Destino - Cap4
Era um dia de caos no laboratório, era abril, inverno no Rio, a alta concentração de pessoas no mesmo espaço gerou uma onda de gripes e alergias na cidade, por causa da alta demanda eu e outros colegas acabamos sendo remanejados para a parte de análises clínicas, que nada mais consistia em fazer a análise de exames simples. Mas quisera eu que aquilo fosse a razão do caos que ocorria dentro de mim, eu e Lucas havíamos ficado juntos novamente, havia um mês que estávamos ficando, não era exatamente ficar no ponto em vista sexual, nós nos beijávamos, nos beijávamos demais, mas apenas no laboratório, porque fora dele o Lucas estava há 5 meses de subir ao altar, por mais errado que fosse eu não conseguia correr, fugir ou me esconder, eu apenas me deixava levar por seus beijos, seus toques e sua vã justificativa de que aquilo era apenas uma aventura, mas em algum momento aquilo deixou de ser uma aventura pra mim, talvez na segunda ou terceira semana. A epidemia no Rio continuava, e a pandemia de sentimentos em mim também.
- Queridos estagiários, depois dessas semanas exaustivas, vocês finalmente vão retornar às suas funções no laboratório de amostras cancerígenas. – Lucas nos avisava antes de iniciarmos nosso turno no laboratório.
- Finalmente – disse Ana Paula, uma das colegas estagiária
- Sendo assim, jovens, vamos ao trabalho, hoje eu quero que vocês façam meio de cultura com bactérias vivas. Não se preocupem porque irei lhes auxiliar – ele completou e logo em seguida nos liberou.
Meios de cultura nunca foi exatamente minha área dominante, mas era o necessário e eu realmente precisava ter o máximo de experiência para algum concurso.
- Não, João, seu microscópio está com algum tipo de problema, você precisa trocar de máquina, do contrário suas amostras ficarão horríveis
- Tudo bem, eu vou procurar outro microscópio – eu disse já me levantando e passando pelo seu corpo. Ele então segurou na minha cintura e me puxou pra trás, onde eu o encarava, o laboratório naquele momento estava vazio, a maioria dos seus meus colegas preferem ficar no laboratório próximo às saídas de emergência, não por segurança, mas por ficar mais distante do barulho da cidade.
- Eu já disse que vou buscar outro microscópio – eu falei enquanto me desvinculava do seu toque
- Eu sei, mas quero falar outra coisa com você – ele disse enquanto me olhava surpreso por eu o repelir
- Se não for nada relacionado ao trabalho, então não me interessa – eu disse tentando passar pelo seu corpo, mas ele não fez a mínima questão de me ceder a passagem
- Para de me tratar assim, João
- Assim como? Como meu chefe?
- Como se eu fosse um vagabundo sem caráter que trai minha noiva maravilhosa com o cara do trabalho
- Além de tudo isso você ainda tem um sério complexo de não identificação de si mesmo. – eu disse enquanto o empurrava.
- João, não faz assim – ele disse enquanto me puxava para junto do seu corpo e beijava o meu pescoço, aquele era meu ponto fraco, era naquele ponto em que eu fugia dele, porque eu sabia que acabaríamos trancando, por mais que eu estivesse fora de controle eu não iria transar com ele enquanto ele transações com sua noiva, então eu o empurrei pra longe de mim. Péssima escolha, toda a sustentação do meu corpo estava nos braços dele, com o empurrão eu fiquei completamente sem sustento, obviamente que eu cai no chão, era natural eu cair no chão, mas daquela vez o choque foi intenso demais, não senti dores, sentia minha cabeça rodando e algo escorrendo pelo meu pescoço, ao longe eu via o Lucas vindo até mim e me puxando, a partir daí só tive flashes, elevador, hall de entrada e um carro preto, tudo isso com Lucas me segurando, por fim eu estava num quarto azul, um hospital, eu não estava raciocinando muito bem, tudo que eu fazia era dormir, eu não conseguia me manter acordado.
Em meus breves momentos dispersos eu vi, Lucas, meu pai e, meu melhor amigo, Matheus. Depois de muito tempo de imagens fragmentadas eu finalmente acordei. Apenas Matheus estava comigo no quarto .
- Porra judeuzinho, tu quer me fuder? Você quer me fuder? Você fala que quer me fuder, mas não faz mais isso, porque da próxima eu já chego te batendo, aproveito que tu tá no hospital e te quebro. – ele disse enquanto me olhava e acariciava meus cabelos, tudo que consegui fazer foi rir.
- Eu não quero te fuder, você me respeita, seu falso – eu falei enquanto procurava por meu pai algum canto do quarto.
- Nem adianta procurar, teu pai ama mais o trabalho e foi aproveitar que tu tá todo ruim, parecendo uma galinha depenada com fio e foi ganhar dinheiro – ele disse num tom sarcástico, mas por conta dos remédios que é deveriam me dar eu não associei as coisas e comecei a chorar, o que fez prosseguir enquanto tentava me abraçar.
- Calma judeuzinho, eu tô brincando, teu pai tá bem. Ele só foi em casa tomar um banho, porque ele tava aqui desde que tu entrou no hospital – ele falou e me acalmou
- Aí, Matheus, trás o meu pai de volta, o cara que eu gosto tá noivo e agora ele gosta de me beijar escondido dos outros, eu tentei fugir dele e estourei minha cabeça, minha mãe tá no outro lado mundo e você começou a namorar Laurinha – eu disse enquanto chorava copiosamente.
- Que isso, viado? Eu só tava zoando, vem cá, judeuzinho – ele caminhou até o lado oposto das barras de proteção da cama e se deitou ao meu lado, passou os braços pelos meus ombros, eu me aconcheguei em seu peito e fui parando de chorar ao sentir ele alisar meus cabelos.
- Agora me diz, quem foi o arrombado que te deixou assim – ele disse me fazendo levantar o olhar para lhe encarar
- Como você sabe que foi um cara?
- Ah, por favor, te conheci no jardim de infância, não quando tu se tornou universitário – ele disse enrolando seus dedos nos meus cabelos
- Foi o Lucas – eu disse enquanto logo em seguida suspirei
- O LUCAS LÁ DO CONDOMÍNIO? EITA PORRA, SEMPRE SENTI QUE ELE ERA MEIO GAY. CONTA MAIS – ele disse eufórico e quase me derrubando tamanho seus movimentos na cama
- Tô falando do meu chefe, seu otário – eu disse enquanto o empurrava pro outro lado da cama para eu ter espaço
- Aquele que te trouxe pro hospital?
- Sim, eu cai porque tava tentando fugir dele
- Ele te machucou, João? EU VOU METER A PORRADA NELE, VOU LIGAR PRA GALERA DO CONDOMÍNIO AGORA, VAMO JUNTAR ELE – ele disse duma maneira tão espontânea que eu comecei a rir
- Senta aí, Matheus, eu resolver isso sozinho.
- Tudo bem . – naquele momento eu confirmei que ele iria ameaçar o Lucas.
Logo em seguida meu pai chegou, foi uma festa, ele me abraçou, me beijou, falou que a casa estava vazia sem mim e que o quanto antes eu iria ter alta.
Eu estava sozinho no quarto do hospital, meu pai só foi em casa depois de muita insistência, eu o implorei para ele dormir em casa e relaxar, eu estava bem. Mas não pra ele, a cada 10 minutos ele me ligava pra saber como tudo estava. As 21:30 o médico plantonista entrou no quarto, ele olhou o prontuário e disse que no máximo em dois dias eu receberia alta, nunca senti uma sensação de alívio tão grande na minha vida. Eu ainda estava comemorando com o médico quando a porta abriu, Lucas entrou no quarto com um buquê de rosas, ele me olhou de um jeito tão amoroso que meu corpo até se arrepiou. O médico olhava pra ele tão surpreso quanto eu, o silêncio, que se formou foi suficiente pra o doutor se despedir e sair do quarto. Lucas deixou as rosas na mesa e caminhou até mim.
- Podemos conversar, João...?