Cafuçaria - Tiroteio (2/5)

O primeiro contato direto que tive com o Fael aconteceu quando ele apareceu lá em casa, num dia quente como qualquer outro nessa cidade. Eu tinha acabado de chegar do colégio, estava morto de suado e nem havia tirado a mochila das costas ainda quando o escutei gritar Moça! no portão. Reconheci por conta do seu jeito curto de falar, de quem parece que não tá afim. Eu morava no fim de um corredor, numa casa de fundos.

̶ Três de uva, sem troco. ̶ ele disse, com o mesmo tom curto e grosso, talvez para não ter que repetir.

Dei meia volta na porta da cozinha e fui em direção à geladeira, já pensando na visão espetacular que teria quando fosse ao portão e em quantas punhetas me acabaria pelo resto da tarde. Peguei quatro sacolés de uva (não era bobo) e coloquei numa bolsa plástica de mercado. Até pensei em pegar o celularzinho mixuruca que tinha e fingir que estava vendo algo importante, na intenção de tirar fotos daquele moleque em corpo de cafuçu. Mas levei um susto, com o próprio Fael entrando pela porta da cozinha.

̶ Brotaram os cana!

̶ Da onde!? ̶ respondi já atento ̶ Sem aviso?

̶ Subindo daqui da oito. ̶ ele apontou em direção ao portão, no sentindo de descida da minha rua.

Mandei ele entrar e tranquei a porta. Fechei as janelas da cozinha e fomos para a salinha. Pude ver o caveirão subindo antes de fechar as janelas da sala e logo depois começaram os fogos. Normalmente, os vapores soltam fogos assim que vêem a polícia vindo de longe, que é pra dar tempo de todo mundo correr e se esconder, só que nesse dia foi ao contrário. A gente que mora em comunidade vive sob essas possibilidades, não é raro de acontecer, e é daí que surgem as notícias de pessoas inocentes morrendo. Por sorte, a bandidagem ficava bem mais à frente, mas mesmo assim era arriscado não estar protegido em algum lugar.

̶ Dá pra ficar daqui? ̶ ele perguntou.

̶ Claro, que isso. ̶ respondi ̶ Quer morrer lá fora?

̶ Já é. ̶ e se recostou na poltrona, de frente pra mim.

Como se nada estivesse acontecendo, ele esticou uma das mãos veiudas e me deu umas moedas pelos sacolés, enquanto tirava o celular do bolso da calça. Guardei o dinheiro sem conferir e entreguei-lhe a bolsa. Só nessa hora cai em mim e despertei para a tensão daquela situação. O Fael, cafuçu dos meus sonhos, largadão ali na minha poltrona, suado, mexendo no celular. Ainda com a blusa do uniforme de escola pública que deixava seus braços maiores do que já eram; o jeans escuro rente àquelas pernas de homem que sobe e desce o morro todos os dias; os chinelos de velcro da adidas que os moleques adoram e aquela cara de mal, um jeito malandro, teclando afoitamente no telefone. Ora com o sacolé de uva na boca, ora mordendo o cordão de prata que vivia naquele trapézio e descendo pelo pescoço.

Peguei meu celular pra avisar aos meus pais que estava bem, enquanto pensava em diversos assuntos que poderia puxar para tentar quebrar aquele silêncio vicioso. Não tinha papo com ele na sala de aula, mas sempre fui educado. Do nada uma saraivada de tiros, não muito distantes. Me assustei e automaticamente deitei no tapete. De tanto pensar naquela situação, esqueci do que estava acontecendo na favela.

̶ Qual foi, cria? Bateu neurose? ̶ ele não conseguiu segurar o riso. ̶ Nem parece que é cria.

̶ Bala perdida... ̶ tentei não ficar sem graça e voltei a me sentar. Peguei essa mania de abaixar dos meus pais.

̶ Mané bala perdida. Escalda não. ̶ ele falou, enquanto colocava o celular de volta no bolso e sacudia a gola suada da blusa pra se ventilar. ̶ Bora dar uma segurada nessa onda?

A garganta secou. Eu amava esse jeito cafuçu de falar, ainda mais sendo o Fael. A gíria, os gestos, o jeito do moleque em si já é algo bonito de se ver e com ele tudo isso parecia ainda melhor. Mas não entendi esse segurada de onda, então não sabia o que responder. Ele pegou a mochila só com uma das mãos, mexeu no bolso da frente e tirou um cigarro diferente, marrom, meio torto.

̶ Tem caô? ̶ perguntou.

Um baseado. Eu não fumava e nem ligava pra isso. Ele jogou uma das pernas pra cima da mesinha de centro que tinha na sala, ficando literalmente de pernas abertas em minha direção. E me olhou, com aquela cara de intolerância de quem tá com calor pra caralho e nada adianta.

̶ Não, pô. Pode fumar. ̶ falei.

Mas é claro que tinha problema, meus pais evangélicos, lembram? O Fael tava na minha frente, suado. Da onde eu estava no chão, podia ver a enorme sola daquele suculento pé de macho em cima da mesa, virada em minha direção. Também via sua perna esticada e aquela mala acumulada dentro da calça abafada. Ia negar qualquer pedido daquele puto? Não mesmo, além do mais estaríamos sozinhos até o começo da noite e aquela era uma situação inédita. Qualquer coisa eu jogava um perfume e tava resolvido.

Ele puxou um isqueiro do bolso, acendeu o beck e deu uma puxada profunda. Mais uma saraivada de tiros começou e quando terminou ele soltou a primeira baforada daquela fumaça densa no ar.

̶ Não tem erva melhor que a do Amarelo. ̶ e deu uma risada sacana de canto de boca, orgulhoso.

Outra puxada. Mais um tempo mudo, só com o barulho do ventilador de teto. Outro fumacê no ar.

̶ Só assim pra espantar o calor, cria. ̶ e me passou o beck.

̶ Pode fumar, eu não fumo não.

̶ Que isso, cria? Como que tu recusa erva minha? ̶ ele perguntou surpreso. ̶ Cê é loco. Fuma aí!

Peguei o baseado meio sem jeito e tentei puxar, mas não deu muito certo, não sabia nem tragar e acabei mais babando do que fumando. Ainda assim senti a cabeça bem leve e o corpo formigar. Devolvi e agradeci com um valeu meio tossido. Ele continuou fumando sozinho tranquilamente até o final, enquanto eu só o observava relaxar. Olhava praquele pé doido para lamber, chupar, sentir seu cheiro de homem. Pensava só em meter a cara no meio daqueles sovacos e depois cheirar aquela virilha, aquele saco, lambê-lo, engoli-lo. Como eu disse, poderia fazer isso o dia todo sem problemas e bem do jeito que ele estava ali, todo largadão e chapado. Apesar dos olhos vermelhos, o semblante era o mesmo, de moleque troncudo, que tá puto, procurando problema. Esses minutos pareciam se desenrolar em horas e foi aí que eu percebi que também estava brisado, na onda, e que ele também não tava nem aí. Foi então que me dei conta que ainda estávamos uniformizados e tive uma ótima ideia.

̶ Ou eu chapei ou tá mais quente. ̶ e tirei a blusa da escola, na intenção de que ele fizesse o mesmo.

̶ Podes crer, mó calor.

Mas nada aconteceu.

̶ Qual foi, tem caô deu tomar um banho? ̶ escutei dele e pirei de vez.

̶ Tranquilo. ̶ lentamente respondi, estava meio grogue ̶ Empresto um short.

̶ Tem caô não, visto essa daqui mesmo. ̶ ele falou enquanto passava a mão pela perna.

̶ Que isso, tem short maior aí, deve dar em tu. Guenta aí.

Me mandei pro quarto e comecei a caçar os maiores shorts que eu tinha, largos, justamente pros dias quentes. Encontrei uma bermuda branca mole, de poliéster, dessas de elástico, e peguei meu short comum de andar em casa, já imaginando o espaço em que a rola e o saco dele ocupariam e que visão espetacular seria. O Fael devia dar quase dois de mim. Meu pensamento foi interrompido por mais tiros e logo retornei à sala.

̶ Vê se dá em tu. ̶ disse, entregando-lhe a bermuda branca.

̶ Fortaleceu, cria. ̶ ele mal a viu; os olhos vermelhos, o olhar de malícia. ̶ Só esse banho mesmo.

E foi na direção do banheiro, que era facilmente perceptível porque dava pra sala e a porta estava aberta.

O banho do Fael demorou 20 minutos. Durante esse tempo, pensei em todas as coisas que poderia fazer, mas não teria coragem. Estava afoito. Era 14h e eu só tinha ideias para futuras punhetas. Tentei espiar pelo trinco da fechadura, por baixo da porta e pelo basculante, mas nada deu certo. Numa das tentativas quase dei mole. Teve muito barulho de tiro e uma bomba, acabei me assustando e batendo na porta, mas ele tava chapadão e nem deve ter se ligado. Já tinha desistido. Sentei no sofá e esperei, até que ele saiu. Foi nesse exato momento que percebi que estava condenado pelo resto da minha vida. Meu subconsciente jamais alforriaria minha mente depois disso. Aquele homem tava sem blusa, com aqueles pezões descalços no tapete da minha sala, só com a bermuda branca e o cordão de prata no pescoço, alinhado ao médio trapézio. A imagem por si só era estonteante: alguns raios de sol passavam pela cortina da sala e iluminavam parte do seu corpo, deixando a melanina ainda mais intensa, viva. Eu lembro bem daqueles mamilos tão escuros quanto o restante de seu corpo e alguns pelos no meio do peitoral definido. Eles faziam uma trilha, sumindo na altura dos músculos do abdome e retornando logo abaixo do umbigo. As pernas peludas ainda molhadas. Dava pra ver a sombra daquela mala pendurada na bermuda. Grossa, farta, pesada e acomodada. Os ombros largos, os pelos evidentes nas axilas e a barba já saliente no rosto, marcada. Cabelo na máquina. Ele olhava diretamente na minha cara. Não, aquilo não era olhar. Ele me encarava. Com olhos negros e vermelhos. O nariz empinado, o olhar que vem de cima. Às vezes até lembrava do termo mavambo, que ouvira uma vez e pensava em coisas sobre África, umbanda. Não sabia dizer o que acontecia dentro de mim ao ser encarado por aquele homem. Mal sabia eu que todos esses já eram os sinais da personalidade sexual e devassa daquele cafuçu deus. Mal sabem vocês ainda que aquele deus por fora tinha um demônio por dentro.

̶ Qual foi? ̶ ele interrompeu meu transe. ̶ Chapadão?

̶ Tô viajando! ̶ não sabia onde enfiar a cara, forcei uma risada qualquer e me adiantei pro banheiro enquanto ele se esparramava de novo no sofá.

Entrei e fechei a porta. O banheiro era pequeno e tava meio abafado, então logo tirei a roupa. Me olhei no espelho e confirmei os olhos vermelhos. Orgulho do papai!, pensei e fiquei rindo igual um bocó. Fumar maconha era o de menos, tinha um cafuçu feito na minha sala, o tiro tava comendo solto lá fora e eu nem aí. Mas esse era só o começo. É engraçado escrever sobre coisas que estão no passado porque a gente relembra, se coloca novamente no lugar que já ocupou, mas agora já sabe como tudo se desenrola e vê com uma outra visão. Eu já achava totalmente surreal tudo que estava acontecendo, o universo realmente estava jogando muito sujo comigo. Será que foi a maconha? Será que foi o destino? Sério que ele é tão ingênuo assim?. Foram minhas perguntas ao ver a calça e a blusa suada do Fael em cima do cesto. Os chinelos de velcro ao lado, no chão. É hoje!, pensei.

Certifiquei-me de ter trancado a porta e mergulhei de cara naqueles chinelos. Analisei cada parte deles, imaginando onde as solas daqueles pés tocavam aquelas borrachas. Eles exalavam um cheiro forte, maravilhoso, dava pra sentir parte do gosto só de cheirar. Fechei os olhos e comecei a lambê-los, sentindo um gosto meio amargo de puro extrato de homem. Lambi a parte de cima imaginando que estava chupando cada um daqueles dedos de macho. Lembro que cada um deles tinha um pouco de pelo na parte de cima. Perdi (ou ganhei?) uns 2 ou 3 minutos só nisso, antes de ir à blusa suada, mas nem demorei tanto. Sentir o cheiro e o gosto do suor daquele homem foi quase misericordioso. Foi quase um batismo o que eu fiz com a cara enfiada na parte interna das mangas, onde ficavam os sovacos. Lembro como se fosse ontem do cheiro de Axe que ficou nos meu beiços. Me preocupei com o tempo, ainda não tinha tomado banho, mas não podia deixar passar o principal: a calça! Eu a desdobrei e redobrei toda. Cheirei cada centímetro das pernas, imaginando o atrito com os pelos e até ali tinha o cheiro do suor amargo daquele macho. O puto não mentiu quando disse que tava com calor. Não tirei as narinas em nenhum momento, até chegar na virilha. Para minha maravilhosa surpresa, enrolada ali no meio, estava uma boxer preta, meio amassada, da Calvin Klein. Deixei a calça no chão e me entreguei completamente a cheirar, esfregar e lamber aquela cueca de todas as formas possíveis, a ponto de deixá-la molhada. Cheirava e lambia exatamente a parte afofada onde ficava o sacão cheiroso, acompanhando o resto da rola e a cabeçona. Senti até gosto e cheiro de mijo de cafuçu. Estava orgulhoso de sentir um ou outro pentelho daquele homem dentro da minha boca e me sentia muito mais completo do que em qualquer punheta que já havia batido. Perdi muito todas as minhas noções, mas bati dois punhetões com aquele pano enrolado na cara e depois na minha própria rola. Gozei fartamente, sentia até o corpo pesar.

Tomei banho rápido, limpei tudo e tratei de deixar o mais perto possível de como estava. Conhecem aquela frase bom demais pra ser verdade?. É, pois é. Para meu azar, o celular dele estava no bolso da calça e caiu no chão, logo no fim de tudo. Eu levei um susto com o barulho e já esperava o pior. Peguei o celular e me senti a pior pessoa do mundo: a tela tava trincada. Fodeu!, era só o que pensava. Esse cara vai me matar! Como vou pagar isso!?. Pensava em mil desculpas que poderia dar e me sentia pior ainda, por querer mentir. Mas não tinha como dizer tava me masturbando com o cheiro da tua rola e quebrei teu celular, desculpa. Pensei então em usar a desculpa da erva, me desculpar e comprar outro telefone o quanto antes. Daria até o meu pra ele enquanto não comprasse um novo, embora isso não significasse nada. Sai do banheiro já preparado pra dizer que joguei todas as roupas no chão do cesto e aí quebrou, mas ele logo levantou e veio em minha direção.

̶ Qual foi cria, viu o demônio? ̶ ele perguntou, já colocando a mão por dentro do bolso da calça que eu trouxe com o resto das roupas dele do banheiro e pegando o celular. Eu gelei. A espinha chegava a doer, que nem meu pau, esfolado de duas punhetas seguidas com a cueca dele.

̶ Foi sem querer, eu não vi... ̶ comecei a falar.

̶ Qual foi? Acho que aliviou lá fora, vou perguntar aqui pros contato.

E voltou pro sofá. Mexeu alguns minutos no celular, enquanto permaneci estático, me perguntando se ele ainda estava tão chapado assim.

̶ Vai rolar arrego. Falaram no grupo.

̶ Bom! ̶ respondi afoito, ainda sem entender.

Será que o celular dele já tava trincado e eu nunca percebi? Bom, eu nem falei nada, ele também não comentou. Depois do susto, o resto do tempo voou. Ficamos mais um pouco na sala até ter a certeza de que a barra estava limpa. Tamo junto, cria. Assim, tão curta e firmemente como apareceu no meu portão nesse dia mesmo dia, ele meteu o pé. Esse foi meu primeiro contato direto com ele e através disso muita coisa se desenrolou, num efeito dominó. Eu ainda não percebia, mas três eventos principais aconteceram nesse dia:

1- Deixei rastros sem perceber;

2- Segui rastros sem perceber;

3- Coloquei uma corda no pescoço. Ou uma coleira.


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Comentários

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20/05/2018 19:25:06
Delicia
19/01/2017 15:37:54
Excelente
05/01/2017 21:46:32
Excelente
13/11/2016 20:48:56
Gostoso! Excitante!
22/10/2016 08:19:44
Parte 3 postada. Obrigade pelos votos e comentários. Vem muito mais coisa aí. Até! 🍃
22/10/2016 07:56:42
Amando ❤❤❤❤😍😈
21/10/2016 22:51:56
Diferente e isso é ótimo
21/10/2016 17:29:55
olha, ta ótimo, eu amo quando tem um maconheiro na história, afinal não existe o hhighsexual? queria achar um xiladinho p gente fumar vários e fazer muito sexo. Continua logo
21/10/2016 17:09:48
Olha, muito bem escrito. Estou curioso pra saber onde vai dar! Parabéns, adorei! ^^
21/10/2016 16:50:17
Esse conto é muito bom!
21/10/2016 15:22:54
Nossa muito tensa ,mas amei muito bom....
21/10/2016 13:12:47
muito top
21/10/2016 13:12:34
pow... que suspense massa!


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