer a sua cidadania votando. Ele pode votar e não comentar. Está liberado pra isso.

- Bom, então vamos terminar a reunião e finalizar a ata.

- E com relação ao Mandarim? – alguém perguntou quando todos já estavam de pé para sair.

- Ele mandou um abraço pra todo mundo. Disse que no tempo que morou aqui sempre foi respeitado e que fez muitas amizades. Infelizmente, com 15 mensalidades atrasadas no aluguel não tive como evitar a ordem de despejo. Soube que ele está para fechar contrato para escrever contos eróticos para mulheres famosas como a Syang e a Bruna Surfistinha. O negócio dele está de pé, só falta uma posição delas. É um cara que tem futuro.