O filho do patrão. 07
Junior agachou e me pôs sentando.
- Ele te machucou? (perguntou olhando nos meus olhos, e com suas mãos em meus ombros).
Pedro - acaba com isso cara, por favor. Eu sinto fome, cede, dores, eu não estou suportando meu próprio cheiro.(falava com os olhos marejados).
Junior - eu não posso.
Pedro - Eu não aguento mais. Se você quer tanto se vingar do meu pai, faz o mais óbvio.
Junior - O que?
Pedro - Me mata cara, me mata, e voce terá essa vingança que tanto deseja.
Junior fechou a cara, e me olhou serio.
Junior - Sei bem qual é teu jogo, e eu não vou cair nele. Ta ligado?
Pedro - Não tem jogo nenhum cara.
Junior - qualé? pra cima de mim? O que eu ganho eliminando voce?
Pedro - Muita coisa, primeiro que...
Junior - pode ir parando por ae. Não quero nem ouvir o que tu tem a dizer.
Junior ajuntou algumas sacolas do chão, e pôs na minha frente.
Junior - trouxe comida... Comida da boa, mas não vou insistir pra voce comer não.
Junior empurrou a comida para bem próximo de mim, e em seguida saiu do comodo.
- Junior. (Gritei antes que ele passasse pela porta).
Junior - fala. (disse ele me fitando).
Eu pensei em não falar nada, mas estava morrendo de fome.
Pedro - eu quero a comida.
Fala - Ta aí. (Disse apontando com a mão) - é só comer.
Não falei nada, apenas mostrei meus braços amarrados, e Junior entendeu.
Junior - espera um pouco, já volto.
Junior saiu, e retornou com uma colher. Pegou a banquetinha, sentou a minha frente, e começou a desfazer as sacolas.
Pedro - cheiro bom. (falei).
Naquele momento eu parecia um cachorro. Meu olfato estava apurado,e eu estava babando pela boca.
Junior - eu comprei o que tinha de melhor.
Junior estava serio, mas não estava irado como em outras vezes, apenas não estava sorrindo e nem jogando ironias.
Junior - abre a boca. (disse ele me servindo)
Eu abri a boca, e ele colocou a colher, fazendo eu sugar tudo o que tinha nela. Acho que naquele momento eu engolia a comida sem mastigar.
Junior repetia os mesmos movimentos: Colher na comida, e da comida na minha boca. teve um momento que um macarrão escorreu pela lateral da minha boca, e Junior passou o dedo, fazendo eu ficar envergonhado.
Junior - Caralho, voce acabou tudo. (disse ele rindo). - Não deixou nada pra mim.
Pedro - eu tava com muita fome. (respondi cansado da comida).
Fechei meus olhos, e escorei minha cabeça na parede, aquilo realmente me deixara cansado.
Senti uma leve dormência, em minha boca, o que fez com que eu abrisse meus olhos imediatamente.
Junior limpava o canto de minha boca com um guardanapo de papel.
Minhas pupilas desceram em direção a sua mão, e ao mesmo tempo em seu rosto.
Junior encarava minha boca, enquanto circulava com o lenço por ela, lentamente. Quando ele percebeu que eu o encarava, amassou o lenço, e jogou dentro de uma sacola qualquer.
Junior gritou por alguém, que subiu imediatamente.
- Sr chefe? (disse um cara que também estava na casa do Kevin).
Junior - Vitinho. Vou ate à cidade. Toma conta dele pra mim.
Vitinho - deixa comigo, chefe.
Junior - eu não demoro.
Junior saiu e Vitinho ficou me vigiando, como se houvesse alguma possibilidade de eu fugir.
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Pedro - Teu nome é Vitor?
Vitinho - Pra que tu quer saber?
Pedro - Calma cara. Tou só perguntando.
Vitinho - Meu nome é Vitor sim, por que?
Pedro - Tu também é primo do Junior?
Vitinho - Não, só amigo. Por que?
Pedro - Tu é muito desconfiado, Vitinho.
Vitinho me acertou um tapa do lado esquerdo do rosto.
Vitinho - Tu fala direito comigo.
Pedro - Calma pô, tamos só conversando. Assunto do teu interesse.
Vitinho - O que seria do meu interesse?
Pedro - tem haver com grana.
Vitinho aproximou-se de mim, e parecia ter gostado do que ouvira.
Vitinho - grana? estamos falando de quanto?
Os olhos dele brilharam.
Pedro - Muita grana, mas voce precisa me ajudar.
Vitinho - e quem garante?
Pedro - Eu te dou minha palavra.
Vitinho riu.
Vitinho - isso não é garantia nenhuma. Voce pode muito bem me entregar.
Pedro - Mas não vou cara, eu só quero sair daqui.
Vitinho - e onde voce tem grana la fora?
Pedro - Falo com meu pai, ele libera pra mim.
Vitinho - ah cara, esquece, vou cair nessa não.
Pedro - Vitinho, eu juro pô. Não tou te enganando. Tu é minha ultima opção.
Vitinho ficou apreensivo.
Vitinho - Se eu te ajudar, voce precisa me tirar da cidade, se o Junior me pega eu tou fudido.
Pedro - eu dou dinheiro pra voce ir para onde quiser.
Vitinho - Não sei, não sei.
Pedro - aceita cara. Vai ser bom pra mim, e pra voce.
Vitinho saiu porta a fora, e retornou minutos depois com um canivete.
Vitinho - vou desamarrar teus pés, mas se voce pensar em me enganar, eu acabo contigo.
Pedro - fica frio, não vou te enganar não.
Estiquei minhas mãos para o Vitinho cortar a corda.
Vitinho - acha que sou otário? as mãos agora não. E vamos ter que ir na pernada.
Pedro - Tu não tem carro?
Vitinho - Não. Só o Junior, e o Raulino.
Pedro - e não tem nenhum aí?
Vitinho - Não. menos papo, ou então não vamos conseguir nem chegar a estrada.
Vitinho abriu a porta, e passou na frente. Eu o acompanhei.
Finalmente consegui ver o lugar aonde estava todos aqueles dias. Parecia uma fazenda, com muitas arvores, mas poucos frutos. Também não vi animais, apenas um casebre velho, um açude grande, e uma mata a perder de vista.
Vitinho - Me segue.
Pedro - Vamos pra onde?
Vitinho - Tu não quer voltar pra casa?
Pedro - quero sim.
Vitinho - então me segue, e deixa de fazer perguntas.
Vitinho pegou um caminho no meio do matagal. Depois de muito tempo caminhando, chegamos a um ramal todo enlameado, provavelmente havia chovido bastante. Eu ja estava cansado, e não via o final daquele caminho.
Pedro - falta muito?
Vitinho - Não, estamos chegando. Tem um caminho mais perto, mas corremos o risco de sermos pego pelo Junior ou Raulino.
Pedro - Então vamos continuar nesse caminho aqui mesmo.
Após passar pelo ramal, voltamos a se embrenhar na mata. A primeira oportunidade que tive despistei Vitinho. Me escondi no meio do matagal, e ouvi por um bom tempo, Vitinho gritar por mim. Quando tive certeza que ele não estava mais perto, eu saí de onde estava, e continuei caminhando com cautela para não ser flagrado. Depois de um tempo, finalmente cheguei a estrada. Olhei para os dois lados, e sinceramente não sabia qual caminho me levaria de volta a cidade.
os poucos carros que passavam não paravam, mas também quem é que em sã consciência iria parar para uma pessoa suja, ensanguentada, e amarrada?
Consegui avistar um civic, preto, se aproximando em alta velocidade, e resolvi pedir carona novamente. O carro foi se aproximando, e eu comecei a pular no acostamento pra chamar sua atenção.
Pedro - Por favor, ajuda, ajuda.
O carro diminuiu a velocidade, e eu agradeci aos céus.
O motora abriu a porta do passageiro, e eu entrei no carro.
Junior- O que tu pensa que ta fazendo? Ta tentando fugir?
Tentei jogar meu corpo para fora do carro, mas Junior travou a porta.
Junior - Tava querendo ir embora sem se despedir de mim?
Eu abaixei minha cabeça, e um sentimento de fracasso me invadiu.
Junior acelerou aquele carro preto e não demorou muito ja havíamos retornando a meu cativeiro.
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-Vitinho. (gritou ele assim que abriu a porta do casebre, me puxando pelo braço). - Vitinho.
Pedro - Não adianta gritar, o Vitor não esta aqui.
Junior - Tu envolveu ele nessa tua tentativa de fuga?
Eu fiquei calado.
Junior me deu um murro.
Eu continuei calado, e ele me desferiu outro golpe.
Junior - Responde, porra!
Pedro - Vai te fuder cara, vai te fuder.( Eu comecei a gritar estérico). - Pode me bater, é só isso que tu sabe fazer? Eu não me importo, eu não tenho mais medo de você, pode fazer o que quiser comigo, que eu ja não tenho mais nada o que perder.
Junior parou sua mão no ar quando ia me desferir um outro murro.
Eu fiquei caído no chão, enquanto Junior falava com Raulino, pelo celular.
O cara parecia ter ficado louco, deu varias ordens no primo, e exigiu que ele retorna-se para o cativeiro o mais rápido possível.
Junior desligou o celular, e o arremessou para longe.
Pedro - Tu ta usando celular descartável?
Junior - Tu achou o que? Que eu fosse da mole de alguém rastrear minha ligações?
Junior abriu o bagageiro do carro, e tirou algumas coisas de dentro do mesmo.
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Pedro - E esse colchão?
- Era pra voce dormir nele. (disse, ainda irritado). - mas voce tentou estragar meus planos, vai continuar dormindo no chão.
Eu dei de ombros.
Em seguida, Junior retirou uma mochila de jogador de futebol, e foi ate aonde eu estava.
Junior - levanta.
Pedro - pra que?
Junior - mandei levantar.
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levantei do chão, e fui arrastado por Junior ate aonde havia um acude. Por um momento eu pensei que Junior fosse me deixar morrer afogado dentro do açude, mas diferente disso ele tirou toda sua roupa, e em seguida me auxiliou a tirar a minha, e me levou ate a parte rasa. Como era bom aquele contato com a água novamente, fazia tempo que eu não sabia o que era aquilo.
Fechei meus olhos, e por alguns segundos esqueci tudo o que estava acontecendo. Comecei a sorrir para o vento. Ainda de olhos fechados senti algo percorrer meu corpo.
Abri meus olhos lentamente, e Junior estava parado a minha frente, passando um sabonete por todo meu corpo. Junior fungava forte, seus olhos estavam vermelhos, o sol refletia em sua pele, o deixando iluminado.
Junior - Vira as costas.
Eu movi meu corpo, ficando de costas para o Junior.
Os movimentos do sabonete voltaram a percorrer meu corpo. A respiração do Junior diminuiu, ele já estava mais calmo.
Junior - isso são marcas de sangue? (Junior se referia ao nó que prendia minhas mãos).
Eu confirmei com a cabeça que sim.
Junior - Me lembra de afrouxar esse nós quando a gente entrar em casa.
Novamente eu confirmei com a cabeça.
Junior - tenta ficar sentado. (disse ele depois de um tempo ensaboando minhas costas).
Como estava no raso, sentei, e ainda assim, fiquei com a parte do tórax pro lado de fora d'água.
Junior sentou a minha frente e começou a banhar minha cabeça. Ele abriu um sorriso tímido enquanto brincava com as espumas no meu cabelo, e eu correspondi.
Afinal de contas, quem era aquele cara?
Continua...