ACRÔNICO. #Parte 14.

Um conto erótico de Ralph.
Categoria: Homossexual
Contém 1169 palavras
Data: 29/04/2017 13:10:46
Assuntos: Gay, Homossexual

Diferente do que deveria ter acontecido, acordei disposto naquele sábado e sem muitos danos no corpo por causa da leve noitada que terminara em sexo. Por sinal, um sexo pra lá de meia-boca. O único pesar referia-se à sensação de que eu não tinha sido tão bom quanto poderia ser, mas até isso também não importava muito. Lembrei-me que acordara no meio da noite depois de um sonho maluco onde Eric era revistado por mãos taradas e bocas ansiosas e no meio daquela performance excitante um pedido de casamento quase tinha se concretizado.

Não era de se estranhar que a cama estivesse fazia ao amanhecer. A provocação de Eric tornara-se, em uma única noite, algo previsível. Como sempre, eu levantei sem pressa, ignorei os e-mails que chegavam com uma frequência absurda na minha caixa de entrada, tomei um café da manhã bem leve e passei o resto do dia entre algumas leituras. Foi um dia bastante produtivo para alguém que deveria estar sofrendo por beber mais do que tinha bebido nos últimos seis meses.

As horas se passavam e a animação para a estréia da peça de Catarina aumentava. Depois de me arrumar casualmente como sempre, antecipei minha saída, pois precisava passar em alguma floricultura e comprar algo visualmente agradável e que mostrasse meu carinho pela pessoa que estava tocando aquele projeto tão interessante.

Decidi ir ao teatro de táxi por pura preguiça de sair com o carro num comecinho de noite de uma grande cidade. Não só o estresse do trânsito, eu também previa que pudesse rolar alguma festinha no final da estréia.

– As flores são bonitas. – Disse-me o taxista que me esperou como combinado enquanto eu tinha ido comprar as flores.

– Ah, são mesmo.

Eu deixei o buquê sobre o colo e ri da minha incapacidade de escolher uma única flor. Então naquele conjunto de coisas bonitas, Catarina encontraria de Girassol a flores do campo. Ela não reclamaria.

– Sua garota vai gostar – ele concluiu em um sorriso amigável.

– Com certeza ela vai adorar.

Eu não devia explicações ao condutor e concordei com ele para que aquela conversa não se estendesse. Ele tinha uma cara de que perguntaria sobre o placar do último jogo entre dois times que eu sequer iria saber da existência.

Minha chegada ao teatro não foi calorosa, como eu esperava que fosse. As luzes já estavam perto de se apagarem, não pude encontrar nenhum dos envolvidos, muito menos entregar as flores e corri para um jovem que recebia os convidados especiais. Aquilo era impressionante, pois a montagem era pequena e não muito noticiada. Mas para a alegria de todos, a casa estava cheia. Cheia e esperançosa. Um casal sentado ao meu lado elogiou as flores e fez uma brincadeira entre eles sobre a mulher não mais receber aquele tipo de mimo. Para o desespero do componente masculino, eu arranquei uma daquelas flores do campo e entreguei à mulher de olhos grandes, que explicitou sua felicidade com um sorriso fácil e muito aberto. O olhar furioso de seu companheiro me fez entender que eu não precisava ter dado uma piscadinha para ele.

Mais um aviso de que tudo começaria em breve e não muito tempo depois, sob um silêncio quase fúnebre, o palco foi iluminado e a estrutura de ferro no meio dele fez surgir um burburinho animador. É claro que todos esperavam bastante espaço e objetos cenográficos, não uma grande estrutura composta por andaimes. O quão conceitual aquilo parecia me animou como um abraço quente. As atuações estavam perfeitas e na medida. Os atores se movimentavam tanto no chão, entre as barras que formavam a base da estrutura, quanto sobre elas. Eric fazia isso com mais facilidade. Era bonito vê-lo aninhando-se no alto daquela coisa, às vezes gritando, eufórico, e às vezes em lágrimas, quando o texto pedia por isso. Como previ ao ler o roteiro, me emocionei muitas vezes, principalmente quando o amor foi colocado em questão ou quando a intolerância, sexual e racial, foi abordada com muito respeito e sabedoria. De onde eu estava também vi muitas pessoas emocionadas, e em outros momentos enraivecidas. Foi bom ver tantos sentimentos serem acordados naqueles instantes.

Depois dos aplausos oferecidos por um público inteiramente de pé, eu esperei a grande movimentação diminuir e me direcionei para a coxia, onde provavelmente encontraria o elenco e o casal diretor, os amigos diretores.

Familiarizado com o ambiente, subi pelo próprio palco e caminhei entre os andaimes para em seguida acessar a parte escondida do público. Carlo e Sarah se abraçavam quando eu cheguei.

– Meus amigos estão me esperando, mas foi ótimo vê-lo aqui. – Ela disse atropelando as palavras enquanto corria, já sem o figurino usado em palco.

– É sempre assim – Carlo completou olhando a corrida da moça. – As flores são pra mim, né?

Nossa gargalha saiu emendada uma na outra e nos abraçamos enquanto eu entregava-lhe todo meu carinho pela atuação daquele mestre dos palcos.

– Johnny, meu Bravo! – Eu gritei quando ele veio em minha direção e também me abraçou ainda mais carinhoso que o próprio Carlo. Um beijo em meu rosto arrancou-me um risinho corado.

– Adorei as flores. – Ele brincou cheirando o arranjo que não era dele.

– Onde está a barata tonta?

– Quer uma dica? Se enfurne no meio dessa loucura. Hora dessas você a encontrará. Adianto que as flores não irão acalmá-la.

Ele não mentia. A coxia que era espaçosa demais para um teatro tão pequeno e estava abarrotada de amigos convidados. Eu vi Catarina cercada de pessoas e quando ela me viu, seu olhar furioso me acertou em cheio. Só assim eu entendi o real sentido daquilo que Johnny alertara.

Eu me despedi de Carlo, apertei o ombro de Johnny e atravessei a multidão eufórica em direção à Catarina, que imediatamente pediu licença ao grupo de mulheres com quem conversava e me interceptou no caminho, grudando suas mãos quentes em meus ombros.

– O que você fez? – Ela controlou a voz, mas ainda saiu quase gritava.

– Não tente fazer a difícil – eu ri erguendo as flores ao alcance dos olhos dela. – Todo mundo gosta de flores.

– Eu adoro flores – ele sorriu para o lindo buquê entre nós dois – mas odeio gente como o Eric. Todo mundo sabe que vocês transaram ontem. E todo mundo sabe porque ele fez questão que isso fosse o primeiro assunto do dia. – Ela terminou a frase falando mais baixo, somente para mim.

– Qual o problema nisso, afinal? Aparentemente ele está livre para encontros casuais e eu também.

– A questão não é essa. – Ela ainda tentava sussurrar. – Eu tentei te falar algo todos esses dias, mas nossos encontros sempre foram tão intensos e movimentados. Eu nunca tenho um momento em paz só com você.

– Novamente o assunto misterioso. Aproveite e diga de uma vez por todas. Sobre o que você precisa tanto me falar? – Eu estava rindo do quão sério ela tornava aquilo. Não poderia ser algo tão importante assim, afinal.

– Era sobre ele, Ralph. – Ele disse olhando sobre meus ombros, incentivando-me a olhar naquela direção. – O meu figurinista.

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Geomateus, tô continuando. ;)


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Comentários

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Eita, será que o figurinista é o Bernardo? Um abraço carinhoso para ti,

Plutão

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