Ao empurrar a porta de vidro do restaurante para entrar, a campainha soou, ecoando através das conversas. A casa estava lotada. O aroma familiar de comida caseira e especiarias, que outrora me acolhia, agora era amargo, como um veneno corrosivo.
Naquela famosa cantina italiana, muito tradicional, conheci minha esposa. Fora ali também, que comemoramos todos os nossos dez aniversários de casamento.
O maitre, Sr. Silva, me recebeu com um sorriso forçado, seus olhos revelando preocupação.
— Miguel, que surpresa! — Ele hesitou, antecipando um confronto.
— Preciso apenas de um minuto, Sr. Silva. — Respondi, contendo a emoção que ameaçava transbordar.
Ele me encarou, ciente do que estava prestes a se desenrolar.
— Miguel, por favor ... Mina está …
Não deixei que terminasse, o calando com uma nota de cem.
Minha vista encontrou Mina, minha esposa, sorrindo para outro homem. O peso do mundo desabou sobre mim, mas eu mantive a calma, como uma tempestade contida.
— Não se preocupe, Sr. Silva. Não quero causar problemas. Será rápido e indolor. — Menti, tentando digerir a dor que me sufocava.
O maitre assentiu discretamente, liberando minha passagem. Cada passo claudicante ecoava, como um relógio marcando o fim de uma era. Memórias amargas emergiram, a escuridão me envolvendo, um abismo em que eu despencava.
Os sinais apareceram há um ano: a senha mudada no celular, a súbita necessidade de privacidade, as ligações furtivas, a distância emocional. Tudo era óbvio.
Lembrei-me da noite em que perguntei sobre seu dia e recebi um olhar vazio. A impaciência em suas respostas, a evasão de olhares. A conexão que nos unia se desfazia em silêncio.
O restaurante, outrora nosso refúgio, agora era um palco de despedida. Me aproximei pelas costas de Mina, e Leandro, meu melhor amigo desde a adolescência, ergueu o olhar, surpreso. Seu rosto pálido revelou pânico. Ele rapidamente retirou sua mão que acariciava a de Mina.
— Leandro … — Murmurei, minha voz baixa e trêmula.
Mina se virou, e seus olhos encontraram os meus. Seu sorriso desvaneceu, substituído por um olhar de puro desespero. De olhos arregalados, a boca aberta, em um silêncio agonizante. Sua mão tremia ao segurar o copo de vinho, prestes a cair.
— Mi … Miguel … — Ela gaguejou, sua voz falhando.
A dor latejava como uma ferida aberta, e eu sabia que nada seria como antes. O ar pesava sobre nós, enquanto os clientes ao redor se calavam, testemunhas silenciosas de nossa tragédia. Eu estava preso num triângulo de traição e dor.
Coloquei o envelope que trouxera na mesa, minha mão tremendo levemente.
— Mina, Leandro... não precisamos dramatizar. Está tudo aqui. — Fiz uma pausa, para controlar a emoção. — O acordo de divórcio e ... as evidências. Vocês sabem do que se trata.
Meus olhos encontraram Mina novamente, e vi culpa e as lágrimas em seu olhar. Fui direto:
— Peço apenas que respeitem nossa filha. Ela não merece isso. Não precisamos arrastar essa situação. — Minha voz falhou, mas me mantive ereto.
Mina olhou para o envelope, depois para Leandro, em pânico.
— Você … não estava viajando a trabalho?
Respirei fundo, mantendo a calma.
— Não importa. Você mentiu para mim, para nossa filha... durante meses.
Leandro tentou intervir, se levantando para dizer alguma coisa, mas eu o interrompi, a mão firme em seu ombro, o fazendo se sentar novamente.
— Não, Leandro. Você traiu nossa amizade e confiança. Não tem direito de falar agora.
Mina abriu o envelope, e lágrimas mais grossas escorreram ao ver as fotos.
— Eu ... posso explicar … — Ela disse, desesperada.
Balancei a cabeça, sorrindo com deboche.
— Não precisa. A linha do tempo é clara. Já sei tudo o que preciso. Está bem documentado.
Antes de sair, me virei para enfrentar o casal.
— Vocês se merecem. São farinha do mesmo saco, dois traidores.
Meu olhar cravou-se em Mina.
— Eu até desejaria felicidade aos pombinhos, mas sabemos como essas histórias terminam. A emoção do proibido acaba, a rotina se instala ... e a paixão desaparece. Como mágica.
Minha voz estava firme, mas a dor ecoava dentro de mim.
— Desfrutem enquanto durar.
Com aquelas últimas palavras, dei as costas e saí do restaurante. Tudo fora premeditado. Eu inventei uma viagem de trabalho fictícia para criar a ocasião perfeita. Jamais imaginei que eles se encontrariam na cantina, no nosso local especial, meu e da Mina.
Guilhermina, que todos chamam carinhosamente de Mina, é farmacêutica. Uma preta linda, esbelta, de seios pequenos e bunda proporcional. Ela tem 1,62m de altura e para efeito de comparação, lembra muito a atriz Zoë Saldaña. Sua elegância natural e sorriso contagiante iluminam qualquer ambiente. Ela é dona de uma pequena, mas respeitada e próspera farmácia de manipulação, onde sua paixão e dedicação são evidentes.
Eu sou o Miguel. Meus 1,80m de altura, cabelos e olhos negros, e corpo em forma, sem exageros, eram apenas um reflexo da minha admiração por ela. Minha empresa, fundada pelo meu bisavô, indo para a quarta geração na família, é uma das mais bem-sucedidas distribuidoras farmacêuticas da região.
Apesar de também estar no ramo farmacêutico, sou um administrador formado, justamente preparado para assumir o negócio da família, assim que o meu pai se aposentar. Já comando a maior parte das ações, e a transição deve acontecer em breve.
Vivemos bem, mas sem ostentação. Preferimos investir em viagens e tempo em família, criando memórias inestimáveis com nossa filha, e ajudar aqueles que nos são queridos. Nosso condomínio é simples, um refúgio de tranquilidade.
Nós nos conhecemos há treze anos, em um jantar naquela cantina italiana, onde celebrávamos nossa entrada na faculdade. Meus pais estavam ao meu lado, e Mina, com os dela. Nossa primeira troca de olhares foi energizante, amor à primeira vista.
No corredor, uma trombada acidental transformou-se em um beijo inesperado. Nossos lábios se encontraram, e o tempo parou. Trocamos números de telefone, e um segundo beijo selou nosso destino. Liguei para ela assim que cheguei em casa, incapaz de esperar. Dois jovens em busca de seus sonhos.
— Você é real? — Perguntei, ainda atordoado.
— Sim, eu sou. — Ela respondeu, com uma risada doce.
E assim começou nossa jornada de amor, respeito e compreensão. Pelo menos, era o que eu pensava. Mais de uma década de relacionamento e inúmeras viagens compartilhadas criaram memórias inestimáveis. Nossa filha é o fruto dessa união, até então, especial.
Durante treze anos de casamento, Mina foi minha parceira perfeita: uma esposa carinhosa, uma amante apaixonada e uma companheira sem preconceitos. Nossa intimidade foi sempre marcada pela liberdade e curiosidade. Experimentamos tudo o que nos excitava, sem tabus ou julgamentos.
Nos primórdios do casamento, antes da maternidade, vivemos uma aventura inesquecível. Em um carnaval incendiário, deixamos a razão de lado e nos entregamos à paixão. Nós nos relacionamos com outro casal, uma experiência única, intensa e inebriante. Foi um momento de pura liberdade, sem compromissos ou arrependimentos.
Aquela noite ficou gravada em nossa memória como um segredo compartilhado. Nunca mais tocamos no assunto, mas ele permaneceu como uma lembrança vibrante. Leandro, meu amigo de infância, e sua esposa na época, foram nossos companheiros naquela noite inesquecível. Naquele momento, não imaginávamos que a conexão momentânea se tornaria um ponto de inflexão em nossas vidas.
Agora, ao olhar para trás, percebo que essa experiência foi o início de uma teia complexa de emoções, desejos e segredos. E Leandro, o amigo que compartilhou nossa intimidade, se tornaria o ponto de ruptura do meu casamento.
{…}
Um ano antes:
Dei um beijo carinhoso em sua testa e me afastei, fechando a porta do quarto da nossa filha, certificando-me de que ela estava bem, já dormindo. O sorriso dela ainda brilhava na minha mente.
Desci as escadas, conferindo portas e janelas e voltei para a suíte. Esperava encontrar Mina já preparada para dormir, mas, ao entrar, ela estava com o celular colado ao ouvido, falando baixo.
Seus olhos encontraram os meus, e ela desligou rapidamente. O silêncio foi abrupto.
— Quem era? — Perguntei, tentando controlar a curiosidade misturada com desconfiança.
Mina deu de ombros, com um sorriso forçado.
— Só a minha mãe. Nada importante. Você a conhece, quando ela começa a falar, não para mais.
Seu tom era tenso demais para ser verdade. Algo não batia. O olhar rápido para o relógio, a pressa em desligar ... Sentei-me ao lado dela, observando-a.
— Você está bem? Parece cansada. — Perguntei, estudando seu rosto.
— Sim, estou bem. Semana agitada no trabalho, nada que eu não dê conta. — Ela respondeu, evitando meu olhar.
Uma sombra de dúvida se instalou em minha mente. Seria paranoia ou instinto? Deixei o assunto de lado, mas a sensação de que algo estava errado permaneceu.
Mina puxou o laço do meu short, desfazendo a amarração, o puxou para baixo e começou a punhetar meu pau sem muito entusiasmo. Parecia um robô cumprindo uma programação.
— Quer um boquete, gozar na minha boca, ou prefere meter na minha buceta?
— O quê? Como assim? — Surpreendido pela atitude tão direta, mecânica, me afastei dela.
Mina abriu as pernas, dedilhando o grelinho, mostrando que já estava sem calcinha e disse:
— Vem logo. Vamos fazer isso rápido. Estou cansada.
Levantei meu short, o amarrei novamente na cintura e respondi:
— Vá descansar, então. Ninguém vai morrer por ficar um dia sem fazer amor.
Confuso, me deitei e virei de costas para ela.
— Boa noite! Durma bem e descanse.
Mina nem me respondeu. Começava ali os sinais de alerta e eu não iria me fazer de cego.
Alguns dias depois, num jantar com um casal de amigos, que acabavam de retornar para a cidade em férias, Mina desmarcou em cima da hora, alegando um problema na farmácia e que precisaria de mais algumas horas para resolver. Fiquei frustrado, mas mantive a atenção nos amigos.
Mina chegou depois, apenas para a sobremesa. Ela estava com o batom borrado, pouca coisa, mas que não era normal. Mina sempre mantinha a maquiagem impecável. O cabelo preso de qualquer jeito, sem cuidado. Estava também com um perfume diferente, que eu já tinha sentido antes, mas como ela tinha como hobby a criação dos próprios perfumes, e eles eram sucesso de vendas, mantive a calma.
Alguns dias depois, precisando de uma senha que foi enviada para o celular da Mina, peguei o aparelho dela e notei que o PIN não era mais o mesmo, que era necessário um código numérico diferente.
— Mudou a senha? — Estranhei. — Qual o novo código?
Nervosa, apressada, ao ver seu celular na minha mão, ela o tomou de mim.
Insisti:
— Não pode me falar o código? Sempre soubemos as senhas um do outro. O que mudou?
Ela estava tensa:
— Desculpa, amor. Estou preparando uma surpresa para o seu aniversário. Colabora! É temporário.
Duas semanas depois, no meu aniversário, ela me presenteou com um relógio. Era um bom relógio, caro, mas não era um modelo exclusivo, personalizado, ou de edição limitada. Nada que justificasse a situação da mudança de senha no celular. Eu amo relógios, coleciono inclusive, e não seria nenhuma surpresa ganhar mais um.
Mais algumas semanas se passaram e estávamos tendo uma noite quente de amor, Mina montada sobre mim, se esfregando para a frente e para trás, a cabeça da pica roçando no grelinho … ela gemia manhosa.
— Que tesão, amor … Ahhhh … esse pau grosso latejando na minha xota … delícia …
Peguei Mina pelo pescoço, simulando um enforcamento sem muita pressão, coisa que ela adorava, e a empurrei contra a cama, cravando o pau fundo naquela buceta melada.
— Toma, safada … é isso que tu quer, né? Pau nessa buceta apertada …
— É isso mesmo, seu puto gostoso. Ahhhh … fode essa buceta … Ahhhh … tá me rasgando …
Meti com força, do jeito que ela sempre pede, socando o pau até o fundo, tirando quase todo e voltando a socar outra vez. Meti por vários minutos, até sentir a bucetinha apertada ordenhando meu pau.
— Isso, amor … Ahhhh … vou gozar … vai com tudo agora … Ahhhh …
Estoquei mais forte, com mais ritmo, de forma mais acelerada, empurrando até o fundo.
— Caralho, que tesão … tô gozando, amor … Ahhhhh … mete, mete forte … Ahhhhh …
Trocamos beijos intensos enquanto ela se recuperava do orgasmo, e como eu ainda não tinha gozado, o pau continuava duro, a peguei pelo quadril, fazendo com que ficasse de quatro e enfiei a cara entre suas nádegas, lambendo o cuzinho e o lubrificando. Mina é adepta do sexo anal, sempre fazemos.
— Hoje não, amor. Está dolorido. Me deixa te chupar, goza na minha boca. — Ela se afastou, puxando o lençol para se cobrir.
Estranhei a situação novamente. Os alertas soando alto na minha mente.
— Dolorido? O que aconteceu? — Perguntei, já broxando.
Ela tinha um discurso ensaiado.
— Não sei, amor. Venho sentindo um desconforto há algumas semanas. Não sei se é o papel higiênico, alguma alergia, mas o local está sensível. Me desculpa.
Tentei acalmá-la, aceitando sua argumentação.
— Tudo bem, amor. Com saúde não se brinca. Melhor ir ao médico, ver o que está acontecendo.
— Eu sei, amor. Vou marcar uma consulta amanhã. — Ela respondeu de bate pronto, e voltou a pedir. — Vem aqui, deixa eu fazer você gozar.
A abracei para manter as aparências, mas já não estava mais no clima.
— Está tudo bem. “Ele” até já adormeceu. Relaxa! — Eu apontava para o pau mole, flácido.
Voltei a me deitar, e Mina se abrigou no meu peito, pedindo carinho. Ela não demorou muito a pegar no sono. Com a mente fervilhando, a ajeitei na cama, me levantei e desci até a cozinha, em busca de um pouco d'água.
Ao voltar ao quarto, pela posição que Mina estava, de bruços, uma perna esticada e a outra dobrada, seu ânus e xoxota estavam expostos. Com a luz suave do celular, iluminei o local e vi diversas pequenas fissuras no cuzinho.
Suspeito? Sim, mas também, como ela tinha falado, poderia ter sido causado por papel higiênico de qualidade ruim.
Os sinais começaram a se tornar mais frequentes e alarmantes. O celular dela permanecia sempre com a tela para baixo, em modo silencioso. Cada vez que eu pedia a nova senha, ela apresentava uma desculpa esfarrapada. Seus horários se tornaram inconstantes, e compromissos comigo e nossa filha eram frequentemente esquecidos ou desmarcados. Ela até chegou a perder uma apresentação de ballet da nossa pequena, sem uma desculpa convincente.
Meses se passaram e Mina, se sentindo confortável, dona da situação, achou que eu estava sambando conforme sua música. Me mantive calmo e atento, mas não conseguia encontrar nada, um único fragmento de informação que pudesse me ajudar a entender seu novo comportamento.
A dúvida já estava plantada e, sozinho, eu não tinha como descobrir a verdade. Fui pelo simples, contratando um investigador particular.
Enquanto dirigia para o escritório do detetive, uma mistura de emoções me consumia: raiva, medo e incerteza. A desconfiança que antes era uma faísca agora se tornara uma chama que devastava minha mente.
Cheguei ao escritório, um prédio simples e discreto. O nome "Detetive Rodrigo Alves" estava gravado em uma placa de bronze. Respirei fundo e empurrei a porta. O detetive, um homem maduro com olhar penetrante, recebeu-me com um aperto de mão firme.
— O que o traz aqui, senhor? — Perguntou, enquanto me convidava a sentar.
— Meu nome é Miguel. Suspeito que minha esposa esteja me traindo. Preciso de ajuda para descobrir a verdade.
Ele anotou algumas palavras em um bloco.
— Conte-me mais sobre sua esposa e o que o levou a desconfiar.
Minha voz tremia ao relatar os detalhes: os horários irregulares, o celular silenciado, as desculpas esfarrapadas. O detetive ouvia atentamente.
— Há algum motivo para achar que alguém específico esteja envolvido?
Hesitei. Não conseguia pensar em ninguém.
— Não, não tenho ninguém específico em mente. Só quero saber o que está acontecendo.
O detetive anotou mais algumas linhas.
— Vou precisar de informações adicionais: endereços, horários, números de telefone. Quanto mais dados, melhor.
Entreguei-lhe tudo o que sabia. Só restava esperar.
Eu ainda não havia feito a conexão. Não havia percebido que a mudança no comportamento de Mina coincidia com o retorno de Leandro à cidade. Recém-divorciado, arrasado, com depressão e sem emprego, ele pediu ajuda. Como meu melhor amigo, não hesitei em ajudá-lo. Emprestamos nosso antigo apartamento, Mina lhe ofereceu um emprego na farmácia, já que ele tinha experiência na área, pagamos contas urgentes e até dividimos momentos para não o deixar sozinho.
Na minha mente ingênua, a ideia de uma traição sórdida e dupla era impensável.
{…}
De volta ao presente:
Saí da cantina de cabeça erguida, mas com o coração destroçado. Eu já sabia sobre tudo, tinha visto as fotos e o relatório do detetive. Mas ver ao vivo o amor da sua vida de mãos dadas com seu melhor amigo, no local que é o símbolo do amor construído em mais de uma década, me quebrou a nível atômico. Eu não imaginava que poderia doer tanto.
Caminhei sem rumo, as ruas escuras refletindo meu vazio interior. Cada passo ecoava como um golpe no peito. A dor era sufocante, como se o ar fosse escasso.
Cheguei em casa, não era longe, e um silêncio opressivo me recebeu. Meu olhar vagueou pelo espaço que dividimos por anos. Cada objeto, cada canto, cada lembrança agora era uma punhalada no coração.
Caí no sofá, a mente rodando em loop: imagens de Mina e Leandro, mãos dadas, risos compartilhados. O melhor amigo, o irmão, o cúmplice.
Passei alguns minutos revivendo momentos felizes, agora maculados pela traição. Nossa filha, inocente, surgia em meus pensamentos: “Como explicar a ela?”.
O relógio marcava os minutos, mas o tempo parou para mim. A noite se estendia, infinita e cruel.
Levantei-me, cambaleando até o armário. Meia garrafa de uísque, esquecida, aguardava. Tirei a rolha com as mãos trêmulas e bebi diretamente no gargalo, sentindo o líquido queimar minha garganta. A embriaguez não aliviou a dor, apenas a distorceu.
Mina entrou em casa, tentando se aproximar, mas eu não permiti. Meu coração sangrava. Ela tentou falar.
— Mina, sua desgraçada. Eu não quero ouvir! — Gritei, interrompendo-a. — Você me humilhou, me traiu com meu melhor amigo! Onde foi parar o respeito, o amor, a lealdade?
Ela chorava.
— Me perdoa, amor. Ele não significou nada …
Mas eu não conseguia me conter.
— Leandro não significa nada? — Ironizei. — Mentira! Ele significou o suficiente para você destruir nossa família.
Mina tentou se explicar, mas minhas palavras a sufocavam.
— Você jogou fora treze anos de amor, confiança e sonhos. Nossa filha! O que você vai dizer a ela?
A raiva e a dor transbordavam.
— Você não é mais a mulher que eu amava. Você é uma estranha, uma traidora.
Mina desmoronou, chorando copiosamente, mas eu a deixei ali, de joelhos no chão da sala. Eu não tinha terminado.
— Mesmo que eu tenha financiado o seu sonho, pode ficar com sua farmácia. Afinal, você precisará de dinheiro para a pensão da nossa filha.
Mina me olhou assustada, o choro dando lugar a raiva.
— Você quer tirar nossa filha de mim? Tá falando sério? Você não pode fazer isso.
— Nossa filha precisa de bons exemplos, de estabilidade. Ela está formando seu caráter agora. Você não é a pessoa mais indicada para educá-la.
Pela sua reação, tive a certeza de que minhas palavras egoístas, ditas para machucá-la, surtiram efeito.
— Pode ficar com o nosso antigo apartamento também. Você está bem habituada a viver por lá ultimamente. — Eu avaliava sua reação. — Só espero que quando nossa filha for visitá-la, aos finais de semana, você mantenha a compostura, não a negligencie por causa daquele bosta.
Com nossa filha protegida, na casa dos meus pais, peguei as chaves do meu carro, meu celular, e antes de sair, olhei para Mina uma última vez.
— Se ainda existe uma parte de você que não apodreceu, que ainda mantêm a essência da mulher que eu tinha o orgulho de chamar de esposa, use o resto da dignidade que lhe resta e assine o divórcio.
Mina estava derrotada. Ela me conhecia muito bem e sabia que traição era imperdoável para mim.
— Você me deve isso. Se quer manter o mínimo de civilidade, para que possamos criar a nossa filha da forma correta, me deixe seguir em frente. Em paz.
Bati a porta com força, sinalizando o fim daquela vida a dois, manchada pela traição dupla.
Mal sabia eu, que os verdadeiros problemas estavam apenas começando. Assim que cheguei ao carro, recebi uma mensagem da Mina:
“Seguir em frente? Não! Você é meu. Sei que errei, e já disse que não significou nada. Isso não muda o fato de você ser meu. Só meu. Se eu não o tenho, ninguém o terá”.
Continua …