Encontro Prometido. #3

Um conto erótico de Ezra.
Categoria:
Contém 1378 palavras
Data: 07/01/2017 19:39:25
Assuntos:

“Outra segunda-feira. Segure as pontas, rapaz!”

E então ri da naturalidade com que eu conversava comigo mesmo em frente ao espelho. Enfiei novamente os dedos entre os cachos e os baguncei suavemente. Aquele era meu melhor penteado desde que eu me entendia por gente. Notei minha barba já apontar pela extensão do queixo pedindo outro barbear, terminei de arrumar o caimento da minha camisa e enfiei minha mão dentro da calça, arrumando o volume que naturalmente se formava ali. “Agora não” eu o repreendi.

Bolsa, chaves, celular. Na porta o recado sobre a caneca também me fez rir.

Desci as escadas sem pressa. Aquele era um bom dia e eu estava com tempo sobrando. Um domingo de pernas para o ar é sempre bom. Ao sair do prédio vi um táxi encostado ali na frente, mas eu não precisava dele e eu sorri vitorioso. Quando não estava atrasado, era de ônibus que eu me deslocava. Me tira o tempo de sobra, mas deixa no bolso os trocados que o táxi levaria.

Da portaria minúscula ao ponto do ônibus eu precisava andar alguns bons metros que deveria ser medido qualquer dia. Aquilo poderia até ser usado como exercício físico no meio de uma conversa sobre qualquer coisa, quando ousam dizer que eu costumo ser bastante sedentário.

“Ezra!” eu ouvi quando me preparava para colocar os fones de ouvido. Talvez fosse outra palavra e talvez fosse para outra pessoa. “Ezra, espere!” eu ouvi ainda mais claramente dada a proximidade entre quem gritava e eu. Na minha meia-volta eu esperava encontrar qualquer pessoa menos David, o homem com quem eu tinha dividido forçadamente a corrida de táxi. Ele diminuiu a distância entre nós com uma leve corrida e eu poderia ter imaginado que não precisava caminhar na direção dele. Meus dois ou três passos súbitos culminaram com o encontro violento dos nossos corpos. Se não fosse as mãos fortes que me seguravam, seguramente eu teria voado contra o chão. “Belíssima forma de começar o dia” eu pensei em meio ao caos daquele encontro.

- Você? Quer dizer... David!

- É, eu! – Ele se apresentou garantindo de que eu ficaria em pé.

- Por favor, não diga que veio me ensinar a não entrar no táxi alheio. Além das porradas da vida, isso aqui já foi suficientemente constrangedor.

Ele tomou uma grande quantidade de ar antes de rir e terminar o riso com um suspiro engraçado enquanto ajeitava o cabelo curto que não precisava de muito cuidado.

- Não. Claro que não! Você esqueceu isso – ele disse tirando minha caneca de dentro da bolsa que carregava. – Mas agora me sinto na obrigação de dizer que suas abordagens são sempre únicas.

Se eu não pudesse tocá-la não acreditaria que aquilo tinha acontecido. A caneca que eu tinha esquecido dentro do táxi estava novamente em minhas mãos. A minha gargalhada demonstrava toda minha felicidade.

- Que cuidadoso, você. E que vergonhoso da parte. – Eu bradei.

- Deixe disso – ele brincou antes de continuar. - Eu iria levar até aquele prédio e tentar lhe achar, mas parece que somos vizinhos.

- Vizinhos?

- Eu o vi sair. Moro exatamente no prédio ao lado, ou seja, vizinhos!

Eu apenas ouvia o homem com um sorriso que era mais um misto de incredulidade e curiosidade. Ele estava sendo tão simpático e eu parecia um bobão que perdera a capacidade de falar.

- Isso é... Engraçado. Como nunca nos encontramos?

- Também achei engraçado. Talvez já nos vimos em outras ocasiões e não achamos necessário memorizar o rosto um do outro.

- E mais uma vez você está coberto de razão.

Eu continuava admirando o fato de poder tocar novamente minha caneca. Até limpa ela estava.

- Você não quer dividir o táxi hoje? – Ele interrompeu minha adoração apontando para o táxi que ainda o esperava na ponta da calçada.

- As coisas estão tranquilas hoje – eu fui sincero. – Talvez...

- Venha. – Ele ergueu as sobrancelhas naquela pequena ordem camuflada de convite. Precisava daquilo? - Prometo ser mais receptivo que da última vez – ele me interrompeu saindo na minha frente, fazendo com que eu o seguisse.

.

- Não parece mesmo tão atrasado hoje.

O silêncio que tinha se instalado entre nós dois finalmente foi dispersado. Eu sorri afastando os pensamentos sobre acaso e coincidências que me faziam ficar mudo.

- Ainda bem. Mais um daqueles dias e eu terei que vender coco na praia.

- Isso não me parece nada ruim.

Ele riu e ao coçar a barba tão grisalha e bonita vi o reluzir da aliança no dedo da mão esquerda. Meu riso foi mais desconcertante do que confortável. Não que eu fosse flertar com ele, mas qualquer expectativa de alguma proximidade provocada pelo acaso estava indo por água abaixo. Tratei de melhorar minha cara e sorrir decentemente e me contentar em ter uma companhia no trajeto que costuma ser sem vida.

- De fato. Vou começar a colocar isso em questão – eu refleti sobre cocos, praias e tardes ensolaradas.

- Aproveite a pouca idade e as muitas fases. Depois você fica velho como eu e as oportunidades desaparecem.

- Você não é velho – eu falei com pressa e logo me arrependi.

- Muito bondoso, você. Para a sua turma quarenta anos já pode ser considerado velhice.

- Você está sendo exagerado. Até porque está muito bem para a idade.

Ele riu espiando como estava o ritmo lá fora. Eu não vi como ele reagiu àquele elogio.

- Estou falando sério. Você está nos vinte e...

- Vinte e nove – eu o poupei de tentar adivinhar.

- Ah, os vinte e tantos!

- Não ache que eu sou a diversão em pessoa. O tédio anda sentado em meus ombros. É meu melhor amigo, aliás.

Ele gargalhou e tal gargalhada reverberou pelo interior do táxi. Ela saiu tão naturalmente que eu quase senti meu corpo arrepiado quando o vi apertar os olhos, voltando ao estado natural.

- Agora é você que está sendo exagerado, eu aposto.

- Você perde, eu juro. Sou uma negação. Minha visa se resume em um percurso de casa para o trabalho com um ou outra ida ao barzinho de sempre. E ainda por ser arrastado, caso contrário me entregaria às listas de coisas para assistir.

- Como alguém que cai sobre as pessoas e esquece canecas por aí pode sofrer de tédio?

Eu não o respondi e minha incredulidade deve ter ficado explícita em meu olhar, pois ele desabou em outra gargalhada que tão logo foi interrompida com o anúncio da minha chegada. Eu contava minha parte daquela corrida quando ele cortou o silêncio:

- Acho que você poderia me mostrar esse tédio em um almoço qualquer dia desses. Há uma certa proximidade entre nossos destinos finais.

- Acho uma ótima ideia, desde que você prometa não dormir com tanto tédio – eu ironizei meu “estilo de vida”.

- Acho que prometo – ele brincou.

- “Acho” – eu repeti tentando imitar o tom de sua voz.

- Até lá?

- Até!

Ver o táxi se distanciar do ponto onde eu tinha descido me lembrou que eu não tinha sequer anotado um número de telefone. Aquele almoço prometido sairia na base da coincidência, assim como tinha se dado os dois últimos encontros entre nós. Parte de mim se animava com a possibilidade disso ter acontecido propositalmente por parte de David, resultando em outro encontro regido pelo acaso ou qualquer outra força universal. Um sorriso insistia em permanecer em meu rosto e me mostrar que estava tudo bem em deixar as pessoas se aproximarem. E que sim, elas podem me considerar uma companhia agradável. Aquele dia teria outro tom: mais leve e confortável. Eu estava satisfeito em ser eu, mesmo estabanado e errado dos pés à cabeça.

.

.

Outro capítulo curtinho? Sim. E já me desculpo por isso. Sei que vocês querem mais, mas eu sou incorrigível!

J. K., sexo por sexo é algo que eu também nunca estou disposto a aceitar. Também compartilho da opinião de que esse é o tesão que pode ser aliviado com uma boa "mãozada". E desculpe pelo capítulo curto. Para não ser uma série tão pequena, eu dividi em algumas partes. Enfim. haha :)

Arrow, é importante saber onde meter os pés, não é? Normalmente o superficial não é tão atraente aos meus olhos e corpo. Obrigado por acompanhar.

Alexsandro Afonso, aaaaaah sim. Que bom saber que você está aqui também. ;)

Ru/Ruanito, achou legal mesmo? Então acompanha aí. Prometo que o clima vai esquentar logo.

Impact, ordem acatada. haha


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Comentários

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ehehe, eu não ligo muito pra tamanho do conto e esse aqui foi legal. da minha parte eu acho que o Ezra esqueceu a caneca no taxi de novo! kkk. Vamos ver o que vai dar com esse David

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