Capítulo cinco: You are not alone (Michael Jackson)
CAIO
Não voltei para a aula naquele dia. Não iria conseguir olhar para ele sabendo o que eu havia feito. Não iria conseguir estar em sua presença sem que aquele sentimento que me dominou hoje quando estávamos juntos, me dominasse por completo. Por que eu senti como se Lucas fosse meu? Por que de repente eu sentia vontade de toca-lo? Vontade de sentir seu calor? Por que sentia vontade de Beija-lo?
Meu irmão chegou na diretoria para me levar para casa. Eu disse a diretora que eu estava passando mal, o que não era uma completa mentira. Ela ligou para minha mãe no serviço e ela pediu para que Daniel me levasse para casa.
— O você está sentindo? — Daniel se agachou em minha frente quando chegou a diretoria.
— Estou com dor — eu disse apertando meu estômago.
Daniel afagou minha cabeça de forma a me deixar mais calmo.
— Nós vamos para casa OK? — ele murmurou para mim.
E ele me levou para casa. Apesar de meu irmão e eu brigarmos bastante, era apenas rivalidade natural entre irmãos. Daniel me zoava e implicava comigo o dia inteiro, mas ele estava sempre disposto a me ajudar quando eu precisava. E naquele dia não foi diferente.
Da mesma forma que Daniel faltou ao curso de inglês quando me pegou dançando em casa, ele faltou para cuidar de mim. Ele me preparou um chá de camomila e me deitou na cama. Tomei o chá enquanto ele me olhava.
— Me desculpa por ter lhe chamado de Lady GaGa na frente do pai — pude sentir que ele estava sendo sincero.
— Tudo bem — eu disse dando mais um gole no chá que estava ligeiramente enjoativo de tão doce.
— Tudo bem pra mim se você for gay! — tentou se explicar — Você é meu irmão e eu te amo de qualquer jeito.
Não sei se foi o excesso de açúcar no chá, o que meu irmão estava me dizendo, meu estoma embrulhado ou o ódio que eu sentia de mim mesmo por pensar em Lucas como se fosse meu. A única coisa que eu sei é que eu larguei o chá na mão de Daniel e corri para o banheiro e vomitei no vaso. A sensação de vomitar era horrível, mas ela aliviava a angustia que eu sentia. Era como colocar tudo o que eu sentia de ruim para fora.
— Vou ligar para a mamãe — Daniel disse e só então percebi que ele tinha me seguido.
— Não precisa — disse me levantando do chão e dando descarga — Eu estou bem melhor.
E realmente estava, mas Daniel estava ligado do modo "irmão cuidador" e por esse motivo, ele ligou para a minha mãe que o instruiu a me dar um remédio para enjôo e se caso eu não melhorasse, eu deveria ligar para ela de novo que ela iria tentar sair mais cedo para me levar ao hospital. O que felizmente não precisou ser feito.
— Quem é Lucas, Caio? — Daniel me perguntou depois que já estava me sentindo melhor.
Imediatamente a imagem daquele garoto loiro e de olhos azuis me veio a mente junto com um sentimento estranho de medo e raiva aliados a uma paz repentina.
— Por que está perguntando isso? — indaguei curioso.
— É por que quando fui pegar suas coisas na sua sala, ele me perguntou como você estava e todo mundo ficou olhando para ele com uma cara estranha...
— Hum...
Será possível que Lucas sentia o mesmo que eu sentia? E o que exatamente eu sentia por ele?
— Ele é seu... — ele engoliu em seco — ...namorado?
— Eu já disse que não sou gay! — me levantei do sofá e fui para o meu quarto onde me tranquei até minha mãe chegarLUCAS
Olhei para a sua carteira e ví que ela estava vazia. Ele não havia voltado para a aula e isso me deixou um pouco frustrado. Onde será que ele estava? Será que tinha sido muito duro com ele a ponto dele não querer mais me ver? Se fosse isso, claro que eu iria sofrer, mas não deixaria que esse sofrimento acabasse comigo. Se eu estava apaixonado por Caio? Desde o dia que eu o ví pela primeira vez, mas se ele nunca mais quisesse me ver, tudo bem. Eu seguiria em frente e encontraria um cara que gostasse de mim.
Na metade da aula de biologia, um rapaz alto de cabelo arrepiado com gel, magro e com feições bem parecidas com a de Caio, bateu na porta e entrou para falar com o professor. Ele disse que Caio estava na diretoria e que havia passado mal e estava ali para pegar suas coisas para leva-lo para casa. O professor permitiu que o irmão de Caio fosse até a sua carteira e pegasse sua mochila.
— Você é o irmão do Caio, não é? — indaguei.
— Sou — ele respondeu e todos na sala olharam para mim curiosos.
— Eu sou Lucas — me apresentei — Caio está bem? — Perguntei sem me importar com os olhares a minha volta.
— Ele está um pouco enjoado, mas vai ficar bem.
— Espero que sim — disse — Obrigado.
— De nada — disse olhando desconfiado para mim.
A quem eu estava tentando enganar mais cedo? Eu nunca iria ficar bem sem o Caio. Eu o amava e sabia disso.
Passei a noite inteira em claro pensando nele e em como ele havia agido naquele dia. A forma possessiva como ele me tratou e o ciúme em seu tom de voz eram as coisas que toldavam minha mente naquele momento. Será que eu estava me enganando ou ele realmente parecia interessado em mim? Será que ele se sentia ameaçado por mim? Dei uma risada com essa ideia. Como Caio, o menino mais bonito que eu havia visto em toda a minha vida se sentiria ameaçado por mim? Claro que eu não era mais o mesmo Lucas feio de antes, mas ainda era eu. O Lucas havia mudado, mas não morrido e muito menos esquecido.
Um toque polifônico tomou conta do meu quarto me tirando de meus devaneios. Peguei meu celular embaixo do travesseiro e logo ví uma solicitação de amizade em meu facebook. Eu olhei para a foto daquele garoto de pele clara e cabelo castanho sorrindo para mim e ao mesmo tempo que fiquei apreensivo, fiquei feliz. Eu não estava imaginando coisas. Caio não estava se sentindo ameaçado por mim, ele sentia que as garotas ao meu redor eram uma ameaça.
Sorri enquanto rejeitava a solicitação de amizade de Caio. Prometi a mim mesmo que brincaria com ele da mesma forma que ele brincou comigo antes e aceitar seu pedido de amizade seria como me ajoelhar a seus pés e dizer que ele era quem mandava. E isso eu não estava disposto a afazer.
Coloquei meu celular embaixo do travesseiro e pela primeira vez desde que eu percebi que eu era gay, eu senti que não estava sozinho no mundoGente, me desculpa por esse longo tempo em que o conto ficou em hiato. Prometo que não vou deixar acontecer se novo.
Minha vida essa semana se resumiu a brigas, gritos e pedidos de desculpas de meus pais. O notebook do meu irmão está no concerto e ele está usando o meu enquanto o dele não volta. Até ai tudo bem por que eu não sou uma pessoa egoísta. Mas a minha benção de dez anos resolveu fuchicar meu PC e descobriu o rascunho desse capitulo. A peste foi correndo contar para meus pais. Eu tenho dezenove anos e apesar de ser maior de idade e trabalhar, não estava pronto para "sair do armário". Nossa foi um inferno nos três primeiros dias. Eles me chamaram para conversar e começaram a falar que eles não concordavam com a minha "escolha", mas que eu era filho deles e eles ainda me amavam. Apresar de algumas brigas, eles reagiram melhor do que eu sempre imaginei, mas sei lá... Ficou um clima estranho aqui em casa. Todos me olham de uma forma diferente e eu me senti muito desconfortável com isso. E por conta disso, fiquei um sem vontade de escrever. Espero que me perdoem.
Espero que tenham gostado de mais este capitulo da mesma forma que gostaram do ultimo. Até o próximo!