UM BRUTAMONTES E SEUS GAROTOS, cap. 04
Acordo meio assustado, mas o quarto está silencioso. Segundo meu celular, já passa das 9h da manhã (meio tarde pra mim). Olho para o lado e Heitor dorme profundamente, de barriga pra baixo. A forma como ele está esparramado na cama deixa em evidência sua bunda grande e redonda embaixo do short do pijama. É hipnotizante, mas acordo logo pra vida.
Tento não pisar em Lorenzo, que também dorme profundamente, ao sair do quarto. Entro para o banheiro e realizo minha rotina matinal. Calço meus tênis e saio pra dar uma corrida no bairro, não tem jeito melhor de começar o dia. Quando volto, os meninos ainda estão dormindo. Penso em preparar algo para o nosso café da manhã, mas lembro que eles são de acordar tarde.
Resolvo arrumar meu quarto. Passo o resto da manhã desfazendo minhas malas, varrendo o cômodo, instalando as cortinas que comprei, guardando meus pertences de higiene no banheiro. Estou começando a me sentir em casa.
Perto das 13h vou pra cozinha e começo a fazer almoço. Os meninos devem ter sentido o cheiro ou acordado com o barulho, porque logo surgem, ambos com cara de sono e cabelo bagunçado.
— Tô fazendo almoço pra gente — digo, picando uma cebola.
— Igor, não precisa. A gente se vira — Heitor fala, educado.
— Olha, eu não vou negar um rango não — diz Lorenzo.
Combinamos que os meninos vão comprar ingredientes para as refeições de casa e eu cozinharei. Comemos e logo é hora de nos prepararmos para a festa. Segundo o evento no Facebook, a festa é das 15h as 23h. Heitor explica que as festas em casas de alunos são nesse horário para evitar problemas com vizinhos.
Nos recolhemos no quartos para nos arrumar. Visto uma bermuda justa até joelho, uma camiseta com botões da gola e um tênis Adidas básico. Coloco meu boné e me olho no espelho do quarto. Se eu tivesse interesse, pegaria geral, penso haha. Sei que posso parecer convencido, mas levei muito tempo para me sentir confortável com a minha aparência e hoje tenho orgulho disso.
Estou um pouco nervoso quando sento no sofá da sala para esperar os meninos, mas o nervosismo logo é substituído por encantamento total quando eles surgem de seus quartos. Heitor veste uma camisa estampada bem bonita e que parece ter custado bem caro e combina com um short que acentua sua bunda linda. Seus cabelos estão mais cacheados do que nunca. Lorenzo é mais ousado e usa shorts que parecem femininos, mas ficam ótimos no corpo dele.
— Caraca. Tô bem acompanhado — digo, realmente impressionado com o visual dos meninos.
Ele se entreolham e riem. Falam que estou um gato. Pego a chave do carro e saímos de casa. Não temos dificuldade de chegar na casa onde a festa está acontecendo, pois conseguimos ouvir o funk estourando nas caixas de som desde o início da rua.
Aviso na porta da casa que sou calouro e sou logo puxado por um grupo de caras. Os meninos vem logo atrás. Os veteranos me cumprimentam e se apresentam, eu tento soar o mais simpático possível. Eles me avisam que teremos uma brincadeiras e trotes para os calouros e depois somem na festa.
Lorenzo e Heitor já parecem estar bem ajustados, pois encontraram um grupo de amigas com quem já estão conversando e dançando.
— Igor, essas aqui são Marcela, Isa e Laura — cumprimento as meninas.
— Ele é um gato, né gente? — Lorenzo brinca, já com um copo de bebida na mão.
Na verdade todos já estão com seus copos na mão e me perguntam se não quero beber algo, mas não sou muito de beber. A festa vai ficando cada vez mais cheia e animada e é engraçado perceber como as pessoas vão ficando bêbadas aos poucos. Lá pro meio do rolê, meus veteranos me chamam para os trotes e me divirto neles. Tinha medo dessas brincadeiras serem violentas, mas o pessoal é bem cuidadoso e não obriga ninguém a fazer nada.
Quando volto para a rodinha dos meninos o dia já escureceu e eles parecem já estar lokassos. O funk ecoa no quintal enorme da república e Heitor e Lorenzo dançam e rebolam como se não houvesse amanhã. Não sei porquê, mas a cena me deixa de pau duro. Eles dançam muito bem e é a coisa mais linda de ver. Tento dançar um pouquinho para disfarçar e aí que eles se animam.
Gosto de funk também e acabo me soltando. Os meninos se esfregam em mim e tento retribuir a dança à altura, mas o destaque da rodinha são mesmo os dois garotos de shorts curtos e grandes habilidades na dança. O suor desce pelo meu rosto e percebo que nunca me diverti tanto.
Resolvo dar uma pausa para respirar e ir ao banheiro. A fila está grande então demoro uma boa meia hora. Estou voltando para a rodinha quando percebo uma movimentação estranha lá por perto. Ouço uma voz gritando e percebo que é do cara que me recebeu logo na entrada. Seu nome é Caio e ele mora nessa casa.
— ESSES VIADINHOS TÃO ME INCOMODANDO A FESTA TODA!
Aperto o passo pra ver o que está acontecendo e vejo Lorenzo sendo segurado pelas meninas, ele parece furioso.
— ME SOLTA MARCELA ESSE OTÁRIO VAI TER O QUE MERECE — apesar de pequeno, ele parece obstinado a dar na cara do Caio, que olha debochado para a situação.
A confusão parece formada. O som continua alto mas parece que a atenção da festa está totalmente voltada para o nosso grupo. As meninas seguem lutando pra segurar Lorenzo, que está com sangue nos olhos.
— Ih, a fadinha acha que consegue brigar comigo — Caio comenta em um tom de voz alto, pra todo mundo ouvir.
— Que doideira é essa, gente? O que aconteceu? — pergunto para Isa, ajudando-a segurar Caio — Cadê o Heitor?
É quando olho pra baixo e vejo Heitor meio jogado no chão, massageando o maxilar sem conseguir se levantar. Percebo o que aconteceu e não consigo pensar direito. Sinto a raiva esquentando a minha cabeça e só me dou ao trabalho de puxar Heitor do chão e apoiá-lo nas meninas antes de de avançar em direção a Caio, que já tirou a expressão debochada da cara.
— Cara, você tá pensando que é quem? — pergunto, sentindo veias saltando na testa.
— Eita, você é viado também? Um negão desse? O MUNDO TÁ PERDIDO GALERA. — Caio grita, mas ninguém parece achar graça.
Só me lembro de desferir um soco no meio da fuça dele antes de Lorenzo, Heitor e as meninas, com muito custo, me puxarem para fora da festa antes que eu faça mais algum estrago. Sentado na calçada, vou me acalmando e pergunto pro pessoal o que aconteceu.
— Esse caio é um idiota, tudo mundo sabe disso — Marcela diz, checando a boca de Heitor.
— Ele acha que é o dono do mundo mas na real é um babaca. Ninguém gosta muito dele então às vezes ele dá dessas pra chamar atenção — Laura completa.
— Mas o que aconteceu, gente? — pergunto, um pouco mais calmo e sentindo um apito fino no ouvido por causa do som alto.
— Ele me viu com o Lorenzo e esbarrou na gente de propósito. Eu caí de boca na mesa na mesa de som — Heitor responde. Percebo que ele continua bêbado, só que mais sério.
— Como assim? Ele só viu vocês dançando e se incomodou?
— A gente tava se beijando — Lorenzo responde e eu sinto uma pontada na barriga, uma sensação estranha.
— Entendi.
— Normalmente ninguém liga pra meninos se beijando nos rolês, mas esse cara é um escroto com fama já. Deve ter pegado eles pra cristo — Marcela completa.
O grupo fica em silêncio e eu olho preocupado para Heitor, mas a bebida parece estar com seu efeito inalterado, já que ele ri enquanto conversa algo com Heitor. Ofereço uma carona para as meninas mas elas dizem que o Uber delas já está chegando. Espero elas irem embora quando chamo os meninos para ir pra casa.
Eles se levantam meio cambaleando do chão, meio risonhos. Eles enlaçam o braço um no outro e dizem:
— Vamo embora, grandão — e caem na risada.
Acho engraçado os dois bêbados e rio também.
— Esse vai ser seu apelido em casa. Porque você é grande e forte e um amigão — Heitor diz — Valeu por defender a gente.
Eu não respondo, só dou um sorriso e os puxo para onde o carro está estacionado.
A volta para casa é muito engraçada, pois os meninos tem muita química juntos e bêbados são uma dupla imbatível. Pergunto casualmente do beijo dos dois, em dúvida se eles se gostam ou algo assim. Não sei por quê quero saber disso, só quero mesmo.
— Nós somos irmãos, amigos e almas gêmeas. É tanta amizade que um beijo não estraga haha Por isso acontece de darmos umas bitocas quando bebemos umas — Lorenzo fala, fazendo um biquinho exagerado para o amigo no banco de trás, nos fazendo rir.
— Mas é só isso. Beijo de festa. Se você quiser a gente dá beijo de festa em você também, grandão — Heitor diz, rindo.
A subida para o apartamento é meio complicada pois os meninos querem mais festa, mas assim que entramos em casa eles já aceitam o fim da noite e já vão tirando os sapatos. Heitor corre para o quarto e deita em sua cama, caindo num sono profundo e embriagado imediatamente.
Lorenzo se senta no sofá mas logo cai no sono. Estou sozinho. Preparo algo para comer, pois estou faminto. Depois da refeição, pego Lorenzo no colo e o deito ao lado de Heitor, pois não sei onde está a chave do quarto dele. O colchão de Lorenzo ainda está no chão do quarto e é lá que me deito para dormir. Já com os olhos pesando, penso em como me apeguei fácil aos meninos. Hoje senti uma coisa nova. Uma vontade meio louca de cuidar desses dois garotos lindos e engraçados e meio estabanados.
Sei lá o que tá acontecendo comigo.
**
Então é isso, pessoal. Esse capítulo finaliza a introdução da história. A partir de agora as aulas começam e os meninos começam a entrar na rotina do dia-a-dia. Mas prometo muito amor e safadeza pra esses três. Fiquem ligados e valeu pelos comentários, críticas e elogios :D