Diário de um Hétero REAL - 01 [A DESCOBERTA]
Gente, andei sumido um tempo, problemas de saúde na família, tive que voltar pra França, mas depois de tudo resolvido estou de volta ao Brasil, e assim aproveito para escrever novamente minha história. Espero que gostem!Ano de 2007, ao som de “Keep on moving” do grupo Five, eu desembarcava no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Essa música traduzia bem o que eu estava sentindo nesse momento, mas para vocês entenderem melhor, nada como começar pelo começo.
Me chamo Tomas, (meus amigos me chamam de Tom), na época com 21 anos, 1,81m, era magrinho, pesava 70kg, moreno bem brasileiro. Morava em Nice, França, mas cresci na cidade de Kourou na Guiana Francesa (um departamento ultra-marino da França situado na América do Sul e onde fica situado o Centro Espacial Europeu). Meu pai se mudou pra lá para tentar a vida no garimpo, trabalhou arduamente, no meio da floresta amazônica, conseguiu fazer dinheiro, inclusive foi dono do próprio garimpo (ilegal lógico) na Guiana Francesa. Cresci vivendo um mix de culturas (francesa, africana, caribenha e brasileira). Até hoje gosto de ouvir todos os ritmos daquela região: zouk, salsa, bachata, merengue, calypso.
Me considerava hétero, aliás cresci em um lugar onde ser gay era a pior coisa do mundo. Os brasileiros típicos da região norte, eram muito machistas e preconceituosos, isso incluía meu pai, tios, irmão, primos, e lógico eu. Eu também era muito machista, jogava bola com os brasileiros, basquetes com os franceses, ia aos bailes de zouk pegar a mulherada e dançar bem colado esfregando meu pau em suas bucetas, tocava tamborim na escola de samba que os brasileiros tem lá, e sempre participava da Grande parade, no domingo de carnaval (o carnaval da Guiana francesa é muito famoso na Europa). Entretanto, no inicio da minha adolescência tivemos que mudar de vida radicalmente. Meu pai estava sendo ameaçado de morte (inclusive escapou de uma emboscada), tudo isso por causa do garimpo, terra de ninguém.
Mudamos para Nice, Cote-d’Azur, no mediterrâneo, uma das mais belas cidades da França, com o dinheiro que meu pai ganhou no garimpo (que não foi pouco), montamos um negócio, uma casa que revendia pedras preciosas trabalhadas e manufaturadas em Belém (hoje tem até um centro que se chama polo joalheiro lá em Belém) e meu pai comprava joias dos artesãos de lá para revender na França e depois exportar para o resto da Europa (hoje chamamos meu pai de Comendador, em alusão ao personagem da novela Império). No inicio foi difícil, a adaptação, preconceito por sermos latinos, enfim. Mas no Lycée, eu já era bastante popular, me enturmei com todo mundo, e lá conheci o Max. Um francês, loiro, olhos azuis assim como o azul do mediterrâneo, cabelos ondulados, e um sorriso muito parecido com o do ator de “a culpa é das estrelas”, um corpo muito bonito, trabalhado pelo basquete e natação, era mais alto que eu, 1,85m. Nos tornamos amigos inseparáveis, unha e carne. Ele me apresentou a uma galera que fazia break dance (dança de rua) e assim comecei a pegar corpo, treinava com a galera 2 vezes por semana, participava de apresentações, campeonatos, etc. E com isso entrei em uma academia para desenvolver músculos e assim ajudar a fazer mais acrobacias. Max não dançava, ele cuidava justamente da comunicação e fechava os eventos que participávamos.
Era normal um dormir na casa do outro, os pais deles me adoravam, Serge, era gendarme (como se fosse um policial federal) e a mãe, Anne Marie, tinha um atelier de roupas africanas. Não tínhamos frescura, tomávamos banho de porta aberta, andávamos pelado um na frente do outro, lógico que as vezes o pegava encarando meu pau, mas por vezes eu encarava o dele também, mas pensava que isso era curiosidade normal já que nossos corpos estavam em transformação (curiosidade pra ver se o pau do amigo é maior que o seu, essas besteiras de homem/adolescente). Nunca vi maldade nisso.
Íamos a várias festas, e numa dessas festas, ele ficou muito bêbado, e voltei com ele pra casa quase que o carregando. Tirei sua roupa e o levei para debaixo do chuveiro, quando de supetão ele me agarrou, me obrigando a entrar no box junto com ele, me abraçou e falou que eu era o seu “franjin” (algo como irmãozinho) e que ele me amava muito, porém senti algo estranho percorrer meu corpo, aquele frio na espinha, as pernas bambearam ao sentir seu hálito próximo de meu ouvido. “O que era aquilo porraaaaaa?!?!” Me afastei dele o mais rápido possível falando que ia buscar uma toalha para ele se secar. Não pude deixar de reparar que eu estava excitado com aquilo, mil coisas passavam na minha cabeça.
Eu: pas ça, pas ça, il est mon franjin ! (isso não, isso não, ele é meu brother!) – repetia isso continuamente na minha cabeça. “Eu não sou viado porraaaa!, gosto de buceta!” – continuava a martelar isso em minha cabeça.
Enfim, ele saiu do banheiro já vestido com um calção e eu dei graças a Deus por isso. Demorei para dormir, acho que só consegui porque estava muito cansado. No outro dia levantei antes do Max, e voei para minha casa. Fiquei estranho, tentei me afastar para ver se aquela sensação de culpa saía do meu peito. Ele me ligava, mas eu nunca atendia, nem retornava seus sms, inventava qualquer coisa para não sair de casa, ainda bem que estávamos no meio das férias de verão, assim não corria o risco de vê-lo no Lycée.
Mãe: filho, aconteceu alguma coisa entre o Max e você? Vocês brigaram?
Eu: não mãe, tudo normal... (mãe é foda né galera? Elas nos conhecem de cabo a rabo).
Mãe: normal nada, faz dias que não o vejo aqui, aconteceu alguma coisa sim, ai tem, bora fala logo, o que foi que aconteceu?
Eu: caramba, por que a senhora não me deixa em paz?! Eu hein... – sai de casa batendo a porta.
Ao sair de casa, quase tive um infarto, lá estava ele parado na porta com aqueles olhos azuis, lindo! “Lindo?” “como assim lindo?” – eu tinha pensado isso mesmo?!?!?! “Que viadagem mano!” – disse pra mim mesmo.
Max: Já que Maomé não vai até a montanha. A montanha vem até Maomé! – disse ele rindo.
Eu: ... – só fiz sorrir de volta.
Max: acho que precisamos conversar.
Meu coração começou a bater que nem bateria de escola de samba. No fundo tinha medo dessa conversa.
Eu: conversar sobre o que? – tentei perguntar o mais calmo possível.
Max: sobre a gente... sobre o que aconteceu! – ele respondeu recolhendo o sorriso, assumindo um semblante bem sério.
“Morri” – eu pensei!
Max: podemos ir dar uma volta? Ir para um lugar mais calmo?
“morri 2 – o retorno” – pensei mais uma vez.
Eu: lógico!
Fomos até a orla de Nice, o pôr-do-sol no mediterrâneo era lindo! Nos sentamos em um quiosque para tomar um lanche, mas eu mal sentia a minha respiração, imagina sentir fome...
Max: precisamos conversar sobre aquele dia... – ele falou isso olhando fundo nos meus olhos.
Eu: que dia? – respondi como se “aquele dia” fosse um dia comum, onde nada tivesse se passado.
Max: o dia em que você me deu banho. – respondeu sustentando o olhar.
Eu só consegui respirar fundo. O que estava acontecendo comigo? Meu, por que eu estava tão nervoso de conversar com meu melhor amigo, meu irmão pra falar a verdade, não éramos de sangue, mas era como se fosse. Eu amava aquele cara, e disso não tinha dúvidas, mas era amor de irmão. (?)
Max: antes de você falar qualquer coisa, me ouve! (breve silencio) queria te pedir desculpas, eu sei que você mudou comigo pelas minhas atitudes, você sempre me apoia em tudo, e eu só faço merda. Bebi demais naquele dia e como sempre você me salvou, cuidou de mim, e eu sei que você não tem obrigação. Me desculpa, juro que vou tentar melhorar, eu amo você, você é meu franjin!
Não soube o que falar. Acho que fiquei decepcionado, pois esperava que ele fosse falar outra coisa. Ao meu silêncio ele continuou:
Max: e pra mostrar que eu quero que tudo volte a ser como antes porém sem as minhas burradas, queria te chamar pra sairmos hoje. Vai ter uma festa na casa de uma gata, e queria muito te apresentar a ela, bora meu, diz que sim vai, vai ser legal...
Eu: tu-tudo bem, vamos sim.
Max: assim é que se fala, é bom ter meu franjin de volta.
“Acho que foi coisa da minha cabeça” eu pensei, ele vai me apresentar uma gata e tudo vai ser como era antes. “é, é isso, tudo vai ser como antes” eu repetia pra mim mesmo.
Galera, sabe aquelas casas estilo casa americana que a gente vê em filme, com uma puta piscina, uma varanda imensa, uma sala de estar com teto alto, e um lustre no meio, pois bem era assim a casa, depois da piscina tinha uma espécie de passarela em madeira que nos levava para um bangalô onde era dada a festa. A anfitriã se chamava Audrey, e era linda, gata mesmo, estilo italiana, olhos verdes, muito bem vestida, cabelos loiros, pele bronzeada, sorriso encantador. Fomos apresentados pelo Max..
Max: Audrey, esse é meu irmão, de quem te falei.
Audrey: é, realmente, ele é do jeitinho que você falou. – e deu um sorriso que clareou o ambiente inteiro e me encantou.
Eu: E como foi que ele falou que eu era? – retruquei.
Audrey: gostoso! – e saiu rindo alto me deixando com cara de abobado.
Max: não te falei que ela era gata? Acho que ela tá na tua, se eu fosse você caia dentro.
Logo o DJ começou a tocar zouk. Eu fiquei tão feliz que dei um grito que fez metade do povo olhar na minha direção: “zoukkkkk não acreditoooooo!”
Audrey: você sabe dançar zouk né? Me ensina”
Eu: Avec plaisir ! (com prazer!)
Galera, quem não conhece o zouk love, é uma dança das Antilhas francesas (Martinica e Guadalupe) e Guiana Francesa. É uma dança muito sensual! / esse é um vídeo de alguns casais dançando zouk, pra vocês terem uma idéia do que é; praticamente cresci ouvindo e dançando zouk na Guiana. Juro pra vocês que tava tocando uma das músicas que mais gostava “si mwen te sav” (na letra dessa música eles misturam francês e crioulo – ou “créole” que é um dialeto falado na Martinica, Guadalupe e Guiana francesa). E assim começou o esfrega-esfrega, eu lógico dando um show de zouk, já que tava no sangue. Juro pra vocês que o maior intuito do zouk é de deixar a mulherada bem doidinha pra poder liberar depois, aprendi vários macetes pra deixar a mulher pegando fogo, um deles era de esfregar bastante a coxa contra a buceta da mulher, pegar na cintura e colar ao corpo, esfregar bastante o pau de preferencia duro, e outras coisinhas mais. Não deu outra, a Audrey já tava molinha e tenho certeza que por baixo daquela roupa uma cascata estava escorrendo no meio de suas pernas.
Audrey: cara, isso é bom demais. – ela falou bem ofegante.
Eu: você ainda não viu nada.
Audrey: e tem mais?
Eu: muito mais, basta você querer...
Audrey: eu quero ter a aula completa!
Demos um jeito de sair dali, com intuito de pegar um ar, e quando vi já tava metendo que nem um desesperado na anfitriã. Não demoramos muito pra não dar bandeira, só quem notou mesmo foi o Max.
Max: E ai pegou?
Eu: lógico, acha que sou o que? - e rimos muito.
Daquele dia em diante, saia sempre com Audrey, trepávamos muito. Com o tempo resolvemos namorar. E ela queria me apresentar a seus pais, e desde esse dia nossa vida se tornou um inferno, pois o pai dela era diretor executivo do CNES (que é um órgão que administra o centro espacial europeu), a mãe era herdeira de uma família importante de Mônaco, e eles não aceitavam que a filha deles namorasse um latino. Mas entre trancos e barrancos levávamos nossa relação, nem lembrava mais do episódio do banheiro com o Max, continuávamos saindo normalmente, lógico que não mais como antes, pois agora eu estava namorando, mas sempre que íamos a festas, íamos os 3. Um dia saímos os 3 juntos, e eu bebi muito, só lembro até um certo ponto da festa, nem me perguntem como cheguei em casa, segundo Audrey, ela e o Max me trouxeram pra cá, ainda bem que meus pais estavam viajando senão o sermão ia rolar solto. No outro dia uma puta dor de cabeça, um gosto ruim de álcool na boca, passei o resto do dia inop.
Nossa vida seguia normalmente, agora ambos saídos do Lycée, eu cursando turismo e Max fazendo o curso preparatório da Gendarmerie, ele queria ser gendarme que nem seu pai. Então, um belo dia Audrey me telefonou muito nervosa, disse que tinha algo muito sério pra falar comigo. Nos encontramos assim que eu sai da facul.
Audrey: eu não sei como aconteceu... – disse aflita.
Eu: o que foi?
Audrey: eu vou ser bem direta: EU ESTOU GRAVIDA!
Eu: como assim grávida? A gente só transa de camisinha...
Audrey: lembra do dia em que levamos você pra casa muito bêbado? Nós transamos nesse dia, e foi sem camisinha...
Eu: ... hummm...
Audrey: você está desconfiando de mim? Cara vai te fuder, eu falo que eu to grávida e você me vem com desconfiança?
Eu: não, amor não é isso... meu eu não to acreditando que vou ser pai!
Fiquei muito feliz, apesar de não ter sido planejado, eu sempre quis ser pai. Não via a hora de contar pro Max.
Max: franjin, o que aconteceu? Que alegria é essa?
Eu: você vai ser tio!
Max: como assim?
Eu: vou ser pai porraaaaaaa! – falei feliz da vida. Mas a expressão dele parecia séria.
Eu: o que foi Max?
Max: só fiquei pensativo...
Eu: mas o que você tá pensando meu, fala...
Max: você me dizia que sempre transavam de camisinha certo? Como isso aconteceu?
Eu: sabe aquele dia que vocês me levaram em casa, então, eu devia ta tão doido que transamos que nem lembrei da camisinha!
Max: ahhhh, entendi... naquele dia, sei... hummm – ele se levantou bruscamente e saiu.
Eu: Maaaaax... volta aqui meu, não vai me desejar os parabéns não?!? Maaaaaaxxxxx!
O que será que deu nele?
Se passou uma semana, foi barra contar para os pais da Audrey, eles chegaram a cogitar a possibilidade de aborto. Lógico, que fui totalmente contra, iria assumir meu filho. Em casa, ouvi um sermão gigantesco, mas por fim meus pais disseram que dariam todo o suporte. Max sumiu nesse período, mas como estávamos indo em médico, inicio de pré-natal, etc. quase não senti sua ausência. Um dia chegando em casa, depois da facul e de ter acompanhado Audrey ao médico, me assustei ao vê-lo sentado em minha cama.
Eu: nossa quem é vivo sempre aparece!!!
Max: senta aí pois precisamos conversar!!!
(...)
Max: nem sei por onde começar...
Eu: cara somos irmãos, pode me falar sem rodeios... - Senti seus olhos se encherem d'água.
Max: esse filho não é seu!
Eu: como assim? Você tá louco, como você pode falar uma coisa dessas?!?!
Max: eu estou certo de que esse filho não é seu?
Eu: como você tem tanta certeza assim?
Max: porque esse filho é meu porraaaaaaa!
Eu: putain ! (porra!) como assim, seu?
Max: você não transou com a Audrey naquele dia, cara você tava tão bêbado que praticamente tava em coma, te levamos pro teu quarto e ai aconteceu...
Eu: como assim porra, do que você tá falando?
Max: Nós transamos, é isso que eu quero dizer! Nós transamos naquela noite enquanto você tava apagado, cara me perdoa, não sei como aconteceu... eu juro, não sei como aconteceu, me perdoaaaa...
Não sentia meus batimentos, minha respiração parecia que ia faltar, senti um aperto no peito como se uma adaga tivesse sido enfiada no meu coração. Traído pela minha namorada e pelo cara que eu considerava um irmão, melhor dizendo um cara que eu amava como um irmão. Ele tentou se aproximar de mim, a única reação que tive foi lhe dar um soco.
Eu: fils de puteeee.... dégage d'ici je vais te tuer ! (filha da putaaaaaa... some daqui senão eu vou te matar!)
Eu vi a cara dele de espanto, ele nunca tinha me visto daquele jeito. Nem eu estava me reconhecendo! Ele saiu correndo da minha casa e eu sai logo atrás. Cheguei na casa da Audrey aos berros:
Eu: Vache ! (vaca!) – esbravejava.
Pai da Audrey: que direito você tem de falar assim com minha filha dentro de minha própria casa?!
Eu: que direito? Essa puta transou com meu melhor amigo, com meu irmão! O filho que ela espera não é meu, como você pode? Me diz como você pode fazer isso comigo?
Ela só chorava. Logo apareceu um segurança que me tirou de lá a força. Depois desse dia, eu não saía mais de casa, não me alimentava direito. Estava quase em depressão. Meus pais de tudo tentaram pra me tirar daquele pesadelo, mas nada adiantava. Um dia estava mexendo em uns cd’s antigos, e vi um que tinha ganhado de uma amiga e nele estava escrito POP MUSIC. Coloquei pra tocar e a primeira música era justamente KEEP ON MOVING, do grupo FIVE. E a letra dizia:
“Get on up when you’re down baby
Take a good looking around
I know it’s not much but it’s ok
Keep on moving anyway”
“Levante-se quando você estiver pra baixo, baby
Dê uma olhada ao seu redor
Eu sei que não é muito mas está tudo bem baby
Continue vivendo de qualquer forma”
Lágrimas rolavam dos meus olhos, mas mesmo assim decidi viver! Continuar vivendo de qualquer forma, aconteça o que acontecer, vou continuar vivendo! Acho que tinha cansado de sofrer. E decidi que ia mudar radicalmente. Era hora de encontrar minhas raízes, decidi que ia viver no Brasil!
Lógico, que minha mãe fez um dramalhão mexicano, mas por fim foi convencida por meu pai que seria o melhor para mim naquele momento. Era setembro, inicio de período letivo na França, e quase final de ano letivo no Brasil, ou seja, não ia conseguir entrar em uma facul quando chegasse, teria que esperar até janeiro do ano seguinte, mas isso pouco importava. Entrei em um site para procurar um ap pra dividir em Sampa, e encontrei um no dividoapartamento.com.br (sei que vocês devem estar pensando porque que eu não alugaria algo somente pra mim, mas não queria abusar do dinheiro do meu pai, queria fazer as coisas do meu jeito). O ap escolhido ficava na região dos jardins e JURO que não sabia que ali era área nobre. Escolhi pelo simples fato do carinha que queria dividir era filho de francês e com isso eu não perderia o hábito de falar o idioma, ele se chamava Jérémy (falarei dele mais pra frente). Falei com ele pelo MSN, e ele me propôs duas alternativas:
1) eu mudaria pra lá assim que chegasse e faríamos uma experiência de uma semana, morando juntos ;ou
2) eu iria pra um outro lugar quando chegasse, e depois passaria lá para conversarmos pessoalmente.
Optei pela primeira. Galera, eu não tinha ideia de como ele era fisicamente, pois nem foto ele tinha na janelinha do msn, mas senti pelo papo dele que era do bem, ele fazia facul de direito no Mackenzie, o pai morava na França e a mãe em uma chácara próximo a sampa. Segundo ele, o condomínio tinha piscina, sauna e academia, o inconveniente seria ter que se habituar a um estranho, mas fazer o que? Assim, decidi e fui!
No aeroporto de Nice foi aquela choradeira, mil recomendações, e quando estava quase embarcando, eu o vi de longe, ele (Max) estava me olhando, parado, chorando, nessa hora meu coração se apertou, mas não tinha volta, a partir dali era vida nova.
Fui de AirFrance até Milão, e de lá de TAM até Guarulhos.
Ano de 2006, ao som de “Keep on movin' ” do grupo Five, eu desembarcava no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
I woke up today with this feeling
That better things are coming my way (way)
And if the sunshine has a meaning
Telling me not to let things get in my way
When the rainy days are dying
Gotta keep on, keep on trying
All the bees and birds are flying (ahh ahh ahh)
Never let go, gotta hold on in
Non-stop 'til the break of dawnin'
Keep on movin' don't stop rockin' (ahh ahh ahh)
Get on up when you're down
Baby, take a good look around
I know it's not much, but it's okay
Keep on moving anyway
Feels like I should be screaming
Trying to get it through to my friends
Sometimes it feels that life has no meaning
But I know things will be alright in the end
When the rainy days are dying
Gotta keep on, keep on trying
All the bees and birds are flying (ahh ahh ahh)
Never let go, gotta hold on in
Non-stop 'til the break of dawnin'
Keep on movin' don't stop rockin' (ahh ahh ahh)
Get on up when you're down
Baby, take a good look around
I know it's not much, but it's okay
Keep on moving anyway
Tomei um táxi até o endereço, Rua Joaquim Eugênio de Lima, Jardim Paulista. Realmente, o lugar era lindo, assim como me descreveu Jérémy, ficava a duas quadras da avenida mais famosa de São Paulo, a avenida Paulista.
Nos conhecemos assim que ele abriu a porta, ele tinha 20 anos, um pouco mais baixo que eu, 1,77m, moreno claro, olhos cor de mel, o corpo em forma mas nada de bombado, mas tinha tudo no lugar.
Eu: enchanté ! (prazer!) – disse abrindo um sorriso.
Jérémy: e aí belê? entra aí véio – disse ele em português.
O que mais me impressionou, não foi o fato de ele não ter respondido em francês, o que pra mim seria o óbvio, mas foi a voz dele, uma voz grave, imponente, meio rouca, sei lá. Sabe aquele cara que quando abre a boca chama atenção pela voz? Era ele.
Conversamos sobre várias coisas, falei um pouco sobre minha vida na França e ele sobre a vida dele em sampa. Os horários que ele estava em casa, academia, como me situar, essas coisas. Resolvi dar uma volta, então pedi pra ele me dar um ponto de referencia, e a referencia era justamente a avenida paulista, estávamos na alameda Joaquim Eugenio de Lima, uma das transversais da avenida paulista, dali do condomínio até a paulista era cerca de uma quadra e meia, fui andando. Fiquei impressionado com a dimensão dos prédios (dizem que lembra muito NYC, não sei pois nunca estive nos EUA, porém nenhuma cidade europeia das que eu conheço tem aquela dimensão). Estava acostumado a ver prédios mais baixos, uma arquitetura diferente, senti naquele dia que minha vida tomaria um novo rumo, falam que quando você conhece São Paulo, você se liberta, se transforma, seria verdade isso que ouvi?