Entre o Presente e o Passado - 2º

Um conto erótico de Hugo
Categoria: Homossexual
Contém 1361 palavras
Data: 28/10/2016 16:10:04

~Parte 2

Acordei com um gosto horrível na boca, percebi que estava na enfermaria da faculdade e alguns médicos professores de medicina estavam me avaliando. Olhei ainda meio atordoado para os lados e consegui ver meus amigos sentados em um longarina ao lado da porta de entrada. Sentia-me um pouco sonolento, olhei para o meu braço e percebi que estava tomando soro.

- Olá Itallo, como está se sentindo?

- Oi doutora, estou meio sonolento e com um gosto amargo na boca. O que aconteceu comigo?

- Você teve uma crise de estresse, o gosto amargo é devido ao corte que você teve na boca, termine de tomar esse soro e vá pra casa! Procure descansar... Dessa vez você só desmaiou geralmente essas crises podem levar alguém a ter um infarto no seu caso por ser jovem seria praticamente fulminante, procure se cuidar garotão!

- Ok! Vou procurar relaxar. – disse respirando fundo sabendo que seria quase impossível.

Terminei de tomar a medicação peguei meu celular, minha mochila e as chaves do carro e sai depois que me despedi dos meus amigos. Caminhei pelo corredor de entrada da universidade, tomei um pouco de água e sai em direção ao estacionamento, destravei o carro e entrei jogando a mochila no banco de passageiro. Olhei algumas mensagens no whatsapp e ignorei as mensagens do meu pai e de Bonnie. Quando estou prestes a dar partida no carro alguém bate no vidro do carro, percebo que esse alguém é Álvaro; abaixo o vidro enquanto ele se debruça sobre o espaço.

- Não foi pra casa com a Karen?

- Pedi que ela fosse sozinha, porque eu e você precisamos ter uma conversa definitiva! – disse ele abrindo a porta do carro e entrando, jogando minha mochila e os livros dele no banco de trás.

- Você tem certeza?

- Sim! Lembra daquela cachoeira que fomos com a turma no fim de semana passado? Vamos para lá!

Dei partida no carro e seguimos rumo a essa cachoeira que ficava a uma distancia de 10 km da cidade, entramos na reserva florestal e tudo o que se enxergava era aquela íngreme estrada de barro, o céu era quase impossível de se ver devido aquele emaranhado de arvores, durante todo o percurso fomos calados; as vezes eu olhava para ele e percebia que ele tinha um certo nervosismo, apertava as mãos e suspirava o tempo todo, mais cinco minutos na estrada e chegamos a uma velha porteira, a partir dali teríamos que caminhar por dentro da floresta até chegar a cachoeira

Descemos do carro e seguimos mata adentro, eu ia à frente e Álvaro vinha logo atrás, logo chegamos à cachoeira, era um espaço muito bonito. Tinham uns pedrais, ao lado esquerdo um belo campo de girassóis. Tirei os sapatos e ergui minha calça até o joelho caminhando em direção a beira do lago que se formava pela queda d’água.

Álvaro: Queria tanto que você lembrasse... – disse ele parando ao meu lado e olhando para os peixes na água.

Eu: Infelizmente provavelmente eu nunca mais me lembre de nada que aconteceu antes do acidente!

Álvaro: Esse é um dos motivos de eu nunca ter te contado nada. Do que adiantará eu te falar se nada será como antes? Você é uma outra pessoa Itallo!

Eu: Eu acho que mereço saber a verdade Álvaro, afinal são verdades sobre mim! Faz parte de quem eu era ou ainda sou!

Álvaro: Itallo tenta me compreender. Toda vez que você fala naquele acidente meu coração dói, toda vez que eu olho pra você. Para esse estranho que você se tornou... – ele virou o rosto, mas pude perceber que ele chorava

Eu: Álvaro porque você está chorando primo? Olha, eu sei que antes do acidente nós éramos melhores amigos, os meninos já me contaram isso. Sei que estamos meio distantes, mas podemos melhorar nisso. Podemos começar essa reaproximação derrubando esse segredo que nos afasta! – disse segurando no braço dele enquanto ele estava de costas pra mim

Álvaro: É ai que está o problema Itallo!! Você não entende. Não tem como haver aproximação entre a gente! – disse ele segurando em meu ombro e me balançando em nervosismo

Eu: Por que Álvaro? O que aconteceu de tão grave para você guardar um segredo por três anos sem contar a ninguém?

Álvaro: Você está mesmo a fim de saber Itallo?! Você quer mesmo saber o que aconteceu naquela noite?!

Eu: Fala de uma vez por todas Álvaro! Acaba com isso!

Álvaro: Aconteceu que seu pai nos pegou na cama... É isso! Eu e você nos amávamos e naquele dia tivemos a nossa primeira noite de amor!

Dei uma gargalhada, incrédulo pelo o que acabara de ouvir, olhei serio para Álvaro que estava de cabeça baixa.

Eu: Pensei que você tinha me trazido até aqui para me contar a verdade Álvaro, mas percebo que mais uma vez você inventou uma mentira. E convenhamos que dessa vez foi das cabeludas!

Álvaro: Toda a turma tinha marcado de passar o fim de semana lá, eu e você decidimos ir uma noite antes e aproveitar um tempo juntos, já que nosso relacionamento era totalmente oculto. Seu pai já desconfiava de nós e quando descemos para a casa de praia ele nos seguiu e no meio da madrugada acabou entrando na casa e nos flagrou dormindo pelados.

Eu: Não, isso não é verdade! É?

Álvaro: Eu sabia que você não iria acreditar. Por isso te trouxe até aqui, esse era o nosso refúgio, nosso local secreto, vem, quero te mostrar algo!

Ele me guiou até uma Ipê que ficava no meio do campo de girassóis, subiu na arvore e eu o segui lá no topo tinha uma vista privilegiada da floresta, da cachoeira e do curso que a água tomava.

Álvaro: Aqui! Isso foi feito por você quando tínhamos 17 anos... – disse ele me mostrando algo no tronco

Eu olhei para o tronco da arvore e lá estavam cravadas “A ♥ I”, olhei para ele mais uma vez incrédulo.

Álvaro: Seu pai começou a quebrar tudo dentro da casa de praia, ele estava irado por ter confirmado o que já suspeitava sobre a gente, ele começou a te humilhar te chamando de bastardo e morador de rua, começou a jogar coisas na sua cara, você saiu daquela casa no meio da madruga e debaixo daquela tempestade sem rumo no carro. Eu até tentei ir atrás de você, mas meu carro atolou no meio daquela tempestade, pela manhã recebi a noticia do seu acidente... Você ficou dois meses em coma e quando acordou já não era mais o meu Itallo!

Eu: Isso não é verdade Álvaro, isso é um absurdo! Eu e você nos amávamos? Que brincadeira de mau gosto é essa?

Álvaro: É por isso que nunca quis te contar. Sabia que você nunca acreditaria em mim, você voltou sem memória, foi ai que eu cedi às ameaças do seu pai e resolvi me afastar de você e deixar você recomeçar sua vida, logo seu pai arranjou esse relacionamento para você. Eu quase entrei em depressão e na minha carência a minha amizade com a Karen se transformou em algo mais sério; estamos juntos desde então!

Eu: Cara isso é muita loucura, eu nem o que te falar! Algum dos meninos sabem dessa história e desse relacionamento que tivemos no passado?

Álvaro: As meninas não, só o Caleb nós contamos a ele que nos deu muito apoio e nos encobriu por muitas vezes.

Acenei com a cabeça e desci da arvore, andei novamente em direção à beira do lago e me sentei nos pedrais tentando raciocinar e entender tudo o que acabara de ouvir, o sol batia em minhas costas causando certo ardor, Álvaro ficou recuado ao pé da cerca de madeira, ele sabia que eu precisava de um momento para digerir aquilo tudo. Fiquei uns 20min olhando para a água caindo do alto daquele monte e pensando em como seria minha vida antes e nos rumos opostos que ela tomou desde que eu acordei do coma.

Eu queria respostas, queria a verdade, mas não imaginava que essas verdades fossem me deixar tão abismado, eu era gay? Virei homem? Nesse momento nem eu mesmo sei quem fui ou quem sou!


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