O moleque não só mexeu comigo, ele fez eu me apaixonar
Apesar de fazer apenas um mês que saíra da casa de meus pais, devo reconhecer que a solidão em morar sozinho me fazia muito bem, obrigado. Eu era o irmão mais novo dos três filhos que o casal Gilberto e Maria Antônia Souza Braga haviam tido.
Mauro Braga 37 anos, era um funcionário público da Caixa Econômica, casado com uma amiga de trabalho e pai de dois meninos endiabrados que nem eu na infância, Thiago e Diego, gêmeos idênticos que estavam com 10 anos. Minha cunhada Natércia, era a personificação da paciência... Devo dizer que tínhamos uma ótima relação familiar e de vez em quando era chamado para o almoço de domingo em sua casa, mesmo não comparecendo muito.
Murilo Braga 33 anos, era médio empresário no ramo de eletrônicos com uma cadeia de 12 lojas espalhadas na cidade e rezava uma fofoca familiar que ele gostava mais dos computadores e afins que dá minha cunhada Eneida, que era um porre quase atômico e dos pares de gêmeos que tinha, Juliana e Karina, adolescentes de 13 anos e também Eduardo e Cezar de 12 anos.
A decisão em morar sozinha só viera após a conclusão da faculdade de matemática aos 22 anos, um mestrado aos 25 anos, da aprovação dois anos depois num concurso para professor na Universidade Federal, aos 27 anos e consequentemente a espera de mais dois anos até conseguir finalmente me libertar da proteção da casa de meus pais, mesmo contra a vontade dele em me deixar seguir... Por minha mãe, já era pra estar longe ha muito tempo, não que ela não gostasse de mim, é que ela entendia que filho quer ganhar o mundo e ser livre, e eu concordava com ela em gênero, numero e grau.
Estava justamente numa loja de móveis no shopping Iguatemi, quando meu nome foi chamado no cadastro da loja:
_ Sr. Mauricio de Souza Braga, compareça ao crediário.
Enquanto fui andando até o setor que me esperava, fui pensando em todo tipo de palavrão que a filha da puta da mulher do serviço de som merecia por me lembrar que eu era um lascado e que tava ali justamente pra comprar a porra de um quarto completo em malditas prestações...
Assim que cheguei ao setor em questão, me identifiquei e a outra filha da puta que com certeza era amiga da primeira disse:
_ Seu crediário foi aprovado senhor Mauricio... E começou a falar as mesmas coisas que o coitado do vendedor que me atendera, havia me dito... Assinei um monte de papel e tive a garantia de que os móveis chegariam no prazo de três dias úteis e a montagem dos mesmos seria feita quatro dias após a entrega...
_ Pode ser antes Sr. Mauricio, vai depender da disponibilidade ada loja. Obrigado pela preferência e uma boa noite ao senhor.
Como boa noite? Eu havia chegado na porra dessa loja por volta das 16:00 h , foi tudo que pensei... Retribui o cumprimento, também agradeci como D. Maria Antônia sempre ensinara a nós três e comecei a andar sem rumo pelo Iguatemi, enquanto pensava que daria tudo certo porque eu estava de férias do trabalho... O mês de dezembro prometia.
Fiz outras compras necessárias, comi algo na ampla praça de alimentação e segui para o estacionamento, pois com certeza passaria mais duzentas e cinquenta horas no maldito e infernal engarrafamento nas avenidas próximas ao shopping.
Finalmente cheguei em casa e assim que arrumei as compras nas prateleiras, na geladeira e na pequena despensa, fui tomar uma ducha e me preparar para mais uma noite sossegada em meu apartamento.
Tirei quase toda a roupa, ficando apenas de cuecas e como sempre fazia, subi na esteira que ficava no quarto que era pra ser de hóspedes e havia sido transformada numa mini academia e comecei a correr pelos próximos 30 minutos.
A parede em frente já estava espelhada e passei a me olhar... Negro, 29 anos de idade, cara de poucos amigos, apesar de ter milhares deles, um homem másculo e bonito, corpo definido, peso proporcional a minha altura de 1,87 e completando a obra um corte de cabelo à máquina um.
Desliguei a esteira, tirei a cueca e caminhei tranquilamente para o chuveiro. Assim que abro a porta pra poder ir tomar meu banho a campainha toca no meu apartamento e eu admirado pois não havia recebido nenhuma chamada da portaria, fui atender após vestir a cueca de novo e dizer dois palavrões ...
Abria porta de uma vez e dou de cara com um guri que era infernalmente adolescente demais para o meu gosto... Só que o cara estava cheio de malas e fardado como se fosse um militar das forças armadas...
_ Desculpa senhor... Acho que toquei bati na porta errada.
_ Sem problemas, respondi... Em nenhum momento me escondi por estar quase nu na frente desse filho da puta que atrapalhou meu banho.
_ Isso acontece. Quem você procura aqui no Edifício?
_ Meus pais compraram um apartamento aqui recentemente, Marcelo e Angela, o senhor os conhece?
_ Não garoto. Também sou novo aqui. Só pra te situar, você esta no sexto andar, beleza? Enquanto falava isso, o garoto não tirava os olhos azuis dos meus negros. E isso gerou uma leve desconfiança...
Ele então olhou para o papel que trazia e disse automaticamente...
_ O senhor falou sexto andar? Putz, eles moram no nono andar... Desculpa incomodar... Sorriu pra mim, mostrando dentes brancos e retos numa boca saudável e vermelha.
Aí resolvi sacanear com o garoto e disse:
_ Na boa garoto, sou professor de matemática e trocar o sexto por nono foi um pouco demais, né não? Olha só, se precisar de aulas, bate aí, valeu? Não esperei resposta nenhuma e fechei a porta na cara do moleque.
Pelo olho mágico, notei que ele ainda ficou em frente a minha porta por quase dois minutos com a mesma cara de idiota, quer dizer, com a mesma cara linda e de idiota que ele tinha... Só depois pegou as bagagens e se arrastou até o elevador.
Finalmente tomei banho, fui nu até a cozinha fazer um lanche de frios e leite que adorava comer desde criança e me dirigi ao quarto pra poder testar a instalação da TV a cabo que ocorrera pela manha, na verdade foram eles, os filhos da puta da TV a cabo que me acordaram hoje cedo pra fazer esse serviço.
Assisti algumas lutas e quando tava quase dormindo, me peguei lembrando do riso e da cara daquele garoto que viera me encher hoje e saquei que nem o nome dele eu perguntei.
O resto da semana arrastou que foi uma beleza e finalmente no prazo de uma semana, eu já dormia em cima de uma bela e confortável cama, guardara todas as minhas roupas e sapatos e perfumes no grande armário de dez portas que havia comprado e colocara na mesa de cabeceira do lado esquerdo um porta retrato com meus pais e um enfeite qualquer e do lado direito uma pequena luminária e um cinzeiro, já que fumava um cigarrinho aqui e outra acolá.
Almoçava na casa dos meus pais quase que diariamente e foi no almoço de domingo com toda a família que meu irmão Mauro falou:
_ Mauricio, você já conhece alguém no prédio? Já fez amizade com algum vizinho?
_ Ainda não mano e nem quero... Você sabe que detesto gente fresca e metida a besta... Ali tá todo mundo no mesmo baco, compramos os apartamentos no financiado em 250 anos e tenho quase certeza que não vou gostar daquela vizinhança não... Posso saber por que tanto interesse?
_ Nada demais... Um amigo chegou transferido do sul e mora justamente no seu prédio.
_ Como é o nome do mané?
_ Meu filho, eu já pedi pra você parar com essa arenga gratuita, não foi? Falou D. Antônia já com cara de brava.
_ Isso é só jeito de falar, mãe. Desculpa, ta? E soltei um beijo para depois sorrir o melhor sorriso de anjinho que consegui botar na cara.
_ Ele chama Marcelo e a mulher Angela, uma médica cardiologista muito conceituada pelo que já ouvimos dizer.
_ E eles tem um filho escroto e militar que me atrapalhou bem na hora do meu banho há uns dias atrás.
_ E você já conheceu o Hermes? Gente boa o garoto, ele ainda não é militar, tá na AMAN e veio de férias passar as festas de final de ano com a família.
_ Já tive o desprazer de conhecer a peça, que fique bem longe de mim... Dei a conversa por encerrada e no pensamento uma certa alegria por saber o nome do garoto de olhos azuis...
Peraí, que porra ta acontecendo aí por dentro, posso saber? Que papo é esse de ficar alegre em saber o nome do garoto? Foda-se pensamento...
Já o outro pensamento disse em resposta ao foda-se:
Posso até me foder, só que você sabe o que passa em sua cabeça e sabe que não vai fugir disso, né mesmo? ...
Como não tive como rebater, repousei o talher em cima do prato, pedi licença e saí da mesa.
A semana voltou a arrastar e voltei a cruzar com a família tra lá lá no elevador em duas ocasiões...
* Com um monte de compras de supermercado, aí deixei todo mundo passar na minha frente, marido, mulher e filhos, na verdade 3 deles.
* Voltando da praia o marido e a mulher com os filhos mais novos...
_ Olá Mauricio, desculpe a gente pegar o mesmo elevador, é que o de serviço ta em manutenção... Disse a Cardiologista Angela.
_ Tudo bem, eu também estou chegando da casa de meus pais.
_ O Mauro estava por lá? Ele disse que vocês sempre almoçam juntos aos domingos.
_ Estava sim, com a esposa e as crianças.
Graças a Deus chegamos no meu andar e disse um tchau rápido e seco e eles seguiram. Onde diabos estava o tal Hermes? Foda-se garoto, pensei assim que consegui entrar em casa.
Antes do banho e uma boa soneca, fui preparar a mochila para uma semana em Jericoacoara, fato que já comunicara a família e após deixar tudo pronto e tomar meu banho, caí na cama depois do lanche e dormi direto...
HERMES FALA...
O motorista do táxi do Aeroporto me trouxera direto para o endereço que havia lhe dado no bairro da Aldeota e assim que me identifiquei na portaria, o cara da noite queria até meu exame de sangue pra poder me deixar subir...
_ Se o senhor interfonar pra minha casa, melhor, a casa de meus pais, Marcelo e Angela, vai estragar a surpresa que preparei pra eles e meus irmãos Rogério e Ana Lívia.
_ São normas do Condomínio, jovem.
Depois de conversar por mais alguns minutos, finalmente convenci o cara e ele me deixou subir.
Sou capaz de jurar que apertei o nono andar e assim que a porta abriu, nem reparei que tava no andar errado, uma vez que todos pareciam ter a mesma disposição de cores e móveis. Toquei a campainha e preparei o melhor dos sorrisos... Só que quem abriu a porta foi um homem negro semi nu e incrivelmente lindo... Eu já sabia que tinha feito merda só em ver o ara, só que aquilo me pegou de surpresa, não por saber o que eu já era, e sim por ter provavelmente um homem lindo e quase nu na sala da minha mãe.
O cara tinha cara de poucos ou quase nenhum amigo, e isso me desarmou e a máscara de militar, melhor, aluno de uma Escola Preparatória, entrou em ação, apesar do sorriso não mais deixar meu rosto...
Nem me importei com o que o cara dizia, nem seu nome eu perguntei, ele que disse que era professor de matemática e que se eu precisasse ele poderia me ajudar e ainda fez pouco de mim, sobre a troca do nono pelo sexto andar, que filho da puta...
Desfeita a confusão inicial, ele bateu a porta na minha cara e encerrou o papo. Fiquei parado lá sem saber o que fazer momentaneamente e depois segui pra casa. Depois disso só vi o cara um vez no elevador, quando voltava do supermercado com minha família e logo depois fui pra casa de um tio, irmão de meu pai que já morava aqui em Fortaleza e depois de uma semana, iria para um lugar chamado Jericoacoara, um verdadeiro santuário na terra.
Devo dizer que o tal cara, meu vizinho de prédio, não saiu da minha cabeça e com certeza alguma coisa me disse que eu viria pra casa o mais cedo que eu imaginava, ser militar jamais foi meu sonho, eu queria ser professor e se interessa saber, de matemática, matéria em que sempre fui um excelente aluno.
Tratei de seguir com minhas férias e o vizinho ficou bem escondido dentro da minha mente.
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POVO DO LADO ESQUERDO er demais seguidores, começo agradecendo a repercussão da trama passada e devo lhes dizer que foi um enorme prazer além de uma grande satisfação ter podido contar de maneira diferenciada a vida de um Garoto de Programa.
Hoje inicio mais uma jornada, na expectativa de tê-los por companhia mais uma vez.
Devo apenas lhes dizer que os dados foram lançados e que eles começaram a girar no pano verde da nossa estrada...
Nando Mota