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Keyla:
Acordei com gritos vindo da cozinha e conhecia bem aqueles gritos: era minha mãe aprontando mais um escândalo. Como Patrícia não estava na cama, imaginei que ela era a vítima dos xingamentos da minha mãe. Quando fui levantar, percebi que havia silêncio; os gritos pararam e só escutei a voz da Patrícia, mas não consegui identificar o que ela falava. Levantei e, ao abrir a porta, vi Patrícia entrando no corredor. Quando ela me viu, parou e me esperou, dizendo que minha mãe queria falar comigo. Percebi que ela estava com o rosto vermelho, provavelmente de raiva. Segurei a mão dela e disse para ela vir comigo; já estava na hora de deixar as coisas claras para minha mãe.
Cheguei à cozinha e minha mãe estava em pé perto da porta de entrada, com a cara assustada e passando a mão no pescoço. Tive a ligeira impressão de que Patrícia tinha dado uma enforcada nela, mas não falei nada. Ela me viu e, com certeza, notou que eu estava de mãos dadas com Patrícia, e já fechou a cara.
Keyla— O que você quer aqui, mãe?
Mãe— O que significa isso? Você está com essa garota?
Keyla— Não é da sua conta, mas sim, mãe, estou com ela, e o nome dela é Patrícia.
Mãe— Ela acabou de me agredir, tentou aproveitar-se do seu pai e você está com ela? Você só pode estar doida, minha filha!
Keyla— Pelo amor de Deus, mãe, estou cansada de saber que isso é mentira. Meu pai nunca teve nada com Patrícia. Pare de insistir nas suas mentiras! Você já agrediu ela uma vez e ela ficou quieta. Aposto que tentou agredi-la de novo, mas dessa vez ela reagiu. Então, se quiser conversar como gente civilizada, pode falar. Se for para continuar com suas mentiras, pode dar meia volta e ir embora, ou eu mesma peço à Patrícia para te mostrar a saída.
Mãe— Você vai ficar mesmo contra sua própria mãe?
Keyla— Não se faça de vítima, porque você mentiu para mim, me roubou e agora quer dar uma de mãe. Por favor, me poupe. Se só veio fazer escândalo e seu teatrinho, pode ir.
Mãe— Não, eu quero conversar.
Keyla— Estou ouvindo, mãe. Pode falar.
Mãe— Eu preferiria que fosse uma conversa só entre mãe e filha.
Keyla— Você perdeu esse direito quando esqueceu o que é ser mãe. E outra, ela é minha namorada e não tenho nada para esconder dela, então ela vai ficar sim.
Patrícia— Melhor vocês conversarem a sós. Eu te espero no quarto.
Keyla— Nada disso, você fica, por favor.
Patrícia— Tudo bem, então.
Keyla— Então, mãe, o que a senhora tem para conversar comigo?
Mãe— Volta para casa. Seu pai me abandonou, agora você me abandonou, eu me sinto muito sozinha.
Keyla— Nós não abandonamos a senhora. Foi a senhora que nos afastou de você. Meu pai era um ótimo marido, amava a senhora e nunca a traiu. E a senhora o afastou com suas crises de ciúmes sem motivos. Mas, não satisfeita, resolveu mentir para mim, tentou me jogar contra meu pai, me roubou, mãe, sua própria filha. Aposto que gastou todo o dinheiro com aquele vagabundo que a senhora colocou dentro de casa. Por falar nisso, cadê ele?
Mãe— Ele foi embora, terminou tudo comigo porque você ameaçou ele aquele dia. Ele ficou com medo dos amigos do seu pai.
Keyla— A senhora acreditou mesmo que isso é verdade?
Mãe— Não, sei que ele usou isso como desculpa para me abandonar, mas isso não importa. Estou sozinha naquela casa, as coisas de comer estão acabando. Eu preciso de ajuda, filha, por favor.
Keyla— Pelo menos a senhora acordou para o tipo de homem que aquele safado era. Mas eu não posso ajudar, mãe. Eu não tenho dinheiro. O que tenho é para eu e Patrícia comer e para eu voltar a estudar. Voltar para aquela casa está totalmente fora de questão. A senhora me magoou muito, mãe. Me desculpe, mas eu preciso de um tempo longe de você.
Mãe— Eu sei, filha, mas o que eu vou fazer agora? Estou desesperada.
Keyla— A senhora tem a casa da minha avó para voltar. Tenho certeza de que ela vai te receber de braços abertos, já que tem vivido praticamente sozinha nos últimos anos. Volte para lá, arrume um advogado para ver se a senhora tem direito a uma pensão ou aposentadoria, procure um emprego. Se a senhora fizer isso, eu vendo aquela casa e te dou o dinheiro, já que, no fundo, aquela casa é da senhora. Mas só se a senhora fizer por onde, ou sinceramente não vou ajudar em nada e esquecer que tenho uma mãe.
Mãe— Vou fazer o que você falou, filha.
Nessa altura da conversa, minha mãe já tinha perdido a pose, estava de cabeça baixa e chorando. Me partia o coração ver ela daquele jeito. Não estava sendo fácil ser dura com ela, mas eu precisava, para o bem dela. Minha mãe nem tinha 40 anos ainda; ela podia voltar a ser a pessoa boa que era, mas, por algum motivo, se perdeu nos últimos anos e precisava de um sacode para acordar para a vida.
Ela me agradeceu, virou as costas e foi saindo. Não aguentei e a chamei, fui até ela, dei um abraço e falei que a amava muito e queria muito ter a mãe que eu tinha de volta. Ela disse que também me amava, pediu desculpas por ter estragado tudo, me deu um beijo no rosto e se despediu de Patrícia antes de ir. Quando fechei a porta, não aguentei e corri até Patrícia, chorando em seu ombro.
Fomos para o quarto. Eu fui para o banho e, quando saí, já me sentia melhor. Acho que demorei no banho, porque, quando saí, Patrícia já tinha preparado o nosso café. Sentei com ela e tomamos café. Ela estava meio calada e, às vezes, me olhava e dava um sorriso tímido. Eu achava fofo quando ela ficava com o rosto vermelho de vergonha.
Keyla— O que houve? Está assim calada por medo de eu ter achado ruim você ter dado um "sossega" na minha mãe?
Patrícia— Não, e eu não fiz nada com ela, eu juro. Quando abri a porta, ela já começou a me xingar e foi entrando. Quando fui falar que ia te chamar, ela veio para cima de mim para me dar um tapa. Eu só segurei a mão dela, torci o braço para trás e segurei seu pescoço, pedindo para ela ficar calma. Ela começou a debater, aí apertei um pouquinho o braço no pescoço dela só para ela se acalmar. Só isso.
Keyla— Apertou um pouquinho, né? Kkkkkkkkkkk
Patrícia— Tá bom, eu dei uma enforcada nela, mas juro que não a machuquei.
Keyla— Eu sei, ela mereceu e você fez muito bem. Juro que não fiquei com raiva. Mas se não é por isso que está assim, o que foi então?
Patrícia— Não é nada, bobeira minha 🤭
Keyla— Ah, nem vem! O que é? Fala, por favor.
Patrícia— Tá bom, é que você falou para sua mãe que sou sua namorada. Sei que falou só para irritá-la naquele momento, mas eu amei!
Keyla— Não foi só por isso. Sei que não conversamos sobre isso, mas para mim você é minha namorada. Sei que falei para a gente ir devagar, mas é assim que eu te vejo!
Patrícia— Não precisamos ir devagar em tudo. Eu também te vejo assim e iria amar ser sua namorada, amor! Posso te chamar assim, né?
Keyla— Pode não, deve, minha namorada!
Patrícia se levantou da cadeira e veio sentar no meu colo, tirou o copo de café da minha mão, colocou em cima da mesa e me deu um beijo muito gostoso, me abraçando apertado. Quando me soltou, vi que seus olhos estavam marejados. Ela realmente estava emocionada com aquela conversa. Senti que ela realmente gostava muito de mim, assim como eu gostava dela.
Keyla— Amor, eu amo ficar assim de chamego com você, mas precisamos resolver nossas vidas.
Patrícia— Eu sei, amor. O que tem em mente?
Keyla— Eu vou ligar para minha antiga patroa para conversar com ela. Vou ver se consigo meu trabalho de volta e se tem uma vaga para você.
Patrícia— E que trabalho é esse? É na loja de roupa, né?
Keyla— É sim, só roupa cara. Fica no centro, é enorme a loja. Você iria trabalhar como vendedora, como eu. Você tem tudo que precisa: é bonita, se veste bem até com roupa simples, é educada, sabe conversar. O resto eu mesma te ensino.
Patrícia— Sou meio tímida.
Keyla— Não leve a mal o que vou falar, mas você vendia drogas e, pelo que me contou, vendia muito bem. É quase a mesma coisa.
Patrícia— Mas droga eu praticamente vendia sozinha, amor.
Keyla— As roupas de lá também, vai por mim.
Patrícia— Se você está dizendo, vou confiar.
Keyla— Eu também preciso ir à universidade dar entrada na minha papelada. Logo vão começar as aulas.
Patrícia— Entendi.
O sorriso que estava no rosto dela sumiu na hora quando disse que iria voltar a estudar. Eu tinha visto seus materiais de estudo no quarto; vi um papel com suas notas. Não olhei detalhadamente, mas as notas que vi eram perfeitas, bem melhores que as minhas, e olha que eu era muito boa nos estudos.
Keyla— Amor, o que houve? Ficou triste por eu falar que vou entrar na universidade?
Patrícia— Não, lógico que não! Estou muito feliz por você, amor! Estou triste porque eu queria ir com você, mas pelo menos nesse ano não vai dar.
Keyla— Entendi, mas por que não vai dar, amor?
Patrícia— Porque fica caro. Mesmo se der certo o emprego, não vou conseguir pagar meus estudos. Mas vou juntar uma boa grana e, ano que vem, eu volto.
Keyla— Talvez dê, amor. Se a gente economizar e se eu vender o carro, dá para nós duas pagarmos nossas mensalidades.
Patrícia— Eu já pesquisei os preços, já fiz umas contas e é impossível. Se pelo menos seu pai ainda estivesse aqui, ele que ia arrumar a bolsa de estudos para mim.
Keyla— Meu pai te falou isso?
Patrícia— Sim, ele disse que se eu tirasse ótimas notas, poderia arranjar uma bolsa de estudos para mim. Disse que tinha alguém que ele conhecia que poderia ajudar.
Keyla— Eu entendi e sei quem é a pessoa. Vai lá no quarto e pega a folha com suas notas.
Com certeza meu pai iria pedir ajuda do seu irmão mais velho. Meu tio foi professor muitos anos em uma universidade; só parou de dar aulas porque virou diretor na mesma universidade. Eu já tinha até pensado em estudar lá, já que não era longe e, além disso, meu tio trabalhava como diretor lá.
Meu tio era muito gente boa, porém rígido com as coisas. Eu nunca pensei em pedir a ajuda dele, porque, apesar das minhas notas serem boas, não eram o suficiente para ganhar uma bolsa. Mas se as da Patrícia fossem boas, eu iria pedir a ajuda dele sim.
Logo Patrícia voltou com o papel com suas notas. Eu olhei e fiquei de boca aberta; eram perfeitas! Ela era uma verdadeira nerd 🤓.
Peguei meu celular, tirei uma foto das notas e enviei para meu tio. Patrícia ficou ali, olhando enquanto eu mexia no celular. Aí lembrei que ela não tinha um e tive outra ideia.
Keyla— Amor, pega o celular que era do meu pai para mim, por favor.
Ela voltou ao quarto e veio com o celular nas mãos. Peguei ele e fui na galeria procurar algo importante, mas não tinha basicamente nada. Fui nas configurações e fiz uma restauração de fábrica. Tirei o chip dele e entreguei para ela, dizendo que assim que saíssemos, compraríamos um chip para ela usar nele. Ela abriu um sorriso lindo e me agradeceu.
Nisso, chega uma mensagem do meu tio perguntando se as notas eram minhas, porque, se fossem, ele tinha quase certeza de que eu ganharia uma bolsa integral. Respondi dizendo que, infelizmente, não eram minhas, mas sim da minha namorada, e que ela não iria estudar porque não podia pagar. Ele disse que era para eu ir até a casa dele para ele conhecer ela e também levar os documentos dela e os meus, que talvez poderiam ajudar.
Mostrei a conversa para Patrícia, que ficou muito feliz. Eu disse que não era nada certo, para ela não ter aquilo como uma certeza, mas que era muito provável que desse certo. Ela me agradeceu mais uma vez. Ela estava feliz, mas eu estava mais ainda. Poder ajudá-la me fazia um bem danado.
Aproveitei que as coisas estavam dando certo e mandei um áudio para minha ex-patroa, explicando que eu tinha voltado e que, quando tivesse uma vaga na loja, para me avisar. Se aparecessem duas, era melhor ainda, porque minha namorada também queria trabalhar lá.
Eu sabia que ela provavelmente iria demorar a responder, porque sempre demorava. Olhei para Patrícia ali na minha frente, toda feliz, e resolvi fazer outra coisa. Peguei-a pelas mãos e levei para o quarto. Quando cheguei, sentei-a na cama e comecei a tirar minha roupa ali na frente dela. Ela ficou me olhando com aquela cara de boba e com a boca aberta, deu vontade de rir.
Keyla— Vai ficar aí babando ou vai me ajudar a tirar o resto?
Patrícia— É que eu achei que você queria ir devagar.
Keyla— Amor, que se dane o mundo! Eu não aguento mais de desejo por você. Quero ser sua agora. Depois a gente se preocupa com o resto.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper