Tomás e Leonardo - Parte 13
No dia seguinte. saímos bem cedo. Chegamos a universidade na hora do almoço. Por uma questão de conforto e espaço nós passavamos a maior parte do tempo na minha casa. Por isso Leonardo estranhou quando eu entrei no campus com o carro em direção ao alojamento.
Parei no estacionamento, sob a janela do quarto de Leonardo, no mesmo local que paramos na primeira vez em que estivemos ali juntos. Desliguei o carro e sorri para ele.
-Você me pediu em casamento há somente dois dias e já está me dispensando bebê? -Leonardo disse em tom jocoso.
-Você se esqueceu que eu não cheguei a te pedir nada? Mas assim mesmo você jurou que aceitaria tudo o que eu pedisse.
Leonardo ficou sério com expressão de quem já não entendia mais nada.
- Bom não era um pedido de casamento o que você estava fazendo? Sua cara não podia expressar maior decepção.
-Não, não. Quer dizer .. é claro que sim....mas a parte mais importante é que.. eu não quero viver mais nenhum dia longe de você, amor.
-Então eu pensei ...em ... O que você acha de nós levarmos já todas as suas coisas para a república? Eu já falei com a Bilóca. E está tudo certo. Eu te entregaria junto com o anel uma cópia das chaves, mas você já tem a sua, não é mesmo?
-Sorrindo Leo me beijou e disse:
-É claro que eu quero morar com você, amor. Desculpe Bebê! As vezes eu pareço uma garotinha insegura. Vamos pegar minhas coisas.
-Pra dizer a verdade eu não tenho muito mais coisas que já não estejam na sua casa. -Sabe eu acho que nós apenas formalizamos o que já vem acontecendo na prática.
-Eu te amo Tomás! - Ele disse beijando os meus lábios.
-Eu também te amo, amor! - Respondi feliz.
Em uma hora já haviamos esvaziado o quarto de Leonardo.
Iamos ter que aguardar a abertura da zeladoria do alojamento no final de janeiro para entregar a chave.
Mas depois de pensar um pouco Leonardo disse:
-Será que não é melhor ficarmos com as chaves? Pelo menos por enquanto. Vai que a madrasta má cumpre as ameaças dela e convence teu pai a te tirar todo o apoio financeiro. Aí a gente pelo menos vai ter a garantia de um teto pra morar.
Leo tinha razão. Eu havia me esquecido completamente da ameaça da doida da Marli. Foi então que eu me lembrei da agenda com o número de telefone.
Quando eu fiz 10 anos os meus avós maternos morreram em um acidente de automóvel. Um motorista bêbado em um caminhão foi o responsável. Eu tive pouca convivência com meus avós, eles eram pessoas muito boas e gentis comigo.
Nesse dia, veio um Senhor, e se apresentou como advogado e amigo dos meus avós. Ele me deu a triste notícia e me consolou, enquanto eu chorava. Antes que ele fosse embora, me entregou um cartão dizendo que aquele era o seu endereço e telefone. Que eu ficasse tranquilo. Que se os dados daquele cartão mudassem, ele me avisaria. Se ele viesse a falecer outro advogado me procuraria. E que se em qualquer momento meu pai deixasse de me ajudar financeiramente, era para que eu o procurasse. Dizendo isso entrou no carro negro que viera e partiu. Nunca mais eu soube dele. Isso devia ser um bom sinal.
Contei a historia do advogado para o Leo e pedi a opinião dele.
Ele sugeriu que eu ligasse. Afinal não tinhamos nada a perder mesmo.
Abri o bolso externo da minha bolsa e tirei de lá a pequena caderneta.
Dentro havia preso com um clipe na contra capa um cartão de vista já surrado pelo tempo.
Dr. Sebastião Vieira Magalhães. Advogado
Peguei o telefone do meu bolso e comecei a discar os números do cartão.
Me surpreendi quando do outro lado da linha uma voz masculina atendeu dizendo. -Tomás meu jovem! Que prazer imenso receber a sua ligação. Não esperava que nosso contato seria tão cedo.
Bom para você estar me ligando, algo muito sério deve haver ocorrido na relação entre você e seu pai.
-Eu afastei rapidamente o telefone do meu ouvido, olhando para o aparelho com ar interrogativo.
-Co...como você sabia que era eu?
-Ora meu jovem, uma das minhas funções é saber tudo sobre você, inclusive como encontrá-lo. Aliás ainda não te felicitei por haver entrado em uma das melhores e mais concorridas universidade do país. E pelo que eu soube, se continuar assim vai se formar com mérito. Seu avô estaria muito orgulhoso, não tenho a menor dúvida.
Olhei novamente para o aparelho com espanto e desconfiança. Coloquei o aparelho novamente no ouvido e ele prosseguia em seu tom jovial.
-Bom acredito que exista apenas uma razão para você haver me ligado. - Mudando o tom de voz ele prosseguiu.
-Aquele parasita a quem você chama de pai e aquela mulherzinha interesseira com quem ele se casou após a morte de sua mãe estão te desamparando financeiramente. Não é isto?
Pasmo com o tom de acusação de sua última frase eu disse:
Bem, não foi bem isso,... quer dizer eles ainda não fizeram isto. - Fui interrompido mesmo antes de conseguir falar das ameaças de Marli.
-Senhor Tomás, lamento desapontá-lo mas recebi instruções bem explicitas para não manter nenhum contato com você antes que você se form..., quer dizer, a não ser que concretamente você esteja financeiramente desamparado. -Era impressão minha ou ele quase disse que tinha ordens para só falar comigo após minha formatura?
-Passe bem Sr. Tomás! Tenho a impressão de que nosso próximo contato não demorará tanto.
Dizendo isto ele desligou o telefone. Me deixando cheio de questões sem resposta.
Expliquei à Leonardo o conteúdo da ligação e ele ficou tão pasmo quanto eu.
-Cara que bizzarro! Essa tua história tá parecendo romance policial, tipo Sidney Sheldon.
-Hah! E tu lê essa porcaria?
-E você Tomás? Já leu algum livro dele?
-Claro que não.
-Se não leu, não fala merda seu mané. - Disse ele rindo e dando um tapinha na minha testa.
Bom vamos nessa. Agora é esperar para ver.
Ao chegar chegar no sótão, tentei passar pela porta de entrada com Leonardo no colo, mas ele se recusou. Disse que esta era uma tradição hétero muito sexista e que seria mais apropriado entrarmos lado a lado, de mãos dadas pisando com o pé direito. E assim fizemos. Colocamos o resto de sua mudança para dentro e arrumamos as coisas nos espaços que eu reservei para ele. Não tive muito trabalho em fazer espaço, já que Leonardo tinha um milésimo das coisas que eu tinha.
Isso me fez sentir um pouco culpado. Mas conhecendo ele eu sabia que não podia fazer nada do tipo lhe comprar um guarda roupa novo.
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Acho que este é o primeiro capítulo sem cenas de sexo.
Obrigado por acompanharem , votarem e comentarem.
Bjs!