O Garoto do Ônibus Cap.17

Cap.17

TRILHA SONORA : FOR YOU - COLDPLAY

Meu coração palpitava com nunca antes. Estava corado. Estava beijando ele de verdade . Não conseguia acreditar e ao mesmo tempo não conseguia parar. Só conseguimos parar quando o diretor gritou, dizendo que a cena havia acabado. Eu olhei para ele, ele para mim, não conseguiamos dizer uma palavra. Não dava para esconder a vergonha que sentíamos. Nós havíamos nos beijado de verdade.

MINUTOS DEPOIS

Eu e ele saímos do jardim calados, sem conseguir dizer nada um pro outro. Eu olhava para ele, não dizia nada. Apenas andava cabisbaixo, com as Mãos nos bolsos da calça, sem conseguir dizer uma só palavra. Eu, também. Só tinha coragem de olhar para ele. Mas abrir a boca, para dizer alguma coisa eu não tinha. O que mais estava me consumindo neste momento, foi porque tanta verdade naquele beijo. A forma como ele respirava, estava ofegante quando terminamos. Aquele beijo, de forma alguma era um beijo técnico. Não era algo sem sal, sem sentimento. Eu podia sentir, no toque da sua língua, o quão verdadeiro foi aquele beijo. Mas porquê ? Será se isso significa alguma coisa ?

A nossa comitiva partiu então daquele local externo, para dentro do enorme prédio que representava o nosso colégio. Ali dentro algumas cenas ainda mais marcantes aconteceriam. Obviamente tudo levava tempo, para se gravar. Uma cena de cinco ou seis minutos as vezes levava meia hora para ser gravada, as vezes por algum erro técnico da equipe, por erros do roteiro da nossa parte, por atuação irregular da nossa parte, enfim... Não era fácil gravar aquele. E ficava ainda mais complicado, com tudo o que se passava na minha cabeça.

- O que houve Gustavo-San, você parece tenso... - meu maquiador dizia, enquanto tentava manter o meu cabelo no lugar.

- Eu estou tenso... - dizia, o olhando pelo espelho.

- Eu imagino o porquê, todos os artistas passam por isso antes de gravarem grandes cenas - se ele soubesse o verdadeiro motivo que havia me feito estar daquela forma. Olhava pelo espelho, via Yuki ao meu lado, lindo como sempre, sendo arrumado pelo produtor. A primeira cena que nós gravariamos dentro da casa era, assim como a outra, tensa. E bem mais difícil que a outra.

MINUTOS DEPOIS

No meio do corredor central, num intervalo de aula, Saki iria enfrentar uma das suas crises de pânico que costumava ter. Várias pessoas tentariam consola-lo. Mas Adivinha quem seria a única pessoa que conseguiria ? Eu não estava posicionado no corredor central. Estava num andar superior, e não entraria logo na cena. Era o momento de ele brilhar como ator. Encenar uma crise de pânico não é fácil. Mas ele teria que fazer, e se superar.

- Preparem- se pessoal - o diretor gritava. Logo a claquete era batida. Eu apenas observava lá de cima, enquanto o meu momento não chegava. Ele andou durante o corredor, por alguns segundos, meio que cambaleante, com os livros na mão. Sua feição era ruim, de quem não estava se sentindo mal. Seus olhos se mexiam, como de alguém que não se sente quieto. Levou sua mão ao peito, como se ali estivesse o problema. Sentia dor no peito. Logo, estava ofegante, levou aos mãos ao pescoço, como se estivesse se sentindo asfixiado. Parou de andar. Sua feição agora era de puro medo. Começou a sussurrar...

- Eu vou morrer ! - e mais algumas vezes sussurrava isso, enquanto aumentava o desespero por não estar conseguindo respirar. É nessa hora que eu deveria entrar. E lá fui eu... Desci as escadas indo em direção ao corredor principal, quando me deparei com ele, parado no meio do corredor.

- Saki-san, porquê estás aqui ? - ele não me respondeu. Apenas continuou sussurrando - Saki-San ? - neste momento o meu personagem notava que havia algo com ele - EI ? O que houve ? - perguntava, acariciando o seu rosto com as Mãos. Ele virou, durante alguns segundos fez silêncio, e olhou nos meus olhos.

- Eu vou morrer... Eu vou morrer !

- O que ? Não, de onde você tirou isso ! Você não vai morrer Saki-San !

- Eu... Eu... Não consigo respirar ! - nesse momento apareceria um flashback no filme, do momento em que o personagem dele dizia pro meu que sofria de Síndrome do Pânico.

- Você está tendo um ataque... Você... Tente manter a calma Saki-San - dizia eu. Naquele momento eu devia abraça-lo. Com a maior força que eu conseguisse. E assim o fiz. Levemente, tentei o puxar para um abraço, e ao contrário dos outros, ele não reclamou. Pelo contrário, se deixou ser abraçado - calma, você não vai morrer ! Você está nos meus braços, eu protejo você - seus olhos estavam marejados, algumas lágrimas caíram, de uma forma tão fácil que nem eu acreditei. Alguns segundos depois, ele tocou na minha mão. Não sei se fez aquilo involuntariamente, mas ele tocou a minha mão, como uma forma de tentar se acalmar. Podia sentir o meu coração bater forte com aquele abraço. Sabia que ele estava sentindo as batidas. As minhas dúvidas agora eram, o que ele iria pensar sentindo aquilo ? Alguns segundos depois, o diretor anunciou o fim da cena. Ele limpou o rosto, eu o soltei. Ele olhou para mim, deu um leve sorriso de canto de rosto e então saiu andando, deixando-me extremamente desnorteado.

MINUTOS DEPOIS

Logo após aquela cena, o nosso dia de gravação foi finalizado. Somente alguns outros personagens gravariam. Entao, voltamos para o Hotel. Cabisbaixos, ainda calados, sem conseguir dizer nada um para o outro. Com vergonha, com medo do que poderia ocorrer. Eu estava com o meu coração na mão. A vontade de me declarar era maior que tudo. Mas faltava coragem. Eu era um completo covarde nesses assuntos.

MINUTOS DEPOIS

Entramos no quarto ainda calados, sem dizer nada. Ele passou por trás de mim, e foi se sentar na cama. A primeira coisa que eu fiz foi pegar o meu tablet, para ver o que havia acontecido no mundo naqueles momentos em que estivemos longe. Mas obviamente, a minha mente não saía dele. E ao mesmo tempo em que meus olhos deslizavam-se por páginas no tablet, o observava pelo espelho. E como ele estava lindo... Eu queria saber, queria conversar, mas não tinha coragem... Até que ele deu o pontapé inicial.

- Gustavo-San ? - o que foi ?

- Acho que nós precisamos conversar - disse ele, se pondo em pé. Me virei, o olhei, estava corado. Será se é esse momento ? Esse é o momento para eu assumir o que sinto ?

Continua

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