Nós fomos à cozinha, lanchamos e durante todo o lanche a gente falava sem parar. Às vezes eu tinha a impressão que eu conhecia a Luh desde sempre, pois a gente falava de tudo e com muita facilidade, nós nunca ficávamos sem assunto e muito menos sem rir a cada 2 minutos.
- Será que o Edu ainda vai demorar? Ele deve chegar com fome também.
- Vocês são tão bonitinhos! Me diz, como é ficar com o Edu? Eu vejo que ele é bem diferente com você.
- Como assim diferente?
- Não sei, ele é mais cuidadoso, mais carinhoso, fala em você toda hora e leva muito em consideração o que você diz... eu nunca tinha visto ele desse jeito. Ele sempre foi meio “foda-se”. E nunca vi ele namorar também…
- Como assim meio “foda-se”?
- Ah, ele não ligava muito para namoro, ficar com uma pessoa só… com você ele é diferente.
- Ah, a gente conversa muito e se apoia muito.
- É tô vendo que vocês cuidam um do outro, igual dois velhinhos.
- Até você? – eu disse rindo
- Até eu o quê?
- Acho que é unanimidade entre meus amigos eu ser chamado de velho!
- Bom, digamos que você é um pouquinho diferente – ela riu
- Ah, já passei cada perrengue na minha vida que eu sei olhar para as consequências antes mesmo de fazer alguma coisa.
- Tá vendo? Ninguém nos últimos 20 anos fala assim – nós morremos de rir
- Você precisa ver os apelidos que o Rui me dá, entre as dezenas de apelidos, os que ele mais gosta é: múmia, coisa velha, raridade do mundo antigo e velha de 80 anos.
- Já gostei dele! – ela ria
- Ele é incrível, com ele é impossível ficar com raiva ou sem rir a cada segundo.
A campainha tocou e já sabíamos que era o Edu.
- Oi, Luh! – ele a abraçou rápido e veio na minha direção – Oi, amor! – ele me abraçou e me deu um beijinho rápido
- Você demorou!
- Ah, aquele povo pensa que eu sou um catálogo de filmes, acabei saindo depois do meu horário.
- Tá com fome? A gente deixou lanche pra você.
- Tô morrendo de fome.
Nós nos sentamos e o Edu começou a comer enquanto conversávamos sobre o nosso programa.
- Que filmes nós vamos assistir? – eu perguntei
- Não faço ideia, a responsável pelo programa é a Luh.
Eu olhei para a nossa amiga como se estivesse perguntando “e aí?”.
- Vocês estão com muita vontade de ir ao cinema?
- Ué, a gente tá indo por que você convidou...
- Eu sei, ranzinza. – ela disse para o Edu – mas é que você chegou tarde, se a gente sair agora, vamos chegar tarde no cinema, talvez a gente nem consiga ingressos... então, eu estava pensando... E se a gente fosse ao supermercado que fica aqui pertinho, comprasse umas besteiras e viesse assistir filmes aqui em casa? Eu tenho uns DVD legais.
- Eu topo! – eu disse
- Bom, eu topo também.
- Então, fechou!
- Edu, você se incomoda de terminar de lanchar sozinho? O Cadu vai comigo no supermercado.
- Vou?
- Vai! – ela disse decidida
- Se eu soubesse, eu teria trazido tudo de onde eu trabalho.
- E aí, Edu?
- Por mim, sem problema!
Luh não me deixou nem dar um beijo no Edu e já foi me puxando.
- Vocês vão dormir aqui, viu?
- Eita, aí fica difícil.
- Difícil nada! Não vou deixar vocês voltarem tarde para casa, essa cidade fica cada dia mais perigosa.
- Mas amanhã eu tenho que trabalhar, Luh...
- E eu estudar – ela riu
- É, mas você está com o seu guarda-roupas aqui, né? Eu não tenho roupa para ir amanhã.
- Você já ouviu falar numa invenção extremamente moderna chamada máquina de lavar roupas e uma outra ainda mais revolucionária chamada secadora de roupa?
- Já, sim. Mas, para eu usar toda essa tecnologia, eu vou ter que ficar pelado na sua casa.
- Ah, isso não é problema, não.
- Você me quer pelado? - olhei para ela erguendo as sobrancelhas e rindo
- Não, pervertido! Eu tenho umas roupas do meu ex-namorado, elas vão ficar grandes em vocês, mas pelo menos não ficarão pelados na minha casinha.
- Por qual motivo você guarda as roupas do seu ex?
- Eu não guardo, elas estão aí há um tempão, eu vou levar para doação, mas ainda não consegui tempo.
- Isso é estranho...
- Estranho nada, ao invés de queimar ou jogar fora, eu posso ajudar alguém que precise muito.
- É, pensando por esse lado...
- Você gosta de chocolate?
- Não gosto e nem desgosto, não costumo comer.
- Qual refrigerante você prefere?
- Não tomo refrigerante.
- Você gosta de biscoito recheado?
- Não.
- E sorvete?
- Como, mas muito, muito raramente.
- E você quer me chamar de estranha? – ela me olhou desconfiada.
- Eu não guardo as roupas do meu ex – eu disse rindo
- Mas pelo menos eu como comida do século XXI.
- Olha, dona nutricionista, isso não pega bem para você.
- Pois eu tô fazendo nutrição só para saber comer minhas porcarias à vontade – ela disse rindo – Não acredito que você não come nada disso.
- Não é que eu não coma, Luh. Eu como, eu só não tenho o hábito de comer, entende?
- E o que você come?
- Comida, ora.
- Comida tipo legumes, vegetais, frutas, etc e etc?
- Isso mesmo!
- Você tem mais é que virar nutricionista mesmo.
- É o que eu mais quero!
- Por que você não come essas coisas?
- Ah, na minha infância, meus pais nunca me deram essas coisas, então, elas não fazem parte da minha alimentação.
E era a mais pura verdade, meus pais nunca foram de comprar porcarias para a casa, meus irmãos/carrascos até comiam porque eles conseguiam dinheiro com o Monstro e comprava, mas quando eles levavam para casa, eu não podia comer. Então, essas guloseimas nunca me atraíram.
Nós chegamos no supermercado e a Luh pegava muita coisa: biscoito recheado, pipoca de micro-ondas, refrigerante, chocolate, sorvete, salgadinhos, pão, queijo, presunto, requeijão, balas diversas e várias outras coisas. Eu fiquei imaginando como ela iria comer tudo aquilo em apenas uma noite. Como eu não tomava refrigerante, as únicas coisas que eu peguei foi um suco e iogurte porque eu sabia que o Edu gostava. Nós saímos de lá cheios de sacolas.
- E então, você não me respondeu naquela hora... como é ficar com o Edu? Sendo amiga dele, às vezes eu tenho vontade de esganar.
- Ah, agora imagina namorar? A vontade de esganar me acompanha. – eu disse brincando – Brincadeiras à parte, namorar o Edu foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida.
- Você ama ele?
- Amo muito
- Ele também ama muito você, se eu for contar quantas vezes ele fala no seu nome...
- Por que você me perguntou?
- Só estava checando as suas intenções com meu amigo, agora vocês já podem namorar. – ela disse rindo
- Sim, senhora. Muito obrigado pela sua permissão, mesmo que muito atrasada.
- Nossa, vocês demoraram! – Edu disse assim que entramos no apartamento
- A Luh queria trazer o supermercado inteiro.
- O que vocês compraram?
- Bolacha recheada, refrigerante, salgadinhos, pipoca, chocolate e um monte de coisas.
- Eu trouxe iogurte!
- É por isso que eu te amo! – ele me abraçou por trás
- Teu namorado é muito esquisito, Edu.
- O que meu esquisitinho aprontou?
- Não sou esquisito! – eu belisquei a coxa dele
- Ele simplesmente não come nada que gente normal come.
- VOCÊ não é “gente normal”, Luh. - ele disse – ninguém além de você consegue comer tanta besteira sem ter um ataque do coração.
- Mas ele não come nada, nadinha...
- Epa! Eu não disse que eu não comia, eu disse que eu não comia com frequência.
- Qual a última vez que você comeu chocolate?
- Não lembro – eu lancei um sorriso amarelo para a Luh
- Viu? Não come! – ela virou as costas pra gente e foi para a cozinha arrumar as compras
Nós arrumamos a sala, abrimos o sofá cama que era mais espaçoso do que eu imaginava. A Luh fez pipoca, serviu refrigerante para ela e o Edu, eu peguei um copo de suco e nos deitamos para assistir aos filmes.
Começamos a assistir ao filme, mas ele não me cativou por ser um filme de terror besta e meus pensamentos ficaram vagando. Eu fiquei olhando para a Luh e eu nunca vi alguém comer tanta besteira em tão pouco tempo, ela era um verdadeiro buraco negro. Eu fiquei distraído observando a draga/Luh e levei um susto quando o Edu me puxou carinhosamente para mais junto dele. Eu me aconcheguei e continuei observando a Luh devorar pipoca, bolacha, salgadinho...
- É para assistir ao filme – Edu disse baixinho no meu ouvido
- Eu estou assistindo...
- Não está, não! – ele beijou meu rosto e voltou a assistir ao filme
Eu continuei ali já meio impaciente de não estar assistindo filme e nem fazendo nada. Eu tentei me levantar e o Edu me puxou.
- Fica aqui, tá tão gostoso.
Gostoso estava mesmo, mas na minha cabeça eu achava que deveria estar estudando ou transando com o Edu já que a pensão estava livre. Foram quase duas horas olhando para a TV sem enxergá-la de fato. Quando terminou o filme, Luh levantou e foi fazer mais pipoca.
- Você ainda vai morrer de tanto comer! - Edu disse ao entender a intenção dela
Luh virou para trás, olhou bem pra gente e mostrou cotoco, eu morri de rir.
- O que você tem? – ele me beijou no rosto, nós ainda estávamos agarradinhos
- Nada, só não gostei do filme. - eu virei de frente para ele e lhe dei um beijo gostoso
- É, esse filme é bem ruim mesmo! Mas se você me beijar assim de novo, eu assisto quantos filmes ruins a Luh colocar.
- Eu vou pegar iogurte, você quer? - eu dei mais um beijo nele
- Quero, sim!
Eu fui até a cozinha e encontrei a Luh fazendo alguma coisa no fogão.
- O que você está fazendo?
- O jantar!
- Sério, me diz: pra onde vai tanta comida?
- Que tanta comida nada! Eu só belisquei umas coisinhas antes do jantar… e como você não come comida de gente do nosso século, vou fazer alguma coisa pra você comer.
- Misericórdia! – eu ri
- O que foi?
- Eu te observei durante o filme, você comeu um monte de coisas.
- Que nada! Aquilo não enche a barriga, não.
- Quer ajuda ai, draguinha?
- Quero, sim! Você poderia cortar aqueles legumes ali?
- É pra já!
Eu comecei a cortar os legumes e do nada a Luh pula.
- Você me chamou do que?
- O que?
- Ainda pouco, você me chamou do que?
- De draguinha!
- Vou te mostrar quem é draguinha! – ela começou a me dar uns tapas relativamente fortes e eu só fazia rir
- O que tá acontecendo? –Edu veio alarmado da sala
- Esse viado me chamou de draga e disse que eu como muito!
Eu já estava com dor na barriga, primeiro por que ela falava de forma muito engraçada, segundo por que o Edu veio com tudo da sala e estava com a expressão facial muito engraçada, acho que ele pensava que a gente estava brigando feio.
- Eu bato e você ri? – ela continuava batendo e eu rindo
- Faz ela parar, Edu!
Ele segurou a maluca pela cintura e ela começou a bater nele.
- Fica calma, Luh! – Edu disse rindo também
- Enfia um chocolate na boca dela que ela se acalma!
- Aaaaaaaaaaaah viado! – ela voltou pra cima de mim
- Calma, draguinha, calma!
- Você não vai parar de rir?
- Não tem como!
- Filho da mãe! Vou parar porque minha mão já está doendo.
- Vocês são dois malucos! – Edu disse olhando para nós dois que estávamos lado a lado encostados no balcão.
Luh e eu nos olhamos e caímos na gargalhada só de olhar um para a cara do outro.
- Minha barriga já está doendo! – eu disse limpando as lágrimas dos olhos
Esse dia eu guardo na memória com todo carinho, pois foi um dia muito especial para mim. Claro que outros dias, com outros amigos foram especiais, mas a Luh a partir dali passou a ter uma importância muito grande na minha vida, ela passou a ser a irmã que eu nunca tive e sempre quis ter. Edu, é claro, estava extremamente feliz por Luh e eu termos nos dado tão bem desde o primeiro dia. Após conhecê-la, eu passei a acreditar em amor à primeira vista, pois aconteceu conosco. Passamos a nutrir um amor sem medidas, um amor peculiar e mais puro que o amor existente entre um casal. A gente se entendia só de olhar, uma fisgada no canto da boca dizia mais que 100 palavras e uma risada gostosa sempre tomava conta da gente sem que ninguém entendesse o motivo.
- Você não vai comer carne? - Luh me perguntou quando sentamos à mesa para jantar
- Não faço muita questão, não.
- Você é um menino muito esquistio, Cadu!
- Olha quem fala, você tem um buraco negro na barriga.
- Aaaaah viado! - ela me jogou uma rodela de tomate na cabeça
- Maluca! - eu disse rindo e limpando a cabeça que ficou suja com o molho do tomate
Luh tinha um apartamento relativamente grande para uma pessoa, ele tinha dois quartos grandes. Ela tinha me explicado que como ela tinha uma irmã que sempre vinha visitá-la, ela “alugou” o apartamento com dois quartos.
- Você está feliz, né? – Edu me perguntou quando já estávamos instalados no quarto de hóspedes da Luh
- Estou e muito!
- Fico feliz em te ver feliz! - ele me deu um beijo no rosto
No dia seguinte, eu acordei de madrugada e dei de cara com a Luh igual a um fantasma saindo do banheiro.
- AIIIII FILHO DA PUTA, VAI ASSUSTAR A MÃE! – ela gritou quando percebeu a minha presença, eu estava bem próximo a ela e ela não tinha percebido eu chegar
Eu cai na gargalhada o que fez ela ficar puta da vida, me bater e depois rir junto comigo.
- Você é maluca! Como não viu eu me aproximar?
- Querido, eu não estava neste plano. Eu só levantei para fazer xixi e eu fiz isso de olho fechado. Você é que anda igual fantasma e não faz barulho nenhum. E por que você está acordado essa hora?
- Por que eu tenho que trabalhar...
- Essa hora?
- É! É a hora que eu acordo todo dia.
- Mas você sabe que daqui de casa para onde você trabalha é bem mais perto, né?
- Claro que sei, né Luh? – eu disse rindo
- O Edu acordou?
- Aquele ali não acorda nem se eu jogasse ele da cama.
- Sério?
- Sério! A gente pode fazer o barulho que quiser, ele não acorda.
- Bom é que dá para você fugir... – ela disse rindo – Vamos fazer café? Eu fiquei com fome com esse susto desgraçado que você me deu.
- Vamos, draguinha!
Nós preparamos nosso café entre conversas sem muita coerência entre elas. Os assuntos iam surgindo e a gente ia atropelando-os. Como nossos amigos sempre nos diziam: somente nós dois para entendermos o que falávamos. Aos ouvidos dos outros, nossa conversa não fazia nenhum sentindo.
Terminando nosso café, eu me arrumei e fui direto para o trabalho. Naquele dia eu fui mais tranquilo para o trabalho, pois eu fui mais tarde um pouquinho, deu até tempo para eu dar um beijo no Edu antes de eu sair, pois ele já estava acordado. Ele e Luh tinham faculdade e, claro, iriam juntos.
No supermercado, eu estava encostado na parede, o Rui chegou e entrou. Como eu estava ao lado da porta, ele não podia me ver.
- EI, VOCÊ AÍ! – Eu gritei para o Rui e segurei firme no ombro dele
- AAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIII, NÃO ROUBEI! – Ele gritou e o Alex e todos os nossos colegas só faltaram cair no chão de tanto rir – Aaaaaaah, seu filho de uma quenga! – ele disse emburrado
- Assustou, princesa?
- Por que, querido? Você quer me confortar? – ele disse com a famosa voz afetada.
Rui abriu os braços e foi em direção ao Alex que saiu correndo, isso gerou mais uma crise de risos nos nossos colegas.
- Vocês estão com tudo hoje, hein? – Seu Raimundo disse ao meu lado
- VAMOS LÁ, PESSOAL! MAIS UM DIA MARAVILHOSO E VAMOS TRABALHAR!! VAMOS TRABALHAR!! BOM DIA A TODOS! – Alex gritou como ele fazia todas as manhãs e cada um foi assumindo suas tarefas
- Ei, preciso falar com você! – eu sussurrei para o Rui enquanto descarregávamos o caminhão
- Vai pra puta que pariu!
- Huuum, chateado?
- Encaralhado! Vai assustar as tuas nega, não eu!
- Então, tá bem! Não vou te falar o que eu estava conversando com a Becca. – eu me afastei dele com bastante peso nos braços
Não deu nem 2 minutos e ele veio querendo saber o que eu andava falando com a Becca.
- Vai, me conta!
- Eu, não! Não é você que está encaralhado comigo? Pois curta seu encaralhamento!
- Droga! – ele saiu batendo o pé
Nós trabalhamos em silêncio total, ele só foi falar comigo na hora do almoço.
- E aí, vai me contar?
- Você ainda está puto?
- Não, criança! Você sabe que eu te amo e não fico com raiva de você.
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Boa noite, querides/os/as! Mais um capítulo! Hoje tá uma correria danada e não deu para postar mais cedo. Dei uma pausa rápida no trabalho só para colocar o capitulo novo aqui.
Um abraço!! Espero que tenham gostado deste capítulo. Muitas pessoas começando a leitura e maratonando os capítulos, sejam todes muito bem-vindes!