E agora? Muito bom mas sem final.
Vicente, o filho da puta
Sou o filho de uma puta chamada Lucila, de quem não sei quase nada. Uma semana depois de me colocar no mundo, minha mãe morreu na cama do bordel onde trabalhava e eu fiquei nas mãos das suas companheiras de profissão. Durante o dia, aquelas mulheres me jogavam de um canto para outro, como se eu fosse um brinquedo. À noite, elas me deixavam trancado num quarto dos fundos, para eu não incomodar seus clientes.
A dona do bordel era Ninete, a cafetina mais famosa da cidade. Como se sabe, filho de puta não tem pai, por isso não havia ninguém a quem eu pudesse ser entregue. Ninete dizia que nem minha mãe sabia quem era o homem que me botou no mundo. Segundo ela, durante os três anos em que trabalhou na sua casa, a vadia Lucila foi usada por todos os machos da cidade e das redondezas.
Sempre ocupada com suas artimanhas para arrancar dinheiro dos homens, a cafetina não tinha tempo para gastar comigo, mas foi às suas custas que consegui sobreviver. Ela era uma mulher de negócios; fazia tudo pensando em lucro. Não foi de graça que me deixou ficar em sua casa. Quando julgou que eu já podia trabalhar, ela me colocou para fazer serviços domésticos pela manhã e para ajudar nas tarefas do salão à noite. Era dessa forma que eu pagaria pela moradia e pela comida.
Para ocupar minhas tardes, Ninete me colocou para estudar numa escola que ficava nas imediações do bordel. Lá, todos sabiam onde eu morava. Sem me dar descanso, os meninos se divertiam atirando coisas em mim e me chamando de filho da puta, filho de rapariga e até de putinha de cabaré. Os mais atrevidos puxavam meus cabelos e metiam a mão na minha bunda, para provocar o riso dos outros. Um garoto mais velho que eu, vivia me perseguindo e me mostrando sua rola, dizendo que iria me botar para mamar e depois ia meter no meu cu, mas eu sempre fugi das suas garras.
Mesmo sem ter amigos, sofrendo com a maldade dos colegas e com o desprezo de algumas professoras, sempre me dei bem nos estudos. Com meus esforços, adquiri uma formação melhor do que a de muitos rapazes que passaram todos aqueles anos infernizando minha vida. Sou muito grato a Ninete por ter me colocado na escola. Embora não demonstrasse sentimentos, ela fez por mim algo que muitas mães não podiam fazer por seus filhos naquele tempo.
Na minha primeira noite no salão, fiquei apavorado quando um cliente arrancou da cintura o grosso cinturão de couro e deu uma surra em Verbena, a puta que tinha a maior bunda da casa. A cada chicotada que a infeliz recebia, eu sentia um tremor no meu corpo, como se fosse em mim que o bruto estivesse batendo. E o mais estranho era que as pessoas que estavam ali se divertiam apreciando aquela covardia.
Em pouco tempo, eu me acostumei com essas coisas. Em uma semana de trabalho, eu já não me assustava quando um cliente dava tapas na cara de uma mulher ou levantava a saia dela e enfiava o dedo na sua buceta. Também deixei de ficar envergonhado quando algum macho puxava a vara para fora da calça e metia na boca, na buceta ou no cu de uma puta, no meio do salão, para todo mundo ver. Eu havia crescido ali dentro, essas coisas faziam parte da vida em um puteiro.
Eu só não entendia o desejo que as putas despertavam nos homens. Acostumado a viver no meio daquelas mulheres, eu nunca me imaginei montando numa delas. Olhando-as disfarçadamente, eu percebia o quanto elas eram estragadas. As putas mais famosas da cidade tinham o rosto marcado por feridas, cabelos maltratados e pele ensebada. Algumas tinham os seios pendurados, como se fossem sacolas vazias. Algumas cheiravam mal. Havia uma ou outra que possuía alguma beleza, mas os clientes não pareciam diferenciá-las, para eles, putas eram todas iguais.
Quando alguma delas se despia na minha frente, eu desviava os olhos de sua buceta cabeluda, que parecia um bicho do mato. Lembro que tive uma crise de riso quando compreendi o motivo pelo qual a desdentada Coraci era muito requisitada pelos homens. Eu nunca colocaria meu pau fino e comprido para ser mamado pela boca murcha daquela infeliz.
O bordel era frequentado por fazendeiros, lavradores, peões, autoridades e doutores. Desde que tivesse dinheiro, as portas da casa de Ninete estavam abertas para qualquer macho que quisesse se servir de uma fêmea. Enquanto as mulheres divertiam os clientes, eu entregava bebidas, limpava as mesas e fazia tudo o que me mandassem. Eu era um rapazinho franzino e maltrapilho, por isso ninguém prestava atenção em mim. Fazendo meu trabalho em silêncio, eu observava os homens que frequentavam a casa e me sentia estranho no meio deles.
Dos frequentadores do bordel, o que mais atraía meu olhar era um rapaz chamado Inácio. Com as costas largas, os braços musculosos e o rosto emoldurado por uma barba fechada, ele era um dos homens mais bonitos daquele lugar. Sua boca grande e vermelha me deixava com sede. Sempre que ele aparecia, eu ficava perturbado e me sentia mole, como se estivesse com fome. Quando ele escolhia uma mulher para ir se divertir num dos quartos, eu ficava incomodado, como se estivesse com raiva.
As putas adoravam servir a Inácio. Durante o café da manhã, elas comentavam sobre o dote e as habilidades dele. Dando gargalhadas, elas faziam gestos com as mãos para representar o tamanho e a grossura da vara dele. Sentado num canto, eu prestava atenção aos detalhes da conversa e formava umas imagens confusas na mente. Eu ainda não me conhecia direito, mas já sabia que não deveria falar a ninguém sobre meus desejos.
— O safado só quer enterrar aquele tronco coberto de veias no rabo da gente! Ele gosta mais de comer cu do que buceta. Eu fico arrebentada quando ele mete aquele mastro vermelhão na minha bunda. Sofro muito, mas dou conta.
— Você gosta de ser enrabada, sua cadela!
— E você fica só na vontade, mas ele nunca quis meter a tromba nessa sua bunda de elefanta. De nada adianta você ter o maior traseiro da casa de Ninete.
Antes que essa conversa entre Tabernácula e Verbena se transformasse em uma briga, Ninete usou sua autoridade e encerrou a discussão. Durante todo o dia, eu pensei na tromba de Inácio e desejei que ele fosse como os homens que não se envergonhavam de baixar as calças no meio do salão, deixando seu dote à vista de todos, mas ele nunca fez isso.
Uma vez, ao lhe entregar uma bebida, olhei para o meio de suas pernas e fiquei admirado ao ver o grande tronco de carne espremido por baixo da apertada calça jeans. Ao levantar a cabeça, tive a impressão de que ele percebeu que eu estava olhando sua rola, por isso esboçou um sorriso. Envergonhado, eu me virei para voltar ao balcão e percebi que Ninete estava me observando. Quando ela sorriu, eu não soube se era para mim ou para Inácio.
A cafetina era uma mulher muito esperta; ela percebia tudo o que acontecia no bordel e era capaz de ver até o que se passava na alma das pessoas. Eu precisava me controlar para que ela não descobrisse quais eram os desejos que cresciam a cada dia na minha carne. Naquela noite, depois que todos os clientes foram embora, deitado na minha cama eu alisava minha rola e pensava no caralho de Inácio. Eu não podia mais esconder de mim que sentia inveja das putas que tinham o cu arrombado por ele. Imaginando aquele macho metendo a vara em mim, castiguei meu pau até extrair o leite.
Quando compreendi meus desejos, passei a viver ainda mais calado. Enquanto fazia meu trabalho, eu observava os clientes e escolhia aquele que iria animar minhas fantasias quando eu me deitasse para dormir. Nas ocasiões em que via um macho meter a rola numa puta, eu observava como ela mexia a bunda e gemia, pedindo para sofrer mais e mais. Meu corpo pegava fogo e eu me imaginava de quatro, com um homem bruto montado nas minhas costas, rasgando meu cu com a força do seu caralho.
Um dia, Ninete me disse que queria ter uma conversa particular comigo e me levou para o seu quarto.
— Vicente, você já passou da idade de começar a comer puta. Como não tem um pai para pagar uma para você, eu lhe darei uma de presente. Qual delas você escolhe? Verbena, Tabernácula, Coraci, Teca, Lili, Greice, Tonheta, Leide… qual delas você vai querer?
Era estranho que, vivendo num puteiro, eu ainda não tivesse me deitado com ninguém, mas preferiria morrer a ter que ir para a cama com uma daquelas mulheres. Sem saber o que responder passei as mãos nos cabelos e cobri meus olhos com eles. Sabendo que eu queria fugir da conversa, Ninete levantou meus cabelos como se fosse amarrá-los e me obrigou a olhar em seus olhos.
— Vicente, você está cada vez mais parecido com sua mãe. O rosto fino, os olhos pretos e a boca bonita são muito parecidos com os dela. Seus dentes são lindos. Seus cabelos parecem ter sido arrancados da cabeça da falecida e pregados na sua cabeça. Você é mesmo um filho de puta; você não tem nada que revele quem é seu pai. Nem barba você tem. Se em vez de uma vara fina, tivesse um talho fundo no meio das suas pernas, você seria a perfeita encarnação da vadia Lucila. Você faria muito dinheiro.
Dizendo isso, ela puxou meus cabelos, causando-me dor, mas logo os soltou e fez um carinho no meu rosto.
— Você é muito bonito, como a puta da sua mãe. Estou pensando em lhe comprar roupas novas. Você já é um homem, precisa se fazer notar.
— Obrigado, Ninete.
— Não precisa agradecer. Com seu trabalho, você pagará tudo o que eu fiz e faço por você.
— É o correto, mas eu sou grato pela sua bondade.
— Eu gosto de você, Vicente. Criei você como filho e agora quero que você viva como um homem de verdade. Diga-me logo quem é a puta que você vai querer.
— Eu não penso nessas coisas…
Com um sorriso sarcástico, ela ficou alisando meus longos cabelos, como se quisesse tomá-los de mim. Ninete ainda não tinha chegado aos cinquenta anos, mas já estava com a pele enrugada e com os cabelos ralos. Ela era uma mulher feia. Intimidado, eu quis desviar o olhar, mas tive medo de que ela brigasse comigo.
— Vicente, eu tenho pensado muito no seu futuro. Eu sou uma mulher vivida, conheço a natureza dos homens e estou observando você já faz algum tempo.
— Há algo errado comigo, Ninete?
— Não se trata de certo ou errado. Trata-se de saber quem é você. Há homens que não nasceram para comer buceta. Na minha vida de vadia, conheci rapazes que viviam como putas. Eles gostavam de sofrer nas mãos dos machos e de levar rola dentro da bunda, até ficar com o cu cheio de porra. Você é um desses, Vicente?
Ninete era uma mulher muito direta e muito cruel. Ela conhecia os segredos dos homens, por isso todos a respeitavam. Por mais que me esforçasse, eu não tinha como me esconder de seus olhos de águia. Com raiva de mim mesmo, senti meus olhos se encherem de lágrimas, como se eu estivesse botando para fora o segredo que guardei desde menino. Com um sorriso de satisfação, ela enxugou meu rosto.
— Não chore, meu pequeno Vicente. Eu cuidarei da sua vida. Confie em mim.
Eu não alcancei o significado dessas palavras, mas percebi que Ninete estava planejando alguma coisa, certamente algo que lhe trouxesse dinheiro. Alguns dias depois, ela me entregou novas roupas e disse que eu deveria estar sempre bem arrumado para atender no salão.
No começo da noite, diante do pedaço de espelho que havia no meu quarto, eu vesti a calça preta, que se ajustava em minhas pernas finas e modelava minha bunda pequena e arredondada. Depois de calçar o lustroso par de sapatos, vesti a camisa de tecido transparente, que deixava ver meu peito magro e liso, escovei os cabelos e amarrei no pescoço um lenço estampado.
Quando desci para o salão, as putas começaram a rir e os clientes ficaram me olhando como se não soubessem quem eu era. Imaginando que estava parecendo um palhaço, eu comecei a fazer meu trabalho e me esforcei para não dar importância aos comentários sobre minha nova aparência. Pegando uma palavra aqui e outra ali, descobri que os clientes estavam intrigados, porque eu havia me revelado um homem diferente deles. Às vezes, eu tinha a impressão de que alguns lançavam olhares para meu corpo e demoravam observando minha bunda. Ela não se comparava com a exuberância de alguns traseiros femininos que desfilavam por ali, mas podia despertar desejos mais violentos nos homens.
Houve um momento em que fiz um gesto com a cabeça, para jogar os cabelos para trás, e percebi que Inácio estava me olhando. Como se não tivesse visto que ele me observava, arrumei os cabelos com a mão e ajeitei o lenço no meu pescoço. Eu ainda tinha vergonha de ser quem eu era, mas já estava tentando seduzir um macho. Eu vivi preso por muito tempo e agora queria me libertar. Mas Ninete, sempre atenta a tudo, colocou uma bandeja na minha mão e mandou que eu trabalhasse.
Nas noites seguintes, continuei a ser uma atração à parte no bordel. Alguns homens não disfarçavam a vontade de arrancar minhas roupas, para conhecer meu corpo magro e bem feito. Alguns deles até se atreviam a pegar em meus cabelos e um velho babão chegou ao ponto de passar a mão em minha bunda quando eu me abaixei para colocar as garrafas de bebida em sua mesa.
A curiosidade que eu despertava nos clientes já estava deixando as mulheres incomodadas. Sempre que algum deles gritava meu nome para pedir uma bebida, elas me olhavam com raiva e eu tinha medo de levar uma surra de putas por causa de um macho. Isso seria a maior vergonha na vida de um homem. Isso mesmo, eu era diferente dos outros, mas era homem. Eu sempre gostei do meu caralho branquelo, liso e de cabeça pequena e rosada. Adorava brincar com ele. Gostava de ver como ele ficava nervoso e se tremia todo para atirar os jatos de porra para cima. Eu gostava tanto da minha vara, que queria conhecer o caralho de outros homens.
Numa noite em que a casa estava cheia, Ninete me deixou sozinho no balcão e foi se sentar com alguns clientes que conversavam animadamente em torno de uma grande mesa. Entre eles, estava Inácio, que falava e ria o tempo todo. Sempre que eu ia entregar alguma coisa naquela mesa, todos se calavam e ficavam me olhando, como se eu fosse o assunto da conversa. Eu ficava sem jeito, mas lhes servia rapidamente e ia atender às outras mesas.
Sentado ao lado de Ninete, estava o doutor Vitório, um homem que deveria ter pouco mais de quarenta anos e era o herdeiro de uma grande fazenda na região. Há pouco tempo, ele havia começado a frequentar o bordel. Através das conversas das mulheres, eu soube que, na juventude, ele foi um frequentador assíduo da casa. Quando estava com cerca de vinte anos, ele foi morar na capital, para se formar em Direito, satisfazendo a vontade do seu pai, o coronel Bernardo.
Depois de quase vinte anos morando na cidade grande, ele estava de volta, para assumir o comando da fazenda, porque o coronel estava velho e doente. Acostumado com as diversões da capital, o doutor Vitório teve que se conformar em voltar a frequentar a casa de Ninete, que era o único lugar de encontros que havia em nossa pequena cidade.
Ele era o único homem que rivalizava em beleza com Inácio, mas tinha o diferencial de ser mais alto e, além disso, vestia-se com mais elegância. Usando o cabelo penteado para um lado, ele deixava bem visível seu rosto comprido e de queixo quadrado. Seu sorriso de dentes grandes e lábios claros se abria entre um ralo bigode e um cavanhaque bem aparado. Seus olhos verdes eram tão bonitos que as pessoas sentiam vontade de ficar o tempo todo olhando para eles.
Doutor Vitório era diferente dos outros clientes da casa. Ele tratava Ninete como uma velha conhecida e era o único que não demonstrava ter medo dela. Eu cheguei a imaginar que ele havia se tornado homem metendo o caralho na buceta dela, mas nunca ouvi nada sobre isso. Quase todas as noites ele aparecia, mas poucas vezes pegava uma mulher para se distrair. Sua diversão era ficar bebendo e conversando com a cafetina e com alguns conhecidos.
Nas poucas ocasiões em que o desejado doutor pegava uma puta, as outras ficavam se roendo de inveja. Ouvindo a conversa das sortudas que já tinham aberto as pernas para ele, eu soube que seu caralho era grande, pesado e torto. Suspirando de prazer, a puta Leide revelou que ele havia socado a tora em sua buceta com muita raiva, como se quisesse matá-la. Já a puta Teca comentou que, além de sofrer com o tronco torto dele enterrado no cu, quase morreu com aquela tromba entalada no fundo da garganta.
— O filho da puta quase me matou! Nunca tomei tanto leite de uma vez só. Que homem gostoso! Se eu morresse com aquela tora enterrada na buceta, morreria feliz!
Ouvindo as gargalhadas das mulheres, eu tentava imaginar como eram o corpo e o caralho do doutor Vitório. Eu o via como um homem inatingível e nem me atrevia a usar sua imagem para animar minhas punhetas. Sempre que o atendia, eu tinha a impressão de que ele me olhava com desprezo, como se eu fosse uma aberração. Na única vez em que ele me encarou, eu fiquei feito um bobo admirando seu nariz comprido, seus olhos e seus lábios molhados. De forma ríspida, ele interrompeu meus devaneios.
— Algum problema, rapaz? Você esqueceu qual é o seu serviço?
Como se tivesse sido pego em flagrante, pedi desculpas, recolhi as garrafas e me afastei rapidamente. Doutor Vitório era um homem educado, mas muito autoritário. Sua voz era potente, própria de quem era acostumado a mandar. Dentro da sua camisa de manga longa fechada até o pescoço, destacava-se o peito grande e duro, o que reforçava sua imagem de homem forte e corajoso. Ao seu lado, eu me sentia um menino tímido, fraco e ridículo, por isso evitava chegar perto dele. Mas seu corpo grande e seu perfume suave sempre atraíam meus sentidos.
Nessa noite em que a casa estava cheia, havia uma estranha empolgação entre os clientes. Sem pausas, as putas atendiam aos rapazes, que não paravam de arrastá-las para os quartos. Mas algumas demonstravam estar chateadas porque Inácio ainda não havia se levantado para se divertir com alguma delas. E nem o doutor Vitório demonstrava estar com vontade de ir para a cama com alguém. Elas teriam que se conformar com os outros homens, até com os velhos que não conseguiam levantar a rola enrugada e pagavam para meter a língua e os dedos em suas bucetas.
Atendendo sozinho no balcão, eu mal tinha tempo de ver o que acontecia ao meu redor, mas percebia que os homens estavam mais agitados do que o normal, como se soubessem que algo iria quebrar a rotina da casa. Aproveitando um instante de descanso, eu me abaixei atrás do balcão para passar um pano molhado no rosto e tomar um copo de água. Assim que me levantei, Ninete acenou para mim.
— Vicente, venha cá.
Antes que ela ficasse irritada, eu peguei a bandeja e me apressei a ir até lá. Quando cheguei ao meio do salão, Inácio se levantou e eu imaginei que ele iria pegar alguma mulher para se divertir, mas ele continuou parado, olhando para mim. Quando eu estava a um passo da mesa, doutor Vitório também se levantou e fechou a mão em torno do meu braço. Sem entender o que estava acontecendo, eu olhei para a dona da casa. Lutando para não demonstrar a raiva que a atitude do doutor lhe causou, ela se levantou e pegou no meu outro braço.
— Vitório, não foi isso que eu planejei. Você não pode tomar o lugar de Inácio.
Apertando os dedos em torno do meu braço, a ponto de me causar dor, ele a encarou sem medo.
— Ninete, eu nada tenho a ver com seus planos.
Mordendo os lábios, a cafetina tentava se controlar, porque não tinha como enfrentá-lo. Sem dizer nada, só com a força do olhar, o doutor exigia que ela me soltasse. Abrindo um sorriso cínico, Inácio estendeu a mão para ele.
— Essa honra será sua, meu amigo Vitório. Vai lá, abra o caminho para todos nós!
Ao ouvir essas palavras e testemunhando o aperto de mãos que selava o acordo entre os dois machos, eu compreendi tudo. Meu destino havia sido decidido em torno daquela mesa em que Ninete reuniu os homens mais importantes que frequentavam seu bordel. A ambiciosa cafetina havia me leiloado e, com certeza, receberia um bom dinheiro do homem que iria rasgar minha carne e me colocar na vida de puta.
Ninete se considerava dona da minha vida e já havia decidido que eu passaria a ser mais uma puta de ganho para ela. Eu só não conseguia saber por qual motivo ela não queria que eu fosse descabaçado pelo doutor Vitório. Ele não parecia ser um homem que se recusaria a pagar o valor que ela cobrasse.
Sem saber o que me aguardava, eu fiquei parado entre o autoritário doutor e a ardilosa cafetina. Como ela não me largava, ele apertou ainda mais o meu braço e falou como se mandasse em todos, até em Ninete.
— Ninete, não me faça perder tempo. Não me faça perder a paciência.
— Vitório, não…
— Essa conversa fica para depois. Não tem sentido estragar a noite só porque nem tudo pode ser como você quer. Eu pagarei o dobro do que Inácio pagaria. Agora largue o rapaz.
Não sei se por causa do dinheiro ou por não poder impor sua vontade, Ninete me soltou. Como se aquela vitória fosse de todos eles, os homens começaram a aplaudir o doutor. Sem esconder a raiva e a inveja que sentiam de mim, as putas ficaram me olhando como se quisessem avançar sobre mim e arrancar meus cabelos.
Olhando no fundo dos meus olhos, o doutor Vitório soltou meu braço e deu o primeiro passo.
— Venha comigo, Vicente.
Ao ouvir meu nome saindo da boca daquele homem, eu senti um calafrio percorrer meu corpo. Eu estava com dezoito anos, sempre morei num puteiro, mas não conhecia quase nada da vida e não sabia o que teria que fazer para satisfazer aquele macho. Eu estava com medo, mas sentia uma estranha confiança nele e meu corpo já se agitava, para que minha carne se preparasse para receber a carne dele. Assumindo-me submisso, eu me coloquei atrás dele, demonstrando que estava às suas ordens. Com um estranho brilho nos olhos, Ninete me encarou, mas eu não tive medo dela.
Enquanto o doutor e eu atravessávamos o salão, os clientes e as putas nos observavam em silêncio, como se tivessem virado estátuas. Olhando para os ombros largos, para a bunda dura e para as coxas grossas daquele homem perfumado, eu me perguntava se aguentaria tudo o que ele iria fazer comigo. Meu corpo tremia, mas eu não podia e nem queria fugir.
Levantando a cabeça, eu encarei todas as pessoas que estavam no salão e segui o poderoso doutor Vitório até o quarto mais caro do bordel de Ninete.