XXV
O homem chorava como um menino resmungão. Os olhos semicerrados e as lágrimas escorrendo pelo queixo. Minha primeira reação foi avançar para ele, agachando-me próximo:
- Betão, - falei - você tá se sentindo mal?
Ele sacodiu a cabeça e esmurrando a si mesmo disse agressivo:
- Eu não funciono mais caralho! - havia um sincero desespero na sua voz - porra eu não funciono mais!
Betão voltou a estapear as bochechas vermelhas como o restante do corpo "que cheiro é esse?" pensei comigo mesmo, e logo notei, o suor na sua pele, a nudez quase completa exceto por um pano em cima da coxa. Eu desviei os olhos.
A revista que ele folheava mais cedo estava jogada ao pé da cama. A loirona peituda e tesuda se oferecendo na capa olhava para mim segurando as enormes tetas no papel gasto dos anos dois mil, provavelmente.
- Isso é antigo hein - falei.
Ele resfolegou chupando o nariz e limpando com as costas da mão, quase como se quisesse me xingar mas respondeu:
- Eu apelei para isso aí. Quando eu era moleque funcionava. Até vídeos pornôs eu assisti. Paguei puta, para ver se voltava a funcionar. Dinheiro jogado no lixo.
- O que tá rolando? - "e o viagra meu amigo?" pensei - Não sobe é isso?
Ele confirmou com a cabeça, transpirava como alguém desesperado diante de uma derrota atrás da outra.
- Cara eu... - respirou fundo. - Eu não estou conseguindo...
- Mas pode ser efeito dos remédios, não?
Ele negou. O tratamento não provocava a impotência de forma tão ostensiva, pelo contrario, a intenção era normalizar, "mas a clamídia talvez", pensei julgando-o um pouco dramático demais.
Betão embolou as próprias palavras contendo um grito interno de raiva, disse:
- Duval disse para eu não fazer sexo - ele imitou a voz do Duval em tom de deboche - para ele é fácil falar! Caralho! Ficar sem comer uma boceta! Nem um cu, entende isso? Porra! Desgraça!
Ele olhou para o pau. Os olhos ocupavam o rosto inteiro em completo alarde.
- Porra eu estou subindo pelas paredes caralho! - reclamou. - Não pode ser normal. Caralho eu sou novo ainda e mesmo assim não sobe. Como é possível?
Ele bateu a mão na toalha em cima da coxa direita e mostrou a verga "mas é bonito!" mesmo murcho. Eu engoli a saliva que avolumava na minha boca como um dilúvio. No susto caí para trás apoiando nos pulsos.
- Calma - falei mais para mim mesmo. - Calma.
Betão desarmou os traços rígidos em cima dos olhos e nas bochechas baixando as sobrancelhas, a espera de que eu continuasse, "será que ele acha que falei com ele?", o fato era que Betão estava olhando em minha direção.
Na expectativa que eu dissesse algo e eu disse a primeira coisa que me veio a mente.
- Eu conheço uma técnica que levanta até defunto.
Era mentira.
Mas as pálpebras baixas de cachorro sem rumo eram enervantes.
Seu semblante mudou depois que ouviu a mentira. As linhas de expressão desapareceram. Ele olhou esperançoso em minha direção e as suas arfadas diminuíram.
- Jura?
O seu tom de voz caiu algumas oitavas. Ele falou de forma aveludada, suave como uma criança depois do susto. Eu gostei da forma como olhava para mim como a salvação da lavoura, e firme continuei:
- Sim. Mas vai ter que confiar em mim.
Ele olhou de lado enviesado como se desconfiasse. Mas soltou o ar dos pulmões em seguida, assentiu.
- Você não tem medo? - ele perguntou.
- Eu deveria ter? - devolvi.
Betão sacodiu os ombros enormes apesar de não estarem mais muito bombados porque até a academia ele vinha deixando de lado depois dos seus problemas.
- Não, eu estou tomando os medicamentos e as injeções direitinho.
- Então meu bem, - falei sentindo minhas bochechas quentes - relaxa que a gozada vem forte.
Ele sorriu e relaxou o corpo, vestiu uma cueca, short e camiseta.
Betão segurou o baralho na mão esquerda e ficou passando, olhou para mim, que me preparava para dormir.
Deu pena.
- Quer jogar? - falei.
Betão parecia um meninão. Ele separou as cartas. As dores no meu cuzinho desanimavam qualquer pensamento obsceno "Fabrício pegou pesado", eu pensava. Mas vê-los mais confiantes e animados me animava também.
Era o meu fraco. Satisfazer o macho. "E vai ser tua perdição", suspirei, olhando para os valetes na minha mão.
- Eu vou vencer de novo, - ele suspirou - jogar assim não tem graça.
- Você é mestre nisso Betão... - justifiquei.
Ele sorriu juntando as cartas em um bolo novamente. O assunto da sua impotência sexual adormeceu antes de o sono nós alcançar. Mas enfim, ressonei, e Betão falou com uma voz de sono:
- Você estava falando sério em me ajudar né? - ele perguntou num fio de voz.
Eu cansado dos pés a cabeça respondi:
- Claro que sim.
E entrei debaixo dos meus lençóis, relaxando as pernas, descansando.
Saltei da cama sem pensar na promessa que havia feito ao Betão, segui a rotina normal, até cuspir a espuma da pasta de dentes da boca, e enfim, lembrar "que porra que eu fiz?", era um compromisso afinal, "Como é que eu vou fazer?".
Consegui sair de casa sem ninguém perceber minha presença e a noite voltei de fininho. Os meninos trepavam comigo mas não cruzavam informações sobre as fodas. Embora um suspeitasse do outro. Então eu aprendei os horários deles.
Mas fugir do Betão era mais complicado porque ele era o meu parceiro de quarto!
Obviamente que tinha que procurar um lugar para ficar na encolha com medo de o Betão me encostar na parede e com o dedo na minha cara dizer:
- E aí meu chapa vai ajudar ou não?
Eu imaginava a cena na minha cabeça.
- Eu posso chupar você?
"Ele pode me dar um muro na cara" ou muito pior que um nariz torto "uma saúde torta", eu lia as informações sobre doenças sexuais, e ficava tiritando de medo. Mas Betão nunca nem tentara nada de teor sexual.
O primeiro abrigo que achei acolhida foi o quarto de Fabrício e o preço era usar aquela porra de cueca que deixava o cu arreganhado e a toda disposição enquanto confinava o meu saco ao aperto.
Em compensação...
- Tô em ponto de bala! - ele dizia com a piroca duraça.
O safado dava um tapa na jeba que balançava de uma coxa para outra e vinha para cima de mim como um cavalo. Minha vida de puta não era fácil não!
- Vai com calma gostoso... - eu dizia para ele enquanto me fodia mas era como se eu tivesse dito - mete com tudo que eu aguento!
Ele fodia como se não houvesse amanhã impondo uma força que fazia as veias dos seu pescoço e dos seus braços saltarem. Fabrício passava parte da madrugada acordado na sala, estudando, e me acordava com a piroca na cara.
- Tô em ponto de bala! - ou com um sorriso safado apertando o mamilo. - Tô galhudão pra caralho!
O seu pau babão era a primeira coisa que eu via diante do meu nariz. Era abrir a boca e correr para o abraço. "Será que não existe comedor romântico nesta terra seca?", eu brincava comigo mesmo enquanto fazia a limpeza do meu cuzinho assado.
Eu aproveitava as horas em que o Betão não estava por perto. Fabrício deixava eu dormir no seu quarto mas a todo momento perguntava:
- Tu não tá fodendo com o Beto não né?
- Não.
- Porra se liga ele ainda tá infectado.
- Eu sei.
- Então porque tá fugindo do cara?
Eu fingia que havia ficado chateadinho e ameaçava sair do quarto. Mas a foda fácil a hora que bem entendia enquanto eu estivesse ali ao seu lado, o impelia a vir correndo atrás de mim e agarrar por trás roçando a rola na minha bunda.
- Sorte sua ser um veadinho gostoso pra caralho, - ele sussurrava - e cheirosinho...
Eu ficava todo arrepiado e esquecia da surra de rola que aquelas palavras doces escondiam. A brutalidade, por estranho que pareça, era um atrativo naquele macho.
Uma noite depois de fodermos. Ele mexendo no celular virou para mim e disse:
- Olha isso, - era uma notícia - estágio para estudantes de comunicação. É uma boa para você.
A ideia me agradou e eu quis até ler mais sobre mas... Eu senti com o joelho o pau do Fabrício endurecendo novamente, enquanto eu lia as informações de forma apressada.
- De novo? - falei sem acreditar.
Ele sorriu e veio para cima de mim.