Felipe - parte II - La Polonaise

Um conto erótico de YL Maestro
Categoria: Homossexual
Contém 1187 palavras
Data: 14/08/2019 23:53:38

Estrelas brilham por si só.

Felipe tinha razão. Completa razão. Eu conseguia me acalmar. Ele conseguia me acalmar. Estava tudo bem. Eu não teria meu lugar roubado. Eu sabia que ninguém fazia o que eu fazia. Eu sabia, a mídia sabia, a companhia sabia. Felipe sabia.

Ele continuava a me acalmar. Tocava meu cabelo, tocava em meu rosto com tanta doçura, tanto acalanto, que eu suspirava. Parecia que o mundo tinha voltado a ter chão e que eu começava a enxergar novamente.

Meu camarim voltava a parecer o que era, antes de eu ficar cego de ódio. E ele ainda estava comigo em seu ombro me acarinhando. Fazia carinho em minhas têmporas. Eu não conseguia descrever a calma que aquilo me trazia.

Como podia um garoto daquele existir? Além de lindo, pois era lindo. Era competente, me fazia sentir bem e me acalmava. Me fazia sentir... Puro.

Olhei em volta, e vi tudo o que eu tinha conseguido nesse tempo de teatro. Meus figurinos, maquiagens, meus livros de voz. Eu estava no meu ápice e eu tinha a companhia ideal ao meu lado, que era fiel a mim, mesmo estando trabalhando a tão pouco tempo.

Fechei os olhos e adormeci por alguns minutos em seu obro. Felipe não se movia. Ele cantarolava uma música. Eu conhecia aquela música, mas não sabia qual era. Não me recordava exatamente qual música ou qual compositor havia escrito aquilo que ele cantarolava tão baixinho, me fazendo cochilar.

Acordo minutinhos depois e Felipe também estava adormecido. Levemente adormecido recostado em mim. Alguém tocava algo no piano da sala de ensaios. Eu conseguia ouvir bem suave o som. De onde eu conhecia também aquela música? Era a mesma música que Felipe cantarolava minutos antes.

Ele ainda estava adormecido e ainda continuávamos recostados um no outro. As mãos dele descansavam calmamente sobre suas pernas. Tão brancas, tão suaves. Como tinha mãos tão delicadas alguém que tocava piano profissionalmente? Eram mãos fortes, eu tinha certeza, porque eu sabia, que mesmo sendo tão sutil, ele se transformava em um deus, quando se sentava ao piano de cauda.

A música de fundo continuava a tocar, eu a conhecia. Mas ainda não sabia qual era. Agora estava um pouco mais alta. Me emocionava. Olhei novamente as mãos de Felipe. Continuavam paradas. Ele dormia profundo. Mas não se mexia. Acho que inconscientemente não queria me acordar. Mas eu estava acordado.

Então, muito suavemente, entrelacei meus dedos nos seus, muito suavemente, ainda escutando aquela música que preenchia tão suavemente o som da minha sala. Havia apenas eu, Felipe e aquela música. Meu coração se aquecia.

Segurar a mão dele me deu um calor inesperado no peito. Eram suaves. Mãos macias, delicadas. Mas eu sabia que apesar disso, no piano eram mãos fortes. Mas ali, junto da minha, pareciam mãos de um anjo. Ele suspirou. E fechou sua mão na minha, segurando mais firmemente. Voltamos a adormecer ali, juntos.

Esse foi o momento que eu percebi. Que havia algo que fazia eu e ele, virarmos nós.

Acordamos com alguém batendo na porta do camarim. Era Marion. O irmão de Mariel, que uma hora mais cedo havia sido flagrado por mim e Felipe.

Marion era completamente diferente do irmão. Por mais que fossem gêmeos.

Ele era gentil, era agradável e suave. Tinha apenas um defeito. Era mulherengo. Já havia ficado com todas da companhia. Mas há de se dizer que sua beleza condizia com a sua fama. Não havia uma pessoa que se atraísse por homens, que não havia, em algum momento, se atraído por Olive, apelido de Marion pelos seus olhos verdes.

Ele entrou no camarim, perguntou o que tinha acontecido. Mas se corrigiu e olhou para as mãos minhas e de Felipe juntas. Sorriu e pediu desculpas por ter interrompido o momento dos dois.

Nós não havíamos percebido que ainda estávamos de mãos dadas. Eu ri e Felipe ficou vermelho. Ele era tímido também. Marion nos deu as costas rindo da cara de Felipe, fez tchau de costas para nós e saiu pela porta.

Felipe me pediu desculpas. Não deveria ter feito aquilo. Eu era chefe dele e ele meu empregado e por mais que me admirasse, aquilo não era certo.

Falei para ele ficar despreocupado. Não havia nada demais, o abracei e agradeci por ter me acalmado. Eu estava muito melhor. Estava leve e era ele quem havia proporcionado isso em mim. Aquele calorzinho voltou ao meu peito quando olhei nos olhos dele e vi que ele me fitava nos olhos também.

Ouvi mais uma batida na porta. Era novamente Marion. Dessa vez queria saber quem estava tocando aquela música no piano da sala de ensaios.

Propus que fôssemos ver. Talvez quem estava tocando, ainda estivesse lá e poderíamos perguntar que música era aquela.

Marion olhou para nós e disse que ficávamos muito bonitos juntos. Que éramos o casal mais bonito da companhia. Felipe e toda sua alvura de olhos claros, baixinho, com aquela calma e sutileza, magro, e delicado. Eu, de negros cabelos, mais alto, 1.80 de altura, olhos amarelados, que rendiam muitos comentários dizendo que eu tinha olhos de cobra. Sempre marcava uma presença diferente por onde passasse, como um relâmpago. Felipe era a brisa noturna da primavera e eu era a tempestade de verão. Se fossemos um casal, seria sim, um belo casal.

Seguimos Marion então pela porta, viramos a direita e entramos na segunda porta do corredor, na sala de ensaios.

Era uma sala em madeira de cerejeira, uma sala circular, com um piano Steinway & Sons, preto, muitíssimo bem lustrado.

Em volta do piano algumas poucas dezenas de cadeiras de madeira, com estofados Azul marinho.

Não, não havia ninguém ali na sala. Apenas nós 3 e o piano.

Marion disse que já que não havia ninguém ali, iria embora.

Nos disse tchau, virou de costas mais uma vez, enquanto eu e Felipe estávamos ao lado do piano.

Marion parou mais uma vez, olhou por cima dos ombros e sorriu. Ele era engraçado.

Ficamos por entender e paramos uns dois minutos no tempo para tentar entender o nosso colega.

Fiquei pensando na música. Que música seria aquela que estavam tocando no piano quando estávamos adormecendo.

Felipe se sentou no piano e ficou admirando aquele lindíssimo instrumento que estava ali sempre que precisássemos ensaiar, aquecer a voz ou para simplesmente tocá-lo.

Mas que música era aquela que estavam tocando?

Eu não conseguia me lembrar. Só lembrava que aquela música fez parte de um momento especial. Que eu me senti flutuando estando ali sonhando acordado nos ombros de Felipe.

Só me lembrava de que eu havia segurado a mão dele e ele a minha e ambos adormecemos.

Mas quem será que havia sido também.

Que música era essa que tinham tocado e que Felipe cantarolava minutos antes de tocarem no piano.

Espera, ele havia cantarolado essa música. ELE SABIA.

Perguntei se ele havia escutado alguém tocando aquela música. Mas ele respondeu que não. Então perguntei qual era a música ele estava cantarolando quando me fez dormir.

Ele enrubesceu.

Era La Polonaise, de Chopin.

Pedi que ele tocasse no piano.

Ele começou a tocar.

Eu comecei a chorar.


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Comentários

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o sentimento puro nos eleva a um plano espiritual maravilhoso.

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SERÁ QUE TODO ARTISTA É ASSIM, VAIDOSO, E SOBERBO?

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