O Bolsominion e o Petista. 03.

Ruan e Aleph desceram pela escada reta em madeira - com o ruivo na frente. Já da sala, dirigiram-se à cozinha tipo americana. Aleph logo se sentou em uma das duas cadeiras e apoiou o cotovelo na fria superfície do balcão.

Ruan, por sua vez, pegou um copo em um dos nichos e o encheu com água da opção gelada. Aleph permaneceu sentado enquanto o outro terminou de beber água e largou o copo na pia.

- Eu também quero água, Ruan. E pede logo essa pizza, tô desmaiando de fome aqui. O que é que tem na geladeira?

O ruivo andou até o telefone de parede, parou e, pegando o aparelho com fio, falou:

- Beba água então, ué. Na geladeira só tem as carnes do meu pai e besteiras, que nem eu como mais. Amanhã ele está de folga, aí eu faço minha lista de compras. Vou pedir agora a pizza. Dá pra esperar, ou vai morrer?

- Então liga e pede. Quero de calabresa ou do tipo - pediu esperando que lhe seja concedido.

Ruan retirou o telefone da base e discou três números, igual como nas novelas. Aleph esticou o braço para pegar um copo, a seguir foi tomar água.

- É, eu quero uma. A mesma que eu sempre peço. Sim, o filho do médico da rua da mata, procure aí, já temos cadastro. Eu dispenso, refrigerante é um veneno. Tchau - e devolveu o telefone à base.

Aleph tomou o restante da água e virou-se para ele.

- Essa mesma de sempre é a pizza vegetariana? - Aleph supôs a dois metros de distância.

Ruan se espreguiçou com um bocejo e demorou com os braços esticados para o alto, mostrando os ralos pelos de suas axilas; ele também tem vários sinais espalhados pelo seu corpo pálido e rosado.

- Quando a trouxerem, você vai ver se é de calabresa ou vegana. Adolescentes gordinhos também infartam, sabia? - e andou para se sentar em uma das cadeiras.

Aleph fechou a cara e deixou o copo na pia. O outro ficou sentado numa pose masculina. O petista mostrou-se com um torso ficando musculoso, resultado dos quatro meses de academia. Ambos estão descalços e ainda com a calça que foram ao colégio à tarde, mas apenas Ruan está sem camisa, pois a retirara assim que chegaram do Uber.

Vendo que Ruan começou a acariciar os cabelos e repousou a outra mão, espalmada, sobre a pedra, Aleph o retrucou chateado:

- Ai como você é chato, Ruan - disse de costas para a pia. - Tinha que ser petista. Se eu infartar, infartou!

- Um dia você vai querer voltar no tempo e não ter acabado com sua saúde - replicou pousando a mão na coxa vestida pelo jeans azul.

- Você não é a minha mãe, tá ok? Eu deixava de comer o que eu gosto, pra comer o que você queria que eu comesse. E... a essa hora você já estaria com seu pinto na minha boca. Né?

Ruan sentiu-se ofendido e o encarou com seus olhos azuis, cujo azul parecia de água ou gelatinoso.

- Não temos mais essas intimidades. Em breve vou conquistar a garota de que lhe falei... Então nada mais será como antes. Hoje somos colegas de classe. Já que sempre fizemos trabalho em dupla, trouxe você pra me fazer companhia hoje.

- Pra me usar?... Hum... Acho que você ficou metido depois que começou a malhar - disse também.

(Mas que seu ex está mais bonito e sensual, isso está).

Ruan ficou em pé e o olhou com expressão zombeteira.

- Venha. Escolha algum dos banheiros. É bom que já adiantei minha parte pra amanhã. Eu estava brincando quando falei dos seus peitinhos e banha na cintura. Pode tirar a camisa, seu besta. Anda, vou ao quarto. Eu já vou descer com algum short de elástico pra você usar por enquanto.

- Eu espero você sair do seu banheiro e entro. Não vou ficar sozinho em outro quarto. Pode ter um desses lagartos que mais parecem um crocodilo em miniatura, escondido embaixo da cama. Tenho fobia desses bichos, você sabe.

- Ai tá bem. Então me espere em meu quarto. Eu tomo banho primeiro, depois é a sua vez.

- Melhor assim. Agradeço - e caminhou para fora da cozinha livre.

- Ei, gordinho, não pense bobagem. Estou sem camisa, mas o resto vou tirar no box - disse também circulando entre cozinha e sala.

- É pra rir? - Aleph virou-se andando devagar. - Você tem uma pinta no pau e seus pentelhos parecem de um panda-vermelho. Me poupe. Menos, Ruan. Pare que não tem mais ninguém aqui...

Ruan, secretamente, olhou para a bunda carnuda à sua frente, em seguida lhe deu as costas, para então vê-lo em seu encalço.

Ao subirem pela mesma escada, Aleph observou as costas musculosas de seu primeiro amor. Lembrou-se das inúmeras vezes em que fora possuído com muita volúpia pelo ruivo implicante.

É, a carne é fraca.

O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença. Se ainda implicamos e nos importamos, é porque talvez ainda existam sentimentos.

****

Aleph ficou assistindo TV enquanto esperou que o outro saísse do banho. Poucos minutos depois, o ruivo surgiu enxuto, vestido com uma cueca slip branca, deixando suas coxas totalmente à mostra, os cabelos arrepiados e pouco úmidos. E Aleph desviou o olhar tarde de mais. O ruivo abriu um sorriso, convencido.

- Agora sou eu... - gaguejou Aleph saindo da poltrona frente a TV.

- Tem toalha seca; mais de uma - falou Ruan passando por ele.

Aleph fechou a porta e começou a se despir. Ah se esse banheiro falasse...

Sentindo uma sensação de leveza, Ruan olhou para baixo e sentiu uma ereção surgir dentro da cueca, então se preocupou e tentou controlar isso. Depois, ele estava diante do computador, relendo o resumo para entregar à professora de Sociologia, dia seguinte. Sua traidora ereção lhe deu uma trégua. Estava sendo muito tentador saber que precisava transar e que tão próximo dele achava-se Aleph com uma gostosa bunda. Mas, porém, todavia, contudo, Ruan ainda nutria raiva porque seu ex tinha virado um bolsominion.

Embaixo do chuveiro, Aleph terminava de se enxaguar. Ele se sentia faminto, crescera à base de Biotônico Fontoura.

****

Enxugando-se dentro do banheiro, Aleph viu a porta ser entreaberta e um antebraço surgir com um short em mão.

- Tome esse aqui - Ruan disse, para ele pegar a peça de roupa.

- Valeu. Mas não vou demorar muito nessa casa - e pegou o calção de elástico.

- Pelo menos come a pizza antes - ouviu Ruan dizer ao recolher o braço e recostar novamente a porta.

Mas Aleph abriu a porta e se retirou ainda com a cintura envolta pela toalha e o calção emprestado. Ao vê-lo assim, Ruan ficou meio sem graça, mas não quis impedi-lo de ficar nu, caso o convidado quisesse assim se despir da toalha e mostrar a bunda gorda; Coisa que Ruan não acharia nem um pouco ruim poder rever os glúteos densos e redondos da linda bundona.

Que merda eu tô pensando?

- Dá pra você se virar? - pergunta Aleph segurando o short pelas laterais com os polegares.

- Hã? O quê? Ah entendi. Ok - e Ruan virou-se, um pouco tenso.

Aleph tirou a toalha e, rapidamente, vestiu o calção.

- Pronto. Já me vesti.

Ruan, que continua apenas de cueca slip branca, voltou a ficar de frente para ele. Um ronco baixo saiu do abdômen do mais novo. Ruan sorriu.

- Eu também estou com fome, Aleph. Calma que já vai chegar.

Aleph afirmou com o rosto e continuaram se olhando por um tempo. A fofura e a timidez de um diante da beleza e sensualidade do ruivo malhado com pernas longas e coxas bem torneadas. Começando a sentir tesão e um volume frontal renascer, Ruan foi escolher uma bermuda para si, a fim de amenizar tanta química.

****

Com as mãos nos quadris e vestido com uma bermuda Tactel, Ruan olhava para o que está sentado na borda da cama e de calção preto.

Havia tanto a ser dito, mas nenhum dos dois falava nada. A campainha veio como uma salvadora, e Ruan se levantou, grato em fazer algo.

- A pizza chegou, me espere aqui, não abra a porta, pra nenhuma cobra entrar.

- Certo - respondeu com as mãos no colo.

- Isso, já volto.

- Ruan, por favor, grelha um bife pra mim e faz batata frita. Não quero comer essa pizza de alface, não.

Com um sorriso sacana,

Ruan voltou-se para Aleph e disse:

- Só se você me der esse rabão.

- Hã? - Aleph deu uma lavada na garganta.

- Eu tô brincando - disse sorrindo. - Isso não rola mais entre a gente. Você não é mais o Aleph que eu conheci. Agora é bolsominion.

- O entregador tá te esperando, é melhor você ir logo, e parar de fazer esses comentários sem graça. Bolsonaro tá cagando na bolsa pra quem fala mal dele.

- É melhor você ficar em cima da cama, por precaução.

- Será que você poderia parar de me amedrontar, seu idiota? - Aleph retruca irritado, mas subiu na cama.

- Ai é tão bom ver sua cara de medo, minion... - e saiu rindo.

- PT, partido das trevas! - gritou Aleph depois que o outro se retirara.

Acomodando-se sobre as pernas cruzadas, olhou desconfiado para cada canto do quarto. Se um Teiú ou ao menos uma cobrinha surgisse, com certeza, ele ficaria desesperado e gritaria como uma alma do purgatório.

****

Pareciam dois anjinhos, só que não.

Na verdade, aquilo era um jogo de gato e rato. Os dois já foram amantes, amigos e parceiros. Esse sentimento foi substituído pela mágoa e rancor. Tudo por causa de uma estúpida disputa eleitoral.

O que eles não esperavam era que essa súbita proximidade reacenderia antigas faíscas.

Aleph e Ruan estão comendo na cama, cada um perdido em seu turbilhão particular.

Mas ao menos o clima é agradável. Não é que o petista realmente preparou bife com fritas para o minion?

Rescostado à cabeceira e de pernas estiradas, Aleph saboreia seu gordo bife e uma garrafa de Gatorade sabor uva. Ele lambia os dedos satisfeito. Não era uma lua de mel, mas o bife e as fritas estão sobre uma bandeja de cama, dobrável e com pés.

À sua direita e na cama, está Ruan sentado na beirada enquanto come a segunda fatia da pizza. Os dois comem em silêncio. A Gatorade de Ruan é sabor tangerina.

Aleph, tadinho, comia feliz e sem pressa de acabar; e tendo sido feito por quem ele ama então...

Os talheres para o bife com fritas estavam com Aleph, e os para a pizza estavam na caixa aberta ao lado do ruivo.

A pizza de Ruan é light, está crocante e gostosa. Sobre ela havia: pimentão, tomate, cogumelos, espinafre, queijo vegetal, brócolis, berinjela, azeitonas... uma pizza vegana e apetitosamente colorida. Preparada sem nada de origem animal, é claro.

- Ruan, me dá uma fatia dessa pizza. Tá tão bonita e cheirosa, tô sentindo daqui.

- Eu fritei uma boa porção de batatas e um bife grande, já pra você não sentir fome tão cedo. Se depois de terminar aí, você ainda quiser, posso deixar duas fatias pra você.

- Lembro que eu gostei daquela que você pediu uma vez... uma de batata e abóbora... até que deu pra comer. Com aquele queijo de mandioca, o... mandiokeijo - comentou risonho ao lembrar.

- Mastiga devagar, Aleph. Você e sua mania de comer igual ao Goku.

- Estamos em casa, ninguém tá vendo.

- Mas eu estou e isso me incomoda, garoto.

Os dois beberam suas Gatorades ao mesmo tempo.

- Foda-se! - disse Aleph.

- Você teria coragem de comer igual ao Goku em um restaurante?

- Não, porque eu não treino pra participar de torneios de luta. Você é que já acorda com o cabelo de Saiyajin.

- Caralho, você comendo e falando pareceu uma boca de tubarão branco aberta. Um monstro do mar do filme Piratas Do Caribe. É sério... pareceu o Kraken levando o Jack Sparrow pro fundo do mar...

Aleph ignorou e continuou comendo recostado à cabeceira, com o auxílio de um garfo e uma faca. Sua garrafa de isotônico estava mais cheia que a de Ruan.

- Come feito gente; Filhote de Hitler brasileiro.

- Vai pra Cuba! Lá é o paraíso! - respondeu quase se engasgando.

O ar esquentava novamente dentro do quarto.

De repente, Ruan foi para mais perto de Aleph e tascou um rápido cascudo na cabeça dele.

- Ai seu miserável! - esfregou o local da dor com o dorso da mão direita.

A coisa agora havia ficado séria. Os dois se encararam por oito segundos, o carnívoro já estava magoado.

Então, Aleph jogou o garfo no outro. Ruan se protegeu, mas o susto fez sua fatia de pizza voar pelos ares.

- Você quase me furou!

Aleph estava vermelho e muito nervoso, tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu; então, avançou descontrolado contra o ruivo.

Ruan conseguiu imobilizar o minion a tempo. O que deu nele?

Vendo que Ruan trincou os dentes e adotou um olhar de ira, Aleph começou a chorar. E a chorar muito.

Com rapidez, Ruan retirou os outros talheres das mãos de Aleph e os jogou para junto da pizza. Depois voltou a olhar para o garoto nervoso e amedrontado.

- Eu não aguento mais! Quero ir pra casa. Você só implica. Olha o que você me fez fazer! - falou Aleph derramando-se em lágrimas.

Ruan passou a mão no rosto, confuso, então procurou se acalmar por causa de Aleph.

- Calma. Foi mal. Tô te pedindo desculpas. Vou me controlar. Come, vai. Você não gosta de comida fria... Olha, foi mal. Desculpa, porra - sem perceber, sua mão esbarrava na bunda do comilão.

- Tira essa mão da minha bunda, ela não é propriedade pública pra esquerdista invandir e tomar o terreno - mandou sério, após enxugar um dos olhos.

- O MST luta por uma causa nobre. Não fale daquilo que não compreende.

- Lula, tá preso, babaca! - falou ainda com voz de choro.

- Quer um açaí da Wal, de sobremesa?

- Vai pra Coréia do norte, lá tem um Lula! - Aleph parecia que ia continuar a briga, mas parou e olhou triste para o outro. - Não quero mais comer.

Ruan olhou para a parede e fez silêncio. Aleph empurrou um pouco o suporte, emburrado.

- Obrigado por ter fritado essa batata sem sal e esse bife meio tostado, mas eu não quero ficar mais um minuto aqui, Ruan. Eu sentia que terminaria assim.

- Eu ia estar com um garfo espetado em mim agora...

- Você me deu um cascudo, e forte! Por isso eu revidei - disse com voz embargada e olhos vermelhos.

- Eu sei. Foi um impulso errado. Termina de comer. Come com as mãos, não tem problema. Também vou comer mais pizza com a mão. Vamos nos acalmar?... Hum? - tentou amansar.

Aleph parou de chorar e ficou pensando, então olhou para o pedaço da carne, depois para as batatas.

- Tem sorvete no refrigerador?

- Tem - respondeu Ruan.

Após mais um tempo em silêncio, eles continuaram com a refeição.

****

- Dorme aqui comigo - pediu Ruan sentado ao lado de Aleph na cama, recostados à cabeceira.

- Por quê? - indagou Aleph girando a colher no fundo do pote.

- Não faz pergunta difícil. Ei, esse sorvete já acabou há uns três minutos. Não tem mais. Controle essa gula.

Aleph largou o pote, ao lado; ele continuava amuado.

- Ruan... Eu sinto a sua falta. Tenho sentido saudades de você.

- É? - indagou Ruan, calmo por fora e fervilhando por dentro.

Ruan virou-se para lhe dar atenção. Aleph cruzou os pés.

- Aham. E você? Também sente falta de me tocar? Faz quase um mês... - quer saber Aleph.

- Minha vida não gira em torno da sua bunda - falou Ruan brincando.

- Tem certeza? Por que me trouxe pra cá? Era só me orientar e cada um ia pra suas casas.

Ruan refletiu por um momento, mordeu a ponta do dedo mindinho e levou um tempo para responder.

- Ok. É, eu também tenho sentido falta de te comer, de te a...

- Abraçar?

- Eu ia dizer apertar, morder, sentir sua boquinha no meu pau.

- Sei... - acompanha tendo ideias.

- De ver você cavalgando na minha rola... - ajuntou Ruan carentemente.

- Me passa meu celular, vou pedir pra minha mãe vir me pegar aqui. Estou com medo - simulou o gordinho.

Aleph olhou para o lado e sorriu sem que Ruan pudesse ver. A dinâmica entre eles havia mudado da água para o vinho.

- Desculpa. Eu sou meio animal. Sei que és mais romântico. Quer mais sorvete? Ainda cabe mais aí, Goku? - isso fez o outro sorrir também. - Vou botar algum desenho pra nós assistirmos.

- Certo - e Aleph corou de contentamento.

Um sorriu para o outro e seus olhos brilharam. O clima estava indo para uma direção inesperada e gostosa. Só cabia a eles manterem a chama acesa.

****


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Comentários

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17/04/2020 10:00:35
Não para não, talkei
08/04/2020 21:49:01
Blizard eu super te compreendo. Obrigado.
08/04/2020 21:47:13
Deixei pra comentar direito quando terminasse de ler os três capítulos e apesar de ser uma boa história acho que você deveria humanizar mais os personagens, fica difícil acreditar que os dois tiveram algo juntos quando eles se tratam tão mal. Assim como também é difícil se envolver na história quando os dois protagonistas são pessoas horríveis. Espero que não leve meu comentário a mal, vejo bastante potencial no conto e espero que continue.
06/04/2020 14:57:02
Relacionamento estranho
06/04/2020 14:47:29
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