O queridinho

Todo último sábado de mês, a festa da família acontecia na casa dos Rocha. Dessa vez, como seu Mário gostava de brincar com os colegas do futebol sagrado, o agregado faria parte das comemorações, pelo terceiro mês seguido.

Bruno, dos três genros que havia conhecido, era o mais sonso, de acordo com o sogro, enquanto para sua esposa, Luiza, ele era o mais tímido, mais inteligente e, com certeza, o mais charmoso (o que não contribuía com o espírito de Mário).

A verdade, como o próprio Bruno sabia, ele carregava a bagagem dos outros. O que tornava a relação com os pais da namorada Melissa difícil. Mas, não preocupava-se. Sempre teve um talento para conquistar as pessoas pelo que era, tudo que precisava fazer era não fazer algo estúpido.

Portanto, respeitava o pragmatismo e a distância que o sogro gostava, mantendo sempre um comportamento similar ao que seu próprio pai, Fernando, conhecia. Entrava no papo da mãe da namorada, sempre a incentivando a falar mais sobre assuntos que gostava, perguntando sobre alguma novela que eles assistiam em comum ou como ela preferia comer determinado prato.

Já era o seu terceiro almoço de família que comparecia como namorado de Melissa. Jogava futebol com os primos mais novos, ajudava o sogro a assar e distribuir a carne, dançava sertanejo (ainda que pisasse mais no pé da namorada do que acertasse o passo), participava das fofocas das tias, falava sobre futebol com os tios (evitava de toda maneira a política). E por mais que Mel não gostasse tanto, Bruno de fato gostava daquele clima, já que havia crescido longe de parentes, embora, se dependesse dele, dispensaria aquele excesso de atenção que sentia. Algo lhe dizia que, talvez, com o tempo deixaria de ser assim.

Conversava com o sogro, este lhe explicando sua dúvida entre dois modelos de carro. Melissa chegou por trás, interrompendo a conversa:

— Minha mãe pediu para você ir buscar um secador de cabelos para as crianças, amor. Disse que tá no banheiro.

Ele procurava o acessório que a sogra havia pedido há pelo menos três minutos e nada de encontrar. E embora tivesse tateado as gavetas e o armário, ainda não tinha encontrado. Agachou mais uma vez, abrindo a porta buscando pelo acessório, focado em sua missão, mas mantendo o cuidado para não revirar o interior do móvel. Nem havia percebido a aproximação da namorada.

— Achou, amor?

— Você tem certeza que ela deixa aqui, Mel? — Em resposta a voz, que pelos passos, se aproximava rapidamente.

— Tenho, ué. Deixa eu procurar contigo.

Melissa irrompeu no cômodo sorridente. O namorado tateava pelo secador que ela sabia que não estava ali. Todos estavam no quintal, os adultos aproveitavam o fim de tarde ouvindo música, bebericando algo, comendo doces, trocando intermináveis fofocas, enquanto as crianças desfrutavam da piscina, repleta de bolas, colchões d'água e brinquedos de espirrar. O único na casa era o Tio Anderson, mas dali, era possível o ronco gutural ecoar da sala, constrastando com o sertanejo modão que era tocado. Fechou cuidadosamente a porta, por segurança apenas, colocando-se entre Bruno e a saída.

— Você acha que tá em cima do armário? — Bruno perguntou, ainda distraído. Mel aproveitou-se mais uma vez da distração dele. Motivou a tentativa com um "talvez". Ele não era alto suficiente para enxergar, contudo, utilizou sua envergadura para tatear o empoeirado topo. Ela, por sua vez, reencostou-se na porta, apreciando as curvas marcadas pela camisa branca estampada por palmeiras do corpo do namorado; as pernas e os braços eram desenhados pelos anos de atividade física, as costas e os ombros largos eram benções genéticas, o bumbum arredondado, nem muito grande, nem muito pequeno. Decidida, girou o trinco da porta, aproximando-se dele.

— Talvez não esteja aqui. — Melissa respondeu, não importando-se mais em esconder sua tramoia. Bruno abandonou sua missão, reconhecendo a expressão que tomava a face dela, enquanto a namorada se aproximava; os olhos castanho-esverdeados brilhavam, sugestivos, um sorriso preso pelos dentes, que prendiam o lábio inferior.

— E você bem sabia disso, não é mesmo?

— Talvez. Preciso de cinco minutos de privacidade com você.

A tarde de imaginação libertina, muito bem disfarçada por ela através das conversas banais e olhares sorrateiros em direção ao alheio Bruno, combinada com o banheiro levemente apertado e o risco de ser pega por um parente e transformá-los no assunto do churrasco a transformaram vorazmente. Bem verdade, havia bebido vinho. O beijo quente sem disfarces a transbordava de desejo, sendo questão de tempo para ele entrar em compasso; era uma das coisas que mais gostava nele, a capacidade de Bruno em acompanhá-la.

Colocou a perna esquerda dele entre as suas propositalmente, sabendo do poder do calor, a ternura derretendo-se no mesmo desejo. As mãos dele já não detinham-se em pontos seguros; Bruno puxava Mel para si pelo quadril, sentindo seus seios encostando em seu peito. Ela respondia, a mão direita o apalpando por cima da braguilha, o tentando enquanto sorria ao sentir o volume febril recheando sua palma. Melissa fez a menção de mergulhar sua mão, quando foi interrompida por Bruno e um olhar maroto;

— Tô com outra ideia na mente.

Trocaram de posição, Melissa ficando de costas para ele, separada do espelho em sua frente apenas pela pia. De relance, percebeu o rosto barbudo bondoso dele transformado pelo desejo. Conhecedor do corpo dela, Bruno mirou a parte de trás e dos lados do seu pescoço, enquanto as mãos e o próprio tronco garantiam que Melissa não sairia dali, afagando-a e prendendo-a; ela, por sua vez, acompanhava relaxadamente o movimento, facilitando a encoxada.

Bruno deslizou a mão direita para dentro do short branco dela, aumentando a frequência da respiração dela, cortada por breves gemidos, sorriso e lábios mordidos, controlando o movimento do quadril dela a partir do seu, enquanto com a esquerda, depois de tirar os seios do biquíni, brincava com os mamilos dela, recheando-se.

Melissa mexeu tão somente para desabotoar o agora desnecessário short, deixando para o namorado o prazer de retirar aquela peça inútil de roupa. Ele ajoelhou-se, contentíssimo com a visão dela curvada diante de si, desamarrando a parte de baixo de seu biquíni vermelho florido, abrindo suas nádegas, mergulhando e desfrutando de Mel, enquanto as pontas de seus dedos brincavam com o interior de seda, ao passo que a ouvia seus gemidos, tímidos num primeiro instante, encorajarando-se com o tempo.

Quando a virou de frente, Bruno havia total consciência de que, ali, havia perdido completamente a noção. As pernas dela o envolviam, suas mãos auxiliavam o movimento do seu quadril, o apalpando e apertando pelo bumbum. Se o sogro o pegasse naquela situação, ele era um homem morto. Mas o que era a vida sem o doce melado sabor do risco. Mel calava a grande maioria de seus gemidos e receios o beijando, desfrutando da mesma sensação saborosa de proibido sendo feito que ele.

Terminaram gargalhando, recuperando o fôlego, enquanto arrumavam-se da melhor maneira possível para disfarçar qualquer traço de sexo que tivesse entre eles. Mel riu da bermuda ainda avolumada do namorado.

— É melhor você esperar um pouco, meu pai não vai gostar nada de ver você assim.

Por fim, largou Bruno sentado no banheiro com uma perna cruzada em cima da outra, disfarçando o indisfarçável, o rosto levemente ruborizado de prazer envergonhado.

Melissa entregou o secador de cabelo a uma de suas tias, para que esta evitasse um resfriado nas crianças mais novas. Caminhou levemente até a mesa aonde seus pais a observavam.

— Tão bom vê-la feliz, minha filha. — O comentário da mãe foi feito com o cuidado para que tão somente a filha e o marido ouvissem. — Não acha, Mário? — O ex-militar limitou-se a assentir, rendido por não ter argumentos plausíveis contra a fala da esposa. E, permaneceu assim, mesmo com Luiza cutucando o marido com o cotovelo acintosamente. — Faz bem sim! Ele se deu bem com a parentada, não é? Aguentou as piadas ruins do tio Anderson, as incessantes fofocas... Virou um queridinho da família.

— É verdade. Ele parece que te faz bem. — O receio o fazia cético por natureza, mesmo que Bruno, em mais de oito meses de relacionamento, não havia demonstrado nenhum sinal de erro.

Melissa sorriu, relaxada como se Bruno ainda estivesse a tocando por baixo do short parcialmente molhado com os hábeis dedos.

— Vocês não fazem ideia.