Mari continuou procurando por Celo, varrendo a praia com olhar desesperado. O sol implacável a feria, e ela finalmente percebeu a solidão da praia. “Onde estava todo mundo? Por que estava tão vazio?”.
— Celo ... o carro ... sumiu.
Cora e Paul a levaram para dentro da casa, sentando-a cuidadosamente no sofá. Anna e Fabi correram para buscar água e um pano frio.
— Mari, respire fundo. — Cora pediu, segurando suas mãos. — Precisa de um médico? O que está sentindo?
Mari sacudiu a cabeça, ainda ofegante.
— Não ... não é necessário ... Celo ... onde ele está?
Paul rapidamente ligou para o celular do Celo, mas não obteve resposta. Mari disse:
— O celular está no quarto. Não está com ele.
Paul acho aquilo muito estranho.
— Então ele está por aqui, na cidade. Deve ter ido fazer alguma coisa. Ninguém sai de casa sem celular, hoje em dia. Acho melhor a gente se acalmar.
Giba tentava acalmar Mari, concordando com Paul.
— Vamos encontrar ele, Mari. Não se preocupe. Daqui a pouco ele aparece e a gente ainda vai rir disso.
Mas Mari já estava mergulhada em um mar de lágrimas e desespero.
— Eu errei ... eu o perdi … — O trauma voltava a falar por ela.
Continuando:
Parte 13: “Que é Pra Ver Se Você Volta, Que é Pra Ver Se Você Vem”.
Mari, pálida e com olheiras profundas, afundou-se no sofá, cercada por amigos preocupados. Anna segurava sua mão fria, enquanto Paul e Cora tentavam acalmá-la com palavras suaves.
— Mari, respira fundo. — Pediu Anna, carinhosamente. — Celo vai voltar. Ele deve ter ido resolver alguma coisa importante.
— Já faz horas … — Mari sussurrou, lágrimas escorrendo por seu rosto. — Ele nunca sairia sem me dizer nada. Isso não é dele.
Seu pensamento acabou escapando em um desabafo:
— Ele está chateado com o que eu fiz, tenho certeza. Eu fui longe demais, me deixei levar …
Paul colocou uma mão reconfortante em seu ombro, se sentindo culpado.
— Vamos procurá-lo novamente. Talvez ele esteja em algum lugar da cidade. Quem sabe até, precisando de ajuda?
Cora ofereceu um copo de água gelada.
— Beba isso, Mari. Você precisa se manter forte.
O sol se pôs, lançando sombras profundas na sala. O silêncio era quebrado apenas pelo tique-taque do relógio na parede. Mari sussurrou, desesperada:
— Onde ele está? — Sua voz estava fraca, melancólica.
Anna ajudou Mari a se levantar, guiando-a gentilmente para o quarto.
— Vamos, amiga, você precisa descansar. Essa angústia não irá lhe fazer bem.
No quarto, Anna entregou-lhe um comprimido com um copo de água.
— Tome isso, vai te ajudar a relaxar. — Ela disse, acariciando seus cabelos.
Mari, profissional experiente, reconheceu o calmante e o engoliu. Em minutos, sentiu-se mais calma, um pouco menos ansiosa. Anna a confortou:
— Vai ficar tudo bem, Mari. Celo vai voltar. Ele te ama.
Enquanto Mari fechava os olhos, perdidas em seus pensamentos cortantes e tempestuosos, Paul e Giba saíram para procurar Celo, preocupados com seu silêncio.
Eles dirigiram pela cidade, ansiosos por encontrar algum rastro. Pararam em um posto de gasolina, no centro da cidade. Paul entrou, aproximando-se do caixa.
— Boa noite! Nós estamos procurando um amigo. Ele dirigia um SUV preto. Você viu algo? — A foto era recente, mostrando a placa e o modelo do veículo.
O atendente, um jovem rapaz, balançou a cabeça negativamente:
— Não, não vi nada. Mas posso perguntar aos outros funcionários. Eu cheguei há pouco tempo, acabei de assumir.
Giba mostrou uma foto de Celo no celular.
— Ele é este aqui. Alguém viu?
Os funcionários negaram com a cabeça.
Os amigos seguiram procurando, já que a cidade não era tão grande. Na saída da cidade, encontraram a equipe de monitoramento do trânsito em uma blitz.
Paul se aproximou de um dos agentes.
— Nós estamos procurando um amigo que saiu de manhã. Ele dirigia um SUV preto. Vocês têm alguma informação?
O agente verificou os dados da operação, comparando com a foto e a placa do carro.
— Não há registro de nenhum acidente ou incidente com um SUV preto com essas características. Talvez ele tenha pegado uma estrada secundária.
Giba franziu a testa.
— Isso está estranho. O que o Celo tem na cabeça?
Paul olhou para Giba.
— Vamos verificar as estradas secundárias. Continuar perguntando por aí. Vai que …
De volta à casa, Mari, exausta psicologicamente, e sob o efeito da medicação, adormeceu, após chorar por horas. No entanto, seu descanso foi interrompido por um pesadelo perturbador.
Mari se viu em uma sala escura e silenciosa. Celo estava à sua frente, olhando-a com desgosto.
— Você me traiu. — Disse Celo no sonho, sua voz fria e distante. — Destruiu tudo o que nós tínhamos.
Mari tentou se defender, mas as palavras não saíam. Alberto, seu ex-noivo, apareceu ao lado de Celo, com um sorriso sarcástico.
— Você não é confiável. — Disse ele, debochando. — Ninguém te ama de verdade. Você merece ficar sozinha. Sua trapaceira.
Mari sentiu um peso esmagador no peito. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela tentou gritar, mas sua voz era abafada. Enfim, acordou com um sobressalto, gritando, ofegante e com o coração acelerado. Anna, que estava ao seu lado, a acalmou:
— Mari, calma! Foi apenas um sonho.
Mari olhou em volta, confusa. Lágrimas escorriam por seu rosto.
— Onde está o Celo? — Ela perguntou, desesperada.
Anna a abraçou.
— Nós vamos encontrá-lo. Não se preocupe.
O sol já estava alto no céu, um novo dia começava e nada do Celo aparecer. As buscas de Paul e Giba trouxeram mais dúvidas do que respostas.
{…}
Celo acordou pouco após o amanhecer, com olheiras profundas. Dormiu pouco e muito mal. O sono agitado não havia aliviado a dor da traição. Ele se levantou, sentindo-se desgastado, mas sabia que precisava seguir em frente. Não era só o marido da Mari, mas também, pai e profissional. Não podia ficar incomunicável.
Após uma ducha revigorante, se vestiu rapidamente e saiu do hotel, recebendo o ar fresco da manhã como um bálsamo. O sol iluminava as ruas calmas daquela cidadezinha bucólica, oferecendo um contraste cruel com seu humor sombrio.
Seu primeiro destino era uma loja de telefonia. Com a ajuda do atendente do hotel, encontrou o local e adquiriu um novo chip. Enquanto aguardava a ativação, sua mente trabalhava a todo vapor: "Como explicar tudo aos meus filhos? Como revelar a verdade sobre sua mãe?". A dor o atingiu novamente.
Com o celular funcionando, Celo sentou-se em uma cafeteria próxima, rodeado pelo aroma de café fresco, e verificou suas mensagens: clientes ansiosos, projetos pendentes, seu único funcionário tentando dar conta de tudo. Respirou fundo e começou a responder, tentando afastar a angústia.
Uma chamada perdida do Paul, enviada pelo aplicativo de mensagens, chamou sua atenção. Nada de Mari. A frustração o consumiu. "Por que ela não me liga?". Pensou. Então, se lembrou que deixou o celular mais novo na casa de praia e, com certeza, Mari já o tinha encontrado. Sua frustração diminuiu um pouco.
Uma ligação do aplicativo de mensagens chegou, iluminando o display com um número familiar. Celo sorriu, aliviado. Era a primeira vez que sorria desde que deixou a casa de praia.
— Bom dia, meu amor — Disse ele, tentando soar tranquilo.
— Bom dia para quem? Onde você está? A mamãe me ligou em desespero! — Respondeu a filha, preocupada.
Celo sentiu uma pontada de culpa.
— Estou bem, filha. Estou seguro. Me desculpe, mas preciso de um tempo da sua mãe, e ...
— Mas pai, a mamãe ... — Ela tentou interromper.
— ... Eu já disse que estou bem. Isso é o suficiente por enquanto. — Afirmou Celo, firme. — Vocês não precisam se envolver nisso. Eu preciso de espaço.
Ele ouviu um suspiro profundo do outro lado da linha.
— Preciso de tempo para organizar meus pensamentos e decidir sobre minha vida — Explicou Celo à filha. — Fique tranquila, avisarei sua mãe que estou bem. Cuide dos seus estudos, não dos meus problemas conjugais. Te amo!
Celo desligou, evitando mais perguntas. Ainda não estava pronto para falar com Mari. Aproveitou o dia para trabalhar em seus contratos de consultoria e só no final da tarde, enviou uma mensagem para Mari:
"Estou bem e seguro. Você sabe o que fez e como me machucou. Descumpriu nosso combinado e quebrou a minha confiança. Preciso de tempo e espaço para processar meus sentimentos. Por favor, não me procure. Quero entender se podemos seguir adiante. Não é um adeus, mas um até logo".
Celo voltou ao hotel e recolheu suas coisas, arrumou sua mala e foi até a recepção para acertar as contas.
Ele saiu do hotel, e ajeitou as malas no veículo com pensamentos tumultuados sobre Mari e a traição. O sol poente o atingiu, mas não iluminou seu humor sombrio. Ele havia passado um dia agitado, revivendo momentos felizes e a dor da decepção.
No carro, Celo olhou pela janela, vendo a cidade calma em seu ritmo lento e constante. Seu coração ainda doía, mas ele sabia que precisava seguir em frente. O destino era o bar do Seu Zé, onde uma nova realidade o aguardava.
Ao chegar, Celo pegou suas coisas e entrou no bar. Seu Zé o recebeu com um sorriso.
— Pronto, meu amigo? Vamos para o seu novo lar temporário.
A edícula nos fundos do bar era um charme. Celo entrou, surpreendido com o aconchego. Parede de tijolos aparentes decoradas com quadros de cantores famosos, sofá de couro marrom com almofadas coloridas, mesa de madeira escura com uma lâmpada de leitura. Uma cozinha compacta com utensílios pendurados. O quarto tinha uma cama queen-size coberta com colcha patchwork. O banheiro era simples, mas limpo e bem iluminado.
— Seu Zé, isso é ótimo. Obrigado! — Exclamou Celo.
— Sinta-se em casa. — Disse o Seu Zé, entregando-lhe a chave. — Aqui, você encontrará paz.
Celo agradeceu, sentindo-se feliz. Enquanto desfazia as malas, seus pensamentos voltavam para Mari. “O que ela estaria fazendo? Já teria lido a mensagem?”. Ele suspirou, sabendo que precisava se concentrar no presente.
A cesta que o Seu Zé deixara sobre a mesa chamou sua atenção: frutas frescas, pão e queijo, vinho tinto. Uma nota simples: "Bem-vindo, Celo!"
Ele sorriu, sentindo-se acolhido. Ali, em paz, poderia ruminar os pensamentos e organizar seus sentimentos.
— Se precisar de um ouvido amigo, um ombro para se apoiar, pode contar comigo. — Seu Zé o surpreendeu.
Celo o encarou curioso, e o homem continuou.
— Eu sou um homem vivido, experiente, viajado … Sei que você não é um qualquer, assim como não faço ideia do que te trouxe até aqui. Quando quiser desabafar, se quiser contar sua história, saiba que eu estou aqui para você.
Seu Zé saiu, fechando a porta atrás de si, deixando Celo sozinho com seus pensamentos e angústias.
{…}
Um poucos mais cedo naquele dia:
Mari estava à beira do colapso naquela manhã. Os esforços de Anna para acalmá-la eram inúteis.
— Mari, querida, por favor, se acalme. Tenho certeza de que nada de ruim aconteceu com o Celo. Ele deve …
— Ele deve o quê, Anna? Ele deve ter visto o que aconteceu entre Paul e eu … Maldita hora que eu me deixei seduzir pela conversa doce de vocês … Celo não merecia. Eu o traí, o machuquei …
Anna se sentiu ofendida, precisava se defender.
— Ei, devagar … Sei que você está triste, chateada, mas as coisas não são bem assim. Celo foi bem ambíguo ao estabelecer os limites. — Anna a encarava, séria. — É injusta a sua acusação …
Mari a abraçou, entendendo que tinha ultrapassado os limites, projetando sua culpa na amiga.
— Me desculpe … você tem razão.
Anna retribuiu o abraço. Sabia que não era hora de apontar dedos.
— E outra, nós nem sabemos se é isso mesmo. Nós não temos notícias do Celo. Paul e Giba o procuraram por horas ontem à noite, até o início da madrugada.
Fabi bateu na porta, trazendo consigo uma bandeja caprichada de café da manhã.
— Saco vazio não para em pé. Você precisa se alimentar, Mari. Não comeu nada desde ontem …
Mari caminhava pelo quarto, olhando distraidamente pelas janelas. Seu coração ainda doía com o sumiço de Celo. “Onde ele está?”. Pensamentos turbulentos invadiam sua mente.
Fabi deixou a bandeja apoiada no criado mudo, enquanto se juntava a Anna, tentando confortar Mari.
O celular de Mari tocou, quebrando o silêncio opressivo. Ela correu para atender, ansiosa por ouvir a voz de Celo. Mas, ao ver o nome da filha na tela, seu coração afundou.
— Alô, querida ... — Disse Mari, tentando esconder a emoção.
— Bom dia, mãe! Como está o passeio? Estão se divertindo? — Perguntou a filha, alegre.
Mari segurou o celular com força, lutando contra as lágrimas. A voz inocente da filha a fez perder o controle. Soluços intensos sacudiam seu corpo.
— Mãe? O que aconteceu? Papai está bem? — Perguntou a filha, preocupada.
Anna interveio, gentilmente:
— Me deixe falar, Mari.
Mas Mari sacudiu a cabeça, determinada a enfrentar a verdade.
— Eu ... eu estou bem, querida. — Gaguejou, entre soluços. — A viagem ... foi interrompida.
— Interrompida? Por quê? — Insistiu a filha.
Mari respirou fundo, procurando palavras.
— O seu pai ... ele ... sumiu. — Mari confessou, chorando.
Anna pegou o celular:
— O seu pai está bem, mas precisou resolver algumas coisas. Ele entrará em contato logo.
A filha estranhou a situação. Anna devolveu o celular para Mari.
— Mãe … como assim ele sumiu? Seja honesta. É que ele ficou de me enviar um dinheiro, mas até agora nada. Papai não é de esquecer as coisas.
Mari encontrou coragem e foi honesta.
— Eu não sei se o seu pai quer falar comigo, querida. Nós ... estamos passando por dificuldades. Ele saiu sem levar o celular.
— Ele sumiu ou saiu sem dar satisfação? — A voz da filha falhou, mas ela se forçou a falar. — Já procuraram em hospitais? Talvez …
— Sim, não há registro de acidentes. — Respondeu Mari rapidamente, com voz trêmula, tentando acalmar a filha.
Filha de um especialista em segurança digital, a garota, pensando rápido, sugeriu:
— Verifique as câmeras e o sistema de segurança de casa e a conta conjunta. Papai sempre controla tudo.
Mari sentiu uma pontada de esperança:
— Você tem razão. Vou conferir. Volto a ligar depois, querida. Te amo.
Após desligar, Mari verificou as câmeras e a conta. Não havia movimentação financeira suspeita, mas as imagens mostravam Celo chegando em casa, arrumando uma mala, pegando um celular antigo, o outro violão, e partindo com o carro.
Mari sentiu um misto de alívio e angústia. “Onde ele estava? Por que não entrava em contato?” Ela sentia um vazio insuportável. Cada minuto sem notícias do marido era uma agonia. Pelo menos, agora sabia que ele estava bem e que sumir tinha sido uma escolha. E, principalmente, sua intuição lhe deu a certeza de que tudo estava relacionado com a sua noite com Paul.
Educadamente, ela pediu à Anna:
— Vocês podem me levar para casa? Eu não tenho como voltar sozinha.
Anna concordou:
— Lógico, Mari. Vamos arrumar as malas e logo partimos. Vou avisar ao Paul.
Anna e Fabi a deixaram sozinha e ela informou a filha sobre o que viu nas câmeras. A filha lhe deu notícias difíceis.
— Acabei de falar com o pai também …
Ela fez uma pausa, esperando alguma pergunta da mãe. Mari permaneceu em silêncio, preocupada. A filha prosseguiu:
— Não sei o que aconteceu entre vocês e como o papai disse, muito bravo, não é um problema meu. Se a senhora precisar de qualquer coisa, estou aqui. Eu amo vocês e detesto vê-los brigados.
Mari agradeceu, mas ouviu um lamento da filha.
— Droga! Acabei esquecendo de falar do dinheiro. Vou ter que ligar novamente.
Mari, ainda devastada, mas separando as situações, perguntou:
— De quanto você precisa? Deixa que eu mesma envio.
Conversaram por alguns minutos, enquanto Mari arrumava sua mala e logo se despediram. Ela deu uma ajeitada no quarto, diminuindo a bagunça e, com muito carinho, como se fossem relíquias arqueológicas, como se tivessem um valor inestimável, recolheu os objetos e coisas que Celo tinha deixado para trás.
Com Paul dirigindo, e Mari refletindo sobre suas escolhas, sobre a culpa que sentia, subiram a serra rapidamente, chegando à casa sem demora.
— Tem certeza de que quer ficar sozinha, amiga? Eu não sei se estou confortável em te deixar nesse momento. — Anna a encarava com olhar decidido.
O telefone da Mari vibrou. Uma mensagem tinha chegado. Seus olhos brilharam esperançosos. Finalmente, Celo entrou em contato.
"Estou bem e seguro. Você sabe o que fez e como me machucou. Descumpriu nosso combinado e quebrou a minha confiança. Preciso de tempo e espaço para processar meus sentimentos. Por favor, não me procure. Quero entender se podemos seguir adiante. Não é um adeus, mas um até logo”.
O pranto veio forte novamente. Sem entender, Anna pegou o celular de sua mão e leu a mensagem. Ela entregou o celular para o Paul e abraçou Mari, tentando confortá-la, acalmar seu coração.
Paul sentiu o peso de suas atitudes. Do flerte mais forte, da sedução, de ter conseguido seus objetivos. Pela primeira vez na vida, se sentia um canalha, culpado pelo sofrimento da Mari. Decidido, ele falou:
— Eu vou consertar isso, Mari. Eu prometo a você. Vou achar o Celo e explicar tudo, convencê-lo a voltar.
Incapazes de abandonar Mari naquele momento, Paul estacionou o carro e os três seguiram para dentro da casa. Anna cuidou da amiga naquela noite, enquanto Paul acionava seus contatos. A culpa o consumia, ele precisava encontrar o Celo.
{…}
Celo tinha ido embora um dia antes. Paul, Anna e Mari, naquela tarde, mas os outros dois casais ainda permaneciam na casa de praia.
Fabi serviu drinques para todos na área da piscina, enquanto Chris, Cora e Giba se reuniam ao redor da mesa. Para aqueles quatro, a safadeza não tinha hora e nem lugar. Apesar de todo o drama que se desenrolou durante as últimas trinta e seis horas, eles estavam excitados, ainda com pique para se divertirem.
— É incrível. — Disse Chris, puxando Fabi para o seu colo. — Celo sumir assim, sem avisar.
— E sem levar o celular. — Acrescentou Giba, alisando os seios de Cora, sua esposa.
Cora franziu a testa, levando a mão ao pau do marido e teorizando:
— Acho que isso tem a ver com o que aconteceu naquela noite.
Fabi ergueu uma sobrancelha. De joelhos, ela já punhetava Chris:
— Você acha que Celo descobriu sobre Mari e Paul?
Giba, sentindo as mãos habilidosas de Cora, balançou a cabeça:
— Impossível. Eles estavam muito bêbados ...
Cora interrompeu, também já se ajoelhando entre as pernas dele.
— Não subestimem o Celo. Ele é inteligente.
Chris refletiu, tentando se concentrar, já com o pau todo atolado na boca da Fabi.
— Se ele soube, isso explicaria o sumiço.
Fabi, tirando o pau da boca, respondeu.
— Coitada da Mari. Ela está desesperada.
Giba, entre gemidos, disse:
— E o Celo? Onde ele pode estar?
O grupo ficou em silêncio, perdido em especulações e preocupações. Cora e Fabi mamando as rolas com habilidade.
Cora, pensativa, punhetando Giba, sugeriu.
— Talvez não tenha sido acidental.
Fabi, curiosa, sem entender, quase se engasgou com o pau, tossindo antes de perguntar:
— O quê? Você acha que Mari e Paul planejaram?
Cora, vendo que sua teoria ganhava força, assentiu.
— Sim. Lembrem-se das regras que Celo e Mari estabeleceram. Eu acho que eles não respeitaram o combinado.
Giba franziu a testa, segurando a mão ágil de Cora por um segundo.
— Quais regras? O que foi combinado?
— Acho que valia quase tudo, menos o ato em si. Penetração principalmente. — Respondeu Cora. — Eles combinaram e concordaram. Paul forçou um pouco a barra, o que é bem normal, já que é um jogo de conquista, mas Mari cedeu muito fácil. Só acho …
Chris arregalou os olhos.
— Isso muda tudo.
Giba concordou com o amigo.
— Mari e Paul quebraram a confiança.
Cora balançou a cabeça:
— Celo não perdoaria isso. — E completou. — E agora ele sumiu. É como se tivesse dado um fim ao relacionamento.
Cora prosseguiu, analisando:
— Lembrem-se de como Mari e Paul flertavam o tempo todo. A tensão sexual era palpável. — Cora sorriu, maliciosa. — Acho que eles planejaram aquela noite, sabendo das consequências.
O clima para sexo deu uma diminuída. Todos estavam concentrados na conversa. Chris especulou:
— Isso explicaria, então, porque Celo sumiu de repente, sem nenhuma explicação. Ele deve ter visto ou ouvido o que aconteceu. Todos nós ouvimos claramente.
Fabi concordou:
— Por isso Mari está desesperada … ela sabe muito bem o que fez.
Giba completou:
— Celo me pareceu um homem muito correto. Isso pode ter sido demais para ele. Fantasiar é uma coisa, já ao vivo, a história é bem diferente. Acho que ele se arrependeu do próprio desejo.
Cora concluiu:
— Mari e Paul brincaram com fogo e se queimaram. Agora, precisam enfrentar as consequências.
Fabi interveio, suavizando o tom. Tudo aquilo parecia mais especulação do que realidade.
— Cora, talvez você esteja sendo muito dura. Celo parecia confortável com a situação, incentivador, até onde vimos.
Cora, contrariada, não se deu por vencida.
— Ou ele estava apenas fingindo?
Fabi contrapôs:
— Não sei, mas ele não demonstrou desconfiança. Pode ser que tenha havido um mal-entendido.
Chris refletiu:
— Ou Celo pode ter mudado de ideia, repentinamente.
Giba acrescentou:
— Precisamos considerar todas as possibilidades.
Cora, se rendendo, suspirou:
— Talvez tenhamos que esperar para descobrir a verdade.
Em pouco tempo, com a mudança de assunto, o fogo estava de volta e a noite entre os quatros esquentou de vez.
{…}
O feriado chegara ao fim, e após cuidar da Mari durante toda a noite, Paul e Anna precisavam voltar às suas rotinas. Mesmo com o sentimento de culpa cada vez mais forte, com o coração pesado, eles se despediram da amiga.
— Fica bem, tá? Eu prometo que irei encontrar o Celo e trazê-lo de volta para você. — Disse Paul.
Após um abraço longo, muito apertado, sem querer soltá-la, Anna também fez promessas:
— No que precisar, não hesite em ligar para mim. Eu largo tudo e volto correndo. Nós vamos achar o Celo, eu também te prometo.
Por dias, Mari vagou pela casa vazia, cercada por lembranças de Celo. Cada cômodo, cada objeto, ecoava sua ausência. Ela sentia-se perdida, sufocada pelo silêncio.
No quarto, o relógio dele, antigo, de corda, ainda marcava o tempo, uma ironia cruel. Mari segurou o travesseiro dele, inalando o cheiro familiar. Na cozinha, o café da manhã que eles compartilhavam estava ausente. O silêncio era ensurdecedor.
Mari sentou-se no sofá, cercada por fotos deles. Lágrimas escorriam enquanto ela olhava para o vazio. Dias se passavam. Sem respostas. Sem notícias.
Ela enviava mensagens, feitas de desespero e amor:
"Onde você está?".
"Por favor, responda".
"Eu te amo".
O celular permanecia mudo.
Mari sentia-se abandonada, consumida pela solidão. Ela se perguntava: "Sei que errei, sei que mereço o que está acontecendo. Mas tudo era tão frágil assim? Tudo era uma utopia?”.
Mari caminhava pela casa escura, sombras dançando nas paredes. Cada passo ecoava sua solidão. Ela sentia-se uma sombra da mulher que era. No banheiro, o espelho refletia olhos vazios, um rosto pálido. Mari tocou o vidro gelado, buscando o calor de Celo.
— Onde você está? — Ela sussurrava, desesperada.
A casa parecia um túmulo, enterrando seus sonhos. Mari se deitou no chão, cercada por silêncio. Lágrimas secas. Dor latejante. Solidão asfixiante.
Ela gritava, sem som, apenas ecoando dentro de si:
— Celo! Volte!
No escuro, Mari sentia-se perdida, sem rumo. A ausência dele era um buraco sem fundo. Ela rolava pelo chão, agarrando-se a lembranças, pedaços de um amor despedaçado.
— Eu te amo! — Gritava, até a exaustão.
Silêncio era sua resposta.
As mensagens se acumularam no celular. Anna, Cora, Fabi, Paul … nenhuma de Celo.
Sem obter resposta às suas chamadas e mensagens, a filha retornou para casa, preocupada, encontrando Mari deitada no chão do quarto, cercada por fotos e lembranças do pai. Seu rosto estava pálido, os olhos inchados de chorar.
— Mãe! — Exclamou, ajoelhando-se ao lado dela. — O que aconteceu?
Mari olhou para cima, vagamente reconhecendo a filha.
— Ele não vai voltar. — Ela sussurrava. — Eu o perdi.
A filha abraçou Mari, tentando confortá-la.
— Na hora certa ele vai voltar, mãe. Não se preocupe.
Mari balançou a cabeça.
— Eu errei. Eu o perdi.
A filha segurou as mãos de Mari, olhando fundo em seus olhos.
— Mãe, lembra do que o papai disse? Ele precisa de espaço e tempo. Não é o fim.
Mari suspirou, desesperada.
— Mas já faz tanto tempo ...
— Papai te ama, mãe. Isso é apenas uma separação temporária. Ele vai voltar quando estiver pronto. — Afirmou a filha, com calma, acariciando seus cabelos.
Mari olhou para a filha, buscando conforto em suas palavras. Uma lágrima rolou por sua bochecha.
— Você acha mesmo que ele vai voltar?
A filha assentiu.
— Sim, mãe. Papai sempre volta para quem ama.
A conversa foi interrompida pelo som de uma chamada no telefone da Mari. Vendo que a mãe não reagia, pois Mari já tinha perdido as esperanças de ser uma ligação do Celo, a garota resolveu atender.
— Alô?
— Olá, é a Dra. Luciana, terapeuta da Mari. Com que eu falo?
— Oi, doutora. Timing perfeito. — A filha suspirou. — Ela está mal, doutora. Eu sou filha dela.
— Posso ir até aí? Estou preocupada com sua mãe. Ela faltou às duas últimas sessões.
A filha concordou:
— Sim, por favor. Acho que mamãe precisa de ajuda agora, mais do que nunca.
— Estou a caminho, chego em meia hora.
A filha desligou e se ajoelhou ao lado de Mari, segurando sua mão.
— Mãe, a Dra. Luciana vai chegar logo. Ela vai te ajudar a superar isso.
Mari olhou para cima, com olhos tristes.
— Não adianta ... Ele não vai voltar.
A filha abraçou-a.
— Não diga isso, mãe. Papai te ama. A doutora vai te ajudar a entender melhor.
Mari suspirou, forçando um sorriso.
— Obrigada, filha …
Continua …
É PROIBIDO CÓPIA, REPRODUÇÃO OU QUALQUER USO DESTE CONTO SEM AUTORIZAÇÃO – DIREITOS RESERVADOS – PROIBIDA A REPRODUÇÃO EM OUTROS BLOGS OU SITES. PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA NA CASA DOS CONTOS ERÓTICOS.