Capítulo 6: A Avó
O ambiente do restaurante estava começando a se transformar, cheio de camadas de tensão e expectativa. Eu ainda me ajeitava na cadeira, tentando ignorar o ar pesado entre minha mãe e Manuela, quando as próximas convidadas chegaram.
A primeira a cruzar a entrada foi Maria, minha avó. Seguiam-na minha tia Marcia e minha prima Marcela, que pareciam formar uma espécie de escolta ao redor dela. Como sempre, minha avó chamava atenção mesmo sem querer, com sua postura impecável e elegância natural. Seus cabelos castanhos curtos, meticulosamente arrumados, brilhavam sob a luz suave do restaurante, e sua presença irradiava um tipo peculiar de magnetismo, misto de autoridade e sensualidade.
Enquanto Marcia e Marcela se aproximavam para cumprimentar minha mãe e Manuela, Minha avó caminhou em minha direção, seus saltos firmes batendo contra o chão de mármore como um metrônomo. Quando ela chegou perto, abriu os braços com um sorriso que parecia carregar décadas de memórias e algo mais, algo que eu não conseguia nomear.
– Meu menino está cada vez mais bonito – disse ela, me envolvendo em um abraço apertado.
O toque dela tinha uma mistura estranha de afeto e algo mais profundo, algo que parecia ecoar no fundo de seus olhos castanhos quando ela me olhou novamente. Sua pele macia e quente roçava a minha, e eu percebi que o abraço durava mais do que o esperado.
– Feliz aniversário, meu querido – sussurrou em meu ouvido, sua voz tão grave e suave quanto eu lembrava.
Quando ela se afastou, seus olhos me percorreram com uma atenção que me deixou inquieto. Ela sorriu de novo, mas havia algo melancólico naquele gesto.
Minha avó estava deslumbrante, como sempre. Usava um vestido verde ajustado, com um corte que valorizava sua figura atlética e suas curvas naturais. Mesmo aos 54 anos, seu corpo permanecia impecável – algo que ela atribuía aos anos de pilates e dança de salão. O tecido delineava os seios fartos e os quadris bem proporcionados, e o decote moderado, embora recatado, dava um vislumbre do pescoço alongado e bem cuidado. Suas mãos delicadas, com unhas pintadas de um tom suave de vermelho, pousaram sobre meus ombros quando ela voltou a me olhar.
– Você está ficando cada vez mais parecido com Manuel – disse, com um suspiro nostálgico. – Seu avô ficaria orgulhoso.
A menção de Manuel, meu avô, sempre a deixava vulnerável, mas desta vez parecia diferente. Havia algo no jeito como ela me olhava, um brilho contido que misturava saudade e... outro sentimento que eu não conseguia decifrar.
Ela tirou algo da bolsa, um pequeno embrulho que colocou em minhas mãos.
– Um presente – disse ela, com um sorriso cúmplice.
Enquanto colocava o presente na mesa, percebi que seus olhos não deixavam os meus. Eles carregavam algo indescritível, uma nostalgia que parecia transcender o tempo, mas que também trazia um peso palpável, como se ela tentasse reviver memórias através de mim. O contato era leve, mas parecia intencional, carregando uma energia que eu não sabia se era apenas coisa da minha cabeça.
Do outro lado da mesa, Marcia e Marcela riam e conversavam com minha mãe e Manuela. Marcia, com sua presença imponente e personalidade expansiva, já havia tomado o controle da conversa. Marcela, sempre discreta, seguia o exemplo da mãe, mas seus olhares furtivos para mim sugeriam que ela também estava absorvendo o clima tenso e carregado da noite.
Minha avó inclinou-se um pouco para mim, sua voz baixa para que ninguém mais ouvisse.
– Sabe, Miguel – disse ela, com um sorriso suave. – É estranho, mas cada vez que olho para você, sinto como se visse Manuel novamente. Não apenas na aparência, mas no jeito, no olhar.
Sua mão tocou meu braço, e o gesto parecia quase inocente, mas carregava uma intensidade que me deixou desconcertado.
– Ele também era tão... especial – continuou ela, a voz hesitando por um momento. – Talvez até mais do que sabia.
Havia uma pausa no ar, um momento em que o tempo parecia congelar enquanto seus olhos se fixavam nos meus. Aquele olhar não era apenas nostálgico; era carregado de algo mais profundo, algo que parecia um desejo reprimido, cuidadosamente escondido sob camadas de respeito e tradição.
Quando minha avó finalmente desviou o olhar e se virou para cumprimentar minha mãe e Manuela, percebi que estava prendendo a respiração. Meu coração batia mais rápido do que deveria, e eu não sabia exatamente por quê.
Enquanto a conversa ao redor da mesa continuava, não pude deixar de notar como os toques ocasionais da minha avó eram mais demorados do que o necessário. Havia algo em sua presença que fazia o ar parecer mais pesado, mais denso, e não era apenas a lembrança do meu avô. Era ela, a mulher que, mesmo na maturidade, continuava exalando uma energia que parecia ultrapassar qualquer barreira de idade ou papel familiar.
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