Amor que nunca acabará - Capítulo 224

Um conto erótico de Cadu
Categoria: Homossexual
Data: 21/08/2022 11:14:40

Vários dias se passaram após a longa conversa e pareceu que a gente teve essa longa conversa para ficar dias sem nos falar. Nossos horários não combinavam, quando ele me ligava eu estava no consultório com algum paciente e não dava para atender ou ele me ligava de madrugada e eu já estava dormindo. Quando eu ligava, ele estava de plantão e não conseguia falar nada além de "oi, te amo, não posso falar". Um dia, eu acordei e como eu estava há dias sem falar direito com ele, eu cismei que a casa estava com cheiro de café. Acordei agoniado e pulei da cama pensando que ele estava lá. Mas óbvio que era só maluquice da minha cabeça e a saudade brincando comigo. Ao cair na real, eu fui ao banheiro fazer minha higiene e encontrei a caixinha com os post-it que ele deixava e que eu vinha guardando há tanto tempo. Olhar para aquilo fazia a saudade bater ainda com mais força e doer ainda mais. Eu era tão besta que eu chorei sozinho dentro do banheiro de tão apertado que estava meu peito.

Após minha higiene matinal, eu me arrumei e fui tomar café em uma panificadora. Meu pensamento estava fixo no Caio! Naquele dia eu acordei com muita saudade dele, eu nunca acreditei muito quando falavam que a saudade doía. Eu só fui acreditar quando eu senti na pele a dor que ela causa. E ela dói muito! Até então, eu nunca tinha sentido a saudade de forma tão intensa porque eu sempre tive todos que eu amo bem pertinho de mim. Durante a infância, nunca senti saudade da Fátima ou do Raimundo, depois que eles me expulsaram, aí mesmo que eu nunca senti isso. Por eles eu sempre senti o oposto de saudade, eu sentia repulsa. Deles, eu nunca quis estar perto, eu sempre quis o máximo de distância possível. Eu só fui sentir saudade depois que encontrei a minha família no Rio, depois que eu me casei com o Caio, principalmente depois de ter casado com ele… Pode parecer bobeira, mas Caio e eu fazíamos tudo juntos, morávamos muitos anos juntos e não tê-lo em casa comigo há tanto tempo mexeu muito comigo. Durante os anos eu construí uma versão bem forte de mim mesmo, uma versão consciente e crítica. Mas, a saudade dele fez eu desconstruir a minha versão forte para construir uma versão fragilizada. Eu me ver dessa maneira fragilizada me incomodava muito, pois isso era algo que eu não aceitava. Eu já tinha sido muito frágil em boa parte da minha vida e eu não queria mais me ver assim.

No consultório, eu passei o dia inteiro pensando nele e que eu queria vê-lo. Tentei ligar e falar com ele várias vezes, mas sem sucesso algum… Eu estava tão agoniado que eu quase compro uma passagem para ir lá com ele, eu cheguei a ver com a Ju se teria como eu conseguir uma folga, eu até conseguiria, mas não naquele dia, óbvio. Eu precisaria me organizar com pelo menos duas semanas de antecedência, antecipar consultas para só então conseguir alguns dias.

Ao sair do consultório eu fui para o restaurante da família, jantei rápido e fui para casa. Nem minha mãe e nem minha tia me viram entrar e sair do restaurante, pois eu entrei pela porta do restaurante e não pela porta da loja, eu também não subi para a parte administrativa que era onde elas ficavam na maior parte do tempo. Eu vinha evitando ficar com elas, pois todas as vezes que eu ficava com elas, elas me perguntavam sobre o Caio. Queriam saber o porquê dele não vir ao Rio, dele não atendê-las, dele sumir… como se eu tivesse que responder por ele. Além disso, elas queriam saber como nós estávamos e sempre que eu tentava falar (porque eu precisava falar com alguém), elas arranjavam tantas desculpas quanto fossem necessárias para limpar a barra dele. Há alguns dias que eu não falava muito com elas, não ia na casa delas, não atendia o telefone… eu queria evitar que o que eu estava sentindo se intensificasse. Nesses dias, eu cheguei a marcar três vezes sessões de terapia, sempre surgia algum problema para eu resolver no consultório ou na obra (principalmente na obra) que me fazia não ir às sessões. Eu estava completamente esgotado e esse esgotamento começou a refletir com mais força no meu dia a dia e nos meus hábitos mais saudáveis.

Obs. já deu para perceber que quando eu estou sofrendo eu ajo de cinco maneiras que se combinam, né?! Sou assim desde sempre e é algo que eu trabalho bastante para mudar, mas é bem difícil. 1. Eu permaneço sofrendo e esperando um milagre que nunca vem. 2. Eu quero acabar tudo o que me causa dor o mais rápido possível. 3. Eu me afasto de todos para que eu não sofra ainda mais. 4. Eu fico transitando entre esperança de que tudo ficará bem e a certeza de que nada tem mais jeito e que tudo acabou. 5. Por amar demais, eu acabo me fodendo legal na tentativa de ver as coisas bem.

- Oi, amor!! - eu disse quando ele atendeu a minha ligação

- Oi, minha vida!

- Como você está?

- Amor, não posso falar agora.

- Nem um pouquinho?

- Não, tô muito enrolado aqui no hospital.

- Tá bem - eu disse triste - Quando você vem aqui em casa?

- Não sei, meu bem.

- Não tem como vir neste final de semana?

- Você sabe que eu trabalho. Eu preciso desligar.

- Poxa, Caio, eu só queria te ver ou falar com você…

- Eu sei, meu amor, mas agora realmente não dá. Nós nos falamos mais tarde, beijo. - ele desligou

Mais tarde não sei que horas, já era tarde da noite. Eu liguei porque eu achava que naquele horário ele conseguiria me ouvir, mas… Mais uma noite dormi sozinho em casa e sem poder falar com ele. Dentro de mim, o sentimento de que eu estava solteiro vinha crescendo. Eu me sentia cada vez mais solteiro e isso me dava cada vez mais raiva, porque se fosse para eu ser solteiro, eu tinha que ser solteiro por completo. Se fosse para ser solteiro, não dava para eu "aproveitar" somente da solidão.

No dia seguinte, eu fui para a Universidade e assim como no dia anterior, eu passei o dia inteiro com a cabeça longe de onde ela deveria estar. Ao sair da universidade, eu ainda tive que ir até a obra resolver um problema gigante e mesmo eu esculachando com o pessoal da obra e o engenheiro, eu ficava o tempo todo pensando no Caio e criando coisas na minha cabeça. Acho que o pessoal da obra sofria comigo naquela época porque eu acabava descontando minha raiva neles, algo bem injusto da minha parte. Caio não vinha em casa há vários dias, não me atendia direito por telefone, não dava ouvidos a nada do que eu falava… pensar nisso foi fazendo eu criar cada vez mais raiva daquela situação e foi fazendo eu querer me livrar de tudo aquilo.

- Oi, amor! - ele me ligou tarde da noite

- Oi! - eu já estava dormindo, acordei com a ligação dele.

- Tudo bem?

- Tudo!

- Bem mesmo? Você tá com uma voz estranha!

- É porque eu estava dormindo, Caio.

- Amor, acabei de participar de uma cirurgia incrível na pesquisa.

- Que bom!

- Meu professor me parabenizou de novo, ele me disse que eu tô pronto.

- Que bom!

- Você vai falar só "que bom"?

- Você queria que eu falasse o quê?

- Sei lá, ficasse pelo menos feliz por mim.

- Ah, Caio, dá um tempo. Eu hein?!

- Nossa, o que deu em você?

- O que deu em mim? Você me liga tarde pra caramba, me acorda e ainda quer que eu pule de felicidade?

- Poxa, precisa falar assim comigo?

- Você queria que eu falasse como? Você só me liga para falar de você, da sua vida, das suas conquistas, de que você está feliz, de que está radiante porque ganhou uma estrelinha do professor. Quando eu ligo, nunca pode falar e só quer me ligar de madrugada. Parece que você acredita que eu tenho que estar sempre disponível para você…

- Você tá com raiva por ontem? Eu estava com uma emergência, amor.

- Você sempre fala isso!

- Por que não sei se você lembra, mas eu trabalho em um hospital. - ele disse rindo e eu não achei a mínima graça

- Por que você só me liga para falar de você?

- Por que eu quero compartilhar a minha felicidade com você.

- Interesse em compartilhar a minha vida, você não tem, né?!

- Não fala isso, não é verdade.

- Você tá feliz?

- Com você falando desse jeito, claro que não.

- Enquanto você tá aí suuuper feliz, eu tô aqui.

- Você vai voltar a esse assunto?

- Ah, é… desculpa, lembrei agora que você não consegue ouvir nada que faça a mínima referência ao Rio, né?!

- Cadu, o que aconteceu com você? Por que tá me tratando assim? Outro dia a gente se falou e estava tudo bem.

- Nós não nos falamos há dias! É muito ser burro para falar que tá tudo bem… - eu ri debochadamente

- Vou desligar, tá? Não quero brigar, não quero estragar esse meu momento.

- Sabe, eu tenho pensado bastante. Acho que eu tenho estragado muito os seus momentos…

- O que você quer dizer com isso?

- Que eu percebi, enfim, que a gente tá em momentos diferentes da vida.

- E o que você quer dizer com isso?

- Eu quero dizer que eu não quero mais atrapalhar a sua vida, não quero mais que você me ligue de madrugada e que eu não consiga ficar feliz e vibrar por uma conquista sua. Eu não mudei o momento da minha vida, sabe? Eu continuo querendo estar casado, continuo querendo compartilhar a minha vida com meu marido. Eu preciso de ajuda, é muita coisa para cuidar sozinho…

- E como você diz que a gente tá em momentos diferentes?

- Você não quer mais isso, Caio. Você quer vibrar porque fez uma cirurgia, você quer aproveitar ao máximo a sua residência, não quer mais morar no Rio… estamos em momentos e cidades diferentes. Parece que você ainda não saiu da vida universitária, parece que você ainda é aquele menino que pensa que não tem nenhuma responsabilidade. Eu não sou mais esse menino, eu cresci, amadureci. Eu já sou adulto, tenho responsabilidades aos montes e não estou mais disposto a estar casado com um universitário egoísta e inconsequente. Eu fico me sentindo muito mal por não conseguir ver todas essas suas conquistas com alegria. Eu quero um tempo, não quero mais estar casado com você... - eu joguei sem muitos rodeios o que eu vinha amadurecendo há algum tempo

- De novo esse assunto, amor? Você vai pedir esse tempo quantas vezes? A gente já conversou sobre isso, a gente já viu que ninguém precisa de tempo. Somos casados e não vamos dar tempo coisa nenhuma.

- Você que decretou isso, Caio. Eu já te disse, não quero mais viver assim.

- Desculpa se eu liguei para falar que eu estava feliz…

- Tá vendo? É isso que eu não quero. Você tá chateado porque eu não consegui ficar feliz por você estar longe e conquistando coisas. Você tá vendo como estamos em momentos diferentes e desejando coisas diferentes?

- Não, amor, não…

- Eu quero um tempo!

- Não, Cadu! Não vamos dar tempo!

- Eu não estou pedindo, Caio. Eu estou falando que quero um tempo. Eu não vou voltar atrás! Bom, na verdade, a gente tá vivendo esse tempo há dois anos.

- Claro que não, amor. Não quero tempo, quero continuar casado com você.

- Nos próximos dias, não me liga. Eu não vou atender às suas ligações, tá? Eu também não irei mais te atrapalhar, não vou te ligar e nem te incomodar mais. Para você isso será ótimo, já que você nunca pode me atender. Eu preciso pensar um pouco, quero definir algumas coisas na minha vida, preciso rever minhas prioridades… minha vida tá muito bagunçada e não dá mais para eu ficar assim. Depois a gente volta a conversar.

- Cadu, para com isso! A gente já passou da idade de fazer essas coisas.

- E tem idade para isso agora, é?

- Não faz isso, amor. A gente não precisa de tempo.

- Precisamos sim! Você espera que eu seja o cara que te apoia, que tá com você em tudo e para tudo. Cansei de ser esse cara! Você não está mais comigo, pra quê eu vou ficar sozinho em um casamento? Era para termos dado esse tempo no ano que você saiu de casa, pois desde lá estava bem claro o que aconteceria. Já era para nós termos redefinido as coisas há muito tempo, você vai assumir a sua parte por bem ou por mal. Não vou mais bancar o idiota!

- Cadu, para de falar bobeira! Você não está sozinho, não sei o que está acontecendo com você, mas você não tá sozinho.

- Aí, Caio, tô cansado de ficar falando com quem não quer ouvir. A gente conversa tanto por telefone e se vê tão pouco… eu vou repetir o que já te falei várias vezes: não quero mais viver assim. Não quero mais estar casado com você!

- Você conheceu outro cara nesse tempo que eu tô aqui?

- Por que você sempre insinua que eu tô te traindo? Vou começar a achar que quem me trai é você.

- Eu jamais te trairia, amor! Eu não tenho tempo para ir em casa, você acha mesmo que eu desperdiçaria meu tempo com outro cara? Eu pergunto porque você tá tão estranho que é a única coisa que eu consigo pensar.

- Eu não estou estranho, eu estou esgotado! Você tá tão distante que não percebe isso. E eu não conheci ninguém, não estou com ninguém… nem com você.

- Claro que você tá comigo, você é meu marido! Por que você quer um tempo?

- Por mim! Não quero mais viver assim, não quero ficar te cobrando, não quero ficar sendo chato e parecendo ser incompreensível. Você tá aí, foi uma escolha sua, você tem todo direito. Assim como você tem o direito de estar aí, eu tenho direito de me libertar dessa vida que a gente tá vivendo. Na verdade, a vida que eu estou vivendo.

- Você tá falando em separação? Você seria capaz de se separar depois de tudo o que a gente viveu e construiu juntos?

- Não falei em separação, por enquanto. Eu só quero um tempo para eu reavaliar algumas coisas. Por outro lado, eu acho que estarmos casados, não é a melhor coisa para você agora.

- Não fala isso, amor, é claro que estar casado com você é o melhor para mim.

- Não é, Caio, não é! Você sabe que não é! Eu te impeço de viver direito o que você tá vivendo aí. Eu fico te ligando, sinto saudade, fico pedindo para você vir pra cá, para você assumir o que você abandonou aqui. Sou só eu quem faz isso! A impressão que eu tenho é que eu te prendo em um passado que você não quer mais fazer parte, você mudou de vida e eu não acompanhei essa mudança. Você não tenta vir aqui, não se importa se eu estou bem ou não com tudo isso, não faz nada que me leve a pensar que você ainda quer estar comigo… pra você tanto faz se eu tô bem ou não, se eu sinto saudades ou não, se eu preciso de ajuda ou não… Acho que pra você, eu deixei de ser alguém importante. Não sei se é isso, só sei que é isso que você está deixando muito claro para mim. Estar casado nesse momento da sua vida não é o melhor para você, isso também está bem claro há muito tempo, eu que não queria ver e aceitar. Acho que eu não sou a melhor pessoa para estar com você, até porque a gente não tá, né?! Eu quero coisas diferentes de você.

- Nada disso é verdade, amor. Eu também não mudei, eu ainda quero você, quero nossa vida, nossa casa. Não quero dar tempo coisa nenhuma! O que você quer? Eu tenho certeza que é o mesmo que eu quero!

- Eu quero me sentir bem! Eu quero ter com quem conversar, dividir um pouco do tanto de coisa que eu tenho que cuidar… Você mudou muito, Caio. Aquele cara incrível que eu tinha como marido deixou de existir. Não sei o que deu em você, não sei o que te fez mudar dessa maneira e, para te falar a verdade, eu nem quero saber. Você está agindo de um jeito tão fora da maneira como você agia que eu não quero mais estar ao seu lado.

- Como você fala isso, amor? A gente se ama! Não tem como a gente ficar longe um do outro desse jeito... Eu tô aqui, amor, a gente sempre conversa.

- Isso, esse é o problema! Você está aí! Eu não quero mais conversar por telefone e só quando e o que você quer conversar. Sempre que eu te ligo, você não pode atender. Sempre que eu tento falar, você não quer ouvir… ó, tá vendo? É por isso que eu digo que estamos em momentos diferentes, eu já estou aqui te cobrando coisas.

- Amor, eu preciso desligar. Nós não demos um tempo!

- Sério que você vai desligar no meio dessa conversa?

- Eu preciso! Estão me chamando.

- Caio!! - eu disse com raiva

- Amor, por favor… nós não demos um tempo. Eu te amo! - ele desligou

Eu fiquei enfurecido! Não era a primeira, nem a segunda e nem a vigésima vez que ele fazia aquilo. Ele sempre colocava aquele maldito hospital na frente. Eu fiquei com tanta raiva, mas tanta raiva…

Ele só foi me ligar de volta na manhã seguinte e eu não atendi. Não atendi nenhum telefonema dele nos dias seguintes, passamos uma semana inteira sem nos falar e meu celular registrou mais de mil ligações e mensagens dele. Eu também não fui ao restaurante da minha mãe, não falei com nenhum dos meus amigos. Não chamei ninguém para dormir comigo lá em casa. Eu me isolei de todos, pois eu sabia que todos queriam saber de mim para poder falar para ele. Para ninguém me atormentar, eu sempre respondia por mensagem no celular e sempre fugia dos convites para sair. Sempre que alguém insinuava que iria na minha casa, eu arranjava um jeito de fugir. Luh e Rui chegaram a ir em casa e eu fingi que não estava. Eu me fechei! Eu não queria ver ninguém! Eu me fechei porque ninguém queria saber o que eu estava sentindo e vivendo, todos queriam só garantir que Caio e eu não nos separássemos. Queriam garantir que eu havia entendido que o Caio estava fazendo um enorme sacrifício para finalizar a residência, e eu sabia que não existia sacrifício nenhum. Ele estava lá em São Paulo livre de tudo, livre de mim e podendo fazer o que ele quisesse. Ele não tinha nenhuma responsabilidade além da residência, não havia nenhuma preocupação além de estudar. Eu também precisava estudar, mas eu não conseguia estudar o que eu precisava porque tudo o que construímos juntos naqueles anos estava completamente nas minhas mãos. Ao contrário dele, eu tinha dezenas de responsabilidades e dezenas de preocupações… Além de tudo isso, eu precisava pensar um pouco, reavaliar a maneira como eu estava vivendo e eu não queria ninguém falando no meu ouvido para eu ser compreensivo.

Era uma sexta-feira e eu estava saindo do consultório. Eu estava morto de cansaço, era um cansaço diferente, ele me tirava um pouco a alegria. Pela manhã, por exemplo, eu já amanhecia cansado e não tinha vontade alguma para sair da cama, por mim eu passaria o dia inteiro deitado. Eu me forçava a levantar, eu gastava vários minutos pensando se eu realmente precisava me levantar. Eu só me levantava porque eu tinha compromisso com meus pacientes. O doutorado, a clínica, nada disso eu não via mais com prazer… a única coisa que me fazia levantar eram meus pacientes. No final do dia, eu não tinha energia para nada e voltava para casa sem vontade de fazer nada além de me jogar na minha cama. Naquela sexta-feira não foi diferente, eu saí do consultório e voltei para casa só para me deitar. No entanto, ao entrar em casa, eu dei de cara com o Caio sentado no sofá de casa.

- O que você tá fazendo aqui? - eu perguntei ao entrar em casa

- Eu moro aqui!

- Tá legal! - eu disse rindo e indo para o meu quarto

- Poxa, não ganho nem um beijo? - ele falou mais alto, pois tinha continuado na sala

- Que beijo, Caio? Tá doido? Até onde eu sei, não estamos mais juntos. - eu respondi no mesmo tom

- Não fala assim, amor…

No meu quarto, eu peguei uma roupa de usar em casa, fui para o banheiro, fechei a porta, passei a chave e tomei banho. Eu passei a chave porque eu sabia que ele tentaria entrar no banho comigo.

- Por que você fechou a porta?

- Por que eu quis!

- Você não me quer aqui?

- Não sei qual milagre te trouxe aqui… e não, não quero você aqui. Eu disse que eu queria um tempo!

- Não demos tempo coisa nenhuma! Eu vim para casa não foi nenhum milagre, você que não atende meus telefonemas. Eu te liguei a semana inteira! Eu estou extremamente preocupado com você, não consigo falar com você e nem informações sobre você; ninguém sabe nada de você. Todo mundo tá preocupado!

- Aaaaah, que fiquem preocupados com você e não comigo. Você que é o protegido de todos, então, que todos se virem com você. Eu hein! - eu saí do quarto e fui para a cozinha

- O que aconteceu com você, amor?

- Nada que te interesse!

- Como nada? Você não me atende, não fala comigo, parece que não me quer aqui em casa. Você vai comer isso? - eu estava preparando uma sopa de pacote

- Vou! E eu acabei de deixar bem claro que não te quero aqui…

- Não come isso, não. Eu faço alguma coisa pra gente…

- Sério que você se despencou de SP só para controlar o que eu vou comer? - eu perguntei olhando para ele e rindo

- Você nunca comeria isso, amor. - ele falou preocupado

- Eu moro sozinho, né?! Aí não tenho muita vontade de cozinhar, tenho comido isso que é rápido para fazer e não estraga na geladeira. Assim eu poupo tempo e o trabalho de ter que limpar a geladeira.

- O que aconteceu com você?

- Você vai ficar repetindo isso é?

- Amor… - ele veio até mim e me abraçou - o que aconteceu?

- Nada, Caio! Me solta!

- Não solto!

- Me solta, Caio! - eu me libertei dele com relativa força - Eu só tô vivendo a minha nova realidade.

- Que nova realidade? Essa realidade não combina com você, falar e me tratar assim não combina com você!

- Realidade de solteiro!

- Você não está solteiro, Cadu.

- Claro que estou!

- Não tá, a gente não terminou!

Eu fiquei em silêncio, terminei de fazer a sopa que eu realmente achava horrível. Óbvio que eu tinha plena consciência de que aquilo era péssimo para o organismo, mas era super prática e eu a tomava quando não dava tempo de ir a nenhum restaurante e nem comprar marmita. Com minha sopa na caneca, eu voltei para o meu quarto, liguei a central, sentei de pernas cruzadas na cama, liguei a TV e tomei minha sopa bem rápido. Ele demorou para entrar no quarto, ele só entrou depois que eu saí do banheiro já de dentes escovados e estar lendo uma parte da minha tese.

- Mamãe tá preocupada com você. - ele disse ao se sentar na poltrona do nosso quarto

- Unrum! - eu estava relendo um dos capítulos da minha tese, minha orientadora tinha me reenviado com suas correções.

- Você ouviu o que eu falei?

- Ouvi!

- Eu também estou preocupado com você.

- Unrum!

- Você pode parar um pouquinho para falar comigo?

- Por que eu deveria fazer isso? - eu perguntei sem olhar para ele

Ele veio até mim, tirou o computador da minha mão, fechou e nem se preocupou se eu tinha salvado o documento ou não.

- Para um pouco para falar comigo, por favor.

- Você nunca pára para falar comigo, porque eu deveria parar?

- A gente precisa conversar, amor.

- Não quero, não, Caio. Tô bem de saco cheio de tanto conversar sozinho.

- Eu estou aqui pra gente conversar, você nunca conversou sozinho.

- Eu sempre converso sozinho, você nunca ouve o que eu falo, só quer que eu ouça o que você fala.

- Por que você tá com raiva de mim?

- Não vou nem me dar o trabalho de responder isso…

Ele se levantou da poltrona mais uma vez e se sentou na cama.

- Vira de frente para mim! - eu fiz o que ele pediu - Por que você tá agindo assim?

- Pega esse bloco de papel ali do lado.

Ele se esticou, pegou os papéis e deu uma olhada.

- Pra que você pediu para eu pegar esses boletos?

- Isso aí é uma parte da nossa vida…

- Eu sei! O que as contas de água, luz, internet, condomínio… tem a ver com essa conversa.

- Tem tudo a ver! Sou eu quem cuida de tudo isso, se eu não pagar, não temos luz, água, internet, o síndico reclama… Isso vale tanto aqui pra casa quanto para o seu apartamento de São Paulo! Sabe por que eu tomei sopa de pacote? Porque sou eu quem tem que ir à feira e ao supermercado, se eu não for, eu não tenho o que comer. Aí, como eu tenho meu consultório, o doutorado e a obra na clínica, eu não tenho como passar no supermercado e na feira. Quando eu consigo ir, as coisas estragam na geladeira porque é complicado eu conzinhar tendo tanta coisa pra fazer e sem ter nenhum motivo para cozinhar, afinal eu moro sozinho. Eu tô agindo assim porque eu tô tão cansado que eu não quero falar com ninguém. Não quero ouvir ninguém pedir para eu ser compreensível e para eu esperar que logo tudo se normalizará.

- Eu vim cuidar um pouquinho de você.

- Tá bom! - eu disse rindo - Você volta para São Paulo quando mesmo?

- Amanhã depois do almoço.

- Você acha mesmo que consegue cuidar de alguma coisa durante a manhã?

- Eu vim cuidar de você, ficar com você.

- Pra quê?

- Para de falar assim, amor. Eu não preciso de motivo para eu vim te ver.

- Olha, ultimamente, você só vem se eu estiver morrendo. Fora isso, eu nem existo.

- Você tá sendo muito injusto comigo, está agindo de forma muito cruel ao ver as coisas desse jeito.

- Eu disse para você, nós estamos em momentos diferentes.

- Não estamos, amor. Você quer continuar casado e eu também.

- Como você quer continuar casado morando em outra cidade e não participando de nada da nossa vida aqui no Rio? Eu fico bem curioso para saber como é que a gente poderia continuar casado desse jeito.

- Vem cá! - ele se deitou e me puxou pelo braço para eu deitar com ele. - Esquece esse lance de tempo, esquece esse lance de momentos diferentes… eu te amo, quero continuar casado com você.

- Mas eu não quero, Caio.

- Você não quer continuar casado comigo?

- Pelo menos por um tempo, não.

- Não fala isso! Eu sei que você me ama.

- Eu amo, mas de que adianta eu te amar se não posso contar com você para nada?

- Não fala assim, eu venho mais vezes em casa pra gente ficar juntos.

- Eu tô cansado, Caio…

- Eu sei, amor, eu sei… - ele me deu um beijo na cabeça

- Eu tô cansado de um jeito que eu nunca fiquei. Eu não quero mais viver assim, não quero ficar te cobrando nada, isso me faz muito mal, me desgasta. Eu não tô feliz e não fico feliz por te cobrar tanto - eu comecei a chorar tudo estava tão preso dentro de mim que eu estava transbordando - Eu não quero sentir a saudade que eu sinto de você, isso me machuca muito. Eu tô muito sobrecarregado, é muita coisa para eu cuidar sozinho. Você abandonou tudo aqui no Rio. - eu disse chorando, eu realmente estava no meu limite com tudo aquilo.

- Não chora, já tá acabando.

Esse "já tá acabando" era algo que eu não aguentava mais ouvir, era algo que me dava profunda raiva.

- O que mais você tá sentindo? - ele perguntou

- Nada! - tinha muita coisa, mas com aquele "já tá acabando" eu percebi que ele não queria me ouvir realmente.

- Eu te amo! - ele me deu um beijo no rosto - Não quero dar um tempo, eu quero continuar casado com você.

- Eu também quero, mas você não pode estar casado comigo.

- Posso, amor, posso sim.

Esse "posso sim" significava que ele poderia continuar casado comigo, desde que ele continuasse morando lá em São Paulo e eu continuasse cuidando de tudo no Rio. Nós ficamos calados por muito tempo.

- Por que você ficou caladinho?

- Porque o que eu tenho para falar, você não quer ouvir. Porque eu já repeti muitas vezes as mesmas coisas e eu tô cansado…

- Nós estamos juntos?

- O que você entende por "estamos juntos" não é a mesma coisa que eu entendo.

- Só mais alguns meses, amor, a gente vai voltar a ficar sempre juntos.

- Eu tenho ouvido isso há dois anos… Já ouvi "só três anos", depois "só mais dois anos", "só mais um ano"... Ouço isso há muito tempo.

- Por que você não atendia as minhas ligações?

- Eu disse a você que não atenderia.

- Mas eu disse que não tínhamos dado um tempo.

- Não é porque você determinou que isso aconteceria.

- Olha para mim! - eu olhei para ele, bem nos olhos - Eu te amo, você me ama, estamos casados e vamos permanecer casados.

- Eu sei que nós estamos casados…

- E por que você pediu um tempo?

- Para respirar um pouco, para parar de cobrar, de pedir para falar com você, de pedir para você voltar pra casa… eu não quero mais fazer nada disso.

- Mas eu não quero que você pare de fazer nada disso.

- Ah, Caio, quem é que aguenta ficar sendo cobrado por algo que não pode dar? Ninguém! Não caio nesse papo furado, não. Você sempre disse que odeia ser controlado, por que gostaria que eu te controlasse?

- Não é papo, amor. Eu realmente não aceito ser controlado por ninguém, exceto você. Você é meu marido! O que está acontecendo com você? Você tá diferente, não sei dizer o que é exatamente, mas você tá diferente.

- Eu só tô deixando de ser trouxa pra você! Eu já te disse, eu tô muito cansado. Eu tô aqui falando com você, mas tô doido para dormir.

- Não é só o cansaço! O jeito como você tá falando comigo, como você tá se isolando… isso não faz parte de você.

- Você também tá diferente!

###

Olá, querides! Bom, depois de duas semanas publicando diariamente, eu preciso de um descanso porque a logística para publicação é enorme hahahah

Durante alguns dias, vocês ficarão sem capítulos novos. Eu preciso organizar algumas coisas em casa e posso demorar um pouquinho a voltar. Ninguém precisa se desesperar e achar que eu parei de publicar. NÃO VOU PARAR enquanto não acabar os capítulos que estão escritos. Então, nada de drama, bicha!

Mesmo sem publicar, vou tirar um dia para responder aos comentários. Acalmem as perereca que eu vou respondê-los hahahah

Até breve!

Beijo em todes!


Este conto recebeu 9 estrelas.
Incentive Caduu a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Eu não gosto de julgar mas o Caio parece não querer enxergar e ouvir tudo o que você está falando. Ele repete as mesmas coisas (eu te amo, quero estar casado, você está diferente...) Mas não demonstra em nenhum momento compreender tudo que você está passando (mesmo você "desenhando") e nem toma nenhuma atitude para amenizar pelo menos o peso que você está sentindo.

Ele diz que você está estranho e que não entende porque, vice explica e ele continua repetindo que você está estranho, muito cansativo isso.

A impressão que dá é que ele quer manter essa situação, que está cômoda para ele, por isso não quer dar um tempo e nem se separar.

Ele poderia, por exemplo, te aliviar da obrigação com o apartamento de São Paulo, assumindo para ele a responsabilidade ou tentar, mesmo que a distancia, participar mais das decisões da reforma da clínica, poderia tirar mais um tempo para, pelo menos falar com você ao telefone "e te ouvir" ao invés de só contar sobre o que está acontecendo com ele.

Torço para que vocês tenham superado essa fase e permaneçam felizes juntos, mas essas são as minhas impressões até agora...

Um abraço!!!!!

P.S. espero que você não demora muito a continuar porque esse corte no meio desta conversa me deixou com uma curiosidade imensa de onde isso vai parar... Rsrsrsrsrsrs

0 0
Foto de perfil genérica

Amei a surra no caio! E espero que você permaneça na decisão e se cuide! Fico preocupado tb

0 0
Foto de perfil genérica

Vc está deprimido, com razão. O stress, o cansaço, as cobranças causam depressão, mas principalmente o luto por ter sido deixado de lado. É como se fosse uma morte. Espero que tenham superado esta fase.

0 0
Foto de perfil genérica

Momento tenso demais, consigo compreender a preocupação de Caio com esse seu estado emocional, se fosse com meu namorado eu estaria com o coração em pedaços, mas no caso foi o próprio Caio que deixou chegar nesse ponto. Vou ficar aqui aguardando pra saber mais

0 0
Foto de perfil genérica

Aí tu vai pausar logo nessa parte, Cadu??! Quem vai aparecer no sofá da sua casa amanhã sou eu kkkkkkk

Quantas coisas pra processar sobre a sua história... São tantos sentimentos, que fica difícil de saber o que esperar.

Aproveita esses dias aí, mas lembre que tem gente aqui que vai ficar com abstinência da sua história e que vai acessar o site todos os dias pra ver se tem capítulo novo haha'h

0 0
Foto de perfil genérica

Realmente caio não aprendeu nada. Triste

0 0


viu a irma de fiu dentau e fucuo de pau durogaroto batendo punheta e bolas balancando pornodoidocontos eróticos publicadosnegao dando assistencia pra minha esposa no meu lugarcontos eroticos minha esposa no forroconto erotico negao com mais de 25 centimetro de pica arromba o cuzinho da engenheira de obra novinhajumento racudo comendo xota da mulher zoofiliacomi o cu da minha irmacasetudo comendo cadela no cioconto eu meu marido roludo nossos filhos na sacanagemnovinha magrinha se engolindo p**** Amanda é burrasinto latejacoes embaixo do sacocontos eroticos gay os adultos me dizia filhinho vai chupa é o pirulitaofilho caralhodo fa a mae sangra na penetrçaogarotinhas bem novinhas descubrino otezaosarrada no culto contos eroticos gang bangEntiada Baxinha Padastro espiandoFazendo Cunhado Chupa a força Gay❤freiada do carro picao entrou xvideosmtk contos eroticos coisas do destino capitulo 1conto erotico menininha pecadocontos eroticos casadinha inexperiente seduzidaporno novinhas dando uma escapolidinhacontos de bukakkecontos casada arrombada no primeiro deslise/texto/201305635corno castidade interracialesposa vai posar na casa da irma e acaba dando o cuzinho ç o sobrinhocd_patryziacontos eiroticos leilaporncontos eroticos malv comendo as interesseirax vídeos amadores penujinhascomentario de atris porno apos gosada na bocaCasa dos Contos zoofilia o touro entrando no fundo do meu uterocontos de Dra medica com negao dotado de 25cmporno amador mulheres lanbendo o pao do homem devagarinho até gozarXVídeos galeguinha gordurosocontos gays de incestos.com- pai machão dominad come filhomenino passivinho gaycontos eiroticos leilapornDanielzinho e se mordendo toda de tesão XVídeocontos eroticos minha madastrA kesbicividio pomo anunhe de qratomostrar videos de rapazez gostoso recebendo mamada e uma punheita da boyzinha e levando jato na cara em xvideocontos eiroticos leilapornRASGANDO O CU VIRGEM DE PATROAS VIDEOS BRASILEIRASmenina fudedo com xortiu de dorminegao desafia gostosa a nao cagarConto erotico perdi a virgindade com minha amiga lesbicacontos eróticos entregador de lanche gostosa taradaConto erotico comi a dentista no consultorioconto deixei meu minha bucetinhasafadinha de saia mostrano acalsinha socada no raboGostosa elizangela gorda rabuda paciencia masturbaeu tava no meu carro com a minha cunhada casada crente eu perguntei pra ela você já foi com seu marido pro motel ela disse pra mim eu nunca eu fui pra um motel com meu marido eu entrei com meu carro dentro do motel ela disse pra mim eu não vou entrar no quarto com você eu disse pra ela você não quer conhecer o quanto ela entrou comigo no quarto conto eróticoxvidios outros purai favoritoscontos enfiada no cuxisvideo şiriricaNnnvideodeConto erotico polpinhas bundacu pegando fogo contoConto o meu tiu gozo duas vezis no meu cuzinhocontos eroticos A Dama e o Bruto homen bota ametade de seu pau na buceta da bezerraxvideos sobrinhopega tio de pau durocontos de incesto 05 anos/texto/200908300/denunciaxvideos coroas chulemeu marido quer ser cornocasa dos contos zoofilia com viralatascrossdresser marquinha de biquini contosmmulheres contando qe 03homens comeram suabuceta em frente a seu maridomulher goza bem fe vagarsinhomano nao me tente incesto contos/texto/201709782contos marido corno you tube video de cachorro gigante com cadelatransando e mostrando ele engatadoa vagina mais.goloza di mundo por pau estranhamente grosso i grande