As ruas do teu corpo - 3 e 4

[PARTE 3/6: AS QUATRO PAREDES]

PELA PRIMEIRA VEZ naquela noite eu vi seu sorriso se desvanecer como fumaça no ar. Alex ficou sério, baixou os olhos para o chão e entrecruzou os dedos das mãos, os cotovelos sobre os joelhos. Parecia ter esquecido todas as palavras do nosso vocabulário, assim, de repente. Eu o olhava, parado, entre a praça e o meio-fio. Ansioso. Tomei fôlego. Fechei os olhos e inspirei ar.

― Eu gosto de você, Alex.

Eu parecia liberto de algumas toneladas de tensão naquele momento. Pude respirar novamente, tranquilo, os sabores da brisa noturna.

Alex penteou os cabelos com os dedos e ergueu a vista para a minha. Meu rosto triste esperava dele qualquer reação, menos aquela.

Ele sorriu.

Se levantou e veio até mim. Eu jamais poderia imaginar, mas a cada passo dele, a cada centímetro a menos de distância física entre nós, meu coração pulava no peito. Um pulo louco. Pensei que enfartaria quando ele me enlaçou nos seus braços firmes e tocou seus lábios quentes nos meus. A lua, decerto, até parou para nos assistir.

Uma senhorinha, tão encanecida quanto asseada, passou por nós com uma repreensão: “...em nome de Cristo!” Rimos muito ao sair dali. Tomamos outro táxi e fomos para minha casa.

No interior do veículo, lembro-me que minha felicidade era tanta que descia pelos olhos. Eu olhava para ele ao meu lado e ainda não acreditava que a minha grande paixão me correspondia. Era surreal. Era maravilhoso, tão maravilhoso que eu chorava. Não saberia fazer diferente.

Abri a porta de casa, havia ninguém. Minha mãe ainda estava fora, na casa de uns parentes do papai. Tinham ido à casa da vovó, em BH, um dia de viagem. Eu não fui junto por falta de tempo vago. Era o primeiro Natal que eu passava longe deles, mas também o primeiro perto e a sós com Alex.

Minha cama nos convidava sob o silêncio da noite, sob a luz desmaiada da lua. Alex, com preciso movimento, livrou-se da jaqueta e da camisa exibindo para os meus olhos seu tronco desnudo de músculos delineados. Mas aquele seu perfume... Nada mais no mundo me faria esquecer aquele perfume. Nenhum de nós dizia qualquer palavra, talvez com medo de que elas atrapalhassem o momento. Apenas o olhar intrínseco e os toques falavam, e as suas palavras eram muda poesia.

Com o dedo, fiz um redemoinho nos pelos de seu peito. Cerrei os olhos nos dele e ele me calou noutro beijo.

Era mesmo surreal.

Ele quis avançar, tirar a minha roupa, mas eu tinha muito medo de sentir dor. Aquele perfume. O segurei e o contive.

― Eu fiz isso poucas vezes, Alex...

Ele continuou a afundar seus olhos tenros nos meus e a desabotoar minha calça, explorando meu corpo com as mãos corrediças. Por aquele momento não senti mais medo. Ainda mais quando ele tirou o cinto e abaixou também a sua roupa.

Ele era lindo.

Caminhou até a mim, fazendo menção de que eu o chupasse. E fiz. Engoli o seu pênis a seco com todo o desejo que eu sentia no momento. Eu sempre quis tê-lo só para mim, pentear seus cabelos castanhos com os dedos, sentir no toque a poesia da sua pele, manobrar minha boca pelas ruas do seu corpo. E finalmente o tinha do jeito que queria.

Ele se encaixou em mim e me invadiu profundamente...

Eu mentiria desavergonhadamente se dissesse que não senti dor, que não fiz trejeitos, que não choraminguei ou pedi para tirar. Fiz tudo isso. E posso dizer que ele foi muito paciente. Muito mesmo.

Tão paciente, tão carinhoso e tão responsável que a dor que ele me proporcionava era mesmo puro prazer.

Eu arfava sob a violência das suas investidas. Grunhia quando algo me era desconfortável. Lembro-me que ele mudou a posição e deitou-se sobre mim, encaixando-se entre as minhas pernas bambas. Ele olhava fixo nos meus olhos quando me senti invadido e tornei a ver todas as estrelas da constelação.

Seu toque, seu beijo, seu corpo arrepiado a tocar o meu, tudo foi mesmo surreal. Terminamos com seis jatos fortes e quentes atingindo o meu peito arfante, a minha barriga trêmula.

Ele ainda ejaculava em cima de mim quando papai abriu a porta do quarto.

** ** **

[PARTE 4/6: A PARTIDA]

PAPAI NÃO FICOU furioso como pensei que fosse ficar. Apenas nos olhou decepcionado, e tornou a fechar a porta, batendo-a. Ouvi suas botas pesadas descendo a escadaria. Meu mundo desabava.

Depois de limpos, eu e Alex descemos para a sala e encontramos ele sentado no sofá. As pernas juntas e o rosto entre as mãos. Ao seu lado tinha uma faca. Alex me olhou, preocupado. Seus olhos pareciam me perguntar o que ele devia fazer, com conspícua impaciência.

Quando descemos o último degrau, eu olhei meu pai inteiro. Ele não nos olhava; focava o chão, irado.

― Pai...

Eu disse, calmamente, antes dele levantar-se impetuosamente e prender Alex contra a parede. Na hora, me desesperei. Meu pai tinha uma faca apontando a barriga de Alex. Eu já estava soterrado de medo e vergonha, apenas me desesperei.

― Calma, pai! Calma, pai! ― eu gritava para a casa vazia, tentando apartar os dois.

― Você, moleque ― ele dizia olhando fundo nos olhos de Alex ―, nunca mais pise na minha casa.

Depois disso ele largou Alex e a faca tintilou no chão. Eu nunca havia sentido tanto medo quanto naquele dia. Meu pai pareceu-me uma dessas tempestades súbitas, e tão súbita quanto chegou, findou-se.

Alex me olhou profundamente já da porta, sob os empurrões do meu pai a expulsa-lo. Aquele olhar parecia uma mensagem de adeus, um pedido de desculpa. E se foi. Meu coração chorou silenciosamente quando me voltei para o meu pai. Seu rosto furioso crepitava, em chamas.

― Pai...

― Cala a boca ― ele gritou, e tornou a gritar mais alto e rouco: ― Cala a boca!

― Pai... ― repeti, com a mesma calma.

Fechei os olhos esperando o tapa quando o vi erguer o braço violentamente para mim. Quando os reabri, a bofetada forte e pesada ecoou na sala e me fez sentar. Aquela foi a primeira vez que meu pai me bateu em toda a minha vida.

Minhas lágrimas varreram o meu rosto e o dele também. Quando minha visão clareou e tornei a olha-lo, ele segurava a face aturdida entre as mãos, abafando seu choro e se perguntando baixinho alguma coisa que não entendia.

Foi aquela, também, a primeira vez que vi meu pai chorar.

Levantei-me do carpete e o acolhi num abraço. Ele me abraçou de volta. Forte. Na hora, não guardei rancores dele. Que pai não quereria o melhor para o seu filho? Ele parecia desesperado em seu pranto, completamente desolado, sem chão, sem rota, traído. Dele senti pena, não raiva.

Enquanto eu o consolava, pedindo-lhe baixinho que se acalmasse, dizendo que tudo ficaria bem, lembrei-me de Alex. Na minha mente, porém, restou apenas a fotografia de seu corpo nu, seus pelos e seus músculos tocados pelos meus beijos, sobre a minha cama, iluminados pelo suspense lunar daquela noite de Natal.

Eu chorei por toda a noite a destruição dos meus sentimentos.

** ** **

oe oe, mon amour

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Comentários

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06/09/2020 15:21:25
deveria pegar o pai. podia ser mais detalhista.


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