É BOM E É TÃO DIFERENTE 52

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Sabem aquela sensação de pavor que nos faz fechar os olhos? Era justamente assim que eu estava, com os olhos fechados esperando o pior, fiquei assim até sentir a mão da Alice na minha. Abri os olhos e minha mãe estava chorando no ombro do meu pai que me olhava puto, claramente por eu ter feito a minha mãe chorar. Olhei para minha irmã e ela ainda me olhava com os olhos arregalados.

- Sério? Sériozão? – perguntou-me Amanda.

- Amanda, vá para seu quarto, agora! – ordenou meu pai com voz firme que há tempos não escutava.

Ela saiu da sala me olhando ainda, antes de desaparecer no corredor me deu um sorriso singelo e eu devolvi, pareceu que eu havia feito a coisa certa, que ela estava ao meu lado, nesse momento eu senti uma paz enorme, eu não era o culpado de nada, nem deveria ficar escondendo o que eu realmente era, mas infelizmente fui acordado desse momento de paz.

- POR QUE HEIN PATRICK? POR QUE ME ILUDIU? POR QUE VOCÊ É GAY? AONDE QUE EU ERREI? – Minha mãe gritava enquanto chorava ao mesmo tempo, seu rosto estava vermelho, ela estava de pé apontando para mim.

- Mãe, eu...

- Eu não posso acreditar nisso! CLARO, você com esses seus amigos que dormiam aqui, essa sua viagem! Essa viadagem de baixo do meu nariz! Como eu fui burra!

- Mãe não é que... – eu comecei a chorar, eu não sabia como explicar, eu só queria me desculpar, mas não tinha nada a desculpar, nem para explicar, eu olhei para o meu pai, ele continuava com cara de quem estava puto – Pai, por favor!

- Patrick eu não vou defender a sua atitude! – ele respondeu.

- MINHA NOSSA SENHORA, que atitude? De ser gay? Eu pedi isso? Você disse que entenderia e eu sei que entende!

- E você sabia disso? – perguntou a minha mãe para o meu pai, ele olhou para o lado e disse que sim – Ótimo! Todos sabiam pelo visto, seu irmão sabe também? – eu confirmei – Maravilhoso realmente maravilhoso!

- Eu queria contar mãe, mas ainda não tinha... Alguém e nem tenho. Não cheguei a namorar sério nem um homem...

- AH ENTÃO VOCÊ É FÁCIL? SÓ DÁ PARA ELES?

Não sei explicar o que eu senti depois disso, para mim não há pessoa mais importante que a nossa mãe, eu senti um aperto enorme no coração, era o pior insulto que eu já havia recebido, se nem a minha mãe me aceita quem me aceitará? Essa era a pergunta que rondava minha cabeça, eu caí de joelhos. Acho que minha mãe percebeu o que havia falado e colocou as mãos na boca.

Ela estava sentada no sofá chorando com as mãos no rosto. Alice estava sentada no chão junto a mim, me abraçando.

- Patrick vá para o apartamento do seu irmão, depois conversamos com calma.

Não sei de onde tirei forças, mas me levantei e voltei para a realidade, teria que ser forte, talvez minha mãe nunca mudasse de ideia e eu teria que viver com isso.

- Eu não quero mais conversar sobre isso, vocês só irão me machucar. Eu não sou um erro, não foi algo que eu escolhi. Não é porque eu gosto de homens que eu sou menos homem ou me tornarei um garoto de programa. Eu espero de coração que vocês se arrependam e peçam desculpa, do contrário nunca mais pisarei aqui. Eu amo vocês e ainda acho que são incríveis. Os melhores. Se vocês decidirem me ignorar e esquecer que vocês têm um filho só por eu ter uma orientação diferente, sinto muito, mas eu não os considerarei mais meus pais... - disse e passei pela porta de casa, minha irmã saiu logo atrás me abraçando.

- Não some Trick, por favor, tu é chato e irritante mas eu te amo mano. E eu não tô nem aí se você gosta de homens também.

- Minha chata atentada... Quando você nasceu eu achei que seria um saco, eu nunca cuidaria de você, mas lembro a primeira vez que vi seu sorriso e ele foi igual aquele de agora a pouco e me transmitiu a mesma felicidade. Foi mal quando eu te perturbava, eu só estava sendo irmão... Te amo minha altinha e eu não vou te abandonar, vou te encher para sempre e ainda tenho que conhecer esse quase príncipe seu. Não me esqueci não.

Eu a abracei e a beijei, me despedi e fui para o carro com a Alice, ela não dizia nada, só ligou o carro, não demorou e ela parou, percebi que estávamos na orla.

- Eu sei o quanto esse lugar te faz bem, vou esperar aqui no carro até a hora que você estiver pronto para ir para o ap do teu irmão.

- Obrigado Lize.

Dessa vez eu não sentei no banco, eu caminhei até a areia e me sentei. Eu ainda conseguia achar incrível o movimento do mar, me hipnotizava, me dava paz.

Não havia muito em que pensar, só estava relaxando, evitava pensar nas palavras da minha mãe.

Depois de um tempo a Alice veio até mim, dizendo que já estava tarde para ficar sozinho. Eu fui com ela até o carro e seguimos para o apartamento. Entramos e estava silêncio, fomos para o meu quarto e dormimos, ela no maior espaço porque eu tinha medo de tocar nela e a bolsa estourar haha. Eu era todo leigo em relação à gravidez.

Na outra semana eu decidi que não continuaria mais no curso de história por não gostar e porque meus pais pagavam (eles ainda não haviam falado nada comigo), fui procurar outro emprego além de dar aula de violão. Um amigo conseguiu para mim um emprego como administrador de um restaurante não muito grande, eu cuidava dos recibos dos salários, do dinheiro para as compras dos materiais e supervisionava o atendimento, era gerente, digamos. Eu dava aulas de tarde e tinha que ficar no restaurante das seis horas até às onze horas da noite. Estava sempre muito ocupado.

Em setembro era o aniversário do Marcus e para a minha surpresa ele me chamou para uma pequena festa na casa dele. Ele iria comemorar em uma sexfa e eu pedi o dia para o meu chefe, ele gostava de mim então foi de boa.

Me arrumei todo e fui para o aniversário dele, havia comprado um longboard porque foi a única coisa que eu lembrei.

Marcelo: Triiiick! Quanto tempo cara - disse me abraçando.

Eu: Poisé, tô ocupado agora, a gente cresce e fica na merda...

Marcus: É, tô quase entendendo disso - demos um sorriso meio envergonhado, foi estranho. Eu entreguei o presente e o abracei.

Eu: Foi o que me lembrava de ti...

Marcus: Acertou! O meu quebrou semana passada.

Ficamos conversando, eu entrei e fui para o quintal da casa, tinha muitos jovens (eu pensando que sou velho), o Vinicius estava lá e alguém que eu pensei que não veria mais ali, o Pedro (para quem não lembra é o caso do Marcelo haha) ele continuava bonito, eu achava ele bonito pelo menos.

Eu me sentei perto deles e fiquei bebendo socialmente, algumas vezes me afastava pra fumar um cigarro e nessas horas eu ficava observando, hora o Marcelo brincava com o Pedro, o abraçava, hora o Pedro cochichava no ouvido do Celo, eu estranhei tudo aquilo e fui chamar o Celo pra conversar.

- Vai me contar ou eu vou ter que dizer? - perguntei para ele.

- O que? Não tô entendendo Trick.

- Tu e o Pedro.

- Caralho dá pra notar? Mano... – ele fez uma pausa pra respirar – primeiro apaga esse cigarro, fedor escroto da porra.

- Afê haha – disse e apaguei pisando – Continua...

- Ta... Ano passado rolou uns pegas nosso, pegada de homem é outra coisa não é? Fiquei com tesão na hora... Algumas vezes a gente ficava... Mas recentemente a gente se pega com frequência, eu tô gostando da coisa.

- Hahahaha sabia Celo... Não dá pra notar porque vocês dois têm cara de macho, mas esses abraços aí... Mas vai rolar sério?

- Acho que não, ele pega muita mulher e eu também, vai ser só um affair gostoso hahaha.

Acho que o Marcelo é a única pessoa que eu nunca vou ver preso em alguém, ele parece aqueles caras que nunca vão envelhecer e será sempre o mesmo, tem cara de bagunceiro.

Fiquei socializando até ficar tarde, no outro dia iria para casa dos meus pais, eles tinham convidado para um almoço.

- Parabéns de novo Marquinho! - disse enquanto o abraçava me despedindo.

- Valeu por aparecer mesmo depois de... Em fim, foi daora beber e bater um papo sem frescura contigo.

- Papo sem frescura? Hahaha.

- É mano... Quero te dizer que só tem um homem com quem eu me relacionaria, esse cara é você haha. Fora isso, sou hetero, só mulheres...

- Marcus, não se limite... Deixa rolar! Tudo de bom cara. Falou!

Foi estranho, realmente eu acho estranho caras que têm medo de ser gay e por isso diz que só se relacionaria com o outro homem que ama ou gosta. Essa nova onde que estão chamando de g0ys. Desnececyrus. Tem que pegar geral haha. Brincadeirinha.

Voltei para o apartamento do meu irmão e dormi sem comentar muito, ele só disse que iriamos amanhã no carro dele e que a Lize mandou avisar que ela iria comigo. Ela ficava muito mais tempo comigo, perguntava toda hora como eu estava, aquele era o mês que o bebê nasceria, estavam todos aflitos e ela estava enorme haha.

Acordei no outro dia ansioso chega a minha barriga doía de nervosismo. Me arrumei e tomei café da manhã esperando o mano acorda, Alice chegou e perguntou dele, disse que ele ainda não tinha saído do quarto, ela falou “vou resolver isso agora” foi para a torneira e encheu um copo de água, eu não consegui a impedir (poderia mas nem tentei haha) e ela entrou no quarto e banhou meu irmão.

- Anda Shrek, temos que ir na casa dos teus pais.

- Oxi Alice, tu tá louca? Porra... – disse ele assoando o nariz – Porra, parece que eu tava me afogando. Sorte a tua que tu tá grávida, iria te jogar dessa janela.

- Para de chorar e se arruma... Não vou falar duas vezes. Anda!

Ele resmungando se arrumou, eu estava rindo muito, não viveria sem essas coisas. Na hora de ir eu fui dirigindo o carro da Alice e meu irmão no dele. Ela tentava me tranquilizar conversando e cantando as musicas da rádio. Chegamos e eu abri a porta pra ela que segurou na minha mão e foi entrando junto comigo.

- Respira... – disse para mim, eu beijei o rosto dela e entramos na casa, meu irmão entrou na frente.

A casa estava a mesma de sempre, mas parecia que eu não ia ali há anos, minha irmã foi a primeira a correr até mim, me abraçou e deu um beijo no meu rosto (minha irmã é alta para a idade dela, tem cabelos longos e negros, iguais ao meu, sorriso igual também). Ao fundo eu vi minha mãe arrumando a mesa e meu pai sentado no sofá.

- Oi família – disse meu irmão e eles me olharam. Eu andei com a Lize até a entrada da sala – Vamos conversar antes ou depois de comer? Porque eu estou morrendo de fome – era engraçado porque meu irmão tentava diminuir o ambiente tenso, mas todos o ignoravam.

- Vem comigo, Homer – disse Alice puxando meu irmão para a cozinha. Eu fiquei com as mãos no bolso esperando eles falarem algo.

- Meu filho...- olhei para a minha mãe – É... Primeiro desculpa não é? Eu não deveria ter perdido o controle como perdi... Eu tento entender agora, mas é difícil, acho que você pode imaginar e se colocar no meu lugar. E claro que eu te aceito, não vou mentir dizendo que gostei porque não é verdade, mas eu vou tentar viver com isso – disse e abriu os braços para me abraçar e eu a abracei com toda a força, morri de saudades do abraço dela.

- Eu não... – disse meu pai em pé.

...

Mais uma parte, nesse domingo assegundado.

. Gik, concordo plenamente, mas na prática, no impulso, é outra história. Algumas coisas eu me arrependo, outras não. Mas eu faria isso de novo, porque se aconteceu foi por algum motivo... Obrigado (:

. THIAGO SILVA, sim sim, imagina que por meses você fica na expectativa de ser pai e quando falta pouco tudo muda, é complicado. No final do ano passado eu parei de fumar, então pode ficar suave, carinha (: Quer ser meu cunhado ~ lua do whatsapp~ hahaha. Abraços, amigo.

. Tack, não é... Alice não vale nada haha. Abraço (:

. dani3l, é muito bom saber disso, cara. Fico feliz e agradeço de coração (: Abraço.

. Leoman, sim sim, e planejávamos jogar limpo e dizer que eu não era o pai de verdade, seria muito complicado, então foi a escolha certa, mesmo com raiva disso tudo eu entendi. Hahahaha fico todo nervoso com esses elogios, gato! Obrigado e abraços! (:

. , Preço que pagamos por viver e se permitir... Foi realmente doloroso, mas deveria acontecer. Hahaha obrigado. Abração (;

. JGA, ô fofo, muito obrigado, é um prazer para mim postar e ter leitores como você (:

. Hogu, nossa cara, não esperei que você doloroso para você também .-. Que bom que você superou junto a mim esse pré deu merda tudo haha. Obrigado, amigo! Abraços.

. Vini ^^, tadinho do meu irmão hahaha. Lize é do mal. Gato não me deixa vermelho não, dica = barba, esconde toda a minha feiura hahaha. Cinco anos? Nossa Senhora, paciência é o seu sobrenome e amor o apelido. Obrigado meu amigo! Abraços.

. fabi26, então deve saber o quanto é sofrido, e a saudade então... Logo logo vou revelar haha. Beijos linda.

Obrigado a todos que acompanham, desculpem-me os erros. Até a próxima.

Abraços a todos.